Sazonalidade e promoção são principais desafios do Turismo Rural
Apesar de ser um sub-sector do Turismo que tem registado uma maior procura, sobretudo de clientes provenientes do Norte da Europa, existem ainda muitos desafios à operação das unidades de […]

Raquel Relvas Neto
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Apesar de ser um sub-sector do Turismo que tem registado uma maior procura, sobretudo de clientes provenientes do Norte da Europa, existem ainda muitos desafios à operação das unidades de Turismo Rural.
Em 2016, segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a oferta de alojamento de Turismo em Espaço Rural e Turismo de Habitação, foi constituída por 1,3 mil estabelecimentos e 22,5 mil camas. 82,3% concentravam-se nas regiões do Norte, Centro e Alentejo. As unidades de turismo no espaço rural e de habitação, receberam 670 mil hóspedes (+17,5% face a 2015), que deram origem a 1,5 milhões de dormidas (+14,2%) e que geraram 74,1 milhões de € (+23,4%). A estada foi, em média, de 2,2 noites, e a taxa de ocupação foi 20,3%.
Segundo a mesma análise, a maioria dos hóspedes são residentes em Portugal (62,9%) e geraram também a maioria das dormidas, embora com uma quota inferior (54,7%). Foram, no entanto, os estrangeiros que permaneceram mais tempo, registando uma estada média de 2,7 noites, face a 1,9 noites dos residentes em Portugal. Os destinos turísticos do Norte (30,8%), Centro (22,4%) e Alentejo (24,3%) concentraram 77,6% das dormidas. O TOP 5 dos mercados externos foi constituído pela Alemanha, França, Espanha, Holanda e Reino Unido que, em conjunto, totalizaram 456,7 mil dormidas. Este número representou 69,4% do total das dormidas de estrangeiros. Destacam-se os crescimentos dos mercados do Brasil e Suíça, com valores acima dos 17%. A modalidade Turismo em Espaço Rural e de Habitação representou 2,5% das dormidas que se registaram no total do alojamento turístico em Portugal e 2,4% dos proveitos gerados em 2016, diz ainda o INE.
Estes números, comparativamente com a restante oferta de alojamento turístico, são ainda residuais, o que leva a concluir que é um sub-sector turístico que ainda se depara com vários desafios na sua operação. Ao Publituris, Cândido Mendes, presidente da Federação Portuguesa de Turismo Rural, diz que o Turismo Rural e o respectivo desenvolvimento “é estratégico e estruturante para o País, pela sua capacidade de alavancagem das economias regionais e locais, pela sua capacidade de transversalidade, por tudo o que a actividade pode fazer para ajudar a fixar pessoas nos territórios, pela ajuda que pode dar para manter os territórios atractivos, e potenciar a diversificação da oferta”. Mas identifica alguns dos principais desafios deste sector em Portugal: “Em primeiro lugar, a sua internacionalização de forma a criar mais equilíbrio na distribuição da ocupação ao longo do ano e, reduzir a forte sazonalidade que este sub-sector ainda continua a ter”. O responsável considera que devido à especificidade do Turismo Rural, esta será “sempre uma actividade sazonal, mas é desejável que se crie maior equilíbrio na distribuição, de forma a dar mais estabilidade e permitir uma aposta mais consistente em recursos que potenciem, por outro lado, a consolidação da oferta quer ao nível dos recursos humanos, quer ao nível dos próprios recursos estruturais”.
A promoção da oferta existente é também um dos desafios. O presidente da Federação Portuguesa de Turismo Rural realça “que tem havido uma excessiva concentração dos fluxos turísticos em três ou quatro grandes polos aglutinadores, e nós consideramos que esta excessiva concentração prejudica desde logo os territórios periféricos do mundo rural, mas, pior do que isso, consideramos que pode comprometer a prazo as excelentes performances que Portugal tem tido nos últimos anos, na actividade turística”. O mesmo explica que focar a imagem do País em apenas dois ou três segmentos, como o sol e mar, ‘city breaks’ e Turismo Cultural, é correr o risco de saturar destinos, salientando a “complementaridade que o Turismo Rural pode oferecer pelas experiências de contacto com a natureza, gastronomia, paisagem, e uma autenticidade muito peculiar nas gentes do mundo rural, aliadas à experiência urbana sobretudo dos dois grandes centros, podem transmitir ao turista factores de satisfação acrescidos levando consigo uma visão muito mais abrangente de um Portugal diversificado e rico em experiências”.
A par destes desafios, Jorge Vieira, membro da direcção da Associação de Hotéis Rurais de Portugal (AHRP) refere que a promoção tem sido crescente, “mas ainda não é o suficiente”. “Portugal tem muito mais para oferecer e pode, também, ter uma excelente performance turística com a aposta no Turismo Rural. Nas acções internacionais que realizamos, referimo-nos ao Portugal Rural como o Portugal Real e como o “lado” em que o turista convive e conhece o dia-a-dia dos portugueses. É onde eles vão conhecer as raízes de Portugal. O Turismo Rural proporciona uma quantidade infindável de experiências”. O mesmo acrescenta ainda a falta de recursos humanos com formação específica neste sector. O responsável defende que “não podemos comparar as grandes cadeias de hotéis ou hotéis de cidade com aquilo que é a nossa tipologia de hotéis. São conceitos diferentes, formas de trabalhar diferentes e a própria promoção tem as suas especificidades”.
Desenvolvimento
Mas de que forma se pode desenvolver o mundo rural e consequente Turismo Rural? Cândido Mendes recorre ao estudo de Augusto Mateus, “O Mundo Rural e o Desenvolvimento Económico e Social de Portugal” de 2017, onde indica quatro alavancas essenciais. A primeira está focada na questão da identidade e recursos endógenos, “com o objectivo de povoar e atrair pessoas, criando mais riqueza para mercados e procuras mais vastas, a todos os níveis (local, regional, nacional, ibérico, europeu e mundial)”. Já a segunda tem como base a inovação e produção, com o propósito de “criar riqueza e atrair empresas e investimento, especialização/focalização das actividades para aumentar a produtividade combinando bens e serviços em soluções desenvolvidas por empresas mais eficientes e organizadas”.
Por sua vez, a terceira alavanca aponta para a mobilização do Turismo, Cultura e Património, “para valorizar uma internacionalização com base na resposta às procuras de consumo centradas na cultura e no património”. E por fim, a quarta alavanca está “centrada na sustentabilidade ambiental, para explorar a valorização do mundo rural no desenvolvimento do capital natural, nos novos serviços públicos ambientais (onde devem ser pagos) e nos novos paradigmas do desenvolvimento sustentável”. Assim, Cândido Mendes reitera que seria desejável “uma aposta forte na estratégia de organização de toda a oferta de uma forma estruturada e agregadora no sentido de potenciar a visitação aos territórios e garantir o funcionamento em rede de todos os recursos públicos e privados”. A Federação Portuguesa de Turismo Rural defende, assim, a criação de um modelo de gestão agregado,r que “valorize e promova os territórios e o Turismo Rural”. “Obviamente que, para este desígnio, devem ser chamados todos os parceiros do Turismo, quer públicos, quer privados”, conclui. O responsável admite na questão da promoção uma crescente abertura e sensibilidade para o tema e “estamos certos que estas temáticas amadurecerão com o tempo e faremos o caminho para atingir estes objectivos. É uma questão de tempo”.
Para Jorge Vieira, o Turismo Rural constitui “um importante instrumento de desenvolvimento para as regiões menos desenvolvidas em Portugal e ainda que o Turismo Rural seja, de momento minoritário no conjunto da oferta turística existente, apresenta-se como uma contribuição valiosa para a sustentabilidade das economias rurais. Não só em termos financeiros, mas também em termos de emprego, de conservação do meio ambiente, de impulso à reabilitação do património artístico e cultural dos espaços rurais”.
Oferta
A oferta de unidades de Turismo Rural tem crescido em Portugal, sobretudo a partir de 2016 e da crise. Jorge Vieira destaca que verificou-se, particularmente, após 2016, “um aumento da oferta mais centrado na diferenciação qualitativa”. “Além da evolução em termos de número de unidades, também se verifica a evolução da qualidade destes estabelecimentos, quer nos serviços, quer nas comodidades. Algumas unidades mais antigas têm vindo a modernizar-se e as que surgem apresentam-se com conceitos inovadores ou associadas a conceitos (como enoturismo ou desporto) e com grande aposta em experiências baseadas na região em que estão inseridas. Portanto, além da evolução em termos de número, temos a evolução em termos de conceito. Talvez, e também por isso, se verifique um aumento de número de hóspedes de ano para ano”, indica.
Para o responsável da AHRP, “há margem para novas unidades. Ainda há regiões que não têm muita oferta e nas quais as unidades do TER se inseririam perfeitamente. Tendo sempre em conta, na sua construção e desenvolvimento da oferta, as tradições e cultura da região em que estão inseridos”.
Na sua perspectiva, Cândido Mendes afirma que “o espaço para crescer deve ser avaliado em função do risco, sempre que se trate de investimentos com apoio de dinheiros públicos” e defende que “a consolidação e a requalificação da oferta existente, deve constituir a prioridade do actual momento”. “Atendendo às taxas de ocupação que se verificam no mundo rural, o aumento da oferta deve ser repensado numa perspectiva diferenciadora, e agregadora aberta a experiências que constituam factores de motivação do aumento procura”, afirma.