Turismo – Breves reflexões de Verão
Leia a opinião por Vítor Neto, Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.
Publituris
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O Turismo português acaba de receber, mais uma vez, um conjunto importante de prémios (36 no total) da World Travel Awards, considerados os «Óscares» do Turismo mundial, que representam mais um reconhecimento do valor e do prestígio de Portugal numa das mais importantes atividades económicas do Mundo. É uma boa notícia para a atividade turística de todo o nosso país. Para as nossas instituições, empresários, profissionais, regiões e setores.
Não só Portugal, como País, foi reconhecido, pela segunda vez, como o Melhor Destino Turístico Europeu, como Lisboa foi considerada a Melhor Cidade Destino da Europa e o Melhor Porto de Cruzeiros Europeu. Os outros prémios consagraram a Madeira como Melhor Destino Insular, e várias ofertas turísticas de qualidade, no Algarve, na Madeira, no Norte, em Lisboa. Também o Turismo de Portugal, a TAP, a Agência Abreu e a Europcar, receberam distinções.
Uma primeira reflexão. Para além da satisfação, devemos tentar perceber não só as razões dos reconhecimentos, como também as responsabilidades e os desafios que representam.
O Turismo em Portugal cresceu em quase todas as variáveis de forma consistente nos últimos anos. Tem consistência e substância. Crescemos muito nas regiões que tinham quotas menos elevadas, mas crescemos em Lisboa, no Porto/Norte e também no Algarve, que, neste quadro, consolidou a sua posição de principal destino turístico do país. Aumentámos, melhorámos e diversificámos a oferta e a qualidade de produtos e serviços. Avançamos sem complexos no uso das novas tecnologias.
Impõe-se, no entanto, como ato de inteligência, ter consciência de que beneficiámos também de uma conjuntura económica e de consumo turístico favorável – que soubemos aproveitar – e do papel dinamizador do transporte aéreo com as companhias low cost, das viagens mais baratas, e da crise de alguns destinos do Mediterrâneo.
E, por outro lado, beneficiámos do surto de um novo fenómeno mundial e sobretudo europeu: a explosão do chamado Turismo urbano (estadias curtas/viagens low cost/alojamento local) que, para além de grandes polos históricos tradicionais como Paris, Roma, Londres, Nova York, etc., passou a envolver outras cidades também grandes, mas de menor dimensão, como Lisboa e Porto em Portugal e centenas de outras em muitos países, pois o fenómeno não é só português.
Devemos refletir sobre este processo, porque importa ter consciência de que ele apresenta contradições e riscos, envolve problemáticas, como a do alojamento local e da pressão humana em zonas históricas destas pequenas/grandes cidades. E aqui introduzo uma segunda reflexão.
Na minha opinião, que já exprimi várias vezes, os municípios e as entidades públicas não perceberam em tempo útil este fenómeno, não tomaram medidas preventivas de «planeamento turístico» e de estratégia imobiliária, capazes de prever e responder a evoluções complexas e eventualmente difíceis de controlar. Como acontece em Lisboa e no Porto, onde a problemática vai para além do «Turismo»: é mais que evidente o peso muito grande de atores imobiliários e de preocupações de políticos com o voto dos «residentes» e o «excesso» de turistas.
Os crescimentos do Turismo nos últimos anos (sobretudo em Lisboa e no Porto) enquadram-se, portanto, neste contexto novo e complexo.
A questão é clara: por um lado, não sabemos com rigor como vai evoluir o Turismo a nível mundial/europeu/mediterrânico e, por outro, temos que encontrar soluções para as situações de risco atuais.
E nalguns casos específicos, como Lisboa, para além da problemática do alojamento, podemos ter que enfrentar outras situações muito complexas: refiro-me em concreto à problemática do Aeroporto.
Lisboa. Aeroporto. Alerta
É a terceira reflexão. O visível agravamento diário da dificuldade de resposta do Aeroporto de Lisboa em relação à intensificação do movimento de aviões/passageiros causa as maiores preocupações para o futuro próximo do Turismo não só na área de Lisboa. Não vou fazer sugestões.
Quero apenas afirmar aquilo que considero ser a verdadeira causa de fundo desta telenovela. E lançar um alerta: trata-se de uma matéria que não dá para mais truques políticos.
O atraso, que tem décadas, na solução deste problema estratégico do país, tem uma causa muito simples e é de ordem política: trata-se do desconhecimento (ignorância) e subestimação total (irresponsabilidade) da importância do Turismo na Economia, por sucessivos governos. Que é mera consequência direta do desconhecimento (ignorância) da natureza, da essência e especificidade do Turismo, das suas linhas de tendência e perspetivas de evolução, perfeitamente delineadas há anos pela Organização Mundial do Turismo, e que as estruturas institucionais do Turismo português conhecem e muitos especialistas nacionais também.
É aqui que reside a causa de tudo. Por isso tem-se vindo a empurrar o «problema»: decidindo a localização de um «novo aeroporto» na base de interesses de investimento/terrenos/construção; ou planeando «ampliações» insuficientes do que existe; ou escolhendo alternativas provisórias. Entretanto, vão-se adiando decisões porque falta sempre qualquer coisa, nem que seja o famoso «estudo de impacto ambiental»; ou por razões de «calendário eleitoral». Desprezando desta forma os riscos de penalizar uma atividade económica crucial para Portugal, ignorando sempre que o Turismo contribui para 7% do Vab e representa 12,5% do Pib (direto, indireto e induzido) e que é o principal setor exportador de Portugal (15 mil milhões de euros em 2017) e o principal responsável pelo equilíbrio da Balança Comercial de Portugal.
Ou se percebe isto e se assumem decisões e soluções rápidas, ou os governos terão de ser responsabilizados por falha económica grave, contra os interesses estratégicos do país. Não é possível continuar a gerir este dossiê com manobrismos políticos.
Alerta final de verão: nas matérias abordadas o governo tem de assumir as suas responsabilidades, tanto nas medidas provisórias urgentes, como nos planos de futuro. Será devidamente escrutinado pelo país.
Tendo sempre presente que vamos entrar num ciclo em que o Turismo, por ter crescido muito nos últimos anos e por razões conjunturais, não vai continuar a crescer ao mesmo ritmo. Os dados dos primeiros meses deste ano são claros. Boas férias caros companheiros de viagem.
*Por Vítor Neto, Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve
Artigo publicado na edição de 3 de Julho do Publituris.