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Opinião

1 ano de guerra: da pandemia à hipocrisia (II)

Com a mobilização militar e a diminuição do tráfego provocados pela guerra, a redução de tráfego em passageiros e em colaboradores passaram a ser mais notórias, em particular nos quatro aeroportos que servem a capital.

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1 ano de guerra: da pandemia à hipocrisia (II)

Com a mobilização militar e a diminuição do tráfego provocados pela guerra, a redução de tráfego em passageiros e em colaboradores passaram a ser mais notórias, em particular nos quatro aeroportos que servem a capital.

Pedro Castro
Sobre o autor
Pedro Castro

A aviação comercial russa está, desde o início da invasão, na linha da frente das sanções. Tirando o impacto e o choque iniciais, as sanções nesta área da economia como noutras, parece não terem surtido o efeito desejado. A situação aparenta uma incrível normalidade do lado russo apesar do mediatismo dos sucessivos pacotes de sanções no lado europeu.

Durante os próximos dias, o Publituris e a SkyExpert fazem uma viagem aos meandros das sanções que atingiram o setor aéreo e do turismo. Neste segundo episódio de hoje vamos olhar para a “ajuda” que a pandemia deu.

Foram apenas 37 os países que fecharam o seu espaço aéreo à aviação russa e a voos dos seus aeroportos com destino à Rússia. Durante a pandemia – cujos efeitos ainda se viviam no início de 2022 devido à variante Omicron – as restrições afetaram bem mais países e continentes. Foi nessa altura que os Russos, como aliás tantos de nós, se habituaram a viajar dentro do país. E que país! Têm um território com 11 fusos horários e voos internos de quase 12 horas. Assim se explica que, durante a pandemia, muitos aeroportos russos tiveram um desempenho melhor do que Heathrow ou Frankfurt, em grande parte devido ao imenso tráfego doméstico que conheceu um aumento significativo. Evidentemente o começo da guerra trouxe alterações: a agência federal do transporte aéreo, Rosaviatsiya, foi forçada a fechar 11 aeroportos do sul do país, no Mar Negro e próximos da fronteira com a Ucrânia. Com a mobilização militar e a diminuição do tráfego provocados pela guerra, a redução de tráfego em passageiros e em colaboradores passaram a ser mais notórias, em particular nos quatro aeroportos que servem a capital. Mas hoje os Russos podem deslocar-se de vários aeroportos do seu país com destino à Turquia, Dubai, Seychelles, Maldivas ou Tailândia para disfrutar de férias, visitar amigos ou em negócios. É muito mais do que tinham durante a pandemia e permite um certo regresso à normalidade. Sem a concorrência de outros tempos, Turkish Airlines, Emirates, Etihad, Egyptair e Ethiopian e tantas outras companhias estrangeiras são as grandes vencedoras deste vazio deixado por estas sanções parciais.

A Air Serbia destaca-se em particular por ser a única companhia aérea europeia que liga diretamente a Rússia à Europa – com vários voos diários de Moscovo, São Petersburgo, Kazan e Sochi para Belgrado – e por ter cobrado bilhetes com valores 5 a 10 vezes acima do que era habitual no passado.

Mas a França também ganha.

A TAV Airports, empresa concessionária de vários aeroportos, como Tblissi e Batumi na Geórgia, Almata no Cazaquistão, Hammamet e Monastir na Túnisia e Izmir, Ankara, Antalya, Bodrum e Ancara na Turquia, é detida pela empresa francesa ADP-Aéroports de Paris, cujo acionista principal é o Estado Francês. A Turquia é o país com mais voos, com mais rotas e com mais companhias a operarem para várias cidades Russas. Todos os outros têm vários voos também. A TAV Airports representou cerca de 65% das receitas do grupo ADP em 2021. Antalya, por exemplo, é dos aeroportos internacionais do mundo com mais voos regulares, mais companhias e mais rotas para a Rússia: são quase 9 voos por dia para 9 aeroportos russos operados por um total de 7 companhias aéreas. Mais grave: à TAV Airports (ou seja, indiretamente ao Estado Francês), pertence também a Havas, a empresa de assistência em escala (“handling”) em 30 aeroportos turcos, incluindo o de Istanbul e Antalya, onde tem inclusivamente ampla capacidade de armazenamento.

Terá sido este o motivo pelo qual a Casa Branca pediu este mês à Turquia para não prestar assistência (e auxílio com peças ou manutenção de qualquer espécie) às companhias aéreas russas que utilizem aviões Boeing de produção americana para voar para a Turquia, visando em particular a Havas e relembrando que as sanções em solo americano para empresas e indivíduos de países terceiros que prestem tais serviços em violação das sanções decretadas incluem prisão, multas, perdas de benefícios e de contratos? E o que terá dito a França a este respeito? Liberté, Egalité, Fraternité, não terá sido com certeza.

Sobre o autorPedro Castro

Pedro Castro

Diretor da SkyExpert Consulting e docente em Gestão Turística no ISCE
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