No discurso de encerramento da VII Cimeira do Turismo Português, organizada pela Confederação do Turismo de Portugal (CTP), Francisco Calheiros, presidente da entidade começou por frisar que “o país precisa do Turismo”.
Considerando que a atividade do turismo tem sido “o motor da economia portuguesa na última década”, destacando que foi este o setor que permitiu “minimizar a crise financeira e económica e virar a tal página da austeridade, depois da intervenção da troika”, o presidente da CTP, que dirigiu o seu discurso ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, que chegara de uma reunião com o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, em que foi negociado o Orçamento de Estado para 2025, referiu ainda que o turismo “foi um grande apoio da nossa economia para a recuperação a seguir ao recente período da pandemia de Covid-19”.
Frisando que o contributo do turismo tem um peso no PIB próximo dos 15%, “mais do que a média europeia”, Francisco Calheiros espera que os dados oficias do mês de agosto possam confirmar o crescimento registado em julho nas dormidas (+4%) e nas receitas (+11,6%), indicando, igualmente, que os dados que a CTP possui apontam para um crescimento das dormidas na ordem dos 3%, “sendo que as receitas terão um aumento maior”, admitiu Calheiros.
Assinalando ainda que, no primeiro semestre de 2024, Portugal “foi dos países que menos crescem na zona euro”, de acordo com dados do Eurostat, o presidente da CTP convidou os presentes a responder à seguinte: “o que seriam os dados oficiais da economia do País se não fosse o contributo do Turismo?”.
Reforçando a ideia que tem vinculado há algum tempo de que “não há Turismo a mais! Há sim economia a menos e uma gestão pouco eficiente do território”, Francisco Calheiros não ignorou o facto do crescimento do Turismo deixar pegada, daí salientar que, por isso, “deve haver uma melhor estratégia da gestão dos fluxos turísticos”, de modo a que “não se faça do turismo um problema da dimensão que alguns lhe querem dar”.
Outro tema que Francisco Calheiros trouxe para o palco foi, no seu entender, “o erro” que se está a cometer ao “tentar resolver-se o tema da pressão turística aplicando uma taxa que não é a solução”. Em vez dessas taxas, a CTP defende uma solução “muito mais justa e que passa por ser aplicado na prática o chamado ‘IVA Turístico’, que está regulamentado por uma portaria, mas que não está em vigor”, considerando esta solução direta, justa e que faz todo o sentido”.
Aeroporto decidido! E a ferrovia, para quando?
A questão do aeroporto não poderia, naturalmente, faltar no encerramento da Cimeira da CTP, não por inexistência de uma decisão relativamente a esta infraestrutura, mas por não existir uma solução intermédia até à conclusão do novo aeroporto.
“Decidida a localização, que se construa e sem atrasos”, salientou Francisco Calheiros, não sem indicar que a solução intermédia a ser considerada ser “sem dúvida o Montijo”. Até porque, segundo o presidente da CTP, depois de decida a localização para o novo aeroporto, “este voltou a sair da agenda e sinceramente preocupa-me o silêncio que já vai longo desde que foi decidida a sua localização”.
Além do novo aeroporto, Francisco Calheiros avançou ainda com uma solução estratégica, também de grande importância para o país, referindo-se à ferrovia. “Seria tão importante termos, o quanto antes, a ligação Lisboa-Madrid e Porto-Madrid em TGV”, indicando que, com a existência de uma alta velocidade, por exemplo, Porto-Madrid, “estarmos a falar em mais de 40 voos diários que não serão necessários realizar e isso dá uma maior capacidade aeroportuária, enquanto o novo aeroporto não existe”.
Dirigindo-se diretamente ao primeiro-ministro, Francisco Calheiros salientou que “o que os empresários menos querem é novas eleições, instabilidade política ou um país a viver de duodécimos”, indicando o presidente da CTP que “estrategicamente há muito mais por fazer no país”. Assim, segundo Francisco Calheiros, “Portugal precisa de uma reforma do Estado que prepare o País para conseguir crescer estrategicamente, sem empecilhos burocráticos e sem uma carga fiscal insuportável, é imperativa a redução dos custos sobre os rendimentos do trabalho, nomeadamente da TSU e do IRS, assim como uma redução do IRC, e que o PRR seja executado dentro dos prazos previstos”.
Contudo, a chamada de atenção do presidente da CTP foi mais longe e abrangeu, como disse, “três temas estruturais” que têm de ser resolvidos com urgência: habitação, o problema demográfico e a necessidade de diminuir a despesa pública.
As 3 condições para venda da TAP
Finalmente, no que diz respeito à TAP, “uma empresa estratégica para o país e para o turismo”, o presidente da CTP admitiu que terá de haver “uma grande capacidade negocial para vender a TAP ao preço justo, não podendo haver hesitações ou recuos”.
Considerando que a solução para a TAP “não se pode arrastar no tempo e tem de ser eficaz”, Francisco Calheiros deixou três condições essenciais de que os empresários do Turismo na abdicamos: “quem vier a ficar com a TAP tem de garantir o hub, os empregos e as ligações aéreas à diáspora e às ilhas”.
Até porque, com uma TAP “bem gerida” e garantindo estas três condições essenciais, com um novo aeroporto a funcionar em pleno, com uma ferrovia mais moderna e a ligar todo o país, com o problema da mão de obra resolvido e com melhores condições estruturais e financeiras para o funcionamento das empresas, “continuaremos a ter o turismo a crescer de forma sustentável nas próximas décadas, criando emprego, desenvolvendo as várias regiões do país, contribuindo para a inovação e a formação e, assim, continuando a ser o motor que tanto o país precisa”, disse o presidente da CTP.
Recordando a Luís Montenegro que “o sucesso de um Governo não está no que promete, mas naquilo que realiza”, o presidente da CTP concluiu: “não nos desiluda, que o Turismo também não o irá desiludir”.