Turismo da Guiné-Bissau aposta na promoção da marca Bijagós
O Governo da Guiné-Bissau tem como um dos seus principais objetivos desenvolver o setor do turismo no país, através da promoção dos Bijagós, arquipélago com 88 ilhas, classificadas, desde 1996, pela Unesco, como reserva da bioesfera.
Carolina Morgado
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O Governo da Guiné-Bissau tem como um dos seus principais objetivos desenvolver o setor do turismo no país, através da promoção dos Bijagós, arquipélago com 88 ilhas, classificadas, desde 1996, pela Unesco, como reserva da bioesfera.
O ministro do Turismo da Guiné-Bissau, Fernando Vaz, que esteve em Portugal para participar na BTL, falou ao Publituris sobre a estratégia de desenvolvimento turístico do país, que passa pela promoção do arquipélago dos Bijagós como a marca “urbrella” do turismo do país. E como a hotelaria é uma área vital para o desenvolvimento do turismo, o governante promoveu, no âmbito da Bolsa de Turismo de Lisboa, uma conferência sobre o investimento turístico na Guiné-Bissau.
Qual é a estratégia adotada pelo governo da Guiné-Bissau com vista ao desenvolvimento de um setor tão importante para a economia do país, como é o turismo?
Ainda estamos a construir os alicerces. Nesta perspetiva, no setor do turismo é fundamental dar a conhecer o potencial turístico que a Guiné-Bissau tem e que a maior parte das pessoas não conhece, especificamente os investidores. Queremos que os investidores olhem para a Guiné-Bissau, apesar de um handicap muito grande que é a questão da instabilidade política que tem manchado a imagem do país, mas quem conhece a Guiné-Bissau sabe que os Bijagós se constituem como um paraíso fora do continente. Mesmo durante o período da guerra colonial nunca se ouviu um tiro no arquipélago, o que se mantém até hoje. Tudo o que acontece no continente, como tentativas de golpe de estado, passam ao lado dos Bijagós. Portanto, os investidores estrangeiros são bem-vindos, como os que lá estão, pois há todas as garantias de estarem num paraíso e onde não serão afetados por essas instabilidades constitucionais que julgo terem acabado definitivamente, depois dos acontecimentos do passado 1 de fevereiro em Bissau [tentativa de golpe de estado]. Nessa perspetiva e tendo em conta o nosso enorme potencial turístico, particularmente nas ilhas dos Bijagós, levamos a cabo um fórum durante a BTL, com o objetivo de sensibilizar os investidores a escolherem a Guiné-Bissau como local para materializarem os seus investimentos. Este é o objetivo principal, ou seja, promover a nossa principal marca turística, que são os Bijagós.
O que se pretende concretamente ao nível do investimento? Querem grandes projetos hoteleiros como existem por exemplo nas Caraíbas?
Não, não pretendemos isso, até porque os Bijagós situam-se num ecossistema que precisa de ser preservado e tem uma sustentabilidade própria. Caso contrário, aquilo que temos para oferecer de diferente, desaparece. Queremos apresentar ao mundo como um destino turístico diferente, um destino onde os turistas possam ver os hipopótamos únicos do mundo [vivem em água doce e água salgada], e não queremos que eles abandonem os seus habitats naturais no Orango e nas ilhas circundantes. Para isso vamos dimensionar as unidades hoteleiras consoante a natureza das ilhas, sendo que umas são grandes, outras médias e outras muito pequenas. A nossa maior ilha tem quase 40kms de comprimento, portanto já é bem grande. Aí, eventualmente, e como está na parte mais exterior do arquipélago, em pleno Atlântico, pretendemos unidades de maior dimensão. Nas ilhas que se situam na parte mais interior do arquipélago, nas zonas de nidificação das aves, da desova das tartarugas, onde se encontram os hipopótamos, e se avistam golfinhos, bem como outras espécies que queremos que convivam connosco todos os dias, vamos apostar no ecoturismo com unidades de pequena dimensão. Estamos a pensar em unidades hoteleiras entre os 50 e 150 quartos no máximo.
Querem privilegiar o investimento português?
A nível do investimento estamos abertos a qualquer nacionalidade, mas se vier de Portugal, tendo em conta a comunhão de língua e de cultura, penso que há vantagens.
Os Bijagós têm problemas nas ligações com o continente. O que é que o Governo está a fazer para colmatar isso?
Temos um projeto de melhoramento do aeródromo de Bubaque. Nas ilhas já dispomos um bom porto que consegue receber qualquer tipo de embarcação turística. Vamos melhorar o aeródromo e as vias urbanas de Bubaque. Queria, no entanto, referir que, neste momento, estamos a recuperar quase todas as vias urbanas de Bissau. A capital do país tornou-se uma cidade feia e pouco atrativa. Fazer turismo numa cidade toda esburacada, com ruas sem passeios, e sem esgotos, torna-se caótica. Penso que será um dos maiores projetos no país desde a independência, ao nível da intervenção estrutural. De igualmente modo se pensa para as capitais das regiões com pequenas intervenções, incluindo as ilhas, naturalmente.
Para além dos Bijagós
A Guiné-Bissau não tem só os Bijagós. Hoje, como sabemos, o turismo de natureza é muito importante e o país conta com diversos parques naturais.
Para o turismo de natureza, além do arquipélago dos Bijagós, eleito pela Unesco como património mundial da biosfera, 26% do território nacional é constituído por reservas e parques naturais, ou seja, um terço dos nossos 36 mil quilómetros quadrados, que temos de preservar, particularmente no sul do país. De destacar o Parque Nacional de Cantanhez e a Lagoa de Cufada, zonas onde se pode fazer turismo de observação, de natureza, e onde estão a surgir pequenas unidades turísticas, e fazem parte de um dos nossos cinco itinerários definidos para um tipo de turismo diferente. Temos em Cantanhez os célebres chimpanzés, elefantes que atravessam a fronteira vindos da Guiné- -Conakry, búfalos, leões e outras espécies de fauna muito rica. Na Lagoa de Cufada existe uma zona de nidificação de aves que fogem do frio da Europa no inverno. Temos 300 a 400 espécies diferentes de aves. Enfim, temos tudo para fazer o melhor turismo de observação e de natureza no sul da Guiné-Bissau. Ainda na parte continental temos praias fabulosas, as quedas de água do rio Saltinho, ou seja, temos um pacote em que podemos oferecer muito, para além da caça e da pesca desportiva.
Esta busca de investimento estrangeiro significa que o setor privado guineense não tem massa crítica, nem poder económico para investir no turismo?
Começa a haver alguma classe nacional que investe no setor turístico. Temos, por exemplo, o antigo Grande Hotel, o primeiro hotel de Bissau, que foi comprado por um grupo de empresários guineenses, para o converter numa unidade de quatro ou cinco estrelas. Temos em Gabú, no leste do país, um outro investimento similar de um empresário nacional, em Canchungo (no norte) também. Portanto, os nacionais começam a apostar no turismo. Mas, naturalmente, para atrairmos turistas têm que ser cadeias de renome, de marca já feita, a exemplo do que acontece em Cabo Verde. A aposta da marca RIU Hotels na ilha do Sal fez com que muitas outras de renome internacional fossem atrás. O que queremos fazer nos Bijagós e no continente, é precisamente isso, conseguir levar uma marca sólida capaz de provocar efeitos a montante e a jusante. Tendo essa marca na Guiné-Bissau, o próprio Estado vai olhar para o turismo de outra maneira, vai investir mais e considerar este setor como prioritário na prática, ou seja, vai investir em infraestruturas para o setor.
Então o turismo não é considerado setor prioritário para o desenvolvimento económico do país?
Politicamente considera. Na orgânica governamental fomos elevados de Secretaria de Estado para Ministério, dando importância ao setor do turismo, isto pela sensibilidade que o Presidente da República tem do setor, mas no Orçamento Geral de Estado não foi refletida essa prioridade. Temos uma dotação orçamental que não prevê investimentos em infraestruturas para o setor. Por isso é que digo que só politicamente. Mas penso que, com o trabalho que estamos a fazer, acreditamos que o próprio governo irá mudar o seu conceito nos próximos orçamentos.
Mais oferta de Portugal
De onde chegam os turistas que hoje em dia visitam a Guiné-Bissau?
O principal país emissor de turistas para a Guiné-Bissau é Portugal, contrariamente aquilo que acontecia há uns anos que era a França. Fizemos em Portugal uma campanha de promoção muito forte. Pela primeira vez colocámos outdoors nas autoestradas portuguesas a oferecer o nosso destino, que teve um impacto muito grande. Tivemos também alguns programas, bem como visitas de jornalistas portugueses, numa estratégia que está em curso, e que fez com que muitos portugueses procurassem os Bijagós como destino de férias.
Até porque há vários operadores portugueses que programam a Guiné-Bissau, nomeadamente os Bijagós.
A Sonhando, que pertence ao grupo euroAtlantic, é um bom exemplo.
Também hoje em dia é muito mais fácil chegar à Guiné-Bissau pelo número de voos semanais diretos de Lisboa.
Temos três voos semanais da TAP e um da euroAtlantic airways, que vai passar para dois por semana a partir de junho. Portanto, vamos ter brevemente cinco voos diretos por semana à partida de Portugal. A própria TAP já solicitou uma quarta frequência. Se isso acontecer, teremos um voo quase todos os dias, o que permitirá fazer diversos pacotes turísticos, além do que o fator concorrência depois irá fazer com que os custos sejam menos elevados. O preço do avião para a Guiné-Bissau é elevado, o que faz com que a oferta dos pacotes turísticos seja alto. Isso irá pressionar os preços no sentido de serem mais baixos, com pacotes muito mais acessíveis.
Outro fator importante é a proximidade entre os dois países?
A quatro horas de voo. Não é preciso ir às Caraíbas para encontrar praias de areia branca e água límpida e quente. “Venha aos Bijagós”, é o convite que fazemos e o turista terá as Caraíbas a quatro horas de voo. Outra vantagem: os Bijagós são um paraíso na aceção da palavra. Mesmo com a Covid-19, não são praticamente conhecidos casos, além de ser uma região que não tem paludismo (malária). É um paraíso à parte e com todas as condições para receber turistas europeus.
É esta marca que querem incutir não só em Portugal como em outros países emissores europeus?
É isso precisamente. Se reparar todos os países vendem a sua marca. O Brasil, por exemplo, venda a Bahia como uma marca, o Ceará como uma marca, vende o Rio de Janeiro como uma marca. Nós hoje começamos pelos Bijagós, depois quem sabe, o Sul como uma marca, Varela como outra marca. Portanto, a estratégia é essa. Não estamos a inventar nada, mas a fazer aquilo que outros países, que chegaram onde chegaram, fizeram.
*A entrevista foi publicada originalmente na edição 1461 do Publituris.