“O papel do GDS vai ser mais relevante no futuro”
Cláudio Santos, director-geral da Amadeus Portugal, explica os desafios que se colocam ao sector da distribuição com a implementação do NDC – New Distribution Capability.

Raquel Relvas Neto
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Lançado em 2015, o NDC – New Distribution Capability pela IATA (Organização Internacional de Transporte Aéreo), continua a ser uma das discussões “mais importantes na nossa indústria”.
Segundo dados da IATA, revelados no início deste mês de Dezembro, pelo menos 113 companhias aéreas já mostraram intenções de adoptar este programa. Contudo, o sector da distribuição ainda tem algum desconhecimento do que se trata o NDC e quais as suas implicações no funcionamento diário das agências de viagens.
Cláudio Santos, director-geral da Amadeus Portugal, num encontro com a imprensa, começa por descrever que este “protocolo tecnológico” surge por alteração do próprio viajante, cujas necessidades estão a ficar “mais sofisticadas” e impactam nos fornecedores da indústria de viagens, mas também devido às necessidades das companhias aéreas que querem ter um maior controlo sobre os produtos que vendem, ter um aumento de receitas, bem como a capacidade de oferecer serviços mais personalizados. “Hoje as empresas aéreas têm muito pouco controlo sobre o que estão a vender”, indica, explicando que estas querem “influenciar cada vez mais a forma como os produtos são vendidos”.
No modelo que existe actualmente, ou seja, através dos GDS, como a Amadeus, “todas as empresas [aéreas] colocam os seus conteúdos para todos os actores que vão fazer essa revenda e isso é algo que impacta, na nossa visão, o aumento das receitas e portanto a nosso ver é algo que justifica a preferência ou direccionamento das companhias para a venda directa nos seus sites”.
Assim, o NDC, baseado em linguagem XML, “não é mais do que um protocolo tecnológico”, ou seja, é “uma maneira tecnológica de efectivar uma conectividade”. Cláudio Santos clarificou que o NDC não se trata de “um novo sistema, não é um novo GDS ou um novo modelo comercial ou de negócios, é simplesmente um protocolo tecnológico que visa facilitar ou melhorar a conexão entre as empresas”.
Actualmente, as companhias aéreas detêm os seus respectivos inventários e um sistema de gestão de revenue, informação essa que é “exportada para os provedores externos”, sejam as agendas dos voos, os serviços de ancilliaries, como as regras de negócio. Cláudio Santos explica que os GDS pegam em toda esta informação e “utilizam algoritmos próprios para a combinar e gerar as milhares e milhares de opções de voos e conectividades que disponibilizam a toda a gente que tem acesso a esse conteúdo”. “Imaginem quanto do custo do processamento destas transacções, de todo este ecossistema global está sob os GDS”, questiona.
“Imaginem um cenário onde 100% das consultas chegam às companhias aéreas”, diz, apontando assim para o modelo que com o NDC as companhias aéreas vão praticar. “Isso tem implicações ao nível de investimentos em infra-estruturas de tecnologia que essas empresas têm de fazer para suportar toda essa demanda”.
Com o NDC, esta informação passa a estar apenas do lado da companhia aérea, que disponibiliza através de um protocolo tecnológico um conector para “quem quer que seja tenha acesso a estas ofertas”. No entanto, o acesso a esta informação vai ser individualizado para cada companhia aérea.
A partir do momento em que adoptarem o NDC, cada companhia aérea vai ter o seu próprio sistema, que pode ser diferente da companhia A e da B. O que supõe que, no futuro, a agência precise “desenvolver uma conexão com cada uma das companhias”, alerta o responsável. Uma vez recebida toda essa informação de cada uma das companhias aéreas de forma isolada, a agência vai precisar criar uma “matriz de comparação”, “trabalho que é feito hoje pelo GDS”. A agência de viagens vai assim necessitar de processar toda essa informação de forma a poder fornecer uma oferta para o cliente, havendo ainda a possibilidade de ter de comparar a informação das companhias aéreas que ainda só disponibilizam o seu conteúdo no GDS.
O director-geral da Amadeus Portugal defende que este não é o fim dos GDS e que estes vão ser bastante úteis aos agentes de viagens. “Temos a clara visão de que [o papel do GDS] vai ser muito mais importante do que é hoje”, sublinha.
Qual o papel do GDS com a integração do NDC?
“O mercado acha que os GDS vão ter um papel importante num futuro próximo, porque a complexidade está a aumentar de maneira exponencial”. Com o aumento da personalização das ofertas, numa clara aposta na diferenciação das companhias, e com o facto de ir existir “este canal único de fonte de informação, onde a agência online ou offline pode ir buscar todo o conteúdo, fazer todas as comparações e entregar ao cliente final a melhor proposta” vai ter as suas implicações.
“Pensando do ponto de vista de transparência, facilidade de escolha do cliente, julgamos que [o NDC] não é o melhor modelo, mas entendemos que é o modelo que está a ser perseguido e suportamos esse modelo, porque entendemos também as necessidades que estão por detrás dele. O nosso objectivo enquanto provedor de serviço e de todas as opções para o agente de viagens – e é esse o valor que achamos que acrescentamos enquanto intermediário – essa missão não muda independentemente de onde vem o conteúdo. Por isso o papel do GDS continua relevante como vai ser mais relevante no futuro”, atesta Cláudio Santos.
Além de que, “toda esta interconectividade para cada um dos componentes, para cada uma dessas empresas [aéreas] tem um custo de tecnologia e investimento para as agências de viagens que não é menor”, alerta.
“É preciso existir um trabalho maior do que o que já existe hoje, que vai ser agregar todas as fontes de conteúdos para que o agente de viagens continue a ter todas as opções disponíveis no mercado para fazer a consultoria ao seu cliente e continuar a entregar a melhor oferta de viagem para o cliente final”, considera o responsável.
The Amadeus Travel Platform
Neste âmbito, a Amadeus encontra-se já a desenvolver uma solução para facilitar este aspecto e incorporar as várias fontes de conteúdos existentes no mercado para o agente de viagens: o The Amadeus Travel Platform.
“Não importa de onde vem o conteúdo, o que queremos, e é a nossa missão como empresa para ajudar os agentes de viagens, compilar todo esse conteúdo para que o agente possa ter a facilidade de comparar, entender com o cliente final qual é a oferta e oferecer-lhe a melhor oferta”, indica, explicando ser essa a função da The Amadeus Travel Platform, que brevemente incluirá também a informação dos NDC disponíveis das companhias aéreas que adoptarem este protocolo tecnológico.
Por enquanto, a discussão do NDC ainda está numa “discussão tecnológica”: “O modelo comercial vem depois como consequência dessa mudança e como negociação natural do mercado”.
Mas para já, “a grande maioria do conteúdo ainda é e continuará a ser pelo GDS, a maioria das companhias aéreas ainda estão nesse ambiente e continuarão a estar”, indica.