Luis Salgueiro, diretor da Genius y Meios
Fado in Chiado | Há dez anos a dar fado aos turistas
O espectáculo musical Fado in Chiado completa, em 2019, 10 anos. O balanço não podia ser mais positivo.
Carina Monteiro
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Quando em 2009 surgiu o Fado in Chiado, a Genius y Meios, mentora do projecto, não imaginava o alcance que o espectáculo musical iria ter. Ao fim de dez anos, o Fado in Chiado já teve cerca de três mil sessões e foi visto por mais de 155 mil pessoas.
Luís Salgueiro, director da Genius y Meios, faz um balanço positivo. Mesmo sem saber se iria alcançar o sucesso, a empresa decidiu avançar com a ideia, depois de perceber que em Lisboa “não havia alternativa para mostrar um dos nossos patrimónios, a não ser no modelo tradicional que combina fado e gastronomia, apesar de, na altura [2009], a afluência de turistas ser já grande”, começa por contar.
Foi daqui que partiu a ideia de construir um espetáculo diário de 50 minutos para que, quem visitasse o País, percebesse “o que era o Fado, de forma tradicional, acompanhado à guitarra e à viola, com uma voz masculina e uma voz feminina”, explica. Rapidamente, perceberam que esse espetáculo teria de ter uma periodicidade permanente, à excepção do domingo, algo que acontece até hoje.
O espectáculo
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e o espectáculo também mudou ao longo destes dez anos. “Por exemplo, quando o Fado se tornou Património Imaterial da Humanidade, em 2011, tivemos de fazer alguns ajustes de forma a apresentar o melhor em termos de guitarra portuguesa, viola de Fado, na voz masculina e na voz feminina”, explica Luís Salgueiro. Uma vez por ano, alguns conteúdos do espectáculo são alterados, “até porque ao fim de dez anos há quem volte”, refere. Assim, por vezes, o Fado in Chiado é focado nos poetas, outras vezes nos intérpretes, ou nas vozes masculinas ou nas femininas. “A guitarrada, que é um dos momentos altos do espectáculo, também a temos adaptado e mostrado de diversas formas e o próprio conteúdo que passamos explica de uma forma sucinta aquilo que o espectador está a ver”.
Agora, a completar dez anos, o Fado in Chiado prepara-se para uma nova mudança. “Vamos fazer algumas modificações porque é importante inovar permanentemente”. As inovações não se fazem só ao nível do espectáculo, mas também a nível comercial, de que é exemplo a venda online de bilhetes que inicialmente não acontecia. Também a colaboração com diversas plataformas, como a GetYourGuide, o Tripadvisor ou a Booking.com, tornou-se frequente. “Temos estado, a partir de uma certa altura, sempre na linha da frente destas parcerias. Ainda recentemente quando a Booking.com começou a vender experiências, convidou-nos para sermos parceiros nessa área. Ou quando os sites começaram a ter de ser adaptados para os smartphones, também nos adaptámos”, exemplifica. Segundo Luís Salgueiro, o circuito tradicional de promoção não chega, é necessário um trabalho mais alargado com outras plataformas, além da promoção externa em feiras.
“As plataformas nacionais, ou seja, os hotéis e as empresas de turismo são importantes canais de venda, assim como o nosso site”, revela. O online (plataformas digitais e site próprio) é o canal que mais tem crescido. Se há dez anos valia 7%, hoje vale entre 65% a 70% das reservas.
Público
No Fado in Chiado, o público é 99% internacional, com predominância para França, Espanha, Alemanha, Brasil, EUA, Israel, Itália e continente asiático. “Nem todos os turistas têm apetência para este tipo de conteúdo. Sabemos que existem outros destinos que são importantes para Portugal, mas que não têm tanta apetência para este produto cultural. É um turista que procura inteirar-se da realidade cultural da cidade, não só os monumentos, mas também a cultura e oralidade”. Mais de 50% do público quando chega a Lisboa já tem o bilhete do Fado in Chiado comprado. “É aqui que queremos apostar. Quando o viajante planeia individualmente a viagem, já programa com o hotel, com a visita aos monumentos, mas também aos conteúdos culturais que quer ver”, revela Luís Salgueiro.
Com uma boa cotação no Tripadvisor, os espectadores gostam, sobretudo, é da guitarrada e de interagir com os artistas, mas também dão feedback de outra coisa: “Este não é apenas um espectáculo a pensar no turista”, afirma o responsável e explica porquê. “Temos que apresentar um conteúdo que é tradicional e de qualidade, porque temos essa responsabilidade uma vez que se trata de um Património Imaterial da Humanidade e, portanto, temos que o respeitar e valorizar. Há momentos de interação com o público, depois temos de passar os fados mais tradicionais, mais fortes, com mais emoção. É engraçado ver os asiáticos, que não entendem rigorosamente nada daquilo que está a ser cantado, mas sentem a emoção da voz assim como da guitarra portuguesa”.
Luís Salgueiro conta que, quase todos os espectáculos têm de ter pelo menos um fado da Amália. “Depois há fados que nós, portugueses, não demos grande atenção, e que, no Fado in Chiado, tocamos ciclicamente, como por exemplo ‘Saudades do Brasil em Portugal’, é um fado que conquista a plateia, a ‘Maria La Portuguesa’ é outro que temos de apresentar. O ‘Nem às paredes confesso’ é um fado que ciclicamente temos de tocar. O ‘Coimbra’ é outro”, revela.
Em média a plateia tem entre sete a oito nacionalidades, mas já houve dias em que tiveram 20. “Ao longo do espectáculo temos alguns slides onde explicamos duas ou três frases em oito línguas, de forma a que, quem está ali a assitir ao Fado in Chiado, tenha o conforto da sua língua durante um minuto ou dois, sendo que, na maioria dos casos, a emoção da guitarra e da voz é aquilo que passa”.
Perspectivas
Os resultados do Fado in Chiado oscilam consoante a realidade turística da cidade, por isso, “quando existem greves na aviação ou quando o aeroporto de Lisboa não responde à procura reflecte-se em toda a actividade”, afirma. O objectivo no futuro, diz Luís Salgueiro, “é crescer e melhorar cada vez mais a experiência”. Aproveitando os dez anos, vão ocorrer mudanças no espectáculo, nomeadamente no palco. Por outro lado, vão acrescentar conteúdo digital e colocar wifi na sala, porque, “cada vez mais, as pessoas estão online”. Apesar das mudanças, Luís Salgueiro garante uma coisa: “Queremos, pouco a pouco, melhorar esta experiência do Fado in Chiado sem nunca mexer na essência, o conteúdo tem de ser tradicional e mostrar a essência do que é o fado enquanto cultura de um povo que ali conseguiu conquistar o reconhecimento internacional através da UNESCO”.
Como o nome indica, a sala fica localizada no Chiado e tem capacidade para 144 pessoas. O bilhete custa 18,5 euros.
Fado in Porto, uma experiência diferente
Foi há oito anos que a Genius Y Meios expandiu o espectáculo para o Porto, criando assim o Fado in Porto. A expansão não aconteceu de um dia para o outro, já que a empresa procurava uma forma de aliar o Fado a outro produto português conhecido no mundo, o Vinho do Porto. Desta forma, nasceu uma parceria com as Caves Calém e o espectáculo passou a ter uma experiência “muito diferente de Lisboa”. No final da visita às caves, o espectador senta-se numa sala de provas. Enquanto prova o vinho do Porto, ouve durante cinquenta minutos o espetáculo.
A Genius Y Meios criou ainda outra experiência que designa de “O fado fora de portas”, ou seja, para eventos corporate ou fam trips, mas “sem nunca desformatar o conceito tradicional”, refere. Luís Salgueiro afirma que a empresa estuda outros locais para levar o projecto. “Estamos a estudar outras localizações, mas temos de ter uma periodicidade mínima de seis dias por semana. No Porto, devido à extraordinária afluência e, porque as caves estão abertas sete dias por semana, desde o ano passado, decidimos fazer sete dias por semana, às 18h30”, conta. Neste sentido, a presença noutra geografia que “não tenha o fluxo de Turismo que nos permita estar abertos seis dias, é difícil”. Por outro lado, acrescenta: “As plataformas internacionais também vão condicionar-nos, porque o que pretendem é uma oferta todos os dias. Já pensámos fazer este espectáculo numa outra geografia, mas o investimento internacional que é necessário para colocar este conteúdo no ar é tao grande que depois não se justifica fazer só durante três ou quatro meses”, conclui.