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Opinião

No Algarve estão a crescer ervas daninhas

Foram apresentados vários dados que pintam um quadro assustador. Se pensamos que estamos mal agora, daqui para adiante estaremos bem pior, se o deixar andar se deixar arrastar.

Opinião

No Algarve estão a crescer ervas daninhas

Foram apresentados vários dados que pintam um quadro assustador. Se pensamos que estamos mal agora, daqui para adiante estaremos bem pior, se o deixar andar se deixar arrastar.

Guilherme Costa
Sobre o autor
Guilherme Costa

Acredito que o Marketing é muito mais do que design e campanhas promocionais. Na realidade o Marketing é colocar, manter e crescer um serviço ou produto num mercado. Todavia, para ser bem feito é fundamental perceber bem o mercado, onde esteve, onde está e para onde vai. Como tal, tive o prazer de participar na Assembleia Comunitária para a Estratégia Territorial do Algarve.

Foram apresentados vários dados que pintam um quadro assustador. Se pensamos que estamos mal agora, daqui para adiante estaremos bem pior, se o deixar andar se deixar arrastar.

O Algarve está a crescer em números de uma praga que, tal a seca que atravessa, faz passar fome e desertificação. Poderia usar o eucalipto nesta analogia pois cheira bem, mas provoca incêndios, contudo, os eucaliptos ainda cheiram bem.

É sempre perigoso extrapolar complexas interpretações de dados simples, mas ninguém precisa de um Doutoramento em astrofísica ou viver no 221B para perceber que agora é a altura de arrancar ervas daninhas antes que nos comam as árvores de fruto.

A região do Algarve está particularmente dependente de uma simbiose de prestação de serviços que sobrevive à volta do Turismo. É um verdadeiro calcanhar de Aquiles, que a pandemia conseguiu pôr uma região inteira de joelhos. Os seguintes dados foram levantados durante o ano passado.

Massa Crítica e Trabalhadora
A mão de obra diminuiu 14%, sendo que em Portugal diminuiu 8,4%, e o número de beneficiários do Subsídio de Desemprego cresceu 51,5%, em Portugal desceu 21,4%. Mas será que “as pessoas não querem trabalhar”? Ou é porque foram despedidas por empresas que vivem de uma sazonalidade cómoda e com tal historicidade que é “cultura”? Ou será porque o salário médio na região é bem abaixo do nacional, com 1006,7€ versus 1206,3€? São menos 200€ por mês. Em Aljezur é de 855,9€, menos 350€ (alguém se lembra de ver as estufas em Aljezur na altura da pandemia?). Será a solução importar mão-de-obra ainda mais barata ou irá agravar ainda mais o problema?

Habitação
Mesmo que se queiram atrair mais trabalhadores, onde é que vão dormir? Porque o Alojamento Local dominou, e o arrendamento ao ano é tão raro que os preços são proibitivos, sendo que, com mais trabalhadores estrangeiros de salário mínimo, ir-se-ão agravar ineficiências da oferta de habitação. Monchique perde há demasiado tempo quase 10% da população anualmente, e mesmo assim oiço queixas de trabalhadores que não conseguem arranjar uma casa para alugar a preços que consigam pagar, situação que não é exclusiva do Algarve, mas que é sem dúvida uma questão curiosa, visto estar a perder trabalhadores.

Agricultura
A área de produção cresceu (22,2% face a 8,1% nacional) (exceto Monchique, que diminuiu), mas o número de explorações e de mão-de-obra diminuiu (-14% face a -8,4% nacional). Ora aqui está a interpretação evidente de monopolização. Para não ajudar, a seca e a resistência de adoção de métodos de controlo e eficiência hídrica por parte deste setor, que agora se vê a sofrer cortes de água para se poder fornecer água às populações, põe em risco o seu investimento.

Saúde
O crescimento da população estrangeira (82,4%) e da faixa etária de maiores de 65 anos (24,7%), números que estão acima da média nacional e que poderão ser reformados estrangeiros, juntamente com a falta de médicos e estrutura na saúde é como corta as duas pernas a um manco e dizer que assim está melhor.

Tal como uma relação simbiótica que se tornou demasiado dependente e que acabou por se tornar tóxica, a solução é incentivar a independência.

A independência começa na vontade de a ter e é sempre ganha pela resistência ao controlo, seja num adolescente, seja num projeto, seja num trabalhador. Da independência surge autonomia, liberdade e responsabilidade.

Muito conceptual?
Ora vejamos, temos um cenário que não é assim tão complexo. Para os trabalhadores os salários são maus, a oferta habitacional é muito má e os serviços públicos são horríveis. Para o administrador os salários podiam ser mais baixos, a sua casa de férias está paga e não se lembra de ir ao público.

Como se resolve?
O dinheiro tudo resolve menos a morte, para já. Não sejamos, contudo, redutores.

O Turismo é notoriamente mau pagador e tem uma resistência a valorizar talento em detrimento de um “vestir a camisola” que mascara a ingratidão de quem olha para o bottom line com palas. No entanto, a área do digital está em força e em constante transformação (estou a olhar para o que aí vem da Google e da Amazon) e o Algarve poder-se-ia posicionar como um centro de desenvolvimento tecnológico nesta e noutras áreas, pois à Europa falta-lhe um Silicon Valley. Nesta área os salários são bem superiores e não só trará novas pessoas, mas também novos e maiores investimentos. Para que isso aconteça não façamos projetos de desenvolvimento para inglês ver, que não passam de espaços de co-work e não resultam em nada a não ser conversas de café em inglês. Convide-se Universidades Europeias, Empresas Multinacionais, Entidades de referência no setor de desenvolvimento. Que se sedam benefícios reais para incentivar o investimento. Crie-se motivos de atração. Construa-se infraestruturas para albergar esses projetos. A construção é o pilar da sociedade e a construção segue a procura. Que se crie essa procura.

Aposte-se na criação
Crie-se projetos de turismo alternativo e participativo, que dê continuidade e crescimento a tradições à beira do esquecimento. Aposte-se na natureza de um inverno ameno. Cuide-se das águas e das árvores. Aposte-se nas pessoas locais e nas estrangeiras, crie-se projetos de troca de conhecimentos que combatam o isolamento dessas comunidades e aumentem a sua inserção. Fala-se no Algarve com futuro, um Algarve vivo.

A solução está na ambição, no acreditar que podemos e fazemos melhor.

Sobre o autorGuilherme Costa

Guilherme Costa

Diretor de marketing e brand strategist
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