Impacto turístico dos festivais
Portugal tem uma agenda cultural cada vez mais preenchida, que tem ganho adeptos além-fronteiras. Os festivais de música, entre outros, movem milhares de turistas que acabam por experienciar o destino de uma forma diferente. Saiba qual o impacto turístico que os festivais têm nos destinos, assim como a forma como estes contribuem para o posicionamento do País como um destino moderno e ‘trendy’.

Raquel Relvas Neto
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Portugal tem uma agenda cultural cada vez mais preenchida, que tem ganho adeptos além-fronteiras. Os festivais de música, entre outros, movem milhares de turistas que acabam por experienciar o destino de uma forma diferente. Saiba qual o impacto turístico que os festivais têm nos destinos, assim como a forma como estes contribuem para o posicionamento do País como um destino moderno e ‘trendy’.
É de opinião geral que os festivais têm impacto no Turismo em Portugal, sobretudo no que à captação de público internacional diz também respeito. Mas para elucidar os mais cépticos, o Publituris questionou vários intervenientes nesta área para partilharem dados concretos daqueles que nos visitam com este fim.
José Barreiro, director do NOS Primavera Sound, que este ano acontece de 9 a 11 de Junho, indica ao Publituris que desde 2012 que “a forte presença do público estrangeiro e a crescente adesão do público nacional contribuem para um grande impacto cultural e económico na cidade do Porto”. E este impacto nota-se também na hotelaria da cidade, cuja taxa de ocupação durante os dias do festival situou-se entre os 80% e 90%, em 2012, como em 2013. “Em 2014 e 2015, atingiu praticamente os 100%”, salienta. “Na restauração, no comércio e no Turismo este impacto é sempre fortemente notado. Para isto contribui, não só o público estrangeiro, como as pessoas que, mesmo não sendo do Porto, se dirigem ao Parque da Cidade nestes dias para o festival e acabam por ter despesas de alojamento, deslocação, alimentação, além de, cada vez mais, aproveitarem para participar em actividades além do festival”, evidencia o responsável.
Segundo Roberta Medina, vice-presidente Executiva do Rock in Rio, o evento, que acontece em Lisboa, a 19, 20, 27, 28 e 29 de Maio, “fomenta o Turismo, gera emprego e movimenta a economia nas cidades onde se realiza. (…) Como plataforma de comunicação, já está provado que o Rock in Rio é um conteúdo jovem, fresco e dinâmico, que as próprias cidades usam como ferramenta de promoção turística”.
2016 é o ano “em que batemos todos os recordes e vamos ultrapassar os 30 mil estrangeiros, que comparando com as notícias que temos visto publicadas para justificar um apoio financeiro forte ao Web Summit que ia trazer 30 mil pessoas, estamos no mesmo campeonato”, começa por dizer Álvaro Covões, director-geral da Everything Is New, promotora do NOS Alive, que acontece a 7 a 9 de Julho, em Algés. Estes são números que deixam o responsável muito satisfeito, porque “sabemos que a música é o parente pobre” no que à captação de turistas diz respeito, mas “estamos a provar precisamente o contrário. Já trazemos mais gente do que o futebol”. Além do número de público internacional, acrescem as “30 a 40 mil pessoas fora de Lisboa, o que aumenta ainda mais o impacto na economia local”, realça o responsável daquele que foi considerado um dos melhores festivais da Europa e um dos melhores do mundo pelo público norte-americano. Pedro Moreira, responsável da EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, é peremptório em afirmar que “é do conhecimento global que alguns festivais de música têm a capacidade de incrementar o fluxo turístico nacional e local”. No que diz respeito à perspectiva da EGEAC, particularmente no que às Festas de Lisboa dizem respeito, Pedro Moreira tem conhecimento que “no período em que este programa ocorre se regista um incremento de 12% na taxa de ocupação hoteleira”. Também o interesse do público estrangeiro pelas Festas é “muito evidente, não só na participação nos eventos, mas também nas visitas ao site das Festas de Lisboa”. Segundo o responsável, “as Festas de Lisboa e o seu programa multidisciplinar têm atraído a visita de muitos estrangeiros à cidade e têm merecido a atenção de vários meios de comunicação da especialidade, dos quais destacamos a Lonelly Planet, a CNN Travel, entre outros, contribuindo estes para aumentar a curiosidade dos estrangeiros pela cidade”.
No início de Maio, realizou-se a XI edição do Festival Internacional da Máscara Ibérica (FIMI), uma iniciativa da Progestur – Associação para o Desenvolvimento do Turismo Cultural – em parceria com a EGEAC e Câmara Municipal de Lisboa. Hélder Ferreira, presidente da Progestur, conta que a iniciativa contribui “fortemente para dar mais visibilidade a nível internacional à riqueza da nossa cultura popular”. Para o responsável, “cada vez mais até pela influência da globalização, todos tomamos consciência da importância da cultura popular, pois é nela precisamente que encontramos os elos da nossa identidade, da memória e daquilo que nos faz diferentes. São precisamente estas vertentes que o FIMI nos traz, contribuindo para a imagem de Portugal no exterior, como um País de grande riqueza cultura e penso que isto é a melhor publicidade que Portugal pode ter”. O responsável observa que este género de eventos servem de complemento à visitação ao País e são “fundamentais para dar a conhecer outros territórios do País, além de Lisboa”. O FIMI regista habitualmente 500 mil pessoas, “muitos estrangeiros, que possivelmente concentram os seus dias de férias na zona da capital”. Ao passarem pela montra que é o FIMI, estes turistas têm a possibilidade de “conhecer outras regiões do País, de provar produtos dessas regiões, de conhecerem a sua oferta turística”.
NÚMEROS
Mas falemos de números e de quantos turistas internacionais os festivais atraem. Em 2014, o Rock in Rio – Lisboa vendeu mais de 12 mil bilhetes para fora de Portugal. Segundo Roberta Medina, para esta edição, “aumentámos o investimento em comunicação internacional para, não só, promover o Rock in Rio-Lisboa como ‘a cereja no topo do bolo’ de uma visita à capital portuguesa, como também promover Lisboa como a ‘cereja’ para que os que vierem ao Rock in Rio possam aproveitar a festa e assistir aos grandes nomes da música que passam pela Bela Vista a cada dois anos”.
No que diz respeito ao NOS Primavera Sound, José Barreiro indica que as perspectivas para este ano apontam para a presença de 10 mil participantes internacionais. O director do evento explica que, em 2014, o festival contou com uma assistência total de 76 mil espectadores, sendo que a percentagem de público internacional rondou os 40%. Já a edição passada “voltou a afirmar o festival como paragem obrigatória na Europa e ficou marcada pela melhor assistência de sempre com 77 mil pessoas e mais de 40 nacionalidades diferentes, de onde se destacam Espanha, Reino Unido e Alemanha”. Quanto à importância do turista que vem para o festival, dados referentes a 2015 do estudo público que o Instituto Superior de Administração e Gestão realizou durante os três dias do festival, mostram que a maioria dos visitantes que pernoita na cidade do Porto fica três ou mais noites. Na edição mais recente, o número de visitantes que pernoitaram três e quatro noites aumentou de 29,3% para 33,1% e de 22,65% para 30,1%, respectivamente. “O visitante estrangeiro que ficou alojado na cidade gastou cerca de 300€, fora as despesas com viagem e alojamento”, acrescenta. Além da visita ao NOS Primavera Sound, “75% dos visitantes que pernoitaram no Porto em 2015 visitaram a cidade em geral”.
Quanto ao NOS Alive, Álvaro Covões indica que sabe-se que “na média destas três edições, 74% fica cinco ou mais noites, o que é um resultado absolutamente extraordinário para um destino que tem como média duas noites e meia. (…) Podemos ainda complementar que, em média, 78% ficam alojados em hotéis, hostels e apartamentos turísticos, 16% em parques de campismo e 6% em casas de amigos.”
Sem dados apurados oficialmente, Hélder Ferreira indica que “muitas das pessoas que acompanham o festival e se deslocam a Lisboa propositadamente para participar ou assistir ao FIMI, chegam no início da semana permanecendo até ao domingo. Quanto ao gasto médio, será muito variável, mas atendendo a que estamos a falar de sete noites e 14 refeições por pessoa, serão sempre números agradáveis”.
EXPERIÊNCIA
Depois de vivenciarem a sua experiência durante os festivais e ficarem a conhecer um pouco mais sobre o destino, será que os turistas ficam com outra ideia de Portugal? O responsável do NOS Alive refere que 80% do público que vêm ao festival vêm pela primeira vez à região de Lisboa. “Significa isso que as pessoas vêm com uma ideia pré-concebida do destino e, obviamente, como todos sabemos que quem visita Portugal vai embora com uma ideia muito mais favorável do que quando chegou. A opinião à partida, na maior parte dos casos, é 90% mais positiva do que à chegada”.
Na opinião do responsável da EGEAC, sente-se que “passa a existir um reconhecimento positivo da componente global da cidade, da sua dinâmica e riqueza cultural, do diálogo intenso com o espaço público e da forma tão acolhedora com que recebe os visitantes”.
Por sua vez, José Barreiro considera que “é complicado saber que ideia prévia têm os turistas que chegam à cidade mas, no que ao festival diz respeito, sabemos que ficam satisfeitos e que, na maioria, aproveitam para conhecer o que a cidade tem para oferecer e afirmam querer voltar na edição seguinte”. O director do NOS Primavera Sound considera que “temos de olhar para o público internacional e mostrar-lhes que aqui neste festival, nesta cidade e neste País, ele vai poder usufruir de uma experiência completa irrepetível”. Rui Barreto refere que Portugal conta com “excelentes acessos, uma localização privilegiada junto do mar, um custo de vida mais baixo que a média da Europa e uma população que gosta de perceber os turistas que nos visitam. Assim, através da cultura, estamos a promover muitas outras coisas que são indissociáveis ao festival”.
PROMOVER PORTUGAL
Estes eventos são também uma oportunidade para se promove o destino junto daqueles que de outra forma não viriam tão cedo conhecer Portugal. Quanto ao FIMI, Hélder Ferreira considera, “sendo um evento de raíz cultural, quer contribuir para que toda esta riqueza cultural seja uma mais-valia para as regiões. Falamos certamente de apoiar o desenvolvimento regional através de um evento que promove o melhor que as regiões têm para oferecer”. A vice-presidente executiva do Rock in Rio considera que “aproveitando o potencial mediático do evento, a nossa estratégia de divulgação passa sempre também por promover Lisboa e Portugal no estrangeiro. Esta é uma preocupação constante da organização do Rock in Rio nos mercados onde está presente. A caminho da sétima edição do Rock in Rio-Lisboa, e com tantas outras edições pela frente, o compromisso do festival continua a ser o de utilizar o evento, em parceria com o sector público e privado, como conteúdo de promoção das cidades que o acolhem”.
Também o responsável do NOS Primavera Sound considera que os festivais são uma oportunidade para se promover o destino de variadas formas. “O NOS Primavera Sound é uma referência do Porto e promover o festival é também promover a cidade enquanto destino em crescente afirmação cultural e internacionalmente reconhecido como destino turístico de excelência”, assim, destaca, “para mim, é uma satisfação perceber que o festival contribui para deixar uma marca importante no Porto, ajudando a sua proposta turística”. Um dos exemplos desta contribuição teve lugar em 2013, ano em que a organização desafiou algumas tasquinhas da cidade a apresentar os seus produtos no recinto do festival. “A iniciativa foi um estrondoso êxito e as tasquinhas do Porto têm marcado presença desde então. Assim, mesmo aqueles que nos visitam exclusivamente para o festival acabam por experimentar a nossa gastronomia e aguçar o apetite de um possível regresso”, refere.
Para José Barreiro, “a cultura sempre foi um meio fortíssimo na projecção da identidade de um país e de uma região no estrangeiro. As nossas vantagens competitivas estão intimamente ligadas com as vantagens competitivas de uma cidade como o Porto e de um país de forte tradição turística como é Portugal”. Por sua vez, Álvaro Covões indica que promover o destino a par do festival é algo que a Everything is New faz desde a primeira edição. “Em primeiro lugar nós vendemos o destino”, sublinha, reforçando que “o nosso ‘claim’ na comunicação é que o festival está a 10 minutos da praia e a 10 minutos do centro histórico da cidade de Lisboa”.