Parole, Parole… e a Emancipação do Sector Turístico Português
A instabilidade permanente e os curtos ciclos políticos italianos têm sido um triste espectáculo para todos. Mais de seis décadas de república, à média de um governo por ano (…)
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A instabilidade permanente e os curtos ciclos políticos italianos têm sido um triste espectáculo para todos. Mais de seis décadas de república, à média de um governo por ano.
Mesmo com esta instabilidade política estrutural, a Itália não deixou de conseguir tornar-se numa das mais fortes economias do mundo (membro do G8), um dos maiores produtores e exportadores, um dos Top 5 destinos turísticos do mundo.
Esta pujança não emanou da visão política nem da liderança de Estado e Governos.
Em Portugal, estamos todos sob o manto pesado e estático do Estado. Mental e economicamente. Não conseguimos viver sem ele. Não conhecemos outro “registo”.
Por isso, esperamos sempre milagres por parte dos governos. Milagres que nunca surgem, não só porque não existem, mas porque nem os nossos governos têm sido competentes, nem nós temos sido o povo pujante e engenhoso que os governos precisam para conseguirem optimizar a governação e o próprio país.
Em Turismo, a ver pelo perfil dos sucessivos governantes deste sector, o sector tem sido tratado como pouco mais que uma brincadeira de meninos.
Mesmo assim, não deixou de se tornar num sector de facto, cavalgando na visão de alguns animal spirits 1 , pessoas no sector privado e público que tomam risco pessoal, institucional, empresarial e económico e que asseguram o valor que, apesar de pouco, o sector sempre tem criado.
Em Itália, o que aconteceu não se deveu a estratégia, mas sim a pragmatismo. Face à instabilidade política permanente, o sector privado fez-se à vida e com bons resultados.
Tudo isto nos leva a pensar no que seria o nosso sector, emancipado do Governo.
Como o modelo político não tem sido confiável, o sector tem que pelo menos fazer evoluir o seu business mindset (se não por estratégia, por sobrevivência).
E os ventos até estão de feição: (1) o país está falido, logo não há recursos para alocar; (2) o SET é liberalizante, por crença e por necessidade; (3) os líderes das instituições turísticas privadas mais relevantes são credíveis; (4) internacionalmente, o Turismo passou a ser um sector estratégico.
Como?
1. Empowerment da CTP e do TP ou até uma fusão entre ambos, criando uma espécie de CEO do Turismo ou Tourism Czar), para liderança do cluster e interacção ombro-a-ombro com o Governo
2. Consolidação das múltiplas associações do sector (muitas delas pequenas, pouco sofisticadas), pelo menos fundindo os seus “back-offices”, tipo joint-venture associativa sectorial
3. Clusterização do sector, integrando sectores beneficiários do Turismo, como a Banca, Distribuição e Telecomunicações, que também devem ser chamados a contribuir. E a TAP!
4. Desenvolvimento duma plataforma única de business intelligence avançado, via universidades e outros institutos públicos (INE, BdP…) e organizações privadas (consultoras, think-tanks, observatórios…), que fosse actual, com dados históricos mas também futuros, que identificasse tendências e que incluísse a monitorização de destinos-benchmark
5. Lobbying profissional, para a interacção com governo e key players nos mercados de origem, quer influenciando o policy making deles, quer contribuindo para a definição de estratégias de destino (quais os que estarão ou não na moda, rotas…), até para ajudar a que, cá, a Oferta se adapte em tempo útil às mutações na Procura.
E a SET? Ou integra as suas competências no CTP/TP ou extingue-se, pois tornar-se-à redundante.
A fase de parole, parole, não nos tem levado longe… Se não “italianizarmos” o sector, iniciando uma fase de acção disruptiva e esclarecida, deveremos então habituar-nos a ficar satisfeitos com os resultados medíocres que temos conseguido.
*Mário Candeias
Gestor hoteleiro
1Expressão utilizada por John Maynard Keynes na Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda e que recentemente mereceu honras de título num livro de Robert Shiller (Yale), um dos macroeconomistas americanos de referência na actualidade.