Com pouca procura até ao final do ano, grupos hoteleiros ponderam voltar a fechar algumas unidades
Depois de um verão atípico, as reservas nas unidades hoteleiras voltaram a baixar e os hotéis não excluem a possibilidade de voltar a encerrar.

Carina Monteiro
Foi um verão atípico para a hotelaria, como já se esperava. Mas, apesar de muito longe das ocupações de 90% que costumam ser habituais neste período do ano, os hotéis que abriram conseguiram ter alguma atividade, proveniente sobretudo do mercado nacional. O verão tardou a arrancar, mas quando arrancou, em agosto, alguns hotéis chegaram a ter ocupações muito expressivas, à exceção das cidades.
No caso dos hotéis Vila Galé, a maioria dos clientes durante o verão foram portugueses, embora também tenham tido algum mercado francês, holandês e espanhol. Quando a cadeia hoteleira começou a reabrir os seus hotéis, em junho, operação foi relativamente fraca, à exceção dos fins-de-semana, em particular dos feriados. Somente em julho, conseguiram recuperar ligeiramente e, em agosto, registaram uma taxa de ocupação média a rondar os 50%, mas com grandes assimetrias. De acordo com Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo, os hotéis de cidade, sobretudo da região de Lisboa e do Porto, e na Madeira, “sem mercado internacional e sem eventos, tiveram taxas de ocupação muito baixas, a rondar os 15%, 20%”. Em contraste, o mercado nacional acabou por responder em algumas unidades do Algarve e no interior. “Apesar de a performance ficar bastante longe da que teríamos num ano normal, houve períodos com ocupações de 90% nalguns hotéis como por exemplo o Vila Galé Albacora (Tavira), Vila Galé Lagos, Vila Galé Collection Alter do Chão, Vila Galé Clube de Campo, Vila Galé Serra da Estrela ou Vila Galé Douro Vineyards”, conta o responsável.
Já quanto aos meses que se seguem, o gestor hoteleiro reconhece, com apreensão, que já a partir de outubro, sobretudo depois do feriado de 5 de outubro, a procura “vai sofrer um novo recuo, não só por causa do regresso às aulas e ao trabalho, mas também eventualmente devido à evolução da situação pandémica”. Apesar de ser muito difícil traçar cenários, “é praticamente certo que a procura na época baixa vai ser muito pouca, com menos folga para esperar resultados satisfatórios”, constata. Neste panorama excecional, a Vila Galé está a analisar o fecho de alguns hotéis. Se tal acontecer, “a situação dos colaboradores será acautelada, podendo vir a dar apoio a outras unidades que se mantenham a funcionar. Desde julho que não temos ninguém em lay off”.
DHMPara os hotéis da Discovery Hotel Management (DHM), o verão acabou por trazer alguma surpresa, apesar das expectativas serem baixas comparativamente com o desempenho de 2019.
Não obstante o grupo hoteleiro ter fixado limites máximos de 70% de ocupação nos seus hotéis, de forma a garantir o devido distanciamento social e o bem estar dos nossos hóspedes, algumas unidades tiveram um “bom comportamento”, é o caso do Praia Verde, Vilamonte, Laguna, Eden, Monchique, The Crest, no Algarve, e do Palácio da Lousã e Douro 41, no Centro e Norte de Portugal, revela Francisco Moser, managing director da DHM.
Agora que o verão terminou, as reservas são pouco expressivas, com apenas o Algarve a ter algum destaque. “Estamos a ter algum pick up, mas muito pouco expressivo. A realização dos eventos da F1 e Moto GP tem desencadeado alguma procura no algarve, mas como digo até final do ano a procura é muito ténue em todas as nossas geografias”, refere o responsável da DHM.
Francisco Moser encara o resto do ano “com bastante apreensão”, mas “com resiliência e empenho para fazer face a um período desafiante do ponto de vista da gestão”. Não descarta o encerramento de algumas unidades neste período. Sobre as consequências que isso terá na gestão das equipas, responde: “A nossa preocupação tem sido manter os postos de trabalho, dentro dos limites possíveis. Nestes períodos de menor procura gerimos as férias, os bancos de horas e preocupamo-nos em organizar ações de formação profissional”.
Hoti HotéisDe uma forma geral, o Grupo Hoti Hotéis verificou uma recuperação nos meses de julho e agosto, com níveis de ocupação interessantes, principalmente provenientes do mercado interno e de Espanha. Em resposta ao Publituris, o CEO da Hoti Hotéis, Miguel Proença, adianta que o grupo fechou o mês de agosto com uma quebra global do acumulado ano de 62% face a 2019. As unidades localizadas nas grandes cidades, nomeadamente no Grande Porto, Funchal e Grande Lisboa (por ordem de gravidade) foram as que registaram maior quebra dos níveis de ocupação. Por outro lado, foi na Região Centro que verificámos quebras menos acentuadas.
Apesar de ser difícil fazer previsões “porque os turistas marcam as suas estadias e viagens com cada vez menos antecedência”, há algo que a tradição indica: “Tradicionalmente, nos meses de setembro e outubro assistiríamos ao regresso às cidades, com o aumento do Corporate, do MICE e dos City Breaks, mas estes segmentos necessitam de uma perceção clara de segurança sanitária, o que, com o aumento do número de casos verificados nas últimas semanas, poderá limitar o número de reservas e eventos no outono”.
Após a recuperação temporária verificada nos meses de verão, o grupo estima que venha a “existir um nível de movimento mínimo” que, suportado na “continuidade do lay-off simplificado e na existência de apoios à formação, permita ponderar a continuidade da exploração de muitos dos nossos hotéis”. No entanto, “como é compreensível, se a subida do número de contágios for suficientemente elevada para exigir novo confinamento, deparar-nos-emos com um cenário de ausência total de procura, como em abril e maio”, refere Miguel Proença.
Dada a distribuição geográfica das unidades da Hoti Hotéis, com uma oferta maioritariamente urbana, o grupo prevê que a quebra dos níveis de ocupação se acentue até ao final do ano, situando-se entre os 65% e os 68% para o total do ano de 2020.
Neste momento, o objetivo da Hoti Hotéis é manter em funcionamento o maior número de unidades possível. A cadeia prevê, inclusive, abrir, até ao final do ano, o Moxy Lisboa Oriente, o primeiro desta marca em Portugal. No entanto, nesta fase, “não excluímos totalmente o encerramento temporário de algumas unidades, principalmente em localizações onde existem mais do que um hotel do grupo, como é o caso das cidades do Porto, Lisboa e Funchal”, adianta o CEO da cadeia hoteleira.
Neste cenário de incerteza, o grupo defende a “continuidade do lay-off simplificado e o apoio à formação”. Estas medidas são “fundamentais dado que criam condições para que a exploração seja possível com uma estrutura de custos compatível com níveis baixos de ocupação, possibilitando-nos manter em operação mais hotéis”.
Savoy SignatureA cadeia hoteleira da Madeira, Savoy Signature, abriu 80% do número total de camas para o período de verão, tendo recebido sobretudo clientes portugueses, que representaram 46% das dormidas.
Para o período que resta do ano de 2020, a cadeia afirma que está a receber reservas, embora ainda aquém do que foram em anos transatos à mesma data. “Notamos, também, um aumento de cancelamentos de última hora nos últimos meses”, refere Ricardo Farinha, CCO da Savoy Signature. Não obstante, “estamos confiantes na entrada de mais reservas de última hora comparativamente a anos anteriores, tal como já aconteceu durante os meses de junho a setembro em todos os hotéis que reabrimos da Savoy Signature”.
O responsável realça o facto da Madeira ser um destino que sempre conseguiu ter uma menor sazonalidade da procura turística relativamente às restantes regiões de Portugal. “Tal significa que a época que se aproxima não representa uma redução tão grande a nível do número de hóspedes”, conclui. Contudo, “com o aumento do número de casos de Covid-19 um pouco por toda a parte nas últimas semanas, sentimos obviamente que as pessoas mantêm uma atitude conservadora, sobretudo agora para os meses de outubro e novembro”. A expectativa do grupo é que, “com as medidas implementadas pelo Governo Regional da RAM para bloquear a entrada do SARS-Cov2, a Madeira continue a ser um destino seguro sem transmissão comunitária ativa e onde os nossos visitantes podem vivenciar o destino de forma descontraída”.
Para já, o hotel não perspectiva encerrar nenhuma unidade. “O número de reservas que começam a entrar last-minute demonstram que os esforços do Governo Regional para manter o destino seguro estão a dar frutos. Como tal, se se mantiver o status quo, não contamos encerrar nenhuma das unidades que temos atualmente abertas. Podemos, inclusivamente, até ao final do ano vir a abrir mais uma unidade no Funchal”, refere Ricardo Farinha.
Solverde
Neste verão, a Solverde assistiu “a uma procura bastante interessante”, contudo “inferior ao números habituais em anos anteriores, como seria de esperar”, refere fonte do grupo hoteleiro. A unidade que obteve maior procura foi o Hotel Casino Chaves, confirmando a movimentação do turismo para o interior, onde muitas regiões estiveram esgotadas ou perto disso.
Nesta fase de pandemia, em que é impossível prever o futuro, o grupo continua a remar com positivismo e criatividade, mantendo uma linha de comunicação, de forma permanente, com o seu público.
“As equipa estão muito focadas na aposta em grandes eventos corporativos, potenciando o que de melhor temos para oferecer em cada uma das nossas unidades, complementada com os espaços dos nossos Casinos. Para além disso, temos também a nossa atenção centrada no segmento do Turismo Sénior”, afirma a mesma fonte.
“A curto prazo, continuaremos a promover a região do Algarve como destino único e com condições climatéricas ótimas que se estendem para além do Verão, e explorando os grandes eventos desportivos que acontecerão em Portimão, como é o caso da Fórmula 1 e do Moto GP. O Hotel Algarve Casino, com uma localização privilegiada e com condições ideais, proporciona uma excelente opção nesta altura do ano, onde a oferta gastronómica, a segurança e o sossego se destacam”, conclui.