Ponto final. Parágrafo II
Leia a opinião por Manuel Pinto, director-geral do Hotel Mundial e Portugal Boutique Hotel.
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No momento actual, existem dois temas que têm sido abordados frequentemente: os incêndios e os seus nefastos prejuízos materiais, ambientais e, sobretudo, a perda de vidas humanas, e a temática da actividade turística, designadamente, o aumento de fluxo turístico em Portugal e o contínuo aumento da oferta em determinadas regiões do País, particularmente na nossa capital.
Em relação aos incêndios, a esmagadora maioria dos portugueses lamenta a incompetência e a incúria com que alguns dos nossos governantes e pessoas por si nomeadas, aligeiraram responsabilidades, negligenciando estratégias e planos sistematizados de prevenção que infortunadamente colmatou no que conhecemos. Porém, a sua secular e reconhecida capacidade de resiliência, impede-os de estagnar nas águas paradas da tragédia e impele-os para as oportunidades que fazem do seu País um enorme potencial.
É justamente acerca deste titânico potencial, o turismo, que partilho convosco algumas reflexões. Portugal desde há muitos anos que possui produtos turísticos hoje reconhecidos, a nível mundial e que são motivo de atracção turística. Os turistas que nos visitam encontram um país moderno, culto, responsável e com grande sentido de mudança, além de poderem constatar que dispomos de uma excelente relação qualidade / preço, a todos os níveis. Mas importa reflectir acerca deste boom de crescimento de turismo para o nosso país e que, segundo a nossa Secretária de Estado, atingirá este ano 20 milhões de turistas, prevendo-se 53 milhões de dormidas.
Historicamente a nossa instabilidade política, que culminou em sucessivas mudanças de Secretários de Estado e que, recorde-se, após o 25 de Abril gerou cerca de 30 os Secretários de Estado, bem como o facto de durante muitos anos existirem 17 regiões de turismo que impediram que a promoção no mercado externo fosse efectuada de uma forma integrada, inviabilizaram um plano de acção de marketing, a médio e a longo prazo.
Os tempos são outros e congratulo-me por termos, actualmente, uma Secretária de Estado batalhadora e com um sentido de liderança irrepreensível, assim como valorosos presidentes das várias regiões de Turismo, nomeadamente de Lisboa, Dr. Vitor Costa, do Centro, Dr. Pedro Machado, do Algarve, Dr. Desidério Silva e do Alentejo, Dr. Ceia da Silva. Não de somenos relevância, os presidentes das respectivas agências de promoção turística, que muito bem têm lutado, com grande nível de profissionalismo e com grande sentido de união.
No entanto e como nem tudo são “favas contadas”, gostaria de relembrar que, face ao que tive a oportunidade de constatar, na sequência das minhas viagens profissionais a vários mercados emissores, parte deste crescimento relaciona-se intimamente com aspectos conjunturais, face ao que ocorreu em alguns destinos turísticos. Certamente que, por questões estratégicas definidas e implantadas pelas entidades referidas anteriormente, resultou um significativo aumento de fluxos turísticos, para o nosso país.
Relembro que a acessibilidade dos vários mercados emissores a Portugal, foi determinante para o crescimento do turismo, nomeadamente nas cidades de Lisboa e Porto. Refiro-me, concretamente, às companhias aéreas low cost. Estamos, portanto, no bom caminho, porém é imperativo manter a luta com o objectivo de preservar o nosso património cultural, manter o mesmo sentido de responsabilidade e jamais esquecer de delinear o crescimento de uma forma sustentável, que permita às nossas unidades hoteleiras usufruir de uma excelente taxa de ocupação. Devemos reflectir no Revpar das várias zonas do país, o que nos obriga a inovar, com soluções e alternativas, de forma a diminuir o período de sazonalidade. Tal como referi no início deste artigo, têm sido vários os artigos de opinião em relação ao aumento sucessivo da oferta hoteleira em todo o país e em todo o tipo de alojamento. Há ainda quem defenda que não deveríamos ter mais turistas e estagnar o aumento da oferta. No meu ponto de vista, esta opinião não faz qualquer sentido, dado que qualquer empresário que pretenda abrir uma unidade hoteleira, faz o seu estudo de mercado e analisa, previamente, a rentabilidade do empreendimento. Há que ter em linha de conta que a actividade turística não é uma actividade isenta de riscos, porque o que parece certo, de um dia para o outro torna-se incerto. A actividade turística está totalmente dependente de aspectos políticos, sociais, ambientais e económicos e, muito na actualidade, sujeita aos níveis de segurança.
Em relação ao crescimento da oferta e sendo eu a favor da existência do alojamento local, como tipologia da oferta, vejo com alguma apreensão a existência de um número superior de quartos em alojamento local, do que na hotelaria tradicional. Podemos correr o risco de nos tornar, sobretudo nas cidades de Lisboa e Porto e no Algarve, um destino low cost.
Neste sentido e para que possamos alcançar e manter um turismo de excelência, importa que apostemos na hotelaria de luxo, para que possamos atrair cadeias internacionais de hotéis e fluxos turísticos com maior poder de compra. A nosso favor, dispomos de uma diversidade de produtos turísticos, condensados num pequeno território. Temos como exemplo a criação de rotas por produto turístico, nomeadamente, as nossas aldeias históricas que, creio, atingirá enorme sucesso a curto e médio prazo.
Múltiplos são os exemplos que solidificam o paradigma da mudança do turismo em Portugal. Muito têm contribuído para a notoriedade de Portugal as empresas de alta tecnologia e a indústria automóvel, realizando a sua parte de crescimento no nosso país e para apresentação das suas marcas. Bem como eventos de larga escala, como a Expo 2004, Volvo Ocean Race, Red Bull Air Race, World Surf League e mais recentemente, recentemente a Web Summit. Os nossos desportistas, que fazem ecoar o hino nacional no mundo inteiro, os nossos músicos, que levam a língua e a sonoridade portuguesa a plateias mundiais, os nossos cozinheiros que trabalham ou possuem restaurantes no estrangeiro, que provocam paladares com a impar gastronomia portuguesa, os nossos cientistas e investigadores, que fazem parte das melhores e mais exigentes equipas mundiais dedicadas ao avanço da vida nas suas incontáveis vertentes. Todos somos responsáveis, directa ou indirectamente por mostrar Portugal ao Mundo. Este artigo ficaria incompleto sem a referência à formação profissional, motivada pela carência de profissionais no sector hoteleiro, o que pode por em perigo a qualidade de serviço desejável. É cada vez mais importante valorizar a existência de profissionais com formação adequada. Para terminar, um última reflexão: lamento que esta actividade não seja, para muitos candidatos a emprego, uma primeira opção como carreira. Há ainda a salientar o facto de grandes cadeias internacionais, recrutarem profissionais em Portugal, para exercerem funções no estrangeiro. Esta situação dá que pensar! Tal como em tantas outras áreas, temos que desenvolver todos os esforços e definir estratégias, de forma a que muitos dos potenciais bons profissionais, não tenham que emigrar para alcançar melhor nível de vida.
*Por Manuel Pinto, director-geral do Hotel Mundial e Portugal Boutique Hotel
Artigo de opinião publicado no Publituris de 24 de Novembro.