‘Slow’, Um Novo Conceito de Turismo
Parte II – José Gil Duarte, António Fontes, Rui Soares Franco e Hernâni AlmeidaO conceito de “Slow Travel” é uma tendência crescente. A segunda metade do século XX pode ser definida como o período de afirmação do turismo, mas também a etapa em que se iniciou o processo de massificação dos destinos e a perda… Continue reading ‘Slow’, Um Novo Conceito de Turismo
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Parte II – José Gil Duarte, António Fontes, Rui Soares Franco e Hernâni AlmeidaO conceito de “Slow Travel” é uma tendência crescente. A segunda metade do século XX pode ser definida como o período de afirmação do turismo, mas também a etapa em que se iniciou o processo de massificação dos destinos e a perda de originalidade dos territórios. A construção desenfreada, as cargas turísticas excessivas, a sobrecarga dos recursos naturais e culturais, tudo foi possível em nome de um desenvolvimento rápido e de uma avidez de consumo. Como resultado, deparamo-nos hoje com territórios descaracterizados, onde a cultura local desapareceu, ou foi profundamente alterada, espaços onde as populações locais viram defraudadas as suas expectativas e, em vez do suposto desenvolvimento estruturante, os destinos viram todas as suas oportunidades de sustentabilidade comprometidas. O turismo massificado é impessoal, onde o turista é um número e não vivência o destino mas sim um “faz de conta” folclorizado.
O século XXI está associado à afirmação de um novo conceito de desenvolvimento, o sustentável, associado a um desenvolvimento capaz de responder às necessidades do presente sem o comprometimento da satisfação das necessidades das gerações futuras. Este conceito encerra em si duas palavras-chave: a Ideia “Necessidade”, em particular dos territórios mais desfavorecidos, mais empobrecidos, os quais deveriam ser reconhecidos como prioritários e a Ideia “Limitado”, imposta pelo nível tecnológico e de organização social que permite o ajustamento entre o presente e o futuro.
Este conceito teve origem no Relatório Brundtland, em 1987. Este relatório tem por base o princípio de que o ser humano devia gastar os recursos naturais de acordo com a capacidade de renovação desses recursos, para evitar o seu esgotamento. Então, para uma utilização sustentável dos recursos, será de extrema importância que cada indivíduo seja um consumidor responsável. Assim, assume-se que é necessária uma visão integradora do desenvolvimento. O conceito de desenvolvimento sustentável pressupõe o equilíbrio entre a economia, a sociedade e a natureza, respeitando a biodiversidade e os recursos naturais.
Foi a partir deste crescente movimento, e da sua propagação enquanto conceito, que a “sustentabilidade” começa a ocupar os espaços de discussão e a ser uma variável da organização dos negócios e, paralelamente, um importante factor de decisão. Associado ao conceito de sustentabilidade surgem movimentos informais que defendem os seus princípios e que vão, de forma suave e imperceptível, reunindo, em seu torno, membros que se vão associando. É o caso do movimento “Slow”.
O movimento “Slow” é informal. Surge da associação de pessoas que partilham dos mesmos valores e das mesmas necessidades: abrandar. Os ritmos de vida urbanos são, demasiadamente, acelerados, e todas as tecnologias presentes no escritório e em casa têm como principal objectivo a nossa libertação do trabalho e a criação de um maior número de horas livre. No entanto, verificamos que, num período de 24 horas, possuímos tantos afazeres, entre a casa, a família, o trabalho, o ginásio, o lazer, ou outros, que, frequentemente, criamos elevados níveis de stress e ansiedade com os quais não sabemos lidar.
O “Slow Food” foi o primeiro dos movimentos “Slow” a surgir. Nasce em 1986, em Barolo, Itália, com 62 membros fundadores a criar o Arcigola, o antecessor do Slow Food, e em 1989, em Paris, constituí-se o movimento internacional Slow Food, por oposição ao conceito de Fast Food e ao estilo de vida acelerado. É, portanto, um movimento que valoriza o que é de origem “Local” em oposição ao “Global”, não negando, também, a Globalização que deverá ser pautada pela justiça, pela equidade, pela humanização e pela regulamentação. É, na realidade, um contributo para que seja imposto um modelo de desenvolvimento sustentável onde prevalece o respeito pela biosfera e pela socioesfera, defendendo a sustentabilidade dos recursos da natureza e a defesa dos valores culturais humanos. De acordo com o movimento, actualmente, existem mais de 80.000 membros, em 129 países, que constituem 800 Convivia (células da organização), além de escolas, hospitais, instituições e autoridades locais, juntamente com 1.600 Comunidades do Alimento, 5.000 produtores de alimentos, 1.000 Chefs e cozinheiros e 400 académicos de 150 países.
A partir deste movimento inicial surgiram outros paralelos, que defendem os mesmos princípios de actuação, tudo numa perspectiva de abrandar o ritmo, de apreciar o momento, de “estimar o tempo”. Assim, existem as “Slow Cities”, o “Slow Book”, o “Slow Money”, o “Slow Living”, as “Slow Schools” e o “Slow Travel”.
O “Slow Travel” pode ser definido como a oportunidade do visitante em se tornar parte integrante do destino, contactando com a população e com o território, num ritmo adequado à apreensão da cultura local. Este movimento silencioso contraria o estilo de turismo que se afirmou no século passado, ou seja, os charters turísticos, os all-inclusive, as excursões programadas e planeadas, os horários , etc. O “Slow Travel” valoriza a estada prolongada, com uma duração mínima de uma semana em cada destino, tempo suficiente para ir mais além do que o “must see”. Contactar com alojamentos locais, de pequena dimensão, com os produtores, com os mercados, com as populações, visitar aquela pequena igreja ou restaurante que não constam dos guias, ou seja, explorar, descobrir, usufruir, são os princípios do “Slow Travel”. Assim, o “Slow Travel” é uma “forma de estar” que surge como um contra-ciclo ao que está estipulado pelos grandes operadores turísticos.
Ao contrário do que se possa pensar, o “Slow Travel” não está vocacionado unicamente para os espaços rurais, apesar destes possuírem as especificidades para a sua prática. Os espaços urbanos podem e devem ser alvo da interpretação segundo os padrões do “Slow Travel”, potenciando a sustentabilidade, as economias locais e uma verdadeira experiência ao visitante. E de acordo com o Global Trends Report, publicado no World Travel Market de 2008, este será um movimento que se afirmará nos anos vindouros. A actual conjuntura económica e a discussão sobre as alterações climáticas vêm reforçar o potencial de crescimento deste mercado, sugerindo aos destinos a aposta em produtos que os valorizem enquanto destino de férias. É sabido que existe sempre um mercado que procura as novidades, diferenciando-se da “massa turística”. É este que descobre e potencia o desenvolvimento das novidades que cria os novos paradigmas do produto turístico.
Neste caso, o objectivo é ir muito mais além. Uma vez que se assume como um movimento alternativo aos padrões turísticos actuais, o “Slow Travel” não é uma moda, mas sim um Life Style baseado nos novos padrões comportamentais assumidos por uma sociedade responsável.
Uma vez que respeita o território, promove novos negócios, onde as populações são verdadeiros agentes económicos, e garante a existência futura dos recursos para outras gerações poderem vir a usufruir, o “Slow Travel” é, sem dúvida, uma forma de promover um turismo sustentável com benefícios para ambas as partes, procura e oferta. Complementarmente, ao visitante é dada a possibilidade de conhecer o destino de forma autêntica, criando empatia e afinidades com o território. Os princípios inerentes ao conceito do “Slow Travel” são os mesmos que estão na origem do “Turismo”. Cada destino é um destino, cada cultura é uma cultura, e o Homem sairá muito mais enriquecido destas suas experiências… afinal, o que é o turismo se não a “visita do Homem ao Homem!”.