O Publituris falou com Rui Monteiro, manager da Camping Car Park em Portugal, para conhecer o projeto desta empresa que nasceu em França e que se dedica à gestão de áreas de serviço para autocaravanas. Presente em Portugal desde 2013, a Camping Car Park conta, por enquanto, com apenas três destas áreas em território nacional, mas o objetivo é chegar à centena destes espaços, até porque esta é, como diz o responsável “uma solução de chave-na-mão”, que conta com diversos benefícios e que a empresa tem vindo a apresentar a municípios e investidores privados portugueses.
Apesar das vantagens, também há dificuldades e a burocracia parece ser a principal responsável pelos atrasos por que estes projetos costumam passar, ainda que Rui Monteiro espere assinar, até ao final do ano, os contratos para a abertura de mais 15 destas áreas em território nacional, contribuindo para afirmar o turismo itinerante em Portugal.
O que é a Camping Car Park e que serviços oferece?
A Camping Car Park é a maior rede europeia de gestão de áreas de serviço para autocaravanas. A empresa foi criada há 13 anos, por um casal de autocaravanistas, ou seja, por pessoas que sabiam as necessidades deste tipo de turismo itinerante e, desde aí, tem vindo a crescer de forma muito sustentável, associado também ao crescimento deste tipo de turismo.
Noutros países, temos a possibilidade de gerir também campings, além das áreas de serviço. Todos os equipamentos que gerimos estão associados a uma área de serviço para autocaravanas, ou seja, quando gerimos um camping em França, por exemplo, ele está associado a uma área de serviço e tem um espaço reservado para autocaravanas.
Nos últimos anos, o autocaravanismo tem vindo a crescer de forma consecutiva, principalmente a partir da pandemia. Normalmente, as pessoas começam pelas camper vans e, depois, experimentam as autocaravanas.
Nas áreas que gerimos, temos também o cuidado de separar as áreas que podem receber camper vans das que não podem. Lançámos até uma app especifica para os utilizadores das camper vans, com as áreas associadas e respetivos balneários e chuveiros, porque uma camper van não é autónoma, normalmente é uma carrinha com beliches. Mas é um segmento que também consideramos turismo itinerante, que é igualmente importante porque traz o mesmo tipo de pessoas que as autocaravanas e que deixam as divisas na região.
A Camping Car Park sustenta-se numa proposta de valor, não nos limitamos a abrir e fechar barreiras e a tratar de cobranças e faturações. Apresentamos uma solução de chave-na-mão para municípios, porque os municípios não têm de estar vocacionados para a gestão deste tipo de equipamentos.
Por isso, criámos uma solução que associa à gestão operacional das áreas uma oferta paralela, que beneficia todos os intervenientes deste ecossistema, nomeadamente os autocaravanistas, pelo facto de lhes tentarmos proporcionar uma boa experiência – porque este também é um negócio de experiências – mas também às regiões, que nos dão a possibilidade de nelas acolher os nossos clientes e para as quais contribuímos para a dinamização da sua economia.
Temos um departamento que faz a interligação entre os autocaravanistas e a oferta de restauração, museus, guias turísticos etc., das várias regiões, que conta até com algumas vantagens e ofertas. Não ganhamos nada com isso, mas funciona como uma espécie de “miminho” para o cliente.
Criámos uma solução que associa à gestão operacional das áreas uma oferta paralela, que beneficia todos os intervenientes deste ecossistema
Contribuímos também para organizar os consumos de água, eletricidade, racionalizando os consumos. Por exemplo, nos consumos de energia, limitamos a tomadas de baixa amperagem para carregamentos das baterias das autocaravanas e a água está disponível exclusivamente na zona de serviços. Com estes três pilares de sustentabilidade, a empresa tem vindo a crescer porque tem uma proposta de valor benéfica para todos.
Quantas áreas já a Camping Car Park tem em Portugal e qual é o objetivo, ou seja, até onde e com quantas áreas pode a empresa vir a contar em Portugal?
Neste momento, temos três áreas sob a nossa gestão. A referência que temos é a realidade francesa, não só porque a empresa é francesa, mas também porque França atualmente é a matriz deste tipo de turismo. Continua a haver mais áreas e parques de campismo em França do que no resto da Europa toda junta. Temos um milhão de clientes autocaravanistas e mais de 60% são franceses.
Mas, neste momento, estamos a fazer um trabalho de desenvolvimento do negócio em si e, por isso, temos uma postura também pedagógica quando abordamos os municípios, relativamente às mais-valias que este negócio pode representar. Isso também se deve aquilo que é o nosso tipo de turismo, uma vez que ainda somos reconhecidos como um país de sol e mar e, por isso, o tipo de turistas itinerantes que Portugal atrai são pessoas que vêm ver as ondas, que estacionam no meio mais ou menos, o investimento necessário para ter uma área da Camping Car Park? dos pinhais e não é esse tipo de turismo que nós representamos.
Por isso, tenho de ter essa tal abordagem pedagógica para demonstrar as mais-valias que este tipo de turismo traz para a região. O turismo itinerante não precisa de aeroportos, portos de mar ou qualquer outro tipo de infraestrutura para receber pessoas, antes pelo contrário, as pessoas que vêm trazem veículos que lhes permitem levar coisas, o que faz com que haja até maiores gastos destes turistas.
Por isso, a minha expectativa é ligar a uma proporcionalidade de área geográfica com França. França é um país cinco vezes maior do que Portugal, por isso, idealmente poderíamos ter um quinto das áreas que existem em França.
Neste momento, existem 500 a 600 áreas de serviço para autocaravanistas em França, por isso, ficaria satisfeito se conseguíssemos chegar às 100. Se conseguir ter 100 áreas em Portugal em quatro ou cinco anos, é o reconhecimento do valor deste tipo de turismo, o que permitiria também afirmar o turismo itinerante como uma alternativa ao turismo tradicional.
Para um município, qual é, mais ou menos, o investimento necessário para ter uma área da Camping Car Park?
O principal investimento pode passar pela preparação do terreno, ou seja, idealmente tem de ser um terreno plano e estabilizados e, como costumo dizer, muitas vezes isso é complicado, basta pensarmos em algumas regiões de Portugal, como o Douro, por exemplo.
Em muitas regiões de Portugal isso não é problema porque, nos anos 80, quase todas as freguesias do país tinham um campo de futebol pelado, que estão desativados neste momento. Este tipo de terreno tem uma configuração ideal para esta instalação, porque é plano, está compactado, e muitos já têm até infraestruturas de apoio e acesso a infraestruturas de saneamento e eletricidade. Portanto, é uma forma fácil de evoluir. Caso contrário, tem de haver uma despesa na preparação do terreno.
Continua a haver mais áreas e parques de campismo em França do que no resto da Europa toda junta. Temos, por exemplo, um milhão de clientes autocaravanistas e mais de 60% são franceses
No que toca a equipamentos, temos ferramentas financeiras para que, tanto municípios como particulares, minimizem ou não tenham sequer de investir nos equipamentos. Fazemos um plano de financiamento para um determinado número de anos, e permitimos que a área gere rendimento para fazer a amortização dos equipamentos. Portanto, isso não seria impedimento.
Por outro lado, temos um departamento técnico que dá apoio de forma completamente gratuita e, em Portugal, trabalhamos com um escritório de projeto com quem temos uma parceria e que sabe trabalhar com os nossos cadernos técnicos e que faz projetos de arquitetura paisagística porque, normalmente, uma área de serviço para autocaravanas passa pelo projeto paisagístico, projeto de eletricidade e projeto de saneamento, a preços muito, muito controlados.

E como é que está o interesse em Portugal, há municípios ou privados interessados?
A experiência que tenho é positiva e diz-me que, em 90% dos municípios, o projeto agrada porque é um projeto em que todas as partes ganham, ganhamos nós, ganham os municípios e ganham os autocaravanistas.
Portanto, é difícil argumentar contra a nossa proposta de valor. Por vezes, não há uma resposta imediata e, na maioria das vezes, isso acontece por falta de terrenos elegíveis para instalar este tipo de equipamento. Muitas vezes, o que os municípios fazem é passar a nossa mensagem a empresas da região ou a particulares que sabem que são proprietários na região.
Neste momento, há muita gente que tem terrenos e não sabe o que lhes fazer, mas têm de pagar IMI, mantê-los limpos e não tiram qualquer rentabilidade desses terrenos. E uma área de serviço para autocaravanas pode ser uma forma de rentabilizar um terreno que esteja desocupado.
E a nível de utentes, como está a procura pelas vossas áreas de serviço em Portugal?
Em Portugal, estabelecemos parcerias com associações nacionais e temos um cartão de acesso às nossas áreas que tem um custo simbólico. Neste momento, estamos a migrar para uma solução técnica que vai desmaterializar o cartão, até para evitar que haja cartões emprestados porque isso pode resultar num problema de segurança. A desmaterialização é justamente para evitar esse tipo de situação, as pessoas têm um código vitalício e através da app, vamos conseguir confirmar a identidade dos utentes. Isto permite também que não existam horários, ou seja, as pessoas podem chegar às quatro da manhã que, em qualquer área, há um equipamento que lhes permite fazer o registo e entrar.
No que diz respeito a clientes, temos 60% franceses e 40% do centro e norte da Europa, e também temos clientes portugueses, aliás, agora temos cada vez mais devido à pandemia e precisamente pelo nosso efeito. Mas temos também reparado que os autocaravanistas portugueses, normalmente, ficam por Portugal ou, quando muito, vão até Espanha. Numa fase posterior, começam a aventurar-se por outros países da Europa, mas a maioria fica por cá e, portanto, não conhecem as nossas áreas e esse é um hábito que queremos criar porque as necessidades dos autocaravanistas são as mesmas em Portugal ou a nível internacional, são turistas que querem estar seguros, com serviços e que lhes proporcionem uma boa experiência.
Apresentamos uma solução de chave-na-mão para municípios, porque os municípios não têm de estar vocacionados para a gestão deste tipo de equipamentos
Desafios e expectativas
E a nível de desafios, que tipos de desafios enfrenta o segmento do autocaravanismo?
Na questão legal, a lei que temos deriva da legislação que já existia para o turismo de ar livre, que é um regulamento que nasceu em 2008. Esta lei está para ser alterada há seis anos, com o objetivo de garantir que os processos de licenciamento sejam mais facilitados.
Neste momento, creio que temos mecanismos de controlo que fazem com que, mesmo as situações cuja viabilidade é mais evidente, passem por uma série de processos. Por exemplo, temos um privado que começou este processo há cerca de um ano e só agora é que teve licença por parte do município. E foi só a licença para instalar o equipamento, ainda falta a licença para a ligação de eletricidade, aos esgotos, à água, etc.
Diria que, em média, o processo demora um ano e meio, lá está, é um processo moroso e é um privado que está a fazer um projeto próprio que vai contribuir para o dinamismo da região. Continuamos a ser um país muito burocrático e, portanto, diria que esse é o nosso principal desafio.
E que expectativas tem a Camping Car Park para 2025, é possível que haja abertura de mais áreas de serviço para autocaravanas?
Estamos numa fase de migração de algumas áreas que já existem no Alentejo, e já estamos em processos avançados de negociação. Por isso, até ao final de 2025, espero que tenhamos assinadas mais 15 áreas, uma vez que estamos a chegar ao turning point do trabalho que foi feito nos dois últimos anos, ou seja, como são processo demorados, tudo o que fizemos nos dois anos anteriores, está a começar a dar agora resultado.
Se conseguirmos isso e fazer mais uns 10 ou 15 contratos, seria muito bom sinal porque, a partir daí, tudo se torna mais fácil porque já temos este trabalho feito e já vamos ter também mais experiência na questão da contratação pública.
Por outro lado, temos o respaldo do Turismo de Portugal, que conhece a nossa solução e, por isso, acredito que poderemos começar a ter processos mais fluídos e um crescimento mais continuo, de forma a chegarmos às 100 áreas de norte a sul do país, até porque Portugal, apesar de ser ainda o país do sol e praia, tem atributos que vão ao encontro daquilo que os nossos clientes buscam.