O Turismo e as mulheres
Leia a opinião por Antónia Correia, directora da Escola de Turismo e Hospitalidade da Universidade Europeia.
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Março é o mês de celebração da emancipação das mulheres, centrados no dia 8, dia internacional para refletir sobre o assunto. Sem ser preciso muito, continua a verificar-se uma relativa submissão das mulheres a um regime masculinizado, algo que, tendo mudado em questões centrais no último século, nomeadamente ao nível dos direitos fundamentais como o voto, o divórcio e o direito a viajar, séculos de opressão não se resolvem em cem anos, sobretudo no que ao mercado de trabalho diz respeito.
No Turismo e na hotelaria são as mulheres que mais se candidatam a cursos nesta área (60%) e, as que mais sucesso têm ao longo da formação, 66% dos inscritos nestes cursos que se diplomam são do género feminino. Inversamente, no ensino superior, são os homens que predominam, preferencialmente nas posições de topo. A supremacia feminina também sobressai no emprego em Turismo, com 58% dos empregos, mas o mesmo não se reflete nas folhas salariais, dado que as mulheres que estão neste sector ganham em média menos 33% do que os homens.
Esta situação não é exclusiva de Portugal, também na Europa, dos 9 milhões de pessoas que trabalham no sector do Turismo, 56% é do género feminino. A disparidade salarial é visível na Europa e maior em Portugal, sendo que na génese desta diferença está o tipo de funções que as mulheres exercem no setor. Para elas ficam reservadas funções secularmente designadas como femininas, terceirizadas. Já os cargos de gestão, científicos ou de consultadoria, são tidos como atividades masculinas, onde as mulheres não são reconhecidas e, consequentemente, lhes é vedado o acesso. As estatísticas também revelam um maior número de horas de dedicação à profissão, obviamente por subtração de horas às responsabilidades familiares, também secularmente assumidas pelas mulheres, num contexto de dupla jornada que continua sem qualquer reconhecimento.
Este discurso que parece pertencer à geração da minha bisavó, persiste nos indicadores estatísticos comprovando que a realidade dos anos 20 do século passado, não é assim tão diferente dos dias de hoje. Sendo que esta realidade persiste por toda a Europa, a única exceção parece ser a Bélgica onde as diferenças salariais se ficam nos 7%, a Dinamarca, Malta e a Finlândia com um diferencial de 13%, ou a Bulgária e a Suécia com 14% de diferença.
Em Portugal, o melhor destino do mundo, um diferencial de 33% nas remunerações, é um quadro que não podemos aceitar que se normalize. Não é admissível e, menos admissível ainda, é o facto de às mulheres caberem os cargos mais operacionais, quando são elas que apresentam maior número de certificações. Este também não é o caminho numa sociedade que promove o desenvolvimento equitativo em pleno século XXI. Se dúvidas ainda subsistem entre os empresários do Turismo, sobre as competências das mulheres, olhe-se para o exemplo da Secretaria de Estado do Turismo, que sendo a exceção num setor masculinizado, mais do que demonstrou a resiliência e competência duma liderança feminina. Que seja um exemplo para generalizar, de modo a que a sociedade supere um grau de discriminação e desigualdade não só inaceitável como contrário aos superiores interesses do setor, e totalmente desajustado a um destino que assume a posição de Melhor Destino do Mundo.
*Por Antónia Correia, directora da Escola de Turismo e Hospitalidade da Universidade Europeia.
Artigo publicado na edição 1363 do Publituris.