Pressão turística, alojamento local e recursos humanos. Eis os desafios do Turismo nos Açores
Painel do congresso da APAVT discutiu os desafios do crescimento do Turismo nos Açores.
Carina Monteiro
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Crescer de forma sustentável e em valor acrescentado, formar recursos humanos e valorizar as profissões ligadas ao Turismo, assim como alcançar uma distribuição equitativa do Turismo por todas as ilhas e ao longo de todo ano são desafios que se colocam ao Turismo dos Açores no futuro próximo. O tema esteve em discussão esta sexta-feira, dia 23, no congresso da APAVT, que decorre em São Miguel. O debate, em que participaram a secretária regional da Energia, Ambiente e Turismo dos Açores, Marta Guerreiro, o presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo, Rodrigo Rodrigues, e a secretária-geral da AHRESP, Ana Jacinto, começou com a questão: como é que os Açores vão manter-se afastados da pressão turística e permanecer um destino sustentável e uma “maravilha da natureza”?
Respondendo à questão, Marta Guerreiro acredita que é possível encontrar um equilíbrio entre o crescimento do Turismo e a manutenção da sustentabilidade. A secretária regional enumerou várias acções que estão a ser feitas nesse sentido pelo governo, como por exemplo o processo de certificação como Destino Turístico Sustentável, mas também o plano Estratégico de Marketing e Turismo dos Açores, muito virado para a procura, e o Plano de Ordenamento Turístico prestes a entrar em discussão pública.
Marta Guerreiro considera que a pressão turística nos Açores, nomeadamente em São Miguel, é ainda reduzida e explica porquê. “Há vários indicadores que permitem tirar esta conclusão. A intensidade turística é um indicador que permite saber em média quantos turistas temos face à população residente. Nos Açores, a média aponta para 2,7%, ou seja, em cada 100 pessoas, 3 são turistas, 97 são residentes. Na Madeira, esse indicador é de 8% e em Menorca é de 18%”.
Perante estes números, Marta Guerreiro crê que “há uma boa margem de crescimento, reforçando o contributo que o Turismo pode dar à região”.
A responsável reconhece, no entanto, que, em determinadas alturas do ano, “há um grande fluxo de turistas em locais mais icónicos”. Para responder a esses picos de procura, Marta Guerreiro lembra que o Governo tem feito a gestão de espaços, quer através da gestão de estacionamento em alguns miradouros conhecidos de São Miguel, quer através da possibilidade de criação de regulamentos de acesso e de novos pólos de atracção turística que diversifiquem a oferta.
Estas acções tem sido consensuais entre os privados, revela a responsável, que até elogiou o entendimento dos privados sobre esta matéria. “Tem sido uma agradável surpresa perceber esse nível de consciência.”
Alojamento Local
Teria sido possível o crescimento do Turismo nos Açores sem o aumento do Alojamento Local (AL)? Para Ana Jacinto, o crescimento do AL nos Açores “foi decisivo porque está a responder à procura”. Para a secretária-geral da AHRESP é essencial conhecer a realidade do negócio antes de tirar conclusões. “Falar de Alojamento Local sem conhecimento é perigoso. Temos de perceber a fundo este sector”, começou por dizer. Há muito que a AHRESP estuda o alojamento local, lembrou a responsável, tendo para isso produzido um estudo sobre o perfil dos empresários e dos clientes do AL. Ana Jacinto reconhece há “muito alojamento que não está a cumprir as regras”. “Este trabalho que foi feito pela AHRESP no terreno foi prova disso mesmo, por exemplo, encontrámos muitos AL’s que forneciam pequenos-almoços sem cuidados de segurança alimentar”.
No entanto, a secretária-geral da AHRESP esclarece o que considera concorrência desleal. “Todos os alojamentos concorrem uns com outros, tem é de haver diferenciação. A concorrência desleal só existe, se de facto estes estabelecimentos estiverem em incumprimento com as regras. Agora se estão dentro das regras do mercado, o que todas as unidades devem fazer é apostar na qualidade”.
Sobre este tema, Marta Guerreiro destacou o esforço da Inspecção Regional dos Açores para detectar os casos de incumprimento das regras, um trabalho que permitiu, segundo a responsável, legalizar em alguns casos, noutros, retirar do mercado. A secretária-regional referiu ainda que, depois de aprovado o Plano de Ordenamento Turístico, é intenção da Secretaria proceder a uma alteração do Regime Jurídico dos Empreendimentos Turísticos com o objectivo de qualificar todos os tipos de alojamento turístico.
Recursos humanos
Nos Açores, há Recursos Humanos (RH) para um serviço que se pretende de qualidade seja na restauração ou na área da hotelaria? A pergunta foi lançada e João Reis, hoteleiro nos Açores, que assistia ao painel respondeu. “Os RH são insuficientes para aquilo que precisamos em termos de oferta hoteleira e temos uma grande dificuldade em adequar as nossas necessidades e nível de procura que temos nas nossas unidades à qualificação que os RH têm. Não é um problema só dos Açores, mas do país, Mas nos Açores, por serem uma região pequena e em que a actividade turística se desenvolveu há pouco tempo (…) temos vindo a resolver este problema com a contratação de RH fora da Região Autónoma dos Açores”.
Para Ana Jacinto, temos que potenciar tudo aquilo que este sector tem para oferecer, não estamos a conseguir atrair os jovens para este sector”.
Marta Guerreiro reconhece a importância deste desafio, que se existe a nível nacional, tem ainda mais relevância mais a nível regional, porque não temos a facilidade de mobilidade que outras regiões e porque a actividade turística nos Açores é ainda recente. Acresce ainda a questão cultural, defende Marta Guerreiro, aludindo ao facto das profissões turísticas ainda não serem valorizadas. “Isto não se muda por decreto”, remata.
Para responder a este desafio, o governo está a aumentar os cursos de formação de base profissional na área do Turismo. Este ano, a título de exemplo, foram abertas 577 vagas nas escolas profissionais. Paralelamente, a secretaria regional está a dar formação de activos.