Opinião

Portugal, no país dos elefantes

Forçosamente, temos de pensar agora como é que será o transporte aéreo a partir de 2035 para a frente – é a chamada análise prospetiva, a única que nos pode salvar de erros e desperdícios em política pública.

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Portugal, no país dos elefantes

Forçosamente, temos de pensar agora como é que será o transporte aéreo a partir de 2035 para a frente – é a chamada análise prospetiva, a única que nos pode salvar de erros e desperdícios em política pública.

Pedro Castro
Sobre o autor
Pedro Castro

2035, ano de inauguração do famoso NAL – Novo Aeroporto de Lisboa.

Tendo em conta as derrapagens orçamentais e de calendário previsíveis, é mais ou menos por essa altura que considero realista a inauguração do NAL decidido pela Comissão “Técnica Independente”.

Forçosamente, temos de pensar agora como é que será o transporte aéreo a partir de 2035 para a frente – é a chamada análise prospetiva, a única que nos pode salvar de erros e desperdícios em política pública.

Sou da opinião que não deveríamos entender a construção do NAL como o cumprimento de uma promessa feita há mais de 50 anos. Estamos, isso sim, a concretizar um desígnio futuro e futurístico para o próximo século. Dentro da minha limitação tridimensional e enquanto profissional do setor, apenas consigo ler os sinais que nos vão chegando sobre este assunto:

– a União Europeia vai deixar de financiar a construção de aeroportos, ou seja, está desinvestir nesta área;

– alguns países europeus estão a desistir da construção de novos aeroportos, terminais e/ou novas pistas;

– alguns países europeus estão a impor e/ou incentivar a substituição do transporte aéreo de proximidade – que corresponde àquele que mais volume gera e que mais “slots” ocupa nos aeroportos – por outros meios de transporte alternativos.

Aplicado ao NAL, como interpretar estes sinais?

– o atual aeroporto da Portela tem hoje 34 pares de “slots” diários em horários nobres para voos Lisboa/Porto, Lisboa/Faro e Lisboa/Madrid. São estes “voozecos” e não os 4 voos semanais para São Francisco ou os 3 voos por semana para Maputo que ocupam 10% da atual infraestrutura;

– o turista europeu de 2035, aquele que corresponde à esmagadora maioria do nosso turismo e do tráfego nos nossos aeroportos, aquele que vive em Espanha, França, Holanda, Bélgica, Alemanha ou Suíça, aquele que já-tem-mas-vai-ter-ainda-mais uma relação muito diferente com a sua responsabilidade climática, com o seu conforto, com a noção de distância e com a evolução tecnológica dos transportes alternativos…este turista europeu, dizia eu, em 2035 não vai embarcar tão facilmente num avião para aterrar num aeroporto algures para visitar Lisboa como faz hoje para passar uma média inferior a 3 noites. Vai pensar nas outras “n” alternativas mais práticas que terá pelos meios de transporte alternativos atuais e futuros.

Aceitemos, por isso, que o Novo Aeroporto de Lisboa é tudo menos novo. Em projeto e discussões tem meia idade, mas quando estiver construído estará já perto da idade da reforma, ultrapassado pelo tempo, pelo progresso e pelos próprios hábitos das pessoas.

Tal como os seus antepassados, os mamutes, os elefantes vivem décadas. Em Portugal nunca estarão extintos: vivem nas autoestradas que ninguém utiliza, nos estádios de futebol onde ninguém joga e, em breve, numa futura localização algures por aí numa infraestrutura de milhares de milhões a que os antigos chamavam de aeroporto.

Sobre o autorPedro Castro

Pedro Castro

Diretor da SkyExpert Consulting e docente em Gestão Turística no ISCE
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