“Vamos todos tirar grandes lições desta crise, a gestão entrará num novo paradigma”
Depois de um 2019 em que bateu o recorde absoluto de turistas, a região do Porto e Norte depara-se com a suspensão da atividade da grande maioria das empresas do setor turístico. Como vai ser o futuro?
Carina Monteiro
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Em 2019, o Porto e Norte atingiu um recorde absoluto de turistas, com mais de 10,7 milhões de dormidas na região, registando um crescimento histórico de 9,7 por cento, o maior a nível nacional. Esta tendência de crescimento estava também a ser verificada nos primeiros dois meses deste ano, período em que a região obteve mais de um milhão de dormidas, adianta o presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, em entrevista ao Publituris. “Estávamos a crescer acima da média nacional e pela primeira vez conseguimos nestes dois primeiros meses obter mais de um milhão de dormidas”.
O cenário alterou-se completamente depois das inevitáveis medidas de contingência para travar a pandemia da COVID-19 e, posteriormente, a declaração de Estado de Emergência.
Aos cancelamentos e adiamentos de reservas por parte da procura turística somou-se a suspensão da atividade da grande maioria das empresas do setor, “com resultados negativos muito impactantes”, refere o responsável,
Ao contrário da crise económica de 2008 e 2009, que foi uma crise financeira iniciada por uma recessão no mercado imobiliário, Luís Pedro Martins ainda não consegue quantificar os constrangimentos macroeconómicos que os fechos das empresas possam ter no setor: “Estamos a viver um estado de emergência. O que se está a passar em Portugal e no mundo evolui muito rapidamente. Temos de ser prudentes na análise e no atual contexto qualquer previsão seria pura futurologia, quero resistir a essa tentação. É tudo muito incerto”.
No entanto, o responsável do turismo do Porto e Norte não tem dúvidas: “Toda esta situação coloca em causa a sustentabilidade socioeconómica do setor e está a dificultar a sobrevivência das empresas, nomeadamente das mais jovens, que são em grande número no tecido empresarial do turismo, nomeadamente na nossa região”.
Nesta fase, a entidade regional tem servido de interlocutor entre os stakeholders da região e o Governo. “As medidas tomadas pelo Governo resultam, também, da partilha de opiniões e de um trabalho em equipa, na definição de medidas que permitam ultrapassar esta crise gravíssima”, explica.
Para responder rapidamente às dificuldades dos empresários da região, a entidade avançou, “em tempo record”, com a criação de um micro site (covid19.portoenorte.pt), onde está disponível toda a informação e apoios que existem para as empresas e para os recursos humanos do setor. “Neste micro site introduzimos ferramentas de chat e de fórum, onde é possível não só prestar informação e preparar as candidaturas às várias linhas de apoio, em tempo real, mas também recolher dados que nos permitam responder melhor às necessidades do setor, preparando de uma maneira mais sólida o futuro e mitigando o impacto da crise provocada pelo COVID-19”, refere.
Futuro
Já a pensar no futuro, e em colaboração com a Associação Turismo do Porto (ATP), a ERT Porto e Norte de Portugal está a elaborar um conjunto de ações “que conduzirão à melhor promoção possível da região junto dos nossos principais mercados emissores de turistas”, adianta Luís Pedro Martins. “Inicialmente, iremos “investir” no turismo interno e no mercado espanhol e, posteriormente, nos restantes. Serão efetuadas importantes campanhas de marketing com o objetivo de reforçar a confiança, dirigidas quer ao cliente final, quer ao trade, para apoio à comercialização e venda do destino, entre outras”.
Luís Pedro Martins acredita que “os empresários do setor turístico, como resilientes que são, saberão reinventar-se e criar novas oportunidades de negócio”. Tal como aconteceu na última crise financeira, “as empresas que estavam financeiramente mais saudáveis resistiram e voltaram a potenciar o seu negócio”. Por outro lado, o responsável está convicto que “novos negócios surgirão, apostando essencialmente nas plataformas web, negócios com menos custos de contexto, eventualmente com menos recursos humanos”. “Vamos todos tirar grandes lições desta crise, estou certo que a gestão entrará num novo paradigma, em que todos os cenários terão que ser previstos, incluindo aqueles que nunca imaginávamos ser possíveis. Sou otimista por natureza, acredito que vamos ultrapassar este momento e que o setor do turismo vai conseguir reconquistar o lugar que lhe pertence. Façamos todos o nosso trabalho e nunca desistir”, defende.
No pós-crise da COVID 19, Luís Pedro Martins considera que um dos fatores mais importantes será a criação de um ambiente de compromisso e cooperação entre todos os agentes do setor e da sociedade, “para que quem olhe para nós, enquanto país e enquanto destino nacional e regional, veja maturidade, confiança e principalmente segurança”. “Sem dúvida que muitas empresas terão que criar narrativas, recorrendo a múltiplos elementos ambientais, históricos, culturais, religiosos e lúdicos, que lhes permitam valorizar os seus serviços, assim como reposicionar o negócio, melhorar a presença no mundo digital, fortalecendo a ligação e a relação com os clientes”, exemplifica. Mas não só. “A existência de um plano B, para dias de contingência, assume um novo papel. Os projetos, os investimentos, a gestão em geral terão de prever situações semelhantes, algo que na nossa geração não fazia parte dos planos. Temos obrigatoriamente de restaurar a confiança do consumidor. Se tudo correr bem e partindo do pressuposto que haja alguma recuperação económica de aqui a três ou quatro meses, talvez para o ano possamos vir a ter uma taxa de ocupação que nos anime de novo”, defende.
Das medidas já lançadas pelo governo, Luís Pedro Martins destaca a Linha de Apoio à Tesouraria para Microempresas do Turismo – COVID-19 no valor de 60 M€. “Considero muito importante tendo em conta o tecido empresarial português no setor do turismo – é uma linha de financiamento dirigida às microempresas turísticas que demonstrem pouca capacidade de reação à retração da procura. Podem recorrer a esta medida microempresas do setor do turismo até 10 postos de trabalho e cujo volume de negócios anual não ultrapasse os dois milhões de euros. As microempresas são responsáveis por uma grande parte da criação de riqueza em Portugal, de emprego e de desenvolvimento. São elas que representam a maior parte do tecido empresarial do Norte e de Portugal. Neste momento, o apoio à tesouraria, o lay-off simplificado, tal como a banca têm um papel decisivo”.
O presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal chama também a tenção para o papel que a União Europeia terá na recuperação das empresas: “A União Europeia terá um papel decisivo nesta matéria e tudo poderá ser mais fácil se a Comissão Europeia adotar medidas mais arrojadas, como por exemplo arranjar, de uma vez por todas, uma solução comum para a dívida europeia, os designados coronabonds. Estamos a viver um impasse que em nada serve a procura de soluções e não permite um ataque mais rápido e mais eficaz, o Conselho e o Eurogrupo estão divididos e se não dermos os passos certos esta crise será muito mais do que uma crise sanitária, será a maior crise económica e social de sempre. Este é também um momento para que a União Europeia se defina sob qual o papel que quer desempenhar nesta história, correndo riscos de ela própria passar à historia”.
Ainda sobre as medidas implementadas pelo Governo português, Luís Pedro Martins partilha das “muitas preocupações” dos empresários e dos trabalhadores do setor. “Têm sido muitas as reuniões de trabalho e nunca nos devemos excluir de os ouvir, procurar soluções e, se for o caso, emitir opinião, mesmo que não seja a opinião dominante. A título de exemplo, sou muito sensível à questão que tem sido apontada em relação aos sócios-gerentes das micro empresas que ficaram sem trabalho e que à data desta entrevista não está resolvida. Penso que teremos que encontrar uma solução que não os exclua da equação, muitos deles são de facto a força de trabalho principal da organização e não seria justo. Estou certo que o governo encontrará uma solução. Reconheço que o regime de lay-off não é o mais adequado, até porque consta do Código de Trabalho, mas existiram outras alternativas. Temos de perceber que ninguém estava preparado para esta situação, nem os estados, nem as empresas e muito menos as pessoas. É também nestes momentos que têm de surgir as decisões mais criativas, algumas delas consideradas impensáveis, mas tudo isto era igualmente impensável”.