Conservadorismo condena o Turismo
Secretário de Estado do Turismo dá aula na Universidade Lusófona e fala nas noções que devem estar presentes na indústria nos dias de hoje.
Patricia Afonso
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O conceito de indivíduo e foco na procura devem ser os principais conceitos a ter presentes no Turismo, aos que acrescem a liberdade e o conhecimento, razões pelas quais o Estado deve limitar a sua intervenção no sector. Pelo menos, de acordo com o secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, que foi ‘professor por um dia’, esta terça-feira, na Universidade Lusófona.
Foi apenas uma aula, de cerca de uma hora, onde o governante defendeu que o conceito de turista deve ser abolido, tomando o seu lugar o de indivíduo, visto que devemos olhar para os viajantes como pessoas “na sua multiplicidade” de gostos e formas, e não consoante uma segmentação conservadora. O mesmo deverá acontecer com a divisão do Turismo em produtos, deixando surgir as experiências, com o foco nas motivações de quem viaja. “Olhar para a procura para a oferta surgir”, afirmou Adolfo Mesquita Nunes, para quem, nesse âmbito, se deve repensar o que são as políticas públicas.
Fundamental, é o “respeito pela procura”, sendo exactamente a sua falta que motiva algumas das grandes questões na praça pública, com o governante a dar como exemplo a controvérsia à volta dos ‘tuk tuk’ e o Airbnb, negócios que são fruto exclusivo da procura.
Adolfo Mesquita Nunes explicou ainda a noção de ‘liberdade’, afirmando que os empresários devem ser livres de fazerem o que quiserem, sob pena de o Turismo não evoluir se assim não for. Foi desta perspectiva que surgiu a desregulamentação do acesso e de exercício da actividade das empresas de animação turística, que já levou a um aumento de 70% do número de empresas; da profissão do guia-intérprete e da de director de hotel; e uma regulamentação menos pesada dos hostels.
O governante não se manifestou contra a desregulamentação total, mas acredita que a intervenção dos privados é mais eficaz na identificação e resposta à procura turística, tendo sempre como barreiras os limites ambientais, urbanísticos, de segurança e demais. Adolfo Mesquita Nunes defende, ainda, que o “poder de fala” que os consumidores hoje têm é uma ferramenta poderosa no controlo da qualidade.
A abertura à mudança é outro conceito defendido pelo SET, segundo o qual é preciso “encarar a mudança com abertura e não travá-la”, de forma a não perdermos competitividade. É necessário ter uma “perspectiva pró-empresarial”, mas não de protecção das empresas que já existem, sendo a concorrência um fomento à melhora da qualidade dos serviços prestados e à inovação.
Surgem a seguir o ‘conhecimento’, com o Big Data a ser “um dos maiores desafios do Turismo”, assim como uma das principais armas para oferecer ao viajante o serviço e experiência que procura, ou mesmo antecipar. E, por fim, o termo ‘parceria’, sejam públicas, público-privadas, entre privados, mesmo entre países, como é o caso do que está a ser feito com Espanha. Dando o exemplo dos hotéis, mas algo que se estende a todas as áreas de negócios, Adolfo Mesquita Nunes disse ser essencial pensar além do nosso negócio e pensar nas propostas de valor que podemos agregar.
Finalizando a aula, Adolfo Mesquita Nunes respondeu à questão que escolheu para mote: ‘Precisamos mesmo de ter um secretário de Estado do Turismo?’, ou mesmo de um ministro do Turismo. A resposta é negativa, se esta figura quiser apenas pensar no Turismo de forma conservadora. Para o governante, quem ocupa este lugar tem de estar ciente e acompanhar o seu dinamismo e constante evolução, como as premissas acima o demonstram.