Lisboa e o maior espectáculo musical do mundo
Leia a opinião de Jorge Mangorrinha, Professor universitário.
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O Festival Eurovisão da Canção é mais do que um megaevento musical, pois está intimamente ligado às estratégias políticas, culturais, económicas e turísticas, nacionais e locais. Portugal nunca venceu este concurso, pelo que ainda não teve a experiência de o realizar, provavelmente em Lisboa.
A propósito, pergunta-se: será que a capital portuguesa quer ser uma “cidade com eventos” ou, reconhecidamente, uma “cidade de eventos”?
É no contexto desta questão que se situa uma estratégia de eventual conquista para Portugal do Festival Eurovisão da Canção, pela primeira vez em mais de meio século de participações portuguesas, o que representaria um enorme desafio, no reconhecimento da importância deste acontecimento no quadro da coerência estratégica entre vários eventos já instalados, bem como na aposta em ideias originais e num financiamento comparticipado por entidades públicas e privadas que adoptariam este megaevento como seu. Ao assumir a conveniência na sua realização, as entidades organizadoras ligar-se-iam a potenciais mercados importantes de pessoas que estão interessadas no tema mas, também, incentivariam o reforço do orgulho e da auto-estima das comunidades locais e a exportação da imagem da cidade e do País, à escala de um auditório de muitos milhões de pessoas, no local e através dos canais televisivos e radiofónicos e da internet.
A realização, em Lisboa, de um megaevento com estas características cumpriria objectivos culturais, económicos e sociais, trazendo benefícios para o sector turístico, pois ajudaria a potenciar as mais-valias já existentes, na criação de um pacote de oferta completo, e impulsionaria a procura turística, mesmo no pós-evento. Tratar-se-ia, portanto, de um investimento e de um reforço da competitividade da região de Lisboa como destino turístico.
Esta realização pode trazer retornos económicos directos (emprego, utilização de espaços de actuação, participação de empresas locais na organização logística, fluxos económicos em direcção a diferentes agentes económicos locais, regionais e nacionais) e indirectos (incremento de actividades económicas no tecido local, desde o comércio, a restauração, a hotelaria, entre outras).
Como é que o Eurofestival da Canção se pode realizar em Portugal?
Esta conquista deve situar-se numa aposta planeada como de interesse para a indústria turística e para a exportação da música portuguesa. Complementarmente, Portugal já tem novos espaços e meios tecnológicos, melhorou a oferta de equipamentos e serviços culturais e turísticos, tornou-se, portanto, mais capacitado para o objectivo de poder vir a organizar este megaevento, que teria uma repercussão para além da cidade de Lisboa, designadamente no alojamento.
Também importantes são os critérios de apoio financeiro, que passam por regras de avaliação que tudo têm a ver com as características de um espectáculo eurovisivo, designadamente nas chamadas métricas: cobertura televisiva e audiência esperada, bem como a cobertura da restante media e a divulgação em canais online. Importaria criar condições para a maximização da atractividade do evento para os turistas e fazer sentido para os residentes, ou seja, obter um amplo suporte público antes, durante e depois da sua realização efectiva. Dessa forma, Lisboa alcançaria o denominado Legacy Momentum, ou seja, a capacidade de se conseguirem dividendos, designadamente em termos de conhecimento, imagem, economia, cultura, reputação, estatuto e orgulho local, portanto, legados e benefícios tangíveis e intangíveis.
Através desta conquista, a capital portuguesa poderia assumir uma distinção própria como organizadora de eventos musicais memoráveis, marcando com ele um momento positivamente único. Basta que a RTP, os autores e compositores, as entidades públicas da Cultura, do Turismo e da Diplomacia e as empresas queiram, para breve, construir uma task force para este objectivo em particular e para uma dinâmica mais vasta no tempo, enquadrável numa rede de outros eventos já existentes.
Autor: Jorge Mangorrinha, Professor universitário.