“A sustentabilidade era, até aqui, mais uma intenção do que uma ação”
Nas palavras da diretora da Organização Mundial do Turismo (OMT) para a Europa, “a região é e será sempre um exemplo”. Embora existam aspetos a melhorar, um é inquestionável: “além de colaboração tem de haver coordenação”. E no capítulo da sustentabilidade, “ou fazemos as coisas juntos ou não funcionará”.

Victor Jorge
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Admitindo que “a pandemia foi e é uma lição com a qual precisamos aprender”, Alessandra Priante, responsável da OMT na Europa, recorre ao secretário-geral da organização, Zurab Pololikashvili, para salientar o que, a partir de agora, é fundamental ganhar: “confiança”. No aspeto da sustentabilidade, Portugal é apontado como um exemplo que “cria a tal vantagem competitiva para o futuro”.
Como é que vê a Europa no tema da sustentabilidade no turismo e viagens? Está na liderança ou corre atrás de outras regiões?
A região da Europa da OMT não se limita ao que se poderá pensar como Europa. Abrange toda a Euroásia, Rússia, Turquia, Israel, etc.. É muito mais do que os países da União Europeia. Aliás, os Estados-Membros da UE representam somente 10% dos nossos membros a nível global.
O facto é que falamos da maior região turística do mundo quando se fala na Europa. Portanto, quando se fala em ou de turismo, fala-se, obrigatoriamente, da Europa.
De acordo com os nossos dados e tendo por base o final do ano 2019, a Europa representava cerca de 51% do mercado total. Contudo, com a pandemia, a Europa perdeu mais de mil milhões de turistas internacionais, correspondendo a uma quebra de 86%.
Também não nos podemos esquecer que na Europa viaja-se para e dentro da Europa, tendência que foi reforçada por causa da COVID-19.
Portanto, voltando à sua questão, não se trata tanto de fazer uma comparação com outras regiões, mas antes ver que ações que foram realizadas.
A Europa é e será sempre um exemplo. Veja o que aconteceu com o certificado digital. Todo o mundo estava a olhar para a Europa, onde existe um modelo de coordenação que deverá servir de exemplo para as restantes regiões.
Mas funcionou?
Essa é a questão principal que deve ser respondida. No momento que foi lançado [o certificado digital] um dos pontos de maior interesse foi possibilitar e facilitar as viagens. Faz o teste, está vacinado, tudo está numa app, faz um scan na app e pode viajar à vontade.
O que, infelizmente, aconteceu, foi ter-se tornado num problema nacional, dos diversos Estados-Membros. Ou seja, dentro de cada país o certificado digital tornou-se uma espécie de ferramenta de diferenciação. Está vacinado ou não, qual a vacina com que foi inoculado, etc.. Portanto, as pessoas estavam a ser confrontadas com dificuldades dentro dos próprios países.
Então não funcionou?
Funcionou, mas quando se passou para a esfera de cada Estado-Membro, deixou de funcionar como estava pensado. Como resultado as viagens não aumentaram tanto como o esperado, porque as pessoas não se sentiam tão seguras em apanhar um voo. Preferiram, por exemplo, viajar mais de carro e não estar sujeitas a cancelamentos ou restrições de “última hora”.
O secretário-geral da OMT, Zurab Pololikashvili, afirma sempre que o que perdemos ao longo desta pandemia não foram só empregos, percentagens de PIB, dinheiro, liberdade. O fundamental que perdemos foi a “confiança”. E essa é importante voltar a ganhar-se.
A pandemia fez emergir todos os elementos emocionais que, por norma, são o oposto do turismo. Ou seja, deixou de ser possível estarmos juntos, conhecer novas pessoas e locais. A pandemia trouxe um elemento de dúvida, de escolha, de restrições, de preocupação.
Um turismo com novos KPI
Falou em “escolha”. Há escolhas a fazer além daquelas que estão a ser elencadas como, por exemplo, a sustentabilidade?
Nós temos advogado a sustentabilidade e temo-nos batido pela sustentabilidade no turismo há já muito tempo. É possível verificar que a sustentabilidade tornou-se numa palavra ou definição interessante ou bonita a colocar num qualquer plano para captar turistas. A sustentabilidade era, até aqui, mais uma intenção do que uma ação. Era “sexy”. Mas agora acabaram-se as desculpas. A pandemia foi e é uma lição com a qual precisamos aprender.
A OMT lançou um relatório, um dos muitos que lançou ao longo da pandemia, através do qual identifica uma correlação matemática que indica que os destinos que eram realmente sustentáveis, nas componentes sociais, ambientais e económicas, foram os que, no momento de abertura das fronteiras, mais facilmente se abriram de forma segura à receção de turistas. E Portugal foi um desses exemplos, foi ou é um dos destinos que está pronto. A sustentabilidade é real para vocês e isso vê-se em todo o lado. Isto cria a tal vantagem competitiva para o futuro.
Entrámos na fase em que os novos KPI na indústria do turismo já não deve identificar um país pelo número de visitantes por noite, mas sim pelos visitantes/turistas que voltaram. Quantos visitantes ou turistas avaliaram-vos bem que os fez regressar? Isso é que é importante, porque com os que regressam, vêm outros. Acredite que a palavra vai passar. Os que regressarão, posicionarão não só uma região, mas o país, um destino, Portugal, como um destino verdadeiramente alternativo.
Hoje, o turista está disponível para pagar mais 10 ou 20 euros se souber que o destino demonstra preocupação pelo futuro do planeta, do ambiente e da sustentabilidade social.
Este aspeto da sustentabilidade social é muito importante até para a própria comunidade. Há que perguntar se se está a empregar pessoas da própria comunidade, se está a integrar migrantes que chegaram e que estão envolvidos na realidade local.
Já não se coloca então a questão do “porquê”, mas sim do “quando” e “como”?
Absolutamente. Para nós, este tema já não é tema. A Europa tem o potencial, o poder, a intenção para melhorar o planeta.
Temos a obrigação, nós Europa, de liderar este processo da sustentabilidade e mostrar que não só isto é possível como é obrigatório. Se alargarmos a nossa visão, dentro de três a cinco anos, teremos muito mais benefícios comparado com outros destinos, já que a nossa velocidade é muito maior que a dos outros.
A pandemia fez emergir todos os elementos emocionais que, por norma, são o oposto do turismo. Ou seja, deixou de ser possível estarmos juntos, conhecer novas pessoas e locais. A pandemia trouxe um elemento de dúvida, de escolha, de restrições, de preocupação.
Mas dentro da indústria do turismo e viagens haverá setores que terão de acelerar, andar mais depressa que outros?
Bem, não diria mais depressa. Diria antes juntos. Ou caminhos juntos ou nunca teremos os resultados que pretendemos e ambicionamos. Na sustentabilidade, ou fazemos as coisas juntos ou não funcionará.
É essa a principal mensagem: colaboração?
Sem dúvida. Privados e público terão de trabalhar em conjunto. Se não o fizerem, não vale a pena estar com grandes debates, com conferências, com estudos muito vastos. Não valerá a pena.
E, tal como destaca o meu secretário-geral, além de colaboração tem de haver coordenação.
Recordo que lançámos um “Comité Mundial de Crise para o Turismo” no momento que ficámos a saber que estávamos a viver uma pandemia e uma das coisas que rapidamente concluímos foi que, até juntarmos as pessoas, governos, empresas, ONG, e muitas outras entidades, colocar a Europa a falar com África, a Europa a falar com a Ásia, com a América, não teríamos sucesso.
A Comissão Europeia ouviu-nos e foi possível registar que o turismo estava no topo das agendas, que estavam perante uma das maiores cadeias de valor que impacta mais de 11% do PIB global. Foi e é importante perceber que não estamos a falar somente de três meses de verão.
Quando é que este tema da sustentabilidade já não será tema?
Isso não consigo dizer-lhe, nem prever. O que posso fazer é desejar. Fizemos análises e previsões com os players mais importantes do setor sobre quando poderíamos voltar ao “normal”, ou seja, aos números de 2019 e a conclusão foi que antes de 2024 isso não será possível na Europa.
Mas a minha pergunta era sobre a sustentabilidade?
Sim e a minha resposta é, se até 2024 não tivermos todos os destinos a implementar políticas de sustentabilidade reais e verdadeiras, estamos em sérias dificuldades.
Como referi anteriormente, já não se trata de ser “sexy”, tem de ser real e verdadeiro. Mas acredite, tudo começa em nós. Somos nós que fazemos a mudança, não podemos estar à espera que façam a mudança por nós.
E no turismo é igual: o setor não pode ficar à espera que outros façam esta mudança.