Opinião | TURISMO: Atenção ao que é importante
Leia a opinião de Vítor Neto, empresário e gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.
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O Turismo, como atividade económica importante e complexa que é, não pode ficar dependente de estados de alma, de opiniões casuísticas e otimismos amadores. As opiniões são sempre bem-vindas, mas não podemos deixar de ter presentes situações relevantes que podem condicionar as dinâmicas de sucesso do Turismo. Não faltam exemplos.
Primeiro: a problemática do Brexit, que ocupou os palcos políticos europeus durante meses, de repente como que desapareceu só porque houve um adiamento de prazos. Será que o problema está mais perto de uma solução? Não creio, ele continua aí e a qualquer momento pode gerar situações imprevisíveis, também no turismo na Europa. E no turismo português, de que os britânicos são o principal cliente estrangeiro. Em 2018, ainda sem Brexit, já houve uma quebra de 700 mil dormidas em Portugal. As potenciais consequências negativas mantêm-se. Uma quebra forte do turismo britânico teria pesadas consequências não só no Algarve, como alguns pensam, mas no conjunto da economia portuguesa, sobretudo na sua Balança Comercial.
Segundo: a problemática do Aeroporto Lisboa/Montijo. Ainda há poucos meses parecia estar tudo no bom caminho. De repente sucedem-se as notícias de que podem surgir dificuldades com o estudo de impacto ambiental, que pode exigir novas medidas e atrasar decisões, como afirmou o próprio Ministro das Infraestruturas na AR. Ou seja: em termos de calendário nada está ainda garantido. Temos de estar atentos. Bem sabendo que estão em jogo consequências pesadas para a economia, não só para Lisboa, mas para todo o país. Causa de fundo desta irresponsável novela: décadas de subestimação do poder político em relação a um setor económico com a importância do Turismo.
Terceiro: o Alojamento Local. Passou-se da teorização de um exemplo de «economia partilhada», para uma prova negativa do «excesso de turismo», sobretudo em Lisboa e Porto, e para um visível espaço de disputa de interesses imobiliários à custa do «turismo». Já não se trata do casal de reformados de um bairro histórico que recebe turistas no seu apartamento, nem dos pequenos investidores individuais que utilizam legitimamente unidades próprias, ou adquirem com as suas poupanças apartamentos para arrendar a turistas. Estamos perante operadores que gerem dezenas de unidades próprias ou de terceiros. E outros agentes que gerem, como intermediários, o arrendamento de alojamentos de terceiros, através da Airbnb, a troco de uma percentagem. O alojamento local legal, só em Lisboa, representa 18 mil unidades (20% do país). Com uma novidade recente, que já reflete as contradições deste sistema e que é um alerta: já começaram as desistências de licenças (10-15%, em Lisboa). Não é uma surpresa. Mas é um sintoma negativo. Há uns anos, quando o problema começou a surgir, as Câmaras, a começar por Lisboa, que durante anos ignoraram a decadência e o abandono das zonas históricas, assobiaram para o lado. Podiam ter iniciado um plano de recuperação dos edifícios (para arrendamento normal) e simultaneamente de ordenamento turístico, definindo circuitos, abrindo as portas a um Alojamento Local legalmente enquadrado. Nada. Perante o caos reagiram com taxas e normas restritivas, constantes alterações legislativas, acabando por prejudicar os que atuaram de boa fé, numa atividade legitima. Um problema que está longe de ter terminado. E que é vital para o futuro da habitação, do arrendamento e do Turismo em Lisboa. Tenha-se em conta que este fenómeno não é só português: nestes dias, 33 associações de hotéis de importantes cidades de turismo a nível mundial vão reunir-se em Barcelona para tomar medidas comuns para fazer frente ao gigante tecnológico Airbnb, que domina a intermediação do alojamento turístico a nível mundial. Estas metrópoles não estão a dormir. Em Portugal fala-se do assunto associando-o sobretudo ao «excesso de turismo», mas que se faz? É um assunto importante, que requer a máxima atenção.
Mais um exemplo: o Algarve. O atraso nas soluções para responder aos dramáticos problemas de mobilidade na principal região turística do país. Além, claro, do meio milhão de residentes. Estamos a falar de milhões de pessoas com dificuldade em movimentarem-se de forma rápida, segura e económica, numa região que contribui com a maior quota dos 16,6 mil milhões de euros das receitas externas geradas pelo Turismo.
Medidas necessárias, algumas já previstas: eletrificação da linha ferroviária, ligação ferroviária ao aeroporto, que regista 8 milhões de entradas e saídas de turistas por ano. Medidas para eliminar as portagens da Via do Infante. Modernização da EN 125. Eliminação da barreira de entrada na fronteira em Vila Real de Santo António. Tudo no quadro de um plano de mobilidade para o Algarve. Trata-se de um problema estrutural da região, de que depende o futuro da sua economia e o interesse nacional. Com isto populações, empresas, trabalhadores, estudantes – e os turistas – poder-se-iam movimentar melhor e de forma mais económica, num quadro ambiental melhor. São inaceitáveis os repetidos anúncios pelos Senhores Ministros de investimentos, que são sucessivamente adiados. Não basta falar do sol e do mar do Algarve. É preciso dar respostas às situações. O que é importante afinal é que de pouco serve exibir «milhões», exaltar posições em rankings, enaltecer prémios internacionais, dizer que o «interior» cresce mais que o «litoral», se depois não somos capazes de nos preparar para o Brexit, de resolver o problema do Aeroporto de Lisboa, se perdemos o controle do problema do Alojamento Local, se os turistas no Algarve ficam bloqueados na EN 125 e levam horas para ir do Aeroporto a Lagos ou V. R de Sto António. Temos muitas razões para acreditar nas potencialidades do nosso país para um desenvolvimento sustentado do Turismo, capaz de gerar mais riqueza, emprego e bem-estar. Não bastam palavras e sorrisos e limitar-se a ir empurrando com a barriga. Impõe-se dar atenção ao que é importante e prioritário. E agir.
*Por Vítor Neto, empresário e gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve
Artigo de opinião publicado na edição 1392 do Publituris de 10 de maio de 2019