O medo na agenda da investigação em Turismo
Leia a opinião de Antónia Correia, Dean da Escola de Turismo, Desporto e Hospitalidade da Universidade Europeia.
Carina Monteiro
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A investigação sobre riscos em viagem despoletou com o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001. O Turismo tem na sua génese a mobilidade e era necessário conhecer as consequências do risco na motivação para viajar. A agenda dos investigadores desta área de conhecimento académico incluiu, desde então, o terrorismo e os desastres naturais.
Passaram praticamente 15 anos mas mantém-se a falta de coesão social e de confiança no modelo de desenvolvimento societal, característico da globalização. Agravam-se os choques culturais e assiste-se à transformação de uma sociedade de classes numa sociedade de riscos. Os mais recentes acontecimentos na Bélgica demonstram as fragilidades do nosso modo de vida e vêm agravar a insegurança do viajante.
Não é por isso de admirar que a investigação comece a anunciar um retrocesso no crescimento do Turismo mundial. A inerente intangibilidade dos serviços e a necessidade de mobilidade justificam uma relativa incerteza e até o receio de viajar, mesmo entre os que pela sua própria natureza encontram na viagem a sublimação do ano de trabalho ou a sublimação da inata curiosidade.
Ainda que estes desejos de recompensa e descoberta persistam, o medo refreia a mobilidade e compromete o desenvolvimento turístico a nível mundial. Em contraciclo, e contrariamente ao que seria expectável, Portugal regista níveis de evolução turística constantes e contrários à instabilidade a que se assiste.
O “fenómeno” português chamou a atenção da Academia, não alheia ao flagelo social e a esta nova agenda de investigação imposta, tendo sido realizados estudos para explicar o otimismo e a euforia inabaláveis do nosso país.
E um dos fatores que pode contextualizar o “caso português” é a deslocalização de movimentos em férias para locais percebidos como seguros, como é o caso de Portugal. Numa amostra por conveniência de 600 turistas internacionais ficou claro que o risco de terrorismo existe e que certos destinos devem ser evitados (47.8 por cento assim o declaram). Sendo que os turistas são reconhecidos como o principal alvo (80.9 por cento) e a viagem é cada vez mais antevista como um risco eminente (54.6 por cento).
Nesta controvérsia de forças antagónicas – por um lado a vontade de viajar e por outro o medo associado aos flagelos que vamos impavidamente assistindo -, o sucesso de Portugal passa por continuar a proporcionar excelentes condições de segurança e um ambiente prazenteiro, caraterístico do estilo de vida do país.
Não podem, no entanto, subsistir dúvidas de que a euforia de crescimento a que assistimos nas últimas décadas está inevitavelmente comprometida, mesmo neste país de brandos costumes. Resta esperar que Portugal escape incólume aos ataques terroristas onde a racionalidade é o que menos impera.
* Artigo de opinião de Antónia Correia, Dean da Escola de Turismo, Desporto e Hospitalidade da Universidade Europeia, publicado na edição nº1315 do Publituris