Pedro Machado “O Turismo tem uma palavra a dizer sobre o futuro da floresta”
Leia a opinião por Pedro Machado, presidente da Turismo do Centro de Portugal.
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A tragédia que há pouco mais de um mês assolou o nosso país obriga-nos a parar para refletir sobre a forma displicente como tratamos, há demasiado tempo, a floresta portuguesa. É tempo de se ouvir quem pode contribuir com algo de novo para enriquecer o debate sobre o futuro da floresta.
Os responsáveis do Turismo, a nível nacional, regional e local, não se devem furtar a uma intervenção firme e clara – pelo contrário, devem ser um parceiro privilegiado nesta discussão. Parece-nos do mais elementar bom senso que o setor da economia que mais tem contribuído para a recuperação económica de Portugal – o Turismo – seja ouvido, com toda a atenção, na questão do ordenamento florestal. Uma discussão séria tem necessariamente de abordar o impacto que a escolha das espécies tem sobre a atividade turística. A floresta é um produto turístico fundamental no Centro de Portugal. Cada vez mais visitantes acorrem a esta região, pelo apelo do Turismo ativo. Vêm para se sentirem em comunhão com a natureza, para exercitarem o corpo e o espírito, através de caminhadas, de trekking, de passeios de BTT, de descidas de rios. Tudo isto acontece no seio das florestas. Não os podemos defraudar.
Mas a floresta é também, desde sempre, um dos pilares do Turismo cinegético, o qual, se houver mais diversidade arbórea, é um nicho com potencial de crescimento. Igualmente importante, é componente essencial do Turismo gastronómico: os produtos colhidos nas florestas são um festim para os sentidos, desde os cogumelos aos frutos silvestres, passando pelo mel e pelas aguardentes. Também por este motivo, urge incentivar a plantação de árvores autóctones, que garantem estas fileiras gastronómicas ao mesmo tempo que constituem uma barreira natural contra os fogos. Está demonstrada, por exemplo, a resistência do medronheiro aos incêndios.
É altura de o país tirar ilações. As nossas florestas exigem-no. Aqueles que conhecem a floresta bem de perto, a nível turístico, têm uma palavra a dizer para evitar que se repitam os erros de sempre.
É importante que o país reflita sobre alguns indicadores preocupantes. A floresta portuguesa, outrora deslumbrante pela sua riqueza e diversidade, tornou-se reduto de duas espécies – eucalipto e pinheiro. E está a diminuir. Entre 1990 e 2015, segundo estatísticas da Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa, Portugal foi o país europeu que destruiu mais floresta. Em 1990, tínhamos 3,3 milhões de hectares, contra apenas 3,1 milhões em 2015. Estamos a desprezar um ativo fundamental, que todos os países europeus se preocupam em fazer crescer. Os únicos onde esse crescimento é negativo são Portugal e Sérvia.
O Centro de Portugal concentra 40% da floresta portuguesa. Góis, Mortágua, Oleiros ou Pedrógão Grande têm mais de 80% do território ocupado por floresta. A vida destas populações depende da floresta em todos os setores e o Turismo não é exceção. Exige-se um trabalho sério e definitivo. Deve ouvir-se o interesse legítimo dos locais. Já há bons exemplos. Em Ferraria de São João, pequena aldeia no concelho de Penela, a população organizou-se em plenário popular e acordou substituir ela própria as espécies mais combustíveis por outras mais resistentes ao fogo. É um caminho a seguir. Nas últimas décadas, Portugal foi tomado de assalto por uma espécie que não é autóctone. Pelo contrário, vem dos antípodas. Entre 1995 e 2010, o eucalipto passou de terceiro lugar para primeiro nas espécies de árvores que mais área ocupam no nosso país. É certo que a floresta é uma fileira de capital importância para a atividade económica e que constitui uma fonte de riqueza para as comunidades. Uma discussão séria não pode, por isso, partir da diabolização do eucalipto. Há lugar para o eucalipto nas nossas florestas. Mas a sua presença tem forçosamente de ser ordenada de forma efetiva e em zonas onde faça sentido.
É absolutamente essencial agitar as consciências, para que imagens como as de há um mês fiquem na memória como um ponto de viragem – aquele momento em que se percebeu que o coração do nosso país não pode ser reduzido a lenha para arder. É preciso ouvir os especialistas e determinar as espécies a arborizar, de forma a que a floresta seja uma fonte de diversidade, de vida e de atração turística – e não de cinzas. Um assunto que diz diretamente respeito às gentes locais não deve, não pode ser decidido apenas por quem se senta nos gabinetes de Lisboa. É demasiado importante.
*Por Pedro Machado, presidente da Turismo do Centro de Portugal.