Quirimbas, o idílico arquipélago esquecido
Para muitos portugueses Moçambique era um país fabuloso, palco de mil e uma histórias e de uma qualidade vida que não mais se voltou a repetir. Invariavelmente a acção situa-se há mais de 35 anos, anterior à independência da ex-colónia portuguesa.

Ruben Obadia
Turkish Airlines assinala abertura da terceira pista do Aeroporto de Istambul
“Crescimento do Porto e Norte pode acontecer com a construção de uma segunda pista e aumento da aerogare”
Cabo Verde: Ilha de Santiago vai poder ser explorada em roteiros turísticos
Brasil estabelece novo recorde ao receber mais de 3,7 milhões de turistas estrangeiros no 1.º trimestre
Dino Parque Lourinhã ganha novos “habitantes”
Disneyland Paris está cheia de novidades
Receitas turísticas crescem 3,7% em fevereiro e já somam mais de 3MM€ em 2025
TAP adota pagamentos flexíveis da Klarna
Empresas turísticas atingidas pela tempestade Martinho vão ter apoios de 5M€
Guia de Turismo Industrial do Alentejo e Ribatejo reúne 29 recursos turísticos e experiências
Para muitos portugueses Moçambique era um país fabuloso, palco de mil e uma histórias e de uma qualidade vida que não mais se voltou a repetir. Invariavelmente a acção situa-se há mais de 35 anos, anterior à independência da ex-colónia portuguesa. São histórias contadas de pais para filhos onde o denominador comum é a saudade, em alguns casos a amargura, mas em todas sem excepção o protagonista não consegue esconder o brilho nos olhos à medida que a narrativa se vai desenvolvendo. Crescemos a ouvir histórias de Moçambique e não conseguimos bem entênde-las ou se o fazemos é à custa de uma contextualização política e social, de um tempo que não mais existe.
Nos últimos 35 anos Moçambique ficou órfão dos portugueses. Salvo honrosas excepções empresariais, de que são bom exemplo o Grupo Teixeira Duarte ou a Visabeira, a realidade é que os portugueses deixaram de visitar Moçambique. A geração dos filhos simplesmente rumou para outras paragens.
Acontece que Moçambique está a mudar. A mudar para melhor. Basta passear pelas ruas de Maputo para sentir o pulso a uma cidade que, apesar dos seus inúmeros problemas, é vibrante. Os mais saudosistas ainda lá encontram o restaurante Piri-piri, com o seu frango grelhado bem condimentado e o mercado de artesanato mesmo ali à porta; ou então dão de caras com o Hotel
Girassol, o emblemático Cardoso ou o mítico Hotel Polana, hoje propriedade do Grupo Serena; o restaurante Zambi, que tenta resgatar os tempos gloriosos de outrora; ou dão de caras com a igreja de Santo António da Polana, situada no bairro mais exclusivo (e caro) da cidade. Aqui e ali surgem apontamentos dos “tempo de antigamente”, muitos deles reinventados. Mas não é disso que esta viagem trata. Não fomos a Moçambique como quem vai ao baú das recordações.
Essas ficam na memória dos pais e nos álbuns amarelados de fotografias. Fomos em busca de um novo Moçambique, aquele que continua quase intocado e que vai sendo descoberto por sul-africanos. Aliás, essa é a segunda explicação que me dão quando tento perceber porque razão o País é tão pouco promovido em Portugal. Dizem-me primeiro que Moçambique é muito pobre, com poucos recursos. E em seguida que o mercado sul-africano por si absorve a pouca oferta hoteleira existente na região. E já se
sabe, se não há
camas… não há turismo.
Mas a realidade está a mudar. Por exemplo, o Hotel Polana Serena está actualmente a ser alvo de uma profunda remodelação no valor de 25 milhões de dólares; o business hotel da Teixeira Duarte, o Avenida, é um cinco estrelas cumpridor; os Vip marcam presença com o Grand Maputo e o Executive Suites Maputo; e o Pestana com o Rovuma. A oferta, ainda que escassa, vai dando conta do recado com assinalávelqualidade. Portanto não será por aqui que tem uma desculpa para não apostar no destino Moçambique. Quanto à ligação aérea, os voos da TAP/LAM não conseguem apagaras 11 horas de viagem, mas o facto do voo ser nocturno atenuam as circunstâncias e remetem-nos para um merecido sono a bordo.
Rumo a Norte
Seja como for, já foi dito, o nosso destino não é Maputo, apesar de ter sido aí que montámos o nosso centro de operações. O objectivo estava muito mais a Norte, concretamente a 2500 kms de Maputo, na província de Cabo Delgado, onde iríamos ao encontro da cidade de Pemba, outrora denominada de Porto Amélia. O voo doméstico da LAM demora pouco menos de 3 horas e o facto de estarmos perante um novíssimo Embraer é promessa de mais um momento de sono descansado em altitude. À chegada a Pemba deparamo-nos com um aeroporto que quase apostávamos se mantém inalterado desde 25 de Junho de 1975. Adiante, que o nosso destino já está perto.
Pemba é, aos olhos de um turista, sejamos sinceros, totalmente desinteressante. A cidade divide-se visivelmente em duas. Na cidade baixa encontramos o porto, ou o que resta dele, com a capitania, o antigo mercado municipal e o tradicional bairro piscatório de Paquitequete. Mas é na cidade alta que se sente alguma movimentação, em torno da central avenida Eduardo Mondlane, com as suas lojas, os bancos e a zona residencial que se estende até Natite. Em suma, a cidade demora bem menos que uma hora para visitar. O mais interessante situa-se a 5 kms para este, mais concretamente para as areias brancas e águas azuis da praia de Wimbe, onde já começa a haver uma oferta hoteleira interessante. Uns quilómetros mais à frente na direcção sul com a praia de Mariganha ou do Farol. Dali, assegura-nos o nosso guia, assiste-se a um pôr do sol sobre o Indico que é uma autêntica aguarela. O tempo chuvoso não o permitiu, mas a imaginação é uma arma poderosa e em nenhum momento duvidámos da beleza do momento. E por falar em chuva, a melhor altura para visitar Moçambique é durante os meses de Inverno, entre Abril e Setembro, com uma temperatura média a rondar os 27 ºC. Fora esse período, estamos na época das chuvas onde o calor não dá tréguas.
Ainda em Pemba ficamos hospedados no fantástico e inusitado Pemba Beach Hotel. Esta unidade dos Rani Resort dispõe de 102 quartos e é uma espécie de estágio para o que nos espera no nosso destino final: o arquipélago das Quirimbas. Visto de fora mais parece uma fortaleza de inspiração árabe, onde predomina a cor terracota. Os dois canhões à entrada ajudam a construir esta ideia. Só quando avançamos para o pátio interior e nos deparamos com o barulho da água a correr de uma nascente central é que nos apercebemos que esta é uma fortaleza sim, mas de paz. Aqui vale a pena entrar na onda e mimar-se com uma visita ao Santuary Spa. E se é certo que no Pemba Beach Hotel os mosquitos parecem ter engraçado com o autor destas linhas, qualquer sofrimento foi de pronto atenuado pela excelente cozinha tanto do restaurante como do bar, sumptuosamente engalanado com inúmeras cabeças de animais empalhadas, a relembrar os tempos coloniais.
Finalmente… as Quirimbas
No dia seguinte, já com forças retemperadas, voltamos ao aeroporto de Pemba, onde nos aguarda um “teco-teco”, um pequeno avião, para uma viagem de 30 minutos até à primeira ilha do nosso prometido paraíso. O sol já tinha afastado as nuvens carregadas de chuva para uma longínqua recordação e aqui isso faz toda a diferença. Só quando o avião já ia bem alto e contemplamos o recorte da costa da província de Cabo Delgado é que nos apercebemos da perfeição da Natureza. O azul do mar surge em todas as tonalidades possíveis, aqui e ali salpicadas por pequenas ilhas onde, imaginamos, vive um qualquer Robinson Crusoé. A primeira paragem é na Ilha de Ibo, onde nos aguarda uma deliciosa pista de aterragem na relva. Aqui o conceito de aeroporto sustentável adquire toda a sua plenitude. Sorrimos para o pequeno “aeroporto”. Com dez quilómetros de comprimento é cinco de largura é sede do distrito com o mesmo nome. A população é esmagadoramente da religião islâmica e a vila, ainda que a ser alvo de um processo de reabilitação, é dominada por casas de piso térreo em avançado estado de degradação mas que, ainda assim, não perderam os encantos de outros tempos. Aqui e ali assistimos ao avançar do verde do mato sobre a vila de Ibo, com as raízes das árvores a assumirem proporções e formas artísticas. Ali, orgulham-se de um dia ter jogado o Eusébio. O nosso, que também é deles. Em boa parte do percurso que é feito a pé somos acompanhados por crianças. Muitas crianças. Ao disparo da máquina fotográfica assumem a pose para logo a desmontarem quando convidados a verem o resultado. Depois é o deliciar dos sorrisos, das gargalhadas, da festa que irrompe perante as imagens que saem da “caixa mágica”. É também no Ibo que somos surpreendidos pelos fortes de São José, de Santo António ou, o mais majestoso de todos, o de São Batista em formato de estrela. Este último é um lugar de má memória para os moçambicanos, pois dizem que serviu de prisão da PIDE e que ali terão morrido dezenas de prisioneiros políticos.
O destino da primeira noite no paradisíaco arquipélago das Quirimbas foi a Ilha de Matemo. Com cerca de 24 quilómetros quadrados e duas aldeias é aqui que encontramos o Matemo Beach Resort. São 24 bungalows situados estrategicamente sobre a praia, em dois lados da ilha, onde o luxo domina. Mais do que o luxo, o que importa ali é a sensação de exclusividade. Da banheira pode-se, por exemplo, contemplar a praia. É nos pequenos pormenores que o Matemo se distingue. A área social, por exemplo, situa-se numa zona mais alta de forma a podemos contemplar o por do sol enquanto bebemos um retemperador gin tónico. E se pensa que pelo facto de estar numa pequena ilha vai morrer de tédio então está redondamente enganado. O mergulho surge à cabeça da lista, com a temperatura da água a rondar os 26 ºC e um convidativo fundo de coral que convida ao avistamento de uma luxuriante vida subaquática. A pesca é outra das opções, prometendo fazer as delícias dos apaixonados por este desporto. Além disso, a ilha promete mantê-lo ocupado com a vela, windsurf, kayak, e uma visita à Ilha de Ibo para um passeio cultural.
A partida no dia seguinte deixa saudades e um sabor agri-doce, mas é tempo de visitar e pernoitar na Ilha de Medjumbe. A ilha é ínfima, com apenas 13 bungalows, mas o charme está gravado no mais pequeno grão de areia. Romântica, acolhedora, paradisíaca. Poderíamos continuar com o desfilar de adjectivos para qualificar este Medjumbe Private Island. Os Rani aqui capricharam. A tudo o que foi dito sobre Matemo acrescente-se que cada habitação dispõe de um jacuzzi na varanda sobranceira ao mar. Aqui imaginamos horas de ócio dedicadas à leitura, mergulhos infindáveis naquelas águas cristalinas e passeios circundantes à ilha. Mas não há tempo. Uma noite sabe a pouco, muito pouco. O sabor agri-doce permanece e nem sequer é atenuado pelo excelente vinho sul-africano servido ao jantar.
Parte-se em direcção a Maputo com a certeza que Quirimbas é um daqueles locais que, ainda bem, foram esquecidos. Maputo e lá mais ao longe Lisboa espera por nós. E vem-se com duas certezas: a primeira é que estamos perante um destino completo que merece bem um outro olhar dos operadores nacionais; a segunda é que vamos voltar em breve…
* O Publituris viajou a convite da NovoTours, operador especializado no destino Moçambique, e contou com o apoio da TAP, da LAM, do Polana Serena Hotel e dos Rani Resorts.