Histórias do Turismo | Da cozinha ao método científico
Ao longo do próximo ano, publicamos histórias dos 100 anos do turismo, da autoria de Jorge Mangorrinha.
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As Universidades, os Institutos Politécnicos, as Escolas do Ensino Superior e as Escolas Técnico-Profissionais vêm dando ao turismo muito do seu talento, através das investigações e estudos consequentes e dos alunos que se enquadram no sector. Capacitar o turismo nacional e internacional com recursos humanos bem preparados, com condições e modos de acolhimento qualificados e com meios promocionais eficazes tem sido, historicamente, um desafio permanente para os gestores e para o ensino em Portugal, mas este deve ser rigoroso, verdadeiramente adequado, técnica e cientificamente, a cada nível.
O que não pode acontecer é a “cozinha” sobrepor-se ao método científico, no Ensino Superior, e a História do Turismo ser absolutamente secundarizada, nos diversos níveis de ensino.
As escolas devem ser vistas como lugares de convergência, como aprendizagem da história, como conhecimento técnico e científico transdisciplinar e, muito importante, como aperfeiçoamento do comportamento cívico. Se assim não for, estamos a desvirtuar a pedagogia em turismo e o percurso histórico até aqui criado, em Portugal.
Recuamos à I República, quando a Repartição do Turismo, a Sociedade Propaganda de Portugal e os empresários hoteleiros realizaram, em Lisboa, o I Congresso Nacional de Hotelaria (1917), notável acontecimento, no qual, de entre as conclusões, foi aceite uma moção tendente à abertura de uma Escola de Hotelaria e Turismo. O empresário Alexandre de Almeida seria um defensor acérrimo desta ideia. Era preciso investir na hotelaria, em mais e melhores hotéis, com um funcionamento de qualidade, que exigia formação a todos os níveis e em todas as áreas funcionais.
A partir de 1924, o Guia de Turismo passa a chamar-se Guia-Intérprete e a dispor de um estatuto socioprofissional. A Repartição de Turismo e José de Ataíde, bem como a Sociedade Propaganda de Portugal, consideraram importante e difícil o exercício profissional de um Guia-Intérprete, das grandes exigências de cultura geral que devia ter e o perfil próprio que devia mostrar, porque essa qualificação era assaz significativa em termos da imagem do país. As Escolas de Formação tiveram o cuidado de incluir, nos seus programas curriculares, a história, as artes, a literatura, a geografia física e administrativa do país, a geografia geral dos continentes e dos países, a língua inglesa e a língua francesa e um corolário de conhecimentos básicos em arqueologia, gastronomia e vinhos, etnografia, folclore e arte popular.
Depois da II Guerra Mundial, o turismo é observado, não só como divertimento, mas também como indústria, a necessitar de organização administrativa, investimento público e privado e de ensino. A partir dos anos 1950, em Portugal, sucessivas gerações de jovens foram sendo sensibilizados e formados dentro e fora do país, nas múltiplas linhas de prestação de serviços que o turismo e a sua rede envolvente multidisciplinar iam absorvendo. Os industriais da hotelaria obrigaram-se a custear a formação de jovens com vocação e aptidão, enviando-os para o estrangeiro, sobretudo para a Suíça, com destino às escolas de Glion (Montreux) e de Lausanne. O “Decálogo” suíço passou a ser o Código de Honra dos directores hoteleiros portugueses.
Decálogo do Director de Hotel:
- Tem a tua casa cuidada como se tu, sozinho, a habitasses.
- Procura relacionar-te com os teus clientes logo à chegada ao teu hotel, proporcionando-lhes toda a comodidade e fazendo jus à sua confiança.
- Lembra-te que tens de servir os teus clientes e não suportá-los.
- Um cliente satisfeito é o teu agente de publicidade, mas basta um descontente para desviar a água do teu moinho.
- Não permitas que o teu cliente saia da mesa insatisfeito ou com fome.
- Uma gentileza ou favor prestados a um cliente conquistam o seu reconhecimento e asseguram o seu regresso.
- Não descures a manutenção exterior e interior do hotel. A degradação afasta.
- Não sejas avarento, mas recusa ser perdulário.
- Um desconto ou uma simples atenção vale mais do que uma recusa mesmo que o teu benefício não seja vantajoso.
- Aprende a dizer ao turista “até à vista, até sempre”, para que ele não diga adeus!
Nesses anos 50, o litoral mediterrânico de Espanha conhecia uma profunda e nova realidade e, mimeticamente, o Algarve arrancaria, na década seguinte, obrigando-se a superar as dificuldades relativas às comunicações (rodoviárias, aéreas e ferroviárias), ao alojamento hoteleiro e similar, à rede de abastecimento alimentar, comércio e serviços de apoio, à rede de cuidados de saúde e, também, à instalação do ensino especializado. A pioneira Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa fora inaugurada como velho sonho de Alexandre de Almeida, a coincidir com a criação da Junta de Turismo da Costa do Sol (1957-1979), que também, no ensino, seria uma âncora formativa fundamental.
É da “Costa” de outros tempos que vos falarei no próximo artigo.
Por Jorge Mangorrinha, Investigador em História do Turismo
Nota: Ao longo do próximo ano, publicamos histórias dos 100 anos do turismo, da autoria de Jorge Mangorrinha