Surf: umas das partes que contribuiu para um todo recordista
Da soma das partes, obteve-se um todo recordista que perfez o melhor ano turístico de sempre em Portugal. Porém, decidimos abordar neste artigo apenas uma das partes: o surf, modalidade responsável pela movimentação de cerca de 400 milhões de euros no país. Em Portugal, o surf conta com 13 770 federados, 98 clubes, 236 escolas… Continue reading Surf: umas das partes que contribuiu para um todo recordista

Ângelo Delgado
Da soma das partes, obteve-se um todo recordista que perfez o melhor ano turístico de sempre em Portugal. Porém, decidimos abordar neste artigo apenas uma das partes: o surf, modalidade responsável pela movimentação de cerca de 400 milhões de euros no país.
Em Portugal, o surf conta com 13 770 federados, 98 clubes, 236 escolas e três associações nacionais. Mais números: 580 empresas de animação turística, mais 33,5% novos associados todos os anos – dados da Federação Portuguesa de Surf – terceira posição nos temas relacionados com Portugal mais procurados no motor de busca da Google, tendo sido responsável por 11,3% do total de pesquisas. Mais Google: Portugal é o principal destino europeu de surf com 38,3% de quota de pesquisas realizadas sobre este tema – dados da Bloom Consulting. Tudo isto resultou num programa que destaca a importância do surf para o Turismo no país: Portugal Waves. Faz a divulgação do destino e sua oferta turística através de diferentes perspectivas, aspecto relevante no âmbito da estratégia de promoção que tem vindo a ser seguida pelo Turismo de Portugal.
A presença em feiras é um dos caminhos percorridos pela marca que, actualmente, tem um valor de 650 mil euros. Números fortes e suficientemente esclarecedores da força da modalidade e, claro, da sua extensão para o Turismo português. Francisco Spínola, administrador da Ocean Events e um dos responsáveis pelos principais campeonatos de surf que decorrem em Portugal, é uma voz avalizada para falar sobre o assunto. “Os eventos que temos organizado – que passam pelas grandes competições do surf a nível mundial – atestam o excelente trabalho realizado. Começando pelo Turismo de Portugal, que tem sido um grande apoio do ponto de vista financeiro, passando ainda pelo enorme envolvimento das autarquias, com especial destaque para a Ericeira, Peniche, Nazaré e Cascais”, explica.
Foi precisamente com o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, que o Publituris falou para perceber melhor este “envolvimento” autárquico mencionado por Francisco Spínola. “Temos vindo a apostar no sector, são já quatro anos de caminho, mas esperamos que sejam apenas o início de uma caminhada. Tentámos dar um impulso à modalidade e ao Turismo já que foi na praia de Carcavelos que nasceu o surf em Portugal. Queremos beneficiar, não só o concelho de Cascais, mas todo o País com esta cadeia de valor que gera já bastantes milhões de euros e acaba também por criar vários postos de trabalho”. Convidado a materializar o bom momento do surf em Cascais, o autarca refere que a região “está com um bom crescimento no Turismo, quer em dormidas quer no RevPar”.
“Estamos a atingir públicos diferentes, o que é óptimo. Não há como o negar: o surf é um dos pilares da nossa estratégia de desenvolvimento”. Numa perspectiva mais macro, dados do Turismo de Portugal revelam que a importância do surf na economia portuguesa cifra-se em cerca de 400 milhões de euros. Apesar dos números, Carlos Carreiras aponta alguns itens a melhorar. “Temos de fazer um esforço para melhorarmos em termos de preços, já que somos muito baratos em relação a outros concorrentes e, não menos importante, é urgente que possamos melhorar algumas infra-estruturas de apoio ao surf, pois são impedimentos que nos fazem perder competitividade perante terceiros que, cumprindo as mesmas regras e tendo as mesmas preocupações, conseguem fazer coisas lá fora que cá dentro não nos deixam avançar”, critica.
A Billabong é um nome assíduo em todos os grandes eventos da modalidade em em todo o território. Pedro Soeiro Dias, responsável de marketing da marca, fala da proposta de valor que a insígnia traz para a modalidade e Turismo. “A Billabong está umbilicalmente ligada ao surf. Nasceu e pertence à história a nível mundial, sendo que Portugal tem sido um bastião do seu crescimento. Coloca à volta do mercado valores proporcionais ao seu negócio e isso é visível em eventos, meios e surfistas”, começa por dizer, passando, depois, para a contribuição da marca para o sector. “Contribuímos com a nossa proposta de valor e sendo uma marca endémica, foi catalisadora do que agora se explora como uma matéria prima exportadora”.
Época baixa mais curta
Da Billabong para a hotelaria, o Publituris falou com Pedro Ginjas, um dos sócios gerente do Surfcastle, boutique hotel e escola de surf situada em Peniche. Para o responsável, o que se passa na região é bastante claro: há um antes e depois do boom da modalidade. “Antes do surf se tornar numa actividade bastante relevante, a economia baseava-se na pesca e agricultura. Hoje, nascem negócios novos quase todos os dias. As condições naturais de Peniche atraem surfistas estrangeiros mais experientes desde os anos 60, mas o aparecimento dos primeiros surfcamps, nos anos 90, trouxe um mercado emergente que tem tido um crescimento exponencial.
Tudo isto combinado com o esforço de promoção por parte do Turismo de Portugal trouxeram largos milhões de euros à economia local e nacional”, conta. Apesar das boas nuvens à volta do tema, Pedro Ginjas alerta para o facto de “se não existir regulamentação e organização, os recursos naturais irão deixar de ser suficientes para o número de escolas de surf”. Abandonando o tom crítico, o sócio gerente do Surfcastle regressa a terrenos mais favoráveis. “Existe um ligeiro aumento do movimento durante a época baixa, mas nota-se um crescimento ainda maior na duração das épocas alta e média. A época baixa, hoje, é de apenas três meses. Quando arrancámos com este negócio, há dez anos, a época alta era muito menor. Actualmente, são praticamente seis meses”. Pedro Ginjas adianta ainda que “a própria essência do negócio vai trazer cada vez mais gente em época baixa, porque um principiante prefere iniciar-se no Verão, mas um surfista experiente dá preferência às boas ondas do Inverno”.
Spínola, da Ocean Events, também aborda o fenómeno da época baixa, recordando que “essa é uma das maiores vantagens da indústria”. “Conseguimos fazer com que os hotéis registem boas taxas de ocupação nessas alturas. Queremos que, sempre que algum turista europeu pense em fazer surf, surja imediatamente o nome de Portugal na sua cabeça”, graceja. Para que isso possa acontecer, diz, “todos os agentes devem trabalhar de forma concertada e aproveitar o que de bom tem sido feito, até no que diz respeito a alguns atletas”, destacando o papel de Tiago Pires que, segundo Francisco Spínola, “conseguiu furar e quebrar barreiras psicológicas quando ainda ninguém acreditava”. Para o responsável, “apenas a Austrália discute a “pole-position” com Portugal no universo do surf”. E explica porquê. “Os australianos já vão na quinta geração de surfistas activos e nós estamos agora a entrar na segunda. As pessoas não pensam nisso, mas faz toda a diferença, nomeadamente na forma como as populações, organismos e marcas observam e absorvem o fenómeno”.
No entanto, nem tudo são desvantagens. Palavra novamente ao líder da autarquia de Cascais, Carlos Carreiras. “Aquilo que nos diferencia é a nossa mais-valia: em quase todas as grandes nações do surf, os atletas têm de percorrer centenas ou milhares de quilómetros dentro do País e até chegam a apanhar um avião para se deslocarem ao spot com melhores ondas. Nós, por cá, temos a certeza que num raio de 150 ou 200 quilómetros – que para os estrangeiros é bastante irrelevante – existem boas ondas em vários locais. Seria um desperdício não aproveitarmos estas vantagens que mais ninguém tem”, finaliza.