PORTUGAL Que se diz sobre Turismo?
Leia a opinião por Vítor Neto, empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.
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Não podemos continuar a ignorar os efeitos das referências públicas ao Turismo com que somos confrontados todos os dias. Além da sua acentuada irregularidade, saltam à vista várias situações. Por um lado, o peso das notícias negativas e depreciativas sobre o Turismo e os exageros sobre os sucessos («os melhores do mundo»). Por outro, a desvalorização das causas reais dos crescimentos, a que se associa sistematicamente a dúvida e a subestimação. É fundamental para a Economia do Turismo desmontar esta mistificação. Trata-se de uma batalha simultaneamente cultural, ideológica e política, que deve envolver todos os atores do Turismo, a todos os níveis. Que não podem ficar-se pelo seu «bairro».
Comecemos pelo palco das notícias negativas, o que não quer dizer que não haja notícias positivas. Só que muitas acabam por se diluir na confusão. Um exemplo: falar do Turismo a partir das questões da falta de alojamento nos bairros históricos de grandes cidades (hoje a maior parte das notícias), apontando como causa o Turismo, o «Turismo a mais», em que a conversa resvala rapidamente para os lados negativos do Turismo, esquecendo as causas reais: a cegueira e o oportunismo, os compromissos com determinados interesses e, questão de fundo, a falta de uma estratégia de desenvolvimento turístico desses territórios por parte de entidades municipais e nacionais, que pudesse evitar eventuais impactos negativos. Disso ninguém fala. Foi sempre «o outro». No entanto, é para o tal «Turismo a mais» que se aponta. E a resposta artística, fugindo a responsabilidades, é conhecida: taxas, legislação repressiva, compromissos com determinados interesses (atenção: votos), ou pensando apenas nas suas situações específicas, ignorando outras diferentes realidades do País. No dia seguinte os mesmos atores, perante um qualquer «prémio» estrangeiro que ninguém conhece, não se inibem de exaltar o Turismo português, como o «melhor do mundo». Que credibilidade têm estas atitudes, que só geram opiniões erradas sobre o Turismo e os seus problemas, e claro sobre as causas de erros e defeitos (que os tem)? O impacto negativo, esse, está garantido.
Uma segunda situação. Somos muitos a saber que o Turismo cresceu nestes últimos anos: em número de turistas nacionais e estrangeiros, em dormidas, em receitas externas (exportações), etc., etc. Em todo o País, em todas as regiões, em todos os setores, ainda que de forma diferente, claro, tendo em conta a dimensão da base de partida. Pois bem, alguma informação, para fugir a uma análise séria sobre estes sucessos refugia-se em lugares comuns, refletindo desconhecimento e falta de objetividade. Por exemplo, a teoria da «bolha» é descarada: no Turismo, para os seus defensores, não há nada de consistente, nenhuma base real, é apenas uma bolha. Aliás este tiro ideológico é complementado com outro, mais refinado, a teoria do «boom», que vem a dar no mesmo: desvalorização da importância económica e social do Turismo. Não há décadas de Turismo, não há investimento, não há empresas, não há profissionais, nem políticas. Nem 7% do VAB, nem 12,5% do PIB. Nada, simplesmente uma bolha, um boom!
Mas há ainda outra linha, esta mais rasteira, a de que os crescimentos se devem sobretudo às desgraças de destinos concorrentes. É evidente que têm alguma influência, e temos de ter consciência disso, como acontece aliás em qualquer outro setor económico, mas não foi esse o fator de fundo dos crescimentos. Foi termos estrutura de oferta e capacidade de organização para, por um lado, conquistar novos turistas e, por outro, poder responder também, como alternativa, a outros mercados. É mérito e não vergonha. Depois deve-se trabalhar para consolidar.
Finalmente, uma linha estratégica de fundo de descredibilização do Turismo, esta mais refinada e de «alto» nível. Não vou aqui dissecar em pormenor. É só para assinalar. É a linha de desvalorização «teórica» do Turismo, que seria um setor no fundo de pouca consistência económica, de País atrasado, um setor de baixa produtividade e de mão-de-obra barata e pouco qualificada. De um «turismo de baixa qualidade», como afirmou há tempos um expoente dessa linha. Um setor que, pelo seu peso «exagerado» (exportações), até parece que envergonha o País. Interessante é que quem faz estas afirmações nunca argumenta de forma científica. Estas mentes superiores não explicam a razão pela qual, entre os países que mais turistas recebem e que maiores receitas geram com o turismo, estão os países mais desenvolvidos e mais ricos do mundo: os EUA (1º), o Reino Unido, a França, a Alemanha, a Itália, a Espanha e, claro, mais recentemente, a China (OMT). Nem referem que o principal setor exportador (Bens e Serviços) dos EUA – como de Portugal – é o Turismo. Com receitas correspondentes ao valor do PIB de Portugal.
E as entidades públicas e os governos em geral, que dizem? Pois, muitas vezes caem nos mesmos erros e fraquezas. Ou porque desconhecem a problemática, ou porque têm receio de desagradar a outros setores, que, no fundo, consideram ser a «verdadeira» economia. Um pequeno exemplo: quando referem que as exportações correspondem a cerca de 40% do PIB e apontam como objetivo atingir rapidamente os 50%, esquecem-se sempre de dizer que isso só possível com a participação do Turismo. Que é o maior setor exportador com 18% do total de todas as exportações de Portugal. Será por timidez? Um exemplo final elucidativo das ambiguidades oficiais que afirmam reconhecer a importância do Turismo: a recente aprovação pelo atual governo da autorização para a prospeção de petróleo em Aljezur, contra a opinião unânime de toda a região do Algarve, a começar pelos Municípios, Associações empresariais e Região de Turismo, preocupados com os impactos negativos no Turismo. Lutar pelo Turismo exige não só produtos e oferta organizada, como também afirmar os seus valores combatendo ideias erradas e perniciosas, elucidando a opinião pública e os responsáveis políticos sobre a natureza e importância económica e social do setor. Uma batalha de fundo.
*Por Vítor Neto, empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.