O que aconteceria em Portugal com o fim dos voos domésticos? A SkyExpert avalia esta possibilidade
Em França, a partir deste mês de abril, o Governo decidiu suspender os voos curtos para destinos que podem ser alcançados numa viagem de comboio de 2,4 horas. A SkyExperts analisa se tal realidade fosse transposta para Portugal.
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Ao abrigo de uma lei aprovada no Parlamento francês em abril do ano passado com a finalidade de reduzir as emissões de carbono do transporte aéreo e por forma a incentivar o uso de outros meios de transporte coletivo, em particular dos TGV (Train à Grande Vitesse), os voos curtos domésticos entre Paris e Bordéus e Paris e Lyon foram suspensos na semana passada.
Na Áustria, a rota Salzburgo-Viena foi igualmente suspensa por razões semelhantes e na Suécia o “flygskam” (vergonha de voar, em sueco) criou uma forte pressão social para limitar o uso do avião.
O que aconteceria em Portugal, caso as rotas mais curtas Lisboa-Faro-Lisboa e Lisboa-Porto-Lisboa fossem proibidas ao abrigo de uma lei semelhante à de França? A SkyExpert, empresa de consultoria especializada em transporte aéreo, aeroportos e turismo, fez as contas:
– um único operador: ambas as rotas são operadas apenas pela TAP, pelo que tal medida não afetaria nenhuma outra companhia aérea. Estas rotas domésticas, quando conectadas com um voo internacional, geralmente não têm acréscimo de custo no bilhete por relação ao mesmo voo direto para Lisboa, ou seja, são “grátis”. As taxas de ocupação destes voos estão abaixo da média da TAP, influenciando negativamente outro importante índice de performance da TAP;
– passageiros: em ambos os casos, a quantidade de passageiros transportados nestas rotas com a intenção de voar entre as duas cidades é ínfima. No caso de Faro, este valor chega mesmo a ser abaixo dos 10%, os restantes passageiros apenas trocam de avião para outros destinos. Para trocar de avião ou voar diretamente existem várias alternativas;
– aeroportos: no caso de Faro, a operação de Lisboa representa 3% do volume e é a única rota da TAP no Algarve. Para o Porto, que na pré-pandemia via mais de meio milhão de passageiros voar até Lisboa apenas para chegar a outros destinos, esta proibição significaria uma oportunidade de criar novas rotas diretas e fortalecer outras já existentes à partida do Porto.
– “slots”: para realizar estes voos, a TAP ocupa diversas faixas de aterragem e descolagem (“slots”) que escasseiam em qualquer destes aeroportos, em particular em Lisboa. Atualmente, a existência destes voos corresponde a 12 pares de ‘slots’, demasiado para um aeroporto que se diz lotado, e cuja falta de ‘slots’ impede de crescer para outros destinos.
– alternativas: apostar mais em rotas transversais que não passem por Lisboa, como as de Porto-Faro ou Faro-Ponta Delgada para permitir novas conectividades usando aeroportos Portugueses, mas evitando a infraestrutura Lisboeta.
Para Pedro Castro, diretor da SkyExpert, não existe vontade política suficiente e existe um enorme conflito de interesses do Governo para se poder avançar com este tipo de medidas. “Penso que isto apenas acontecerá quando Bruxelas aprovar uma diretiva nesse sentido”, conclui.