Entrevista CNIG: “Mais de 80% dos campos de golfe optaram por recorrer ao lay off”
Em entrevista ao Publituris, o presidente do CNIG, Luís Correia da Silva, faz o ponto da situação e aponta as medidas de apoio necessárias e ajustadas às especificidades do setor.

Carina Monteiro
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Os campos de golfe estão fechados ao público desde que foi decretado o Estado de Emergência. Apenas estão a funcionar com os habituais serviços de manutenção. O CNIG – Conselho Nacional da Indústria do Golfe tem acompanhado de perto todos os desenvolvimentos relacionados com a situação de crise causada pela COVID-19 e num inquérito recente apurou que 82% das empresas/campos de golfe reduziu significativamente a sua atividade, tendo recorrido a medidas de excepção, na expetativa de, tanto quanto possível, conservar os postos de trabalho e poder estar em condições para a sua reabertura logo que tal seja possível para os golfistas nacionais e que a procura internacional começar a dar sinais de retoma. Em entrevista ao Publituris, o presidente do CNIG, Luís Correia da Silva, faz o ponto da situação e aponta as medidas de apoio necessárias e ajustadas às especificidades do setor. “O CNIG considera que será decisivo que o Governo tome uma decisão corajosa e reponha a taxa de IVA do golfe nos 6%”, defende.
Caso esta crise se arraste, as empresas que se dedicam ao golfe têm condições para sobreviver a uma nova recessão, tendo em conta que ainda há poucos anos saímos da última grande crise e que também tinha afetado fortemente o turismo?
Todas as empresas esperam sobreviver, mas com extrema dificuldade. Esta não é uma crise ou uma recessão de mercado com os contornos das sofridas em anos anteriores.
Não há evidência comparável sobre a sua eventual duração e consequências no curto, médio ou longo prazos, nem sabemos sequer quais as condições que estarão subjacentes à tentativa de formulação de uma”Estratégia de Saída para a Crise”. Esperamos que tal seja possível dentro de 1 a 2 meses.
Com os campos fechados não existe receita e uma parte substancial dos custos, em particular os associados à manutenção dos campos, mantêm-se. A pressão sobre a liquidez de Tesouraria é muito forte. As empresas ainda são obrigadas a gerir, da melhor forma possível, os pedidos de reembolso decorrentes dos cancelamentos de reservas e do pagamento de subscrições periódicas e de memberships pelos sócios.
Com o recurso a algumas das medidas de apoio entretanto apresentadas pelo Governo, as dificuldades financeiras e de Tesouraria podem ser atenuadas por mais 2-3 meses, mas a sobrevivência das Empresas, caso o quadro da crise se mantiver por um prazo de 3 meses ou mais (restrições à circulação das pessoas, aviões em terra, campos encerrados, etc.), vai obrigar a uma revisão, re adequação e reforço de medidas, num curto espaço de tempo, de forma a tornar possível a sobrevivência da indústria/empresas de golfe.
Se os apoios forem adequados à intensidade e dimensão da crise, os empresários acreditam que o sector do golfe vai sobreviver e, mais uma vez, recuperar. Não é o momento de “atirar a toalha ao chão”, mas sim de unir esforços e, em conjunto, encontrar a melhor forma de enfrentar mais este desafio. Há a consciência que, mais uma vez, não será fácil, mas tudo será feito para que a indústria do golfe continue a contribuir para a economia turística deste país.
O aumento da taxa de IVA do golfe de 6 para 23%, implicou que as empresas/campos fossem obrigadas a “espremer” as suas margens operacionais para absorver o impacto deste aumento nos preços dos green fees, subscrições/memberships e alugueres, etc. Desde então, muitas das empresas de golfe têm sobrevivido com enormes dificuldades, algumas delas impossibilitadas de realizar os investimentos habitualmente necessários à renovação de equipamentos e à melhoria das condições de jogo dos campos. Nos últimos dois anos verificaram-se alguns sinais de melhoria nos resultados operacionais e os 2 primeiros meses de 2020 pareciam acentuar esta tendência. No contexto atual de uma crise sem precedentes, já numa perspectiva de uma melhor e mais rápida retoma da actividade pós crise, será fundamental que as empresas/campos de golfe consigam reforçar a sua capacidade competitiva, investindo na recuperação e melhoria da qualidade de jogo, assim garantindo condições de sustentabilidade económica, financeira e ambiental, a curto e médio prazos. Para isso, o CNIG considera que será decisivo que o Governo tome uma decisão corajosa e reponha a taxa de IVA do golfe nos 6%.
Uma coisa é certa, depois disto tudo será diferente e, por isso, é altura de repensar o negócio, tornar as empresas e os campos mais competitivos e tudo fazer para garantir que Portugal continuará a ser considerado o melhor destino de golfe do mundo. Não bastará tentar ser melhor, vai ser necessário ser diferente.
Que estratégia devem as empresas seguir para fazer face aos tempos mais negros que se adivinham?
O sector/indústria do golfe em Portugal tem muitas particularidades. Os campo, as condições de jogo e as características dos destinos onde se localizam diferem nas diversas regiões do Continente e nas Ilhas. Há campos que pertencem a grandes grupos hoteleiros nacionais, outros que pertencem a Fundos e alguns são propriedade ou mantidos pelos seus sócios. Para já, não se trata de definir e implementar uma estratégia comum, mas sim, de concretizar um Programa de medidas de curto prazo, com dois objectivos comuns. i) Criar condições internas para a sobrevivência imediata, desejavelmente através do recurso aos apoios que o Governo está ou vai ter de disponibilizar. ii) Apostar no relançamento da actividade, apresentando-se aos parceiros de negócio e aos potenciais clientes golfistas, nos principais mercados estratégicos, com acções promocionais segmentadas e bem dirigidas e com propostas comerciais ajustadas e competitivas, que os possam voltar a interessar e considerar o país e as suas regiões como destinos de excepção para o golfe.
Neste contexto, o CNIG tem mantido informados os associados das medidas que têm vindo a ser tomadas, tanto do ponto de vista da protecção da saúde pública, como dos principais aspectos e decisões que, nos diversos mercados emissores, estão a determinar o comportamento dos operadores turísticos, companhias aéreas e dos potenciais clientes golfistas.
É ainda importante assegurar, tanto quanto possível, atendendo às circunstâncias extremas em que todos estão confrontados, um clima de tranquilidade e esperança nos colaboradores e respectivas famílias, nos associados dos clubes e nos clientes golfistas em geral, para que o foco não esteja unicamente na exigência do cumprimento imediato de obrigações, mas sim na busca de soluções que possam ser efectivamente implementadas no período ou logo após a retoma.
Das medidas já adotadas pelo Governo português para apoiar as empresas afetadas pelo surto de Covid-19, quais poderão ser as mais urgentes/importantes para as empresas deste setor?
Neste momento, o principal problema das empresas de golfe é a falta de liquidez de Tesouraria. A cadeia de valor do setor foi interrompida e está profundamente afectada, desde a origem ao destino, incluindo todos os serviços complementares. As empresas/campos estavam a entrar em plena época alta de golfe, com investimentos recentes na melhoria de qualidade de jogo e nos equipamentos de golfe para a manutenção dos campos, preparando o período que se avizinhava, quando a crise se instalou. E, sendo o golfe maioritariamente um produto de exportação, em que cerca de 87% das voltas são jogadas por estrangeiros e mais de 80% das receitas geradas provêm da respectiva presença e usufruto dos campos e serviços, o impacto deste cenário revela-se devastador, a curto e médio prazos, para a saúde económico financeira das empresas, independentemente da respectiva dimensão, pondo mesmo em causa a sobrevivência de muitas delas e a manutenção dos postos de trabalho (+ de 50% das receitas geradas pelas empresas/campos são habitualmente afectas ao pagamento de salários, taxas e contribuições sociais).
Assim, medidas de apoio à Tesouraria (Linhas de Crédito, etc.), medidas de protecção de emprego (Layoff Simplificado, apoios à formação, etc), moratórias nos compromissos financeiros com a Banca, suspensão e adiamento temporário do pagamento de obrigações contribuitivas e fiscais, ainda que algumas careçam de revisão urgente para uma melhor aplicabilidade e acesso, foram e são muito importantes. Neste momento, o CNIG sabe que mais de 80% dos campos de golfe optaram por recorrer ao regime de protecção, através do Layoff Simplificado.
Além das medidas já anunciadas, que outras medidas concretas devem ser adotadas para apoiar as empresas do turismo?
O CNIG tem estado a trabalhar, em articulação com a CTP, com a Secretária de Estado Turismo e com o Ministro da Economia, para identificar e apontar as medidas de apoio necessárias e ajustadas às especificidades do sector. Embora algumas medidas anteriormente identificadas, apontadas e sugeridas pelo CNIG, tenham sido bem acolhidas e entretanto adoptadas, é urgente que outras possam e sejam anunciadas, asseguradas e concretizadas. É importante que se simplifiquem procedimentos de operacionalização, de modo a permitirem um reforço rápido de Tesouraria das empresas.
Para além de, numa 1ª fase, em articulação com a CTP, o CNIG ter sugerido algumas medidas entretanto já implementadas, mais recentemente foi sugerido o/(a):
- Isenção de pagamento de Imposto de Selo nos contratos com Instituições Financeiras, celebrados no âmbito de financiamentos que venham a ser concedidos ao abrigo das linhas de crédito e de apoio COVID19.
- Isenção do pagamento de contribuições para a Segurança Social por parte das Entidades Empregadoras, nas remunerações pagas aos trabalhadores submetidos ao regime de Layoff Simplificado parcial, na parte correspondente às horas trabalhadas, por motivo de manutenção de imóveis e equipamentos dos campos de golfe, enquanto as Empresas não reiniciarem e relançarem, em pleno, a sua actividade.
- Operacionalização, com a máxima urgência, das condições de acesso às linhas de crédito COVID 19 que foram anunciadas, de modo a poder beneficiar as Empresas que necessitem de recorrer, no imediato, aos novos mecanismos de financiamento, entretanto anunciados;
- Possibilitar a conversão de créditos de curto prazo das Empresas que, momentaneamente e durante o período da crise, não podem cumprir com os seus compromissos com as Instituições Financeiras por dificuldades de tesouraria, em créditos de médio ou longo prazo.
- Diferimento do pagamento da primeira e segunda prestação de IMI relativa a 2019, pelo menos até 31 de Dezembro de 2020;
- Isenção de arrecadação de receita de IMI, relativa ao período de crise, de forma a tornar mais fácil a recuperação da actividade das empresas ao longo do próximo ano;
- Isenção de cobrança de todas as taxas municipais durante o período de crise e até a retoma da atividade por parte das empresas e dos campos de golfe.
- Moratória de 6 meses na cobrança das faturas de energia, a partir de 01 de Abril.
O CNIG propõe ainda sejam adoptadas algumas medidas importantes para facilitar e tornar mais rápido o período de retoma e recuperação, a saber:
- Revisão dos Planos de Comercialização e Venda (PCV) em análise ou já acordados/contratados com o Turismo de Portugal e as Agências de Promoção Turística Regionais para 2020;
- Preparação de um Programa Excepcional de Promoção Internacional de Portugal como destino de Golfe Turístico, a implementar nos mercados considerados prioritários, com o reforço do investimento em acções promocionais;
- Reforço no acompanhamento e monitorização da situação e do comportamento dos potenciais clientes/parceiros de negócio nos principais mercados emissores e junto dos principais prestadores serviços turísticos locais com actividade dirigida a Portugal, que potencialmente possam ajudar a retoma da procura de clientes golfistas para Portugal.