Golfe espera sair do “sufoco” este ano
As expetativas para o golfe este ano, principalmente no Algarve, região que concentra o maior número de campos, são altas, após cerca de dois anos de “sufoco” causado pela pandemia, uma vez que dependendo dos mercados externos, estes não puderam viajar. Tudo aponta para um ano de retoma, com resultados já muito próximos aos verificados em 2019.

Carolina Morgado
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Portugal tem condições excecionais para a prática de golfe, por isso é procurado por jogadores de todo o mundo. Várias vezes foi eleito o “Melhor Destino Mundial de Golfe” pelos World Golf Awards. No último ano o país arrecadou o prémio de “Melhor Destino de Golfe da Europa”, pela mesma instituição. Também os seus campos ostentam diversos galardões europeus e mundiais.
A experiência turística integrada, com boas acessibilidades aéreas e terrestres, a hospitalidade, as excelentes infraestruturas desportivas e hoteleiras, adequadas aos diferentes perfis de atletas, e a boa relação qualidade/preço do destino, a par do elevado número de dias de exposição solar, são alguns dos fatores apontados como distintivos na oferta nacional, e que têm feito a diferença.
O clima, a cultura, a gastronomia e os vinhos, as praias, a história, a variedade das paisagens, e sobretudo, a hospitalidade do povo português, são elementos diferenciadores que fazem de Portugal um destino de excelência para a prática da modalidade e o seu reconhecimento tem-se verificado através dos vários prémios conquistados ao longo dos últimos anos.
Em recentes declarações, Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, confirmava o potencial turístico do produto, referindo que “a procura de golfe, maioritariamente internacional, contribui de forma significativa para a existência de atividade turística ao longo de todo o ano – um dos grandes objetivos da Estratégia 2027. Temos que continuar – públicos e privados – a trabalhar na captação de novos segmentos e na fidelização dos atuais turistas, reforçando o perfil de Portugal como destino de excelência para os praticantes da modalidade”.
Existem atualmente 91 campos de golfe em Portugal, sendo o Algarve a região que concentra o maior número de campos em Portugal seguido de Lisboa. No que toca aos mercados de origem, o Reino Unido continua a ser o mercado emissor mais representativo.
Em Portugal, há campos de golfe em locais deslumbrantes — no meio de florestas de pinheiros, no topo de falésias com vista alargada para o mar ou em quintas centenárias. Lugares mágicos onde se sente a natureza em estado puro. Mas não são só as paisagens maravilhosas que conquistam os amantes de golfe: invernos suaves e verões pouco quentes ajudam a manter os relvados perfeitos.
Portugal tem campos de golfe com características adequadas aos vários níveis de dificuldade da modalidade. Há áreas com traçados que requerem um bom domínio técnico, ideais para jogadores profissionais. Outras zonas mais tranquilas destinam-se a praticantes não profissionais.
Pandemia troca as voltas ao golfe
Quando este segmento estava em pleno crescimento no país, a pandemia trocou-lhe as voltas.
Em 2019 “tivemos mais de 1,35 milhões de voltas, ano recorde da atividade do golfe, e passámos para 116 mil voltas em 2020, uma queda superior a 88%, porque a pandemia teve especial incidência de confinamento nos períodos da época alta do golfe”, revelou o presidente da RTA, para adiantar que, apesar dos mesmos constrangimentos, em 2021 o crescimento foi superior a 5%, mas ainda com 44% de quebra face a 2019, tendo o ano terminado com 756 mil voltas”.
Os resultados não foram piores porque, segundo o presidente do CNIG, os golfistas nacionais e estrangeiros residentes no nosso país, pertencentes a associações e clubes de golfe mantiveram alguma atividade, apesar dos confinamentos. O problema foram os golfistas internacionais que a pandemia não deixou viajar, e que representam mais de 70% de praticantes deste desporto, principalmente nas regiões turísticas como o Algarve, destinos à volta de Lisboa, o Oeste e a Madeira, em que o golfe tem um peso considerável e depende muito dos praticantes de mercados externos. “As receitas dos campos é que foram, substancialmente, inferiores, porque quem deixa a maior receita são os jogadores estrangeiros”, esclareceu. 70% das receitas provêm de jogadores estrangeiros e 30% de jogadores nacionais e estrangeiros residentes. No Algarve, a situação é ainda mais gritante, uma vez que 90% das receitas dependem de jogadores estrangeiros. 70% dos golfistas são do Reino Unido ou Irlanda. O resto tem havido um crescimento muito interessante de França, Itália e Bélgica.
O golfe turístico é um dos principais fatores de combate à sazonalidade visto que as duas épocas de piso são abril/maio e depois setembro/outubro, mas basicamente joga-se a partir da última semana de fevereiro. Daí que Luís Correia da Silva tem já boas perspetivas em relação a 2022, lembrando que nos últimos dois anos, com a pandemia, os campos não tiveram praticamente receitas e, embora encerrados, os custos com a manutenção, que são muito elevados, tiveram de ser mantidos, com vista a manter a qualidade que é indiscutível.
Se para Portugal, país essencialmente recetor de jogadores de golfe a pandemia obrigou a grandes quebras, em alguns mercados emissores, porque existindo já muitos jogadores, a modalidade teve um crescimento de forma brutal, conforme explicou o presidente do CNIG. A garantia de distanciamento físico com os outros jogadores num ambiente naturalmente arejado onde é possível retemperar a forma física e mental, esteve na origem deste aumento, que também criou novos públicos mais jovens.
O presidente da RTA confirma que “tanto no golfe como na náutica passou a haver mais jogadores jovens, ou seja, a pandemia obrigou a que as pessoas não viajassem, portanto ficaram nos seus países a fazer atividades ao ar livre, e a ingressar na prática do golfe. Também houve os não tão jovens a retomá-las. Isto é bom sinal porque há um rejuvenescimento da procura e a maior dimensão dessa mesma procura. Obviamente que o sénior tem determinada disponibilidade de tempo que o jovem pode não ter, mas os campos de golfe sendo muito ágeis nestas questões do marketing, vão começar a trabalhar este segmento também”.
Correia da Silva concorda e considera que “de repente o golfe, que era uma atividade que estava de alguma maneira em perda com muita gente a deixar de jogar e poucos jovens a aderir, houve um crescimento em países como a Suécia, Dinamarca ou Inglaterra, entre outros. Durante a pandemia esses campos estiveram completamente esgotados. Houve campos nesses países que tiveram receitas como nunca”.
Existem atualmente 91 campos de golfe em Portugal, sendo o Algarve a região que concentra o maior número de campos em Portugal, seguido de Lisboa
Em Portugal, o que acontece é que, infelizmente, temos muito pouco jogadores de golfe e não temos tido a capacidade de aumentar o número de praticantes no nosso país. O mercado nacional encontra-se ainda numa fase embrionária apresentando valores na ordem dos 15.000 jogadores federados. “Por um lado, há a ideia de que o golfe é um desporto elitista e por outro que é caro, o que não corresponde à verdade”, destaca Luís Correia da Silva. E o CNIG não pode estar alheio a este fenómeno, acreditando que pode e deve intervir, assumindo assim o aumento do número de jogadores como um dos principais desafios que se colocam à Indústria neste momento.
Mesmo assim, os campos com um número elevado de sócios nacionais, ou de estrangeiros residentes, tiveram até um aumento no número de voltas jogadas, apesar de não se traduzir em aumento de receitas.
“Os sócios pagam uma anuidade e podem jogar o ano todo. Muitas pessoas estiveram em teletrabalho, e como não tinham de ir ao escritório todos os dias ficaram com mais tempo livre por semana para jogarem golfe”, explica Luis Correia da Silva.
Promoção é fator essencial
O presidente do CNIG criticou a promoção que Portugal faz em relação a um produto tão importante para o país, apesar de reconhecer que já se vai fazendo alguma coisa. “Sem dúvida que gostaríamos que houvesse muito mais investimento no golfe turístico, porque é hoje responsável por trazer a Portugal, num ano normal, um nível de receitas que chega aos dois mil milhões de euros”, destacou, porque, acrescentou, “quem vem para o golfe turístico fica num hotel, vai a um restaurante, aluga carros, faz compras, etc.. E depois, com uma particularidade, vem fora das épocas do turismo de massas. É um complemento e que mantém uma série de destinos ativos vivos”.
No entanto, perante uma concorrência muito forte principalmente do Sul da Europa, o Turismo do Algarve realça que, mesmo nos primeiros momentos do confinamento, a região levou a cabo várias ações de formação para agentes de viagens numa lógica de mostra de destino virtual. “Primeiro fizemos formação à distância para os nossos principais operadores e agências portuguesas e espanholas, e depois junto destes profissionais dos nossos principais mercados emissores, nomeadamente do Reino Unido, Escandinávia e Irlanda”, esclareceu o presidente da ATA.
Indicou ainda que, além disso “uma das campanhas que fizemos no fim do verão de 2020 e que reiteramos depois com o Turismo de Portugal, tinha a ver com um apelo a vir trabalhar à distância no Algarve, misturando a lógica do trabalho com o lazer, nomeadamente o golfe. Não fomos inocentes, uma vez que somos o único país da Europa que tem o mesmo eixo horário que o Reino Unido, enquanto os nossos concorrentes têm essa desvantagem competitiva. Muitos foram os novos residentes estrangeiros que vieram nessa lógica e passaram cá os momentos dos confinamentos. Tivemos também campanhas com a aviação para oferecer os transportes dos materiais de golfe, temos agora uma campanha da ATA que é multiproduto e também envolve o golfe, essa está já em curso”, sublinhou.
João Fernandes quis ainda destacar a presença no País de Gales, no principal torneio mundial de golfe. Conta que “foi uma presença muito interessante na medida em que estavam muito menos destinos concorrentes e estavam novos buyers, o que nos permitiu ter um contato muito profícuo para novas linhas de oportunidade. O Algarve esteve destacado e com uma posição privilegiada e os nossos representantes dos vários campos não tiveram mãos a medir. Igualmente, temos feito fan e press trips e estamos muito bem colocados, que assim é que mal caíram as restrições começou logo a procura e as expetativas são boas. Acho que a notoriedade do destino também ajuda, reconhecimento de que há qualidade um preço justo”.
Janela de oportunidade
No Algarve já se sentem os efeitos diretos do levantar de restrições às viagens em vários países da Europa e em Portugal, nomeadamente com o fim de os viajantes terem de apresentar teste à chegada, com o aumento de reservas para a época de golfe, e que este ano deverá ficar “a níveis próximos de 2019, não havendo mais contratempos de maior”, segundo o presidente da RTA. Estas decisões foram consideradas por João Fernandes, como “uma janela de oportunidade”, lembrando que a temporada alta de golfe na região algarvia coincide com a época baixa do turismo, o que ajuda a esbater a sazonalidade.
O golfe turístico é um dos principais fatores de combate à sazonalidade
Segundo o presidente do Turismo do Algarve, “as expectativas, sobretudo a partir de março, e em alguns casos em fevereiro até”, apontam para um “mercado do golfe que está a retomar em força” e se soma a um “comportamento muito positivo” do principal mercado para este produto no Algarve, o britânico e irlandês. Este tem sido um dos setores que mais tem contribuído para o regresso do turismo ao Algarve, após as piores fases da pandemia.
O principal constrangimento que se coloca para este período que se antevê de forte procura é mesmo o da falta de trabalhadores, e nesta altura os campos algarvios já estão em fase de contratar pessoal.
“Temos que recordar que em 2018 e 2019 quando o turismo chegou a níveis que nós pretendemos chegar já no próximo ano e temos todas as condições para que isso aconteça, se não houver percalços, já tínhamos necessidade de mão-de-obra. É uma questão estrutural. O Algarve, nos picos da procura recrutava portugueses de outras regiões do país, zonas que, entretanto, também despertaram para o turismo e têm capacidade de fixar esses trabalhadores. Por outro lado, a dimensão do turismo passou a não ser tão sazonal, e basta ver que em janeiro-fevereiro de 2020, no pico da época baixa, estávamos a crescer 15% no número de hóspedes, o que faz com que o reforço da mão-de-obra fosse mais permanente” indicou o dirigente do turismo da região.
“Há uma questão pontual, que é nos picos de procura, mas também é estrutural porque a dimensão da procura no tempo e no volume é maior. É uma necessidade que espero já no próximo ano ver resolvida”, sublinhou João Fernandes.
A Associação Internacional de Operadores de Turismo de Golfe (IAGTO) escolheu o Algarve como “melhor destino de golfe do mundo para 2020”, distinção que o presidente do Turismo do Algarve atribuiu à qualidade dos 40 campos da região.
“O Algarve é não só um local de passagem obrigatória para o golfista amador, como tem atraído os melhores profissionais mundiais, fruto da diversidade e reconhecida qualidade dos 40 campos de golfe e da já célebre hospitalidade e profissionalismo dos agentes da região”, congratulou-se o presidente da RTA e da ATA.
João Fernandes considerou que “os dias de golfe no Algarve perduram na memória dos golfistas, mesmo depois do fim das suas férias”, por a região oferecer também aos visitantes, apontou, “história, tradição, bom clima, natureza, boa gastronomia”.
“Há aqui uma vantagem para os aficionados desta modalidade e com a notoriedade que o Algarve tem como melhor destino turístico do mundo para a prática do golfe, está claro que esta redução das restrições e a não obrigatoriedade dos testes, estão a fazer com que as reservas de março a maio façam antever que estejamos, e se nada acontecer, aos níveis de 2019, o que é muitíssimo animador, depois de um período de dois anos em que atravessámos muitas dificuldades”, destacou João Fernandes.
Sustentabilidade e competitividade
A sustentabilidade do golfe, mas também a sua competitividade foram questões também abordadas pelos três entrevistados do Publituris.
O principal constrangimento que se coloca para este período que se antevê de forte procura é mesmo o da falta de trabalhadores
Correia da Silva não tem dúvidas de este desporto é amigo do ambiente. Para o presidente da AHETA, Helder Martins. “Por vezes surgem essas falsas questões de pessoas inimigas do golfe. O que é preciso esclarecer é que o golfe ajuda na preservação de determinados terrenos, os campos estão todos tratados, as árvores limpas e bem conservadas, portanto é um terreno que não está ao abandono, que tem de facto uma cobertura verde significativa, mas que tem necessidade de água”, lembrando que, apesar de o país e o Algarve estarem a atravessar períodos de seca, os intervenientes do golfe asseguram que a maior parte dos campos já fizeram remodelação da própria relva com menos necessidade de água.
Também o presidente da RTA deu a conhecer que “uma questão importante que abraçámos logo no primeiro momento é o desafio da falta de água. Os campos de golfe, em conjunto com o turismo em geral, a agricultura e as autarquias criaram um plano de eficiência hídrica para a região com medidas concretas para melhorar os consumos de água na manutenção dos campos e até para novas alternativas como reutilização das águas residuais. O trabalho foi concluído com sucesso e tem um pacote de financiamento no âmbito do PRR de 200 milhões de euros para o Algarve, considerada a região piloto”.
O projeto, segundo João Fernandes, “deu origem a um trabalho mais vasto do CNIG e do Turismo de Portugal para transportar este exemplo para todo o país, visando a eficiência hídrica do golfe, ou seja, melhorar algumas medidas que os campos já aplicam e torná-las generalizadas, ao nível da rega, escoamento, reutilização das águas dos lagos, utilização de relva de menor consumo, como também da água residual tratada”.
Um outro desafio que o golfe enfrenta passa pela competitividade, e o IVA taxado a 23% não ajuda. Helder Martins considera que o Governo devia ver essa questão. Por isso a AHETA está disponível a sentar-se com os próximos decisores e colocar essa questão, mas “vai ser sempre discutido num contexto mais alargado a outras atividades que também têm vindo a exigir a revisão da taxa do IVA”, salientou.
Helder Martins garante que a AHETA sempre deu, dá e dará muita importância a este produto, pelo que representa tanto a nível de chegadas, dormidas e receitas, com fator multiplicador não só ao nível dos campos, mas também de outros setores, além de ter um poder de fidelização e de ser um produto que ajuda a atenuar a sazonalidade na região. Assim é que nos corpos sociais da Associação algarvia, tanto na direção como no conselho fiscal estão representantes do golfe.
Portanto, “todos estes ingredientes fazem com que o golfe deva ser acarinhado de entre os produtos que o Algarve oferece. Nunca teremos a possibilidade de competir com outros destinos apenas pelo preço, pois há turistas que continuam a jogar golfe no Algarve pela qualidade dos seus campos e dos seus profissionais, mas também pela forma como lidamos com o produto”, apontou o presidente da AHETA.