O TURISMO exige bom senso
Leia a opinião por Vítor Neto, Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.
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O Turismo tem disto: passa-se do silêncio mais lúgubre e displicente à euforia acrítica com uma facilidade incrível.
O Turismo, em determinados momentos, ou é «o» petróleo (ou a galinha de ovos de ouro), ou pura e simplesmente não existe. Mas quando os números se impõem exagera-se no seu verdadeiro significado e, de repente, é promovido a «bálsamo» da economia e a salvador inesperado das estatísticas negativas das exportações de «Bens». Só vale quando dá jeito. E sempre que possível sem explicitar. Não pode ser.
Na realidade, o Turismo vale por si, não é nenhuma muleta, é um setor estruturante, permanente e insubstituível da nossa Economia, que se afirma cada vez mais na realidade do país. E como tal deve ser tratado. Não beneficia nada com deslizes e abordagens superficiais.
Não me cansarei de repetir: com o Turismo estamos a falar de um contributo nacional – direto, indireto e induzido – para mais de 10% do PIB – dezassete mil milhões de euros; estamos a falar do principal setor exportador de Portugal, isto é de 15,3% do total das exportações de Bens e Serviços (11,5 mil milhões de euros), sem o qual não haveria saldo positivo da Balança Comercial de Bens e Serviços; em 2015, o Turismo, que representa 45% das exportações de Serviços, e que apresenta um saldo positivo de quase 8000 milhões de euros, contribuiu sozinho para cobrir 85% do saldo negativo da Balança de Bens. A atividade turística envolve mais de 115.000 empresas em todo o país e emprega cerca de 350.000 pessoas e gera um volume de negócios da ordem dos 18.000 milhões de euros; é fator de desenvolvimento regional e de dinamização de muitos outros setores de atividade económica, etc.
Os números.
Este ano, os «números» do Turismo, no seguimento de 2015, são bons. É muito positivo e deve ser realçado. Mas com objetividade e bom senso. Os dados (INE/TP) até junho apresentam crescimentos em quase todos os índices e em todas as Regiões. Iremos provavelmente ultrapassar, este ano, os 53 milhões de dormidas (30% residentes e 70% não residentes) e os 18/19 milhões de hóspedes (40% residentes e 60% não residentes).
Nota: tudo isto no alojamento classificado. É sem dúvida muito positivo. Mas atenção: estes «hóspedes» não podem ser confundidos com o «número de turistas» que recebemos no país. Desde logo, porque uma parte (40%) são portugueses e, por outro lado, porque há umas centenas de milhares de turistas estrangeiros que não são contabilizados oficialmente como «hóspedes», pois utilizam «casas de amigos» e alojamento não classificado. O Algarve é, historicamente, o principal exemplo disso. Por isso não se pode dizer que este ano «vamos receber 19 milhões de turistas» e que no ano passado recebemos 17,4 milhões, porque também esses se referem a turistas nacionais e estrangeiros e também só no alojamento classificado (INE/T.P). E quando se diz que há 10 anos – presumo 2006 – esse valor era de 10 milhões, na realidade, foi de 12.4 milhões (T.P). O risco destes números consiste, para além da confusão que geram, nos sinais errados que podem transmitir à sociedade e sobretudo aos agentes do setor do turismo e aos investidores.
Os dados estatísticos são imprescindíveis em todos os setores da Economia e sobretudo no Turismo, atividade variada e complexa, uma verdadeira constelação de serviços, como dizia o saudoso Professor Ernâni Lopes. Temos pois á nossa frente a tarefa desafiante de consolidar os resultados que atingimos, e seguir em frente, mas para isso precisamos de traçar um rumo assente em bases sólidas e rigorosas partindo de uma premissa: em Portugal o Turismo cresceu em todas as regiões, é um facto, mas nem tem a mesma base de partida como não cresceu da mesma forma em todo o país, nem com os mesmos produtos, nem nos mesmos mercados e até segmentos. Os turistas de um determinado país que se deslocam ao Algarve por opções de produto e metas de viagem, são «diferentes» dos turistas desse mesmo país que se deslocam ao Norte ou ao Alentejo. É importante tê-lo sempre presente. Não se consegue «vender tudo» em todo o lado, nem pensar que basta «desconcentrar» a oferta para automaticamente «atrair» turistas. Não se copiam destinos.
O Turismo tem uma difusão territorial irregular – a nível de continentes, de países, e em cada país – e o seu sucesso está ligado a muitos fatores, para além do produto, nem sempre domináveis: acessibilidades, propostas para ocupação dos tempos, etc. Os objetivos, em termos de metas a atingir, não podem ser os mesmos para regiões com produtos, estádios e graus de desenvolvimento diferentes. Também os meios e as formas de ação e promoção têm necessariamente de ser diferentes. O que nem sempre é entendido.
O Governo tem um conjunto de ações positivas em curso na área da promoção e do investimento, novas rotas aéreas, programas como Algarve 365, o Projeto Wi-fi, o All for All, o projeto Revive, que podem dar um contributo para enriquecer a qualidade da nossa oferta. Mas tudo isto tem de ser integrado numa estratégia coerente nacional e a nível das regiões, com uma direção política forte. Compete a nós todos contribuir para a sua concretização.
Nota de viagem: Entretanto o «turismo» move-se por esse Mundo fora. A Expedia, a maior agência online do mundo, com uma faturação de 54.000 milhões de euros em 2015, e rival da Booking, acaba de fazer uma aliança com a cadeia Marriott Internacional, para integrar a sua tecnologia na comercialização dos pacotes turísticos do grupo. A Marriott por sua vez acaba de comprar o rival Starwood Hotels&Resorts por 13 mil milhões de dólares, dando vida ao maior operador hoteleiro do mundo, com 30 marcas, um milhão e cem mil quartos, em 6000 hotéis em 110 países. Vale a pena acompanhar.
*Por Vítor Neto, Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve