TURISMO Mudança permanente Atenção inteligente
Leia a opinião por Vítor Neto, empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.
Publituris
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Os valores alcançados pelo Turismo a nível europeu e mundial são muito positivos. Portugal faz parte desse quadro. O impacto do Turismo no desenvolvimento económico e social exige, por isso, uma abordagem cada vez mais responsável. E inteligente. Rejeitando a superficialidade com que frequentemente se pretende desvalorizá-lo.
Em 2017, as chegadas internacionais a nível mundial terão ultrapassado, segundo a OMT, os 1300 milhões de turistas. Só a Europa representa 670 milhões (mais de 50%), um valor quase igual ao número de turistas a nível mundial em 2000. A Europa registou em 2017 um crescimento de 8,7%, superior ao crescimento a nível mundial, que foi de 6,7%. E na Europa, a subregião Sul/Mediterrâneo, onde a OMT integra Portugal, foi a que mais cresceu (12,6%). Portugal está lá.
O Turismo é o 3.º maior setor exportador da economia mundial, depois dos químicos e combustíveis. É o 1º setor exportador nos Estados Unidos e em muitos outros países, entre os quais Portugal. Convém não esquecer.
Por isso, Portugal tem que refletir sobre a real importância e o papel do Turismo para o futuro do país. Não basta navegar à vista, ou repetir números quando eles são bons. É importante entender a sua complexidade, definir uma estratégia coerente (não só no papel) e criar os instrumentos para a sua implementação.
O Turismo é uma atividade estratégica para a economia portuguesa. Não podemos prescindir dele, vamos ter de o consolidar e potenciar. Fizemos muitos progressos na compreensão desse facto, mas todos os dias somos confrontados com opiniões superficiais perigosas. Não é só a desvalorização da atividade turística e das profissões a ela associadas, mas também a ideia de que os resultados alcançados nestes últimos anos se devem apenas à crise de outros destinos concorrentes e que tudo voltará como dantes. E que o Turismo pouco interessa para o futuro do país.
Devemos combater estas posições. Em primeiro lugar, o Turismo não aspira a ser a atividade mais importante, nem aspira a estar à frente da produção e exportação de bens. O Turismo tem todo o interesse em que essa produção aumente o máximo possível, que Portugal reforce a sua estrutura produtiva, aumente as exportações de bens de forma não só a cobrir o atual saldo negativo da Balança de Bens (13,8 mil milhões em 2017), como a ter mesmo um saldo positivo. Sem necessitar que seja o saldo positivo da Balança do Turismo a cobri-lo.
A questão é outra. Não se trata de ser uma atividade mais importante, mas sim de considerar o Turismo como um setor estruturante imprescindível da economia portuguesa, ao lado de outros, e como instrumento de desenvolvimento económico e social – nacional e regional.
Responder à mudança
O Turismo, para além da sua complexidade intrínseca, está confrontado com desafios inesperados cada vez mais frequentes, que criam fatores de incerteza. Todos os dias surgem novas situações. Vejamos exemplos recentes.
Turquia. O processo de recuperação dos mercados turísticos do Mediterrâneo e Médio Oriente, que era previsível e já tinha dado sinais há vários meses sobretudo na Tunísia, parece ter acelerado e ganhou muita força em relação à Turquia, cujo principal cliente, a Alemanha (5,6 milhões de turistas em 2015) tinha caído para 3,5 milhões. Tenha-se em conta que, para além das incertezas sobre segurança, se tinha registado também um profundo conflito diplomático entre a Alemanha e a Turquia, tendo o governo alertado os seus concidadãos que pretendiam deslocar-se a esse país para o perigo que poderiam correr.
Acontece que este ano se está a registar um aumento de 70% nas marcações de turistas alemães para a Turquia. Que se passou? Alguns observadores (espanhóis) questionaram-se sobre a razão do desaparecimento das «más notícias» sobre a Turquia nos meios de informação na Alemanha… afirmando até que, «quando não há más notícias sobre um país, significa boas notícias para os interesses turísticos desse destino» (hosteltur, 12 de março).
A Espanha, que em 2016-17 tinha tirado o 1º lugar à Alemanha, é a principal prejudicada e declarou o alarme.
Nada disto é inocente, se se pensar que grandes operadores como a alemã Tui controlam milhares de camas na Turquia e muitos fluxos aéreos. Este facto já teve consequências nos preços e nas marcações e os empresários de Baleares e Canárias já manifestaram as suas preocupações. Tudo muito rápido: crise e recuperação! Lição: hoje é fácil mudar as opiniões de milhões de pessoas e é errado apostar nas dificuldades dos concorrentes.
Pense-se só no que se está a discutir sobre o papel do Facebook e das redes sociais na formação da opinião pública.
O Turismo já está a viver esta realidade. Ninguém escapa. Qual é a resposta? Estados Unidos. Outro facto relevante que converge com este é a quebra do afluxo de turistas para os EUA em 2017 – seja de turistas do próprio continente americano, seja asiáticos e europeus. Especialistas internacionais de turismo consideram que é uma consequência da opinião negativa, potenciada também pelas redes sociais, que se gerou sobre Trump. O mundo do turismo está mesmo a mudar.
Airbnb. Foi divulgada recentemente a notícia que esta plataforma, até agora vocacionada para a intermediação de «alojamento local», teria a intenção de integrar na sua oferta também o alojamento hoteleiro.
Nada de surpreendente, eu próprio referi aqui (out.2017) que a Airbnb já estava a investir nos EUA na construção de unidades próprias de alojamento local. É só mais uma prova de que nada está estabilizado. Tudo pode mudar a qualquer momento. É evidente que esta intenção da Airbnb que pode ter atrativos para os consumidores, provocaria uma autêntica revolução na intermediação do alojamento hoteleiro. Choque com as Booking, Expedia, TripAdvisor e as agências tradicionais e a venda direta. E uma situação complexa para os hoteleiros, já perturbados neste momento: preços, comissões etc., que veem na Airbnb um adversário mas que podiam agora pensar ter algumas vantagens.
E quem exclui que a Airbnb não esteja já a pensar noutros negócios, como adquirir cadeias hoteleiras ou companhias aéreas?
Moral da história: sendo certo que muito do novo que surge não vai para a frente, é certo também que são cada vez mais frequentes realidades novas, que não podemos deixar de analisar, avaliar e enfrentar, se for necessário. Compete-nos a todos fazê-lo. Mudança Permanente. Atenção inteligente.
*Por Vítor Neto, empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.
Artigo publicado na edição 1364 do Publituris.