Reportagem: Uma outra face de Cabo Verde
Santo Antão, uma ilha cabo-verdiana desconhecida por muitos, mas com tanto para oferecer, não como um destino de praia, mas como um local onde reina a natureza e os sorrisos […]

Marta Barradas
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Santo Antão, uma ilha cabo-verdiana desconhecida por muitos, mas com tanto para oferecer, não como um destino de praia, mas como um local onde reina a natureza e os sorrisos de quem lá vive. Desperte os seus cinco sentidos neste destino de sonho.
Santo Antão. Uma ilha cabo-verdiana que, definitivamente, oferece um outro lado, para muitos desconhecido, daquilo que o país tem para oferecer ao nível de Turismo. Se pensa que, à margem do que existe em outras ilhas de Cabo Verde, aqui vai encontrar um destino de praia, desengane-se. Santo Antão é muito mais do que isso. Praias, não existem quase nenhuma, mas prepare-se, porque este é um destino que, decerto, o irá surpreender e suscitar uma experiência inesquecível. Saiba porquê.
É uma viagem de cerca de 45 minutos de ferry que separa a Ilha de São Vicente da Ilha de Santo Antão. Na verdade, esta é a única ligação existente para poder visitar esta ilha cabo-verdiana, uma viagem que apesar de atribulada, pelos ventos fortes e cruzados que se fazem sentir em alto mar, vale tanto a pena fazer. Aquando a chegada à Ribeira Grande, Porto Novo, a porta de entrada para a ilha, tanto de pessoas como de mercadorias, é perceptível a simpatia com que os visitantes são recebidos em Santo Antão, algo que também se assemelha às outras ilhas do país.
Ainda em relação às restantes ilhas cabo-verdianas, já reconhecidas no mercado e por tantos turistas pelo mundo fora, a diferença é, contudo, enorme, no que ao clima e à diversidade de paisagens concerne. Em termos de Turismo, por exemplo, a ilha cabo-verdiana difere de todas as outras, uma vez que pelas suas gigantes montanhas, torna-se mais propícia ao Turismo de Natureza e ao Turismo Ecológico. São diversas as actividades que este destino oferece aos praticantes de desporto, tanto em actividades aquáticas, com as práticas desportivas de diving e surf; como a nível terrestre, sendo ideal para amantes de caminhada e ‘trekking’.
No passado ano de 2009, foi inaugurada a nova estrada litoral Porto Novo-Janela, uma estrada asfaltada que dá acesso ao Paul e à Ribeira Grande, na costa nordeste da ilha. No entanto, é a Estrada da Corda a via mais procurada para quem pretende realizar actividades e caminhadas, por ser empedrada, pelo seu comprimento e pelo grau de dificuldade que oferece, tendo uma inclinação bastante elevada, o que motiva também os amantes de ‘hiking’, uma actividade que nada mais é do que ‘trekking’, diferenciando apenas o nível de dificuldade.
É do ponto mais alto da ilha, o Topo da Coroa, um vulcão inactivo, que é possível observar a grandeza do que a Mãe Natureza fez por esta ilha, uma paisagem digna de cortar a respiração a qualquer um. Mas a natureza não ficou por aqui, pela paisagem, foi muito mais além. Nesta ilha é possível encontrar dois ambientes e temperaturas diferentes. Sim, dois. A parte da ilha voltada a sudeste é árida, enquanto a zona nordeste recebe chuvas relativamente regulares e apresenta uma grande parte verdejante, onde se pode encontrar o maior número de população, que vivem sobretudo da prática da agricultura. A razão? O facto de Santo Antão ser dotado de montanhas tão elevadas que o vento e as chuvas são impedidos de passar para o outro lado, levando a que um lado apresente, também, um clima mais quente e seco, durante todo o ano.
A população de Santo Antão, como já referido anteriormente, vive sobretudo da agricultura. Aqui encontra-se facilmente plantações de batata doce, inhame, milho, mandioca ou cana de açúcar, produto essencial para a produção do grogue, a bebida tradicional deste destino, que também aqui é produzida. Esta aguardente típica é ainda, nos dias que correm, desenvolvida através dos métodos tradicionais, o que lhe confere um sabor forte, mas único.
Olhando para o mapa da Ilha de Santo Antão, são várias as referências que nos remetem para a influência portuguesa. Alguns dos nomes dos locais da ilha que nos lembram as ilhas portuguesas são diversos, tais como, Ribeira Grande, Ponta do Sol ou Paúl. Mas não são estas referências que fazem da ilha um local a não perder. Santo Antão é a terceira ilha mais habitada [das nove que são habitadas] de Cabo Verde e os principais locais com um maior número de população são a vila da Ribeira Grande, Porto Novo, que é a porta de entrada para quem vêm de barco através de São Vicente; e a Ponta do Sol, onde se localiza o aeródromo da ilha, mas que actualmente não está em funcionamento.
A época do ano que decorre entre o mês de Novembro ao de Abril é a mais forte a nível de taxa ocupação na hotelaria e no número de visitantes na ilha de Santo Antão. Neste destino, as unidades hoteleiras têm uma dimensão pequena, sendo na sua maioria hotéis boutique, de charme e de Turismo Rural, que se integram tão naturalmente na paisagem onde estão inseridas, tanto de montanha, como de mar, mas onde a paz e a serenidade se destacam em todas elas. Apesar de não ser um destino de praia, em Santo Antão o mar está sempre por perto, trazendo a quem por cá fica um estado de espírito comum a todas as ilhas do país: “Cabo Verde, No Stress”.
Se no início deste texto foi referido que este destino despertava todos os seus sentidos, explicamos agora porquê. Santo Antão desperta a visão, pelas paisagens naturais exuberantes rodeadas do mar que ostenta ao seu redor; o olfacto e o paladar, pelos aromas que a gastronomia típica, como é o caso do caldo de peixe, os legumes frescos e o grogue que aqui pode encontrar e experimentar; a audição, pela música cabo-verdiana, claro, mas também pelo som das ondas que rebentam na costa e que transmite uma sensação de tranquilidade; e o tacto, porque pode tocar e sentir aquilo que a Mãe Natureza de melhor pode fazer.
A AGITAÇÃO DE SÃO VICENTE
Aquando a chegada a São Vicente, a primeira característica do destino que é visível a qualquer um é a agitação que se faz sentir, ou não fosse ela a segunda ilha mais populosa de Cabo Verde. Só a cidade do Mindelo, o principal centro urbano desta ilha, conta com mais de 62 mil habitantes. Aqui, a população é caracteristicamente mais citadina, habituada a uma “confusão” que não se vê noutros destinos de praia deste país, como a Ilha do Sal e da Boavista, ou de Turismo da Natureza, como Santo Antão. Se em Santo Antão a principal actividade é a agricultura, pelas características naturais, São Vicente tem na pesca, no Turismo e no seu porto de mar ― o Porto Grande ― as suas principais fontes de receita.
Pelos mercados da cidade do Mindelo poderá encontrar vários produtos típicos locais, dos quais, de realçar, o peixe. É aqui também que pode descobrir um grande número de habitantes locais, ou não fosse a pesca e a venda do peixe o meio de sobrevivência de um grande número de pessoas.
Se pretende usufruir de um destino com praia, onde a animação e o contacto com a cultura local seja garantida, este é o sítio certo. Este é um destino com uma grande diversidade de actividades de diversão culturais, com música ao vivo um pouco por todo o lado e para todos os gostos. Mas a música, essa não muda, a morna faz parte da identidade cultural de São Vicente, um estilo musical que marcou a carreira de Cesária Évora. Durante o ano, poderá ainda encontrar períodos festivos que, decerto, não o irão defraudar. De destacar, o Carnaval, o Mindelact (Festival Internacional de Teatro) e o Fim de Ano.
Já no que diz respeito a praia, não pode perder a da Laginha. Imagine um mar com um azul tão intenso e uma areia tão branca e fina que parece uma imagem vindo directamente de um postal. É assim que defino a Praia da Laginha. Resta apenas ter sorte com a temperatura, pois Cabo Verde é, de natureza, um destino um pouco ventoso. Além deste local poderá ainda visitar a Baía das Gatas, uma piscina natural muito apreciada pelos visitantes deste destino, onde também decorre o Festival Internacional de Música da Baía das Gatas. Mas se for adepto de desportos aquáticos, então opte por São Pedro, perfeito para a prática de windsurf pelo vento que aqui se sente. Para terminar, escolha os caminhos que, de São Pedro, o levam ao farol e aqui desfrute de uma vista única.
Se por aqui passar, não deixe São Vicente sem visitar as diversas lojas e bancas de rua com artesanato local e para aconchegar o estômago, delicie-se com a tradicional cachupa. Quando se for despedir de São Vicente, então aí o conselho é outro, passe pelo Fortim do Rei, que oferece uma vista panorâmica da cidade e oiça ‘Sodade’ de Cesária Évora, porque vai, realmente, deixar saudades.
ANIMAÇÃO É NO SAL
O Sal é talvez uma das ilhas mais conhecidas e escolhidas pelos turistas que querem visitar o destino Cabo Verde, sendo também responsável pelo maior número de dormidas em todo o país. As principais razões para que assim seja são o clima ameno durante todo o ano que aqui se faz sentir, as suas praias paradisíacas, a possibilidade de actividades como a observação de animais marinhos e, acima de tudo, a simpatia dos que aqui vivem, fazendo deste um destino turístico ímpar. Apesar da sua população viver, na sua grande maioria, do sector do Turismo, esta é uma das menores ilhas habitadas de Cabo Verde, o que torna as visitas às principais atracções do destino muito simples e rápidas de fazer.
Um dos principais pontos turísticos deste destino são as suas salinas naturais, ou não fosse a sua designação Ilha do Sal. Esta é uma experiência que, com certeza, não vai querer perder. O grande teor de sal das águas permite que quem lá entre não consiga ir ao fundo, mas sim, boiar ao cimo da água. Deste local não parta também sem levar uma recordação, feita através do próprio sal marinho.
Para repousar, naturalmente, é na Praia de Santa Maria, que fica a poucos quilómetros do aeroporto. Além da maravilhosa praia já tão reconhecida, com as suas águas cristalinas e areal infindável, é aqui que se concentra a maior parte dos hotéis desta ilha, com uma inúmera oferta de grandes resorts, na sua maior com regime ‘all inclusive’. Por aqui pode optar por realizar diversas actividades ligadas ao mundo aquático, não ficando a viagem resumida a uma estadia de hotel. Poderá optar por um passeio de catamarã e, se tiver sorte, observar baleias ou golfinhos a bordo de um animado passeio. Nesta viagem há ainda a possibilidade da prática de ‘snorkling’ e encontrar a submersa estátua do Cristo Rei, que lá se encontra, dizem os locais, para protecção dos pescadores. Além desta opção, existe ainda o já conhecido Neptunus, uma embarcação que permite através do seu fundo panorâmico observar a vida marinha ao largo da praia, podendo encontrar várias espécies de peixes coloridos e outros animais marinhos. Entre os passeios deste barco é possível ainda observar dois navios náufragos, que pelos anos que lá se encontram agora usufruem de uma fauna inigualável.
Outro dos pontos turísticos a não perder na Ilha do Sal é a Buracona, um conjunto de piscinas naturais envoltas em rochedo. Tal como o nome indica, aqui é possível observar um buraco na rocha que, no seu fundo, com águas azul turquesa e cristalinas naturais deste destino, dão origem ao chamado ‘olho azul’. Para os mais audazes e corajosos, poderá saltar das rochas para o mar, embora não o seja aconselhado fazer a quem não conhece bem este local.
Mas não ficamos por aqui. A ilha do Sal é também conhecida pela sua vida nocturna. Sendo um país bastante pacífico e seguro, bastante habituado aos turistas, no centro da Vila de Santa Maria poderá encontrar uma grande diversidade de animação, de onde se destacam os clubes de dança ao som do funaná, mas também de kizomba, que apesar de não ser tipicamente cabo-verdiano, é um estilo muito apreciado pelos locais e pelos visitantes. Por aqui, pode optar por um bar com música ao vivo, ou dançar pela noite dentro numa das discotecas da vila. No entanto, também os hotéis dispõem de variados programas de diversão, desde os mais novos até ao mais velhos. O ritmo emana por todo o lado na noite cabo-verdiana, não vá embora sem usufruir dele.
INFORMAÇÃO ÚTIL
Hotelaria de Santo Antão
Pode se encontrar uma diversificada oferta hoteleira na Ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, não pelo grande número de hotéis que existem, mas pelos seus diferenciadores conceitos. As unidades, na sua larga maioria, tratam-se de hotéis pequenos, de charme, inseridos tanto num ambiente de montanha, como voltados para o mar. No entanto, a tranquilidade é semelhante em todos eles. Conheça três das ofertas hoteleiras existentes neste destino: O Santantao Art Resort, localizado em Porto Novo, o hotel dispões de 55 quartos standards (quartos twin/quartos de casal) 15 quartos superiores e três suites, na sua maioria com vista sobre o mar, uma piscina, restaurante e bar. Inserido numa paisagem de montanha, o Hotel Pedracin Village apresenta-se como um hotel de turismo rural. Com um total de 30 quartos e duas suites, todos com água aquecida por energia solar, piscina, bar e restaurante. O Hotel Paúl Mar é uma unidade situada frente ao mar, com um total de 19 quartos, todos eles com varanda com vista sobre o mar ou sobre o vale do Paúl.
Remodelações de hotéis
Sendo a Ilha do Sal a principal fonte de dormidas do destino Cabo Verde, as unidades hoteleiras sentem necessidade de melhorar as suas condições, de forma a corresponder às necessidades dos seus hóspedes. Fique a saber de alguns dos hotéis que vão apostar na sua remodelação este ano. O Hotel Oasis Belorizonte vai apostar na renovação dos espaços comuns como a piscina de água salgada, bar da piscina e recepção. Alguns dos bungalows do hotel foram já remodelados em 2014 mas, este ano, a unidade irá melhorar alguns dos seus quartos, dos quais 60 superiores e 10 comunicantes. Também o Crioula Club Hotel & Resort irá investir mais de um milhão de euros num projecto de remodelação. Há cerca de um ano e meio a unidade melhorou a totalidade de quartos ao nível da decoração e foram construídos um anfiteatro, bar e restaurante de raiz. Até ao final do mês de Maio, está prevista a inclusão de 20 novos quartos. Além disso, será ainda criado um novo espaço de spa com vista para o mar e com um espaço ‘lounge’, que deverá estar pronto até ao final de Julho/princípio de Agosto. Por fim, o ClubHotel Riu Funana e o ClubHotel Riu Garopa formam um resort que partilha instalações e actividades. Este ano, o Riu Garopa passará a chamar-se Riu Funana, enquanto o Riu Funana passará a designar-se Riu Palace. As remodelações da unidade passarão, essencialmente, pela decoração e pelos espaços de restauração.
Cesária Évora
Cesária Évora faleceu em 2011, mas por esta ilha permanece a sua memória, um pouco por toda a parte. A sua casa e a sua sepultura permanecem cuidadosamente mantidas, para que possam ser visitadas, conservando sempre a simplicidade que caracterizava a cantora cabo-verdiana. O seu nome é ainda relembrado no aeroporto desta ilha, que desde 2011, passou a designar-se Aeroporto Internacional Cesária Évora e a sua música ecoa um pouco por todo o lado nesta ilha. Mas esta é também “a casa” de vários outros artistas cabo-verdianos, como é o exemplo do Tito Paris, também cantor, e Jorge Barbosa, escritor.
* A jornalista viajou a convite da Solférias com o apoio da TAP