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Luís Rodrigues (SATA): “Não gerimos para a folha excel, gerimos para as pessoas”

Após reconduzido na liderança da SATA e convidado para presidir a holding, Luís Rodrigues, revelou o que a companhia aérea precisa de fazer para ter sucesso. Com a privatização a ser uma forte possibilidade em 2023, uma coisa é certa para o CEO: “a SATA “tem de ser um motor económico e social da e para a região”.

Victor Jorge
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Luís Rodrigues (SATA): “Não gerimos para a folha excel, gerimos para as pessoas”

Após reconduzido na liderança da SATA e convidado para presidir a holding, Luís Rodrigues, revelou o que a companhia aérea precisa de fazer para ter sucesso. Com a privatização a ser uma forte possibilidade em 2023, uma coisa é certa para o CEO: “a SATA “tem de ser um motor económico e social da e para a região”.

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No ano em que a SATA fechará as contas com receitas acima dos 200 milhões de euros pela primeira vez, “mais do que o previsto no plano de reestruturação”, afirmou Luís Rodrigues, presidente do grupo SATA, no 47.º Congresso da APAVT.

Isto significa que o grupo terminará o ano de 2022 “com cerca de 10% a 12% em passageiros” face a 2012, e “com mais 30% de receita”, disse Luís Rodrigue, alertando, contudo, para “o agravamento de custos”, que a companhia enfrenta, devido à crise dos combustíveis, estimando em “20% os custos adicionais por causa do fuel”.

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Luís Rodrigues lembrou ainda que estar “a falar da SATA é um milagre”, já que, na situação de partida, “o que tínhamos, era uma empresa completamente falida” e que “o normal seria esconder e isso estava a acontecer”.

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Com o processo de reestruturação a decorrer, Luís Rodrigues salientou que, 2023 vai ser marcado pela “intenção de privatizar a Azores Airlines”, um processo que considerou “fundamental”.

No final, Luís Rodrigues deixou o caminho para o futuro da SATA: “servir os residentes dos Açores e a diáspora, bem como a comunidade que vive à volta dessa mesma diáspora. Além disso, servir os turistas, os que deixam cá valor, nacionais e internacionais, mercado esse que está longe de estar esgotado e que tem ainda muito potencial, bem como as transferências”.

Em termos de grupo, o presidente da SATA afirmou que, fundamentalmente, “queremos um grupo onde as pessoas sejam felizes a trabalhar”, até porque, “sem colaborares felizes, não conseguiremos servir bem os clientes, já que não gerimos para a folha excel, gerimos para as pessoas”. A “eficácia” foi outro ponto deixado por Luís Rodrigues para o sucesso do grupo, terminando com o facto de a SATA “ter de ser um motor económico e social da e para a região”.

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APAVT fecha congresso com notas sobre mão-de obra, aeroporto, novos territórios e apela à “diminuição acentuada” da carga fiscal antes de rumar ao Porto, em 2023

Depois de anunciar que a 48.ª edição do Congresso da APAVT regressa, após 22 anos, à cidade do Porto, Pedro Costa Ferreira, presidente da associação, encerrou a sessão de trabalho deixando alguns recados ao Executivo.

Victor Jorge

O 48.º Congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), regressa à cidade do Porto, 22 anos após a última realização na Invicta. O anúncio foi feito por Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, e Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal.

Depois do anúncio feito no jantar oferecido pela Câmara Municipal do Porto, o presidente da APAVT fechou o congresso deixando alguns recados. Assim, para Pedro Costa Ferreira, “urge resolver o problema do acesso a mão de obra”, considerando que para tal “não bastará facilitar a imigração”, reconhecendo, no entanto, que esse “é um primeiro passo que tem de ser dado”. “Porém, há que saber alojar quem vem, formar quem está disposto a viver e trabalhar no nosso País, valorizar as novas carreiras, impedir que redes de criminosos tomem conta dos processos de imigração”, disse o presidente da APAVT.

Essa contratação de pessoal é, também ela, importante para que “melhorar o serviço, se quisermos manter os preços de venda ao nível dos deste ano [2022]”, adiantou ainda Pedro Costa Ferreira.

No caso do aeroporto, o presidente da APAVT frisou que “precisamos de resolver o problema das obras no aeroporto de Lisboa, única via de evitar que a panela de pressão em que se transformou o tema das acessibilidades aéreas, nos rebente nas mãos”, sendo que essa também será a “única via de minimizarmos as terríveis perdas decorrentes da não decisão relativamente à solução aeroportuária lisboeta”.

A gestão da pressão turística passará, segundo o presidente da APAVT, por saber “cuidar de um hub que representa a melhor arma de penetração nos mercados de long-haul”, considerando que são esses que “permitem, de uma forma mais óbvia e imediata, trabalhar para além do verão, ganhando e consolidando novos territórios turísticos”.

Por fim, o último recado teve a “diminuição acentuada da carga fiscal, pelo menos sobre o fator trabalho”, como nota, concluindo o presidente da APAVT que, “enquanto isso não acontecer, impediremos o elevador social, afastaremos e teremos mesmo dificuldade em reter, o talento, e teremos evidentemente menos capacidade de atingir níveis de serviço compatíveis com o preço que pretendemos oferecer”.

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“Quem gere o património cultural não gosta de pessoas, gosta de pedras”

O arranque do último dia do 47.º Congresso da APAVT teve o património cultural como tema. No final ficou percebido que existe um enorme potencial por explorar, sendo que o Estado deverá deixar que o turismo utilize esses bens, embora seja necessário criar um produto para se vender.

Victor Jorge

Portugal possui, atualmente, cerca de 38.000 bens patrimoniais imóveis, dos quais 4.574 são património classificado e 17 classificados como Património da Humanidade. Isto faz com que Portugal apresente um rácio de 1,65 monumentos de património cultural, por cada milhão de habitantes, uma das taxas mais altas da Europa, revelou Catarina Valença, fundadora e coordenadora do SPIRA e professora do curso de Gestão do Património Cultural na Católica Porto Business School, no âmbito do 47.º Congresso da APAVT, salientando o “enorme potencial que o património cultural possui para Portugal”.

Além deste “enorme potencial”, o património cultural também está “bem distribuído pelo território nacional”, considerou Catarina Valença, frisando que este “não se encontra somente nas grandes urbes, mas mais presente no interior e junto à fronteira, gozando, igualmente, das boas infraestruturas construídos que ligam Portugal inteiro”.

Mas mais do que falar da existência deste património cultural, Catarina Valença destacou o desaproveitamento relativamente a estes “bens”, já que do número total avançado, “somente cerca de 250 monumentos classificados se encontram abertos e com entradas controladas, gerando 20 milhões de visitantes e 60 milhões de euros de receitas” por ano.

Critica relativamente aos “constrangimentos” e da “inexistência de qualquer estratégia nacional para o setor do património cultural, desde sempre e até á data”, Catarina Valença frisou que a política do Estado está focada na “política e não no consumidor”, o que leva a que o Estado considere que o património é “do próprio Estado, não existindo visão de economia de serviços”, o que leva Catarina Valença a concluir que “quem gere o património cultural não gosta de pessoas, gosta de pedras”.

O estudo feito pela SPIRA, em 2020, revela que Portugal possui das taxas mais baixas na Europa em termos de visitação de monumentos, revelando Catarina Valença que a principal causa para tal realidade é o “desinteresse e não o desconhecimento”, embora Portugal possua “a mais alta taxa de orgulho relativamente ao património”.

Mas afinal qual é o potencial do património cultural em Portugal? O estudo da SPIRA adianta que, se os 4.500 monumentos estivessem abertos ao público, gerariam, pelo menos, 56 milhões de visitantes, criariam um emprego a tempo inteiro por cada 25.000 visitantes por ano por ponto patrimonial, aumentariam em 3% os empregos diretos em hotelaria, contribuiriam com mais 3,4% nas dormidas por município e gerariam, só em bilhética, cerca de 224 milhões de euros por ano.

Para se conseguir isso, há, contudo, medidas a tomar e, segundo Catarina Valença, “criar um novo paradigma”, já que estes monumentos terão de ser “um bem coletivo de desenvolvimento económico e social sustentado do país, com direito à fruição”, sendo que “deverá existir um direito à participação cívica na gestão do ‘Bem’”.

Ora para a fundadora do SPIRA, os monumentos fechados “contribuem de forma negativa para a perceção” tanto por parte dos residentes como dos turistas, antecipando que, “com o PRR vamos ter um conjunto significativo de ‘Bens’ fechados para obras”, situação que é “contra-producente para a promoção do património”.

Além da formação, a gestão de proximidade, certificação dos produtos de turismo cultural e paisagístico, Catarina Valença deixou algumas pistas de como se poderá promover o património cultural no país e fora dele, explicando que essas iniciativas devem passar, por exemplo, por “cartões de fidelização, eventos âncora, programas de divulgação em massa, dias abertos e atividades para crianças”.

Concluindo a sua intervenção Catarina Valença referiu que “é preciso criar ‘awarness’ para estes números”, já que “saber é a primeira questão”. Até porque, reconhece, quem gere a cultura “não quer saber se o ‘Bem’ tem visitantes e que alguns até preferem que os ‘Bens’ não tenham visitantes”.

Sem produto não há crescimento
Já Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro, considerou que “ser um país velho não é um problema, é um ativo”, deixando a pergunta em, “como é que se pode pegar em coisas banais e torná-las em algo de valor acrescentado e diferenciador?”. A resposta: “têm de se tomar uma decisão: usar ou não”.

Neste aspeto, Ribau Esteves salientou que os municípios têm tido uma “importância fulcral na valorização do território”, faltando “somar escala”.

Crítico relativamente aos dinheiros que vão para as Entidades Regionais de Turismo, considerando que “não podem ser meras delegações regionais do Turismo de Portugal, o presidente da Câmara de Aveiro admitiu que “têm de ser os territórios a gerir esses dinheiros”, concluindo que “andar a negociar orçamentos anuais é um erro”.

No final considerou ainda que “o setor do turismo é o único que não é exportável para outro local, ou seja, está cá e ficará cá”.

Álvaro Covões, fundador e diretor-geral da Everything is New”, destacou, por sua vez, que “o património e a cultura são os únicos capazes de fixar população no território”, mas, “infelizmente, muitas vezes o que leva as pessoas a visitarem o interior é um restaurante e não património cultural, porque esse, por norma, está fechado”.

Por isso, salientou a “importância dos conteúdos para a valorização do destino”, considerando que, “para crescer é preciso criar produto e nada melhor do que o património e a cultura para fazê-lo”.

“O segredo está em construir um produto, mas um produto com história, serviço, experiência”, frisando que “o turismo cultural representa 40% do total do turismo, mas em Portugal gostamos de ser pobres e manter as coisas fechadas”.

O exemplo dado por Álvaro Covões foi o das jóias reais que estiveram fechadas durante 27 anos. “Alguém lembrou-se em mantê-las fechadas e não deixar ninguém usufruir delas”, concluindo que “não podemos focar-nos somente no produto, mas também na promoção desse mesmo produto”.

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Filipe Silva (Turismo de Portugal): “A aposta terá de passar pela estruturação da oferta turística”

Filipe Silva, vogal do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal, deixou claro que “alargar a oferta comercial através das redes colaborativas” é uma das prioridades para o setor em Portugal e que isso deve ser feito com “novos temas, novos territórios, novos produtos e novos clientes”. Até porque, o que se quer é “ter melhor turismo e não mais turismo”.

Victor Jorge

Para o Turismo de Portugal (TdP) “a estruturação da oferta turística é importante para dar outras e novas experiências” a quem nos visita, reconheceu Filipe Silva, vogal do Conselho Diretivo da entidade, durante o painel “Grandes desafios do turismo português”, no âmbito do 47.º Congresso da APAVT.

Centrando-se na prioridade em “alargar a oferta comercial através das redes colaborativas”, Filipe Silva destacou que isso deve ser feito com “novos temas, novos territórios, novos produtos e novos clientes”, até porque é através destes projetos que é possível “combater a sazonalidade”.

Salientando que é preciso fazer com que quem nos visite “circule pelo território”, o trabalho efetuado com as redes colaborativas cria “motivações de visitação fora das grandes centralidades”.

No que diz respeito aos mercados emissores, Filipe Silva reconheceu, igualmente, que “não podemos estar dependentes de um número reduzido de mercados”, além de salientar, também, que “não podemos espartilhar o orçamento de promoção em demasiados mercados”.

Com a questão da valorização do dólar a ser encarada como uma “questão conjuntural”, Filipe Silva destacou a aposta que está a ser feita pelo Turismo de Portugal nos EUA e no Brasil, mas também “no mercado mexicano”, além de apontar o Japão, Coreia do Sul, Índia e Austrália como “mercados que viajam em contra-ciclo e que ajudam a combater a sazonalidade” e que “estão bastante interessados em percorrer o nosso território”.

Quanto a uma possível promoção ibérica, em conjunto com Espanha, Filipe Silva admitiu não se tratar de uma “discussão nova”, que “está na ordem do dia, mas que não tem passado à prática”, destacando o trabalho comum de promoção desenvolvido pelas regiões do Alentejo e Centro, juntamente com a Estremadura.

“Espanha tem interesse no Brasil, tal como Portugal tem interesse em mercados da América Latina”, frisou Filipe Silva, lembrando o programa de “stop-over” que a Iberia tem e que inclui Lisboa e Porto, reconhecendo que “é importante para o nosso posicionamento”.

Quanto aos desafios para o turismo português, Filipe Silva deixou claro que estes passam por “procurar ter melhor turismo e não mais turismo”, salientando que “o foco tem de estar no cliente” e que para tal, a “segmentação dos produtos é fulcral”, dando como exemplo produtos como o enoturismo ou o turismo literário.

“Temos de gerar negócio de repetição e de recomendação”, reconhecendo Filipe Silva que “o passa-palavra tem um poder tremendo”.

Finalmente, no que diz respeito à sustentabilidade, o executivo do TdP concluiu que “não vale a pena estar a desenvolver novas operações, sem ter um racional sustentável”, sendo que “isso não se faz de um dia para o outro. A última coisa que quereremos fazer é defraudar as expectativas de quem nos visita e dos nossos parceiros”.

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Margarida Almeida (Amazing Evolution): “Em termos de contratação, estamos fora do mercado por causa da questão fiscal”

A CEO da Amazing Evolution, Margarida Almeida, deixou claro que “temos gente muito boa e é um desperdício não conseguirmos reter essas pessoas”. Por isso, reconhece que “a questão fiscal tem de ser resolvida rapidamente”.

Victor Jorge

A questão dos recursos humanos e a falta deste no setor do turismo em Portugal foi um dos pontos destacados por Margarida Almeida, CEO da Amazing Evolution, reconhecendo que o nosso país “está fora do mercado por causa da questão fiscal”.

“As pessoas, atualmente, querem saber o que vão ganhar, o que levam, efetivamente, para casa”, frisou Margarida Almeida. “Pago quase dois ordenados, um a dia 20 ao Estado e outro ao final do mês às pessoas”, disse, destacando que “a diferença no bruto não é relevante, mas o que as pessoas levam para casa faz toda a diferença”, sendo essa uma das razões que faz as pessoas “irem para fora” e “faz toda a diferença nas operações”

“Temos gente muito boa e é um desperdício não conseguirmos reter essas pessoas”. Por isso, reconhece que “a questão fiscal tem de ser resolvida rapidamente”.

Já quanto à questão da subida de preços, Margarida Almeida admite que “esse é o caminho”, mas que terá de ser acompanhado por produto e o serviço, mas isso só se faz com pessoas”.

Ainda no tema custos, Eduardo Caetano, diretor-executivo da Portimar, vaticinou que “os custos de fazer férias vão aumentar” e que vai haver uma “redução do poder de compra das famílias”, admitindo, no entanto, que esta realidade “não tem de ser forçosamente má para Portugal”.

“As pessoas não dizem que não vão fazer férias, mas sim que vão reduzir o seu orçamento e aqui Portugal pode posicionar-se”, salientando ainda Eduardo Caetano que “os nossos concorrentes são mais caros” e que, por isso, “a opção das famílias pode recair sobre o destino Portugal”.

Para que isso aconteça, o diretor-executivo da Portimar frisou que é preciso “fazer ações de capacitação de marca”, reconhecendo que as regiões têm hoje, “produtos diferentes para apresentar”, mas que a manutenção do load factor é “uma das preocupações”.

Destacando que o Algarve “não é só sol e praia”, Eduardo Caetano apresentou o golfe como um dos ativos estratégicos que contribui para combater o efeito da sazonalidade, frisando, contudo, que “é preciso estruturar a oferta”. Exemplo disso, são os 200 quilómetros para cycling, mas para os quais concluiu “não temos infraestruturas”.

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Thierry Ligonnière (ANA): “Há o risco de não termos solução nenhuma” relativamente ao novo aeroporto

Thierry Ligonnière, CEO da ANA – Aeroportos de Portugal, frisou, durante o 47.º Congresso da APAVT, que é necessário “acabar com este impasse” relativamente ao novo aeroporto para a região de Lisboa, deixando claro que “já fizemos o nosso trabalho. Quem decide não somos nós”.

Victor Jorge

No painel dedicado aos “grandes desafios do turismo português”, realizado no âmbito do 47.º Congresso da APAVT, Thierry Ligonnière, CEO da ANA – Aeroportos de Portugal, admitiu que “há o risco de não termos solução nenhuma” relativamente ao novo aeroporto para a região de Lisboa, salientando ainda que é necessário “acabar com este impasse”.

O responsável da ANA e diretor para os mercados de Portugal, Brasil e Cabo Verde destacou ainda que há que “analisar todas as opções” de forma “realista e pragmática, frisando que “a posição da ANA “é conhecida”. Reconhecendo que “o tempo de execução não é igual” para todas as opções, Thierry Ligonnière deixou claro que “já fizemos o nosso trabalho” e que “quem decide não somos nós”. “Estamos dispostos a acompanhar a decisão que for encontrada”, salientando que “todos já tiveram a oportunidade real de fazer este projeto [novo aeroporto], admitindo ainda que “a construção de um novo aeroporto é algo intemporal”.

No que toca à expansão da atual infraestrutura na Portel, Thierry Ligonnière considerou que o aeroporto de Lisboa “tem acompanhado as exigências atuais” em termos de procura e oferta, salientando que, “desde 2014 a ANA cresce mais do que antes de 2014” e que “isto só foi possível porque conseguimos colocar, em Lisboa, um outro aeroporto de Lisboa”.

Contudo, admite que o trabalho de expansão do atual aeroporto passa antes por uma “melhoria operacional” e não tanto “pela expansão da atual infraestrutura”, clarificando que “se as coisas corressem como imaginamos, se todas as entidades fizessem o seu trabalho rapidamente, poderíamos estar a operar já em 2023”.

Do lado do Turismo de Portugal, Filipe Silva, vogal do Conselho Diretivo, reconheceu que “cada um de nós tem de opinar sobre o novo aeroporto”, salientando, no entanto, que, relativamente ao load factor, “não estamos a operar a 100%”. Por isso, disse que “o diferencial para esses 100% cabe a nós trabalhar com as companhias aéreas”, frisando que “existe capacidade para preencher o que falta para se atingir esses 100%” e que “é preciso mais capacidade por parte da ANA”.

Concluindo a sua intervenção no 47.º Congresso da APAVT, o executivo do Turismo de Portugal reconheceu que “é possível crescer nas condições atuais”, embora “necessitemos de um novo aeroporto, mas temos de trabalhar com a atual realidade e melhorá-la”.

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“Temos boas e fundadas razões para não acreditarmos numa decisão em 2023”, diz presidente da APAVT relativamente ao novo aeroporto

Foram várias as reivindicações e recados que o presidente da APAVT, Pedro Costa Ferreira deixou no discurso de abertura do 47.º Congresso da associação: uma nova tranche do apoiar.pt, prorrogação dos prazos nos processos de recapitalização, a nova Diretiva das Viagens organizadas e obras no aeroporto da Portela. Quanto ao novo aeroporto, não espera novidades para 2023.

Victor Jorge

No discurso de abertura do 47.º Congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), Pedro Costa Ferreira, presidente da associação, começou por dar destaque ao local escolhido para a realização do congresso: os Açores, salientando o “exemplo em práticas sustentáveis” que a região tem protagonizado.

Depois de dar nota à presença do representante diplomático da Ucrânia, Senhor Volodymyr Kozlov, Pedro Costa Ferreira frisou que “quando há uma guerra, nada mais é suficientemente importante. Havendo, numa guerra, agredido e agressor, não chega sermos do lado da paz, temos de ser sobretudo do lado do agredido”.

A terceira referência no discurso de abertura foi para a “inesperada alteração na tutela”, deixando um agradecimento a Rita Marques, que, oficialmente foi substituída no cargo a 2 de dezembro por Nuno Fazendo como secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços (SETCS), frisando que “esteve ao leme no momento mais difícil das nossas vidas empresariais” e que “sem ela não teríamos conseguido chegar a porto seguro”.

A Nuno Fazendo, Pedro Costa Ferreira prometeu “frontalidade, trabalho árduo, exigência máxima e lealdade absoluta”.

Reivindicações e recados
As reivindicações deixadas pelo presidente da APAVT começaram pelo pedido de uma nova tranche do apoiar.pt, salientando que “é merecida”.

“É bem verdade que as agências de viagens tiveram bons resultados em 2022, mas não é menos verdade que perderam mais de seis anos de resultados em 2020 e 2021”, referiu o presidente da APAVT, admitindo que “a fragilidade e a necessidade são imensas, a crise não mora nas demonstrações de resultados de 2022, mas está alojada nos balanços dos próximos anos”.

Também os processos de recapitalização para as pequenas e médias empresas (PME) foi notado, apontando Pedro Costa Ferreira que estes “falharam de forma contundente”, apontando que “será fundamental que se consiga prorrogar, para quem o necessite, o pagamento do serviço da dívida contraída ao longo da pandemia”.

Quanto ao trabalho na esfera europeia para que a nova Diretiva das Viagens organizadas “não saia ainda mais desequilibrada ao longo da cadeia de valor e ainda mais injusta para as agências de viagens”, o presidente da APAVT deixou o recado ao novo SETCS que “as palavras bonitas sobre justiça e solidariedade não correspondam a sucessivas concessões aos lobbies dos mais poderosos”.

Quanto ao tema do novo aeroporto, Pedro Costa Ferreira começou por referir que “vivemos há demasiado tempo envoltos numa onda de analistas e comentadores, ludibriados por uma política de anúncios de medidas que não se efetivam, empurrados para a voracidade das notícias que não correspondem, mais tarde, a realizações”. Assim, segundo o mesmo, “urge realizar, na macroeconomia o crescimento, ao nível empresarial a produtividade e a recuperação económico-financeira, no turismo a manutenção da liderança económica em Portugal e a competitividade internacional”.

Por isso, o presidente da APAVT frisou que a “liderança e competitividade podem estar em perigo, sem que se vislumbre um outro sector económico que dinamize o país, pela situação anacrónica, vergonhosa e incapacitante, das acessibilidades aéreas de Lisboa”

“Há mais de dez anos que acompanhamos esse processo”, referiu Pedro Costa Ferreira, admitindo que “temos boas e fundadas razões para não acreditamos numa decisão em 2023”, destacando que “sem decisão, evidentemente, não podemos acreditar numa solução que seja implementada nos próximos anos”.

Assim, “resta-nos exigir que façam o que neste momento parece ainda possível fazer, que são as obras no aeroporto da Portela, permitindo melhorar a operacionalidade e eficiência desta infraestrutura”.

“Senhores políticos, simplesmente deixem que as obras avancem. Não evitarão a vergonha, que se colou a todos os que contribuíram para a atual situação, mas pelo menos mitigarão as consequências deste processo tão trágico como ridículo”, frisou o presidente relativamente ao tema das acessibilidades e, especificamente, ao aeroporto (nova e presente).

Para o fim, Pedro Costa Ferreira destacou os mais de 300 milhões de euros em reembolsos aos clientes, salientando que “mantivemos as nossas empresas vivas, mantivemos os postos de trabalho dos nossos colaboradores. E, sim, endividámo-nos para isso”.

Destaque final para o processo de certificação das agências em comportamentos sustentáveis, processo que se desenvolverá, de acordo com as novas exigências do negócio, ao longo dos próximos anos e onde a APAVT foi uma das sete associações europeias que integraram o projeto europeu SUSTOUR, além de Portugal ser o segundo país com mais empresas aderentes ao processo de certificação, logo a seguir à Holanda.

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Nuno Fazenda (SETCS) coloca “coesão territorial como uma prioridade estratégica para o turismo” e anuncia linha de 100M€ em apoios

Na primeira intervenção enquanto secretariado de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Nuno Fazenda definiu as pessoas e as empresas como primeiras prioridades. Para as empresas haverá duas medidas que representam globalmente 100 milhões de euros. Para as pessoas será criada uma “Agenda para a atração e qualificação de pessoas para o turismo”.

Victor Jorge

Na primeira intervenção enquanto secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços (SETCS), Nuno Fazenda salientou que “Portugal dispõe de uma estratégia para o turismo”, e que essa estratégia a 10 anos – a Estratégia Turismo 2027 – representa “uma visão debatida e partilhada, constituindo o referencial estratégico para o turismo nacional”.

O novo SETCS salientou que o turismo “é a maior atividade económica exportadora de Portugal, representando cerca de 20% do total de exportações de bens e serviços”, frisando, no entanto que o turismo é muito mais do que números” e que “temos de ver o turismo para além do turismo”.

Nuno Fazendo referiu, no seu discurso no 47.º Congresso da APAVT, que o turismo “tem um efeito multiplicador de enorme relevância nos mais diversos setores da nossa economia, como sendo no agroalimentar, na construção, na maquinaria e equipamentos, na tecnologia, nas infraestruturas, e também na projeção e afirmação de Portugal no mundo”, destacando, ainda” que o truísmo “tem sido o motor da recuperação de crises em Portugal”.

“Foi assim na crise económica de 2011, onde o turismo ajudou a devolver a esperança, o emprego e o crescimento económico”, salientando ainda Nuno Fazenda que, “desde 2015, nos anos pré-pandemia, crescemos sempre acima da média da União Europeia, alcançámos recordes sucessivos nas exportações e na atração de investimento direto estrangeiro e atingimos níveis de desemprego históricos – e com contas certas, frisando que “o turismo teve um papel essencial”.

Já na crise pandémica, foi também pela “mão” do turismo que “retomámos a trajetória de crescimento”, admitindo que “o turismo tem sido o rosto da recuperação económica e social do país”.

Com base nos números do Banco de Portugal, Nuno Fazendo referiu que Portugal alcançará “um novo recorde de receitas turísticas”, reconhecendo, contudo, que “os tempos atuais desafiam o próprio setor a repensar e a reformular os seus modelos de operação, nomeadamente no consumo energético, na gestão da água e na transição digital”.

Prioridades: Pessoas e Empresas
Por isso, o SETCS definiu as duas primeiras prioridades para as quais “vamos dar resposta: pessoas e empresas”. Assim, relativamente às pessoas, Nuno Fazenda admitiu que “precisamos de mais pessoas, mais qualificações, mais profissionais do turismo”, já que “no turismo, o que verdadeiramente conta é o software. E, no turismo, o software somos nós, as pessoas”.

Por isso, o Governo vai criar uma “Agenda para a atração e qualificação de pessoas para o turismo”, agenda essa que atuará em cinco eixos: atuará em 5 eixos: (i) reforçar a qualificação dos recursos humanos; (ii) criar uma campanha específica para o trabalho no turismo, que aproxime as pessoas e as empresas; (iii) promover uma maior agilização na emissão de vistos para trabalhar em Portugal; (iv) disponibilizar apoios às empresas para a contratação estável de recursos humanos; e (v) valorizar as profissões do turismo e as remunerações – o acordo de rendimentos em sede de concertação social foi um passo importantíssimo neste domínio”.

Quanto às empresas, admitindo Nuno Fazenda que as empresas são “o motor da economia”, o novo SETCS anunciou a disponibilização, “nos primeiros dias de janeiro”, uma nova Linha – a Linha Consolidar + Turismo, “com uma dotação de 30 milhões de euros”, com gestão do Turismo de Portugal e direcionada às micro e pequenas empresas do setor, que apresentem dificuldades em gerir dívida contraída, designadamente, durante a pandemia.

Com esta linha, as empresas poderão financiar-se junto do Turismo de Portugal, sem juros, para liquidação de parte dos reembolsos devidos aos bancos durante o ano de 2023, com um prazo de carência de dois anos e um prazo de reembolso total de seis anos, o que, segundo Nuno Fazenda “permitirá às empresas suavizar e alongar no tempo as suas necessidades de capital”, numa linha que “dá resposta a reivindicações do setor”.

Além disso, o Governo assegurará ainda, este ano, a concretização da medida de Reforço do Programa Apoiar acordado, com a Confederação do Turismo de Portugal, em outubro passado, no contexto do Acordo de para a Melhoria dos Rendimentos, dos Salários e da Competitividade.  Trata-se da disponibilização de um valor de 70 milhões de euros para as empresas do setor, a fundo perdido, que reforça os valores já recebidos no âmbito do Programa Apoiar. Estas duas medidas representam globalmente 100 milhões de euros para as empresas.

Nuno Fazendo referiu ainda que o financiamento às empresas “aumenta 90% do ‘Portugal 2020’ para o total das verbas previstas no ‘Portugal 2030’ e no PRR. Além disso, no PRR, o SETCS revelou que, muito em breve, conta assinar o contrato da “Agenda Acelerar e Transformar o Turismo”, num investimento de 151 milhões de euros com investimentos de natureza empresarial, “muito importantes na transição climática e digital”.

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“Se o setor do turismo não resistir, Portugal não vai recuperar economicamente”

Depois de um ano de interregno, o Congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) está de regresso para o “reencontro” do setor. Em entrevista, Pedro Costa Ferreira, presidente da associação, explica o que esperar desta reunião, mas também fala de reembolsos, aeroporto, TAP, sustentabilidade, digitalização e prefere antes falar “não de regresso, mas de retoma”.

Victor Jorge

Depois da “travessia do deserto” e de balanços destruídos, a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) reúne-se para o seu 46.º congresso. Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, espera que o evento, mais do que reunião, seja uma união do setor. Consciente de que as dificuldades ainda perduram e irão perdurar, pede a quem apoiou o setor do turismo, que continue a fazê-lo, seja qual for o Governo. Até porque, admite, “se não existirem apoios, o setor do turismo não vai resistir”.

A APAVT realiza o seu 46.º Congresso, com o título “Reencontro”. Que “reencontro” espera depois de 20 meses de pandemia?
Esperemos que seja o reencontro de todo o setor. O nosso congresso tem uma grande tradição, exatamente de reencontro do setor, é um congresso que é organizado por agentes de viagens, mas não é o congresso das agências de viagens e, neste momento, diria que mais do que nunca é importante que o setor, mais do que se reúna, se una.

Vamos sair, enquanto agências de viagens, com muitas fragilidades, balanços destruídos, capitais próprios esgotados, mas também com uma grande oportunidade. Muitos consumidores perderam dinheiro em processos de reserva distantes das agências de viagens neste período, além de ter ficado sublinhada a grande mais-valia das agências de viagens, a diferença entre informação e conhecimento.

Perante esta saída da crise, há uma palavra-chave que é flexibilidade. Esta flexibilidade tem de ser da cadeia de valor e não só das agências de viagens. Mais vale, neste momento, ter reservas que possam ser canceladas do que não ter reservas.

Se a aviação, um hotel, um restaurante ou uma agência de viagens não forem flexíveis, o produto não vai ser flexível.

Queremos acionar, para o próximo ano, este diálogo e chamar a atenção para ele muito vivamente neste congresso.

Quais foram os principais desafios enfrentados ao longo destes 20 meses?
Não gosto de recordar estes 20 meses. Foram meses de sobrevivência, de grandes perdas e endividamento para as empresas e empresários, foi um tempo de apoios do Governo absolutamente fulcrais. Temos de ser humildes e a objetividade de reconhecê-lo. Mas também foram, naturalmente, insuficientes.

Do ponto de vista da APAVT, focamo-nos em vários planos de atuação. Talvez salientasse, desde logo e por ordem cronológica, o facto de termos tido de tratar de imediato dos reembolsos aos nossos clientes e, portanto, tentámos e conseguimos derrogar a diretiva no que aos reembolsos concerne e, provavelmente, fizemos a melhor lei dos vouchers da Europa. Melhor pela conjugação de dois fatores: pelo período relativamente ao qual foi possível não pagar diretamente, mas reembolsar através de um voucher, bem como pela data a partir da qual esse vale, se não for viajar, tem de ser pago. A conjugação destes dois fatores fez, provavelmente, da lei portuguesa a melhor lei da Europa.

Isso foi fundamental para dar confiança?
Deu confiança, salvou as empresas e ao salvar as empresas salvou os interesses e direitos dos consumidores. E há aqui uma nota que é preciso salientar: esta lei não teria sido possível sem o verdadeiro empenhamento da nossa secretária de Estado do Turismo (SET), Rita Marques. Foi uma lei que precisou de diálogo com a Comissão Europeia (CE), precisou de conflito e resolução de conflito com a CE e temos a perfeita noção de que se a SET tivesse desistido, e lutou muito e mais do que possa parecer ou imaginar, não teríamos conseguido.

Espelho desta situação foram os reembolsos que a APAVT e as agências trataram e terão ainda de tratar com os seus fornecedores, já que o dinheiro tinha ficado do lado de lá.

De referir eventualmente e neste capítulo, a importância da negociação com a TAP. Fomos reembolsados, enquanto setor, em cerca de 10 milhões de euros. Foi um passo em frente muito grande, num processo que se mantém e que ainda possui muitos processos em aberto. Há muitas dívidas das companhias de aviação. Mas trata-se de “ongoing processes” que, com exceção da Ryanair, temos diálogo com todas as companhias.

Mas vê uma solução a breve trecho?
Sim, é uma solução que vai sendo encontrada. Os problemas vão diminuindo e o bolo de processos por resolver também.

Os desafios: passados e futuros
Mas esses são problemas vindos do passado. Que desafios ainda existem no e para o futuro?
Antes disso, ainda referir que a APAVT não esteve só empenhada na relação com os agentes e com os fornecedores. A APAVT também esteve empenhada nos apoios ao setor, na sua clarificação, na sua negociação, na perceção da sua capacidade de execução, tivemos de trabalhar na Europa na harmonização das restrições de viagens. Começámos a olhar para o futuro e ao longo destes 20 meses produzimos a atualização do “Economics” do setor com a EY e iniciámos um processo de pensamento estratégico para o futuro, entre outros.

Relativamente aos desafios da saída desta crise pandémica, o primeiro desafio será a incerteza de estarmos, de facto, de saída da crise. A incerteza parece estar a voltar e esse é, sem dúvida, o maior desafio. O facto de não conseguirmos perceber se do lado do consumo vai haver abertura ou não.

O que é que aprendemos nestes pequenos raios de sol que apareceram no meio desta chuva toda? Sempre que existe a perceção de que a pandemia está a diminuir, as reservas surgem como chuva nas agências de viagens. Não escondo que nos últimos meses, sobretudo na área do incoming tivemos essa noção como, também, no verão tivemos essa noção no outgoing.

Hoje, já começámos a falar em cancelamentos de reservas, sobretudo de grupos, e em dúvidas para o futuro. Portanto, voltamos a ter a incerteza como pano de fundo.

E ter a incerteza como pano de fundo significa o quê?
Ter a incerteza como pano de fundo significa ter a certeza de que vamos continuar a precisar de apoios. Sabemos que o apoio à retoma, no que diz respeito à defesa do emprego, poderá continuar e esperemos que sim, de modo a evitar uma rutura nessa área. Mas temos de discutir com o próximo Governo, seja ele qual for e quando aparecer, a manutenção dos apoios a fundo perdido, nomeadamente, do programa Apoiar.pt. Isto por uma razão muito objetiva, é que o programa Apoiar.pt foi pago até abril, a crise ainda existe e, portanto, se houve razões por parte do Governo para apoiar uma crise há seis meses, mais razões há para fazê-lo agora, já que as empresas, com a continuação da crise, estão ainda mais fragilizadas.

A incerteza parece estar a voltar e esse, é sem dúvida, o maior desafio. Ter a incerteza como pano de fundo significa ter a certeza de que vamos continuar a precisar de apoios

Em outubro de 2020, com sete meses de pandemia, admitia ao Publituris que, por causa dos balanços destruídos, a necessidade brutal de recapitalização e tesouraria seria o grande desafio dos próximos anos? Mantém essa afirmação?
Acho que está ainda mais sublinhada. Começámos por ter dúvidas relativamente ao futuro quando achámos que iriamos ter três meses de pandemia. Nessa altura, falava com sete meses de pandemia, agora falo com 20 meses.

Diria que, se há um ensinamento para o futuro, ele tem a ver com dois aspetos do lado das agências de viagens: robustecer os balanços, porque é nos balanços que está a resposta à próxima crise; e rodear-nos dos melhores recursos humanos, porque são esses recursos humanos que vão robustecer os balanços.

O que devia ter sido feito que não foi feito?
Da parte de quem?

De todos!
Vou ser sincero, quer nas agências de viagens, quer na APAVT, quer no Governo, de um modo geral, foi feito tudo o que era imaginável ser feito. Da parte das agências de viagens, depois de 20 meses de crise, verificamos que, tanto em 2020 e, previsivelmente, em 2021, teremos dois anos com menos falências que em 2019. Isso diz tudo relativamente à capacidade resistência das nossas agências de viagens.

Relativamente à APAVT, clientes, reembolsos, trabalho na ECTAA, os projetos editoriais do Economics do setor, o pensamento estratégico para o mesmo, o aumento do apoio jurídico, o aumento dos apoios aos apoios, isto é, a clarificação, a perceção de quem poderia aderir e por aí fora, o apoio às restrições às viagens, a sua clarificação, a APAVT fez a sua parte.

O Governo, penso que é justo dizer, sem os apoios colocados em cima da mesa, não havia setores das agências de viagens e turístico.

Dito isto, o que as agências de viagens fizeram foi suficiente? Foi tudo o que poderia ter sido feito.

Se a APAVT fez o suficiente? Julgo que ficaram sempre coisas por resolver, nos apoios aos agentes, reembolsos dos fornecedores, reembolsos aos clientes.

Se o Governo fez o suficiente? Claro que os apoios foram insuficientes.

Julgo que temos de ter a humildade de pensar que fizemos todos o possíveis, mas que há momentos como uma pandemia em que temos de reconhecer que nada é suficiente.

Incertezas políticas que não ajudam
Tem falado de apoios por parte do Governo, de apoios essenciais para a sobrevivência do setor, não só das agências como do turismo. O certo é que estamos a ser confrontados com uma incerteza política, com eleições a 30 de janeiro, que levará a termos Governo só lá para março. O que teme relativamente a esta indefinição política e de políticas?
Não temo, porque já tenho a certeza de que o que aconteceu foi muito mau para as empresas. Tivemos do Estado uma resposta insuficiente face aos constrangimentos económicos. Agora juntámos uma condicionante política que, em meu entender, é menos compreensível. Isto é, para além dos recursos parcos da nossa economia ou do nosso Estado, temos agora um Governo que não pode agir por circunstâncias de condicionalismo político.

É perfeitamente natural que o Governo agora não queira tomar decisões que impliquem ou condicionem o orçamento do próximo Executivo.

Por isso, mais do que temer quanto ao futuro, tenho muita pena, mas parece haver um sentimento de quase abandono por parte dos políticos quando assistimos à cena da não aprovação do Orçamento de Estado 2022.

Relativamente ao próximo Governo, espero que se resolva rapidamente.

Se houve razões por parte do Governo para apoiar uma crise há seis meses, mais razões há para fazê-lo agora


Não teme uma interrupção dos apoios?
Nem me passa pela cabeça. Se não existirem apoios, o setor do turismo não vai resistir. Se o setor do turismo não resistir, Portugal não vai recuperar economicamente.

Portanto, é demasiado irracional para podermos pensar em tal possibilidade. E se há erro que às vezes sinto é pensar que alguns comentários políticos dão a ideia de que se trata do Orçamento para a crise.

A partir de um determinado momento não se trata de um Orçamento para a crise. É a crise que tem de caracterizar o que tem de ser o Orçamento exatamente para apoiar as empresas e a economia na crise.

O Orçamento não pode apoiar a crise até aos limites do Orçamento. A crise tem de definir os limites do Orçamento, o que é uma coisa completamente diferente.

Concluindo, espero que, seja qual for a cor ou cores políticas que ganhe ou ganhem, que compreendam isso antes sequer do primeiro dia.

Há momentos como uma pandemia em que temos de reconhecer que nada é suficiente


Espera que o próximo Governo tenha mais “foco”, como chegou a pedir?
Espero que o próximo Governo tenha muito foco logo de início nestas questões, porque os apoios são questões também de timing.

TAP a fazer parte da solução
Já falou da questão dos reembolsos e de conversações que existiram entre a APAVT e a TAP. Houve conversações com a nova administração da TAP. Pergunto se a TAP já não faz parte do problema e passou a fazer parte da solução?
A TAP tem de fazer sempre parte da solução, não por causa das agências de viagens, mas por causa do turismo português e da economia nacional.

O grande desafio português são os mercados transatlânticos, são eles que permitem crescer. São eles que permitem ter mais território e mais meses de turismo. É o mercado norte-americano, o brasileiro, é ou será um dia o mercado chinês.

Esticar a sazonalidade?
Sim, esticar para além de agosto e ir para além dos grandes centros de turismo.

Ora, o êxito relativamente a esses mercados para um país como Portugal vai depender do hub. Se a TAP não for solução e não conseguir aguentar o hub, estará em causa o crescimento do turismo a médio longo prazo no país. E se isso acontecer, está em causa a dívida pública, mais impostos, emprego. Um país mais pobre também significa mais custos para as pessoas. Não podemos criticar os apoios à TAP apenas porque são apoios do povo. Comparado com o quê, com pobreza? Comparado com pobreza, prefiro o apoio à TAP. Comparado com menos crescimento, prefiro apoiar a TAP.

Claro que um dia, e esperemos em breve, a TAP tem de corresponder com resultados.

Do ponto de vista do diálogo com os agentes de viagens, a nova administração imprimiu uma nova dinâmica, existe confiança, apesar de haver também a perceção das dificuldades que temos todos resolver.

E com as outras companhias, retirando a Ryanair?
Com a Ryanair não há diálogo possível e é uma decisão da Ryanair. Com as outras companhias, há muito tempo que a concorrência do nosso setor é definida ao longo da cadeia de valor. Isto é, as companhas aéreas não só são nossas fornecedoras como são, também, concorrentes relativamente aos clientes pelas estratégias que a tecnologia permitiu implementar.

Nós temos sempre momentos de aproximação, porque o nosso cliente é o mesmo e temos sempre focos de tensão, porque disputamos esse mesmo cliente.

Esta crise veio fazer com que todos os ‘stakeholders’ passassem a olhar para a cadeia de valor como um todo?
Não necessariamente. Luto por isso e espero que aconteça. Um dos grandes objetivos do congresso da APAVT é, precisamente, fazer um ‘kick-off’ para uma tentativa de resposta coerente por parte da cadeia de valor.

 

A TAP tem de fazer sempre parte da solução, não por causa das agências de viagens, mas por causa do turismo português e da economia nacional

 

Uma “novela” Aeroporto
E como olha para a “novela” do aeroporto?
Acho que utilizou a definição certa: “novela”. Se há pouco disse que me sentia um pouco abandonado pelos nossos políticos neste curto prazo por causa da “novela” do orçamento, sinto-me completamente abandonado pelos políticos a longo prazo por causa do aeroporto.

A questão do aeroporto é estratégica. Existe um plano que prevê chegarmos a 2027 com determinados números.

Mais concretamente, 27 mil milhões de euros em receitas e 80 milhões de dormidas.
Exato. E depois temos os representantes do aeroporto a referir que, com esta infraestrutura aeroportuária e os novos limites de navegação aérea por causa do ruído, provavelmente, não passaremos dos números de 2017.

Diria, um, organizem-se, dois, dêem-nos uma solução aeroportuária. Qualquer que seja, o país precisa dela.

O país económico precisa do país turístico.

Quando se fala que estamos demasiado dependentes do turismo, em termos económicos, isso é “bullshit”, até parece que é uma decisão governamental ou política.

Não se trata de uma decisão, é a competitividade internacional do setor que interessa. Se impedirmos que o setor mais competitivo da economia nacional, por razões de política económica pura, seja travado, penso que é um crime lesa-pátria e espero que todos os intervenientes sejam apontados.

Entre as opções que estão em cima da mesa, qual a preferida da APAVT?
Não fazemos comentários. Há quem defenda a solução mais rápida por razoes óbvias, há quem defenda uma solução estratégica por razões de longo prazo. Há ainda quem esteja imerso na confusão.

Não sou especialista ambiental ou aeroportuário, mas se me perguntar por soluções para a sua próxima viagem, sou capaz de lhe dar. Espero que, neste caso, os especialistas tenham as soluções.

Mas neste caso, voltamos a bater na questão da indefinição política e nos atrasos consecutivos de processos e decisões. Será mais um projeto para a gaveta e/ou iniciar-se de novo?
É verdade, mas espero que não. O quer que aconteça para além de 30 de janeiro, espero que haja foco na vida das pessoas.

Os temas do congresso

Antes do Congresso da APAVT marcou presença na 6.ª Cimeira Mundial dos Presidentes das Associações de Agências de Viagens, em Leon. Quais foram as principais conclusões, tendências, estratégias, diretrizes saídas dessa reunião?

As conclusões, do ponto de vista geral, passam por atualizarmos uma voz mais próxima uns dos outros enquanto setor das agências de viagens. É muito um território de associação, o que cada um anda a fazer, como responder aos problemas e à crise, como os diversos Governos apoiaram quem deveria ser apoiado e, claro, um olhar para o futuro.

Há a perceção geral no mundo que, os destinos turísticos que tiverem propostas flexíveis são os que irão comandar a procura na saída da crise.

Voltando ao congresso da APAVT, haverá um painel – “Porque é que a EY Parthenon e os Agentes de Viagens estão a olhar para o Futuro”. Que futuro é esse para onde estão a olhar? Há um novo futuro, um futuro com um consumidor diferente ou com um ‘mindset’ diferente?
Sinceramente, não acho que exista um consumidor pós-pandemia. Houve, penso, uma aceleração de tendências que já eram conhecidas antes da pandemia, já faziam parte do nosso mercado. Autenticidade, digitalização, sustentabilidade, ‘slow-tourism’, comércio justo, tudo isto são tendências mais visíveis hoje, mas tendências que já existiam. Eventualmente, os nómadas digitais é um fenómeno saído da pandemia e, por circunstância de datas, o turismo espacial tenha tido mais destaque, mas não nasceu na pandemia.

Foi um reforço de tendências?
Foi uma aceleração. Não surpreende e não vejo quer em Portugal, enquanto destino turístico, quer na natureza da atividade das agências de viagens, problemas advindos desta aceleração. Pelo contrário, a sustentabilidade é uma área onde Portugal, enquanto destino turístico, está a responder bem e até apresenta alguns ‘case studies’ importantes. A sustentabilidade do lado das agências de viagens é muito mais uma oportunidade do que um problema.

A sustentabilidade não é um estado de alma. Numa atividade económica, é um conjunto de ações tendentes a reduzir determinadas pegadas, nomeadamente, a ambiental.

As agências de viagens em Portugal e no mundo têm já incorporadas, sobretudo no ‘business travel’, critérios de medição da pegada de carbono. Em muitos contratos essa pegada tem de estar explícita para que o cliente possa escolher uma maior ou menor.

As agências, e estamos a fazer um trabalho na ECTAA, estão empenhadas em harmonizar esta medição, clarificando-a e tornando-a mais eficiente e, através das plataformas certas, dinamizar a compensação da pegada pelos clientes que a realizam.

Mas concorda ou não com aqueles que afirmam que a pandemia trouxe um consumidor com um ‘mindset’ renovado ou mesmo novo?
Não, com sinceridade não. Acho que são entusiasmos de curto prazo. É muito cedo para se fazer essa apreciação. Recordo-me da crise económica brutal recente e não foi ela que definiu a evolução, foi um passo na evolução.

Portanto, teremos de esperar mais tempo para se fazer uma análise mais racional do que está a acontecer.

Julgo que esses novos clientes, novas características são um pouco emocionais. Se alguma coisa caracteriza o mercado das viagens e o setor das agências em Portugal e no mundo, é muito mais a diversidade do que as novas tendências.

Sustentabilidade, digitalização e capital humano são dos grandes temas abordados em qualquer fórum quando se fala de turismo e estão no congresso da APVT. A APAVT assinou a declaração de Glasgow para “desenvolver planos” para “a aceleração da ação do turismo, no sentido da redução das emissões no setor”. O que é que isto significa e como é que a APAVT e os seus associados irão contribuir para esta redução de emissões? O que significa isto no concreto?
Nós temos algum histórico recente relativo a ações no foro da sustentabilidade e, concretamente da sustentabilidade ambiental. Em primeiro lugar, estamos num processo de adesão à SUSTOUR – projeto europeu que vai fazer formação em sustentabilidade ambiental em mais de 180 mil empresas europeias. Depois, assinámos um protocolo com a “Travellife” que certifica empresas consoante as suas práticas ambientais. Ora, se há uma certificação, logo é tudo mais voltado para a ação e não para o compromisso.

No seio da ECTAA há um trabalho relacionado com a estandardização da medição para melhor poder clarificar e sermos mais efetivos.

No nosso congresso, a sustentabilidade vai estar presente.

Por isso, diria que assinámos o compromisso de Glasgow, porque está de acordo com a nossa prática.

Curiosamente, a APAVT, foi, julgo, no setor do turismo em Portugal, a única associação assinar a declaração de Glasgow e no seio da ECTAA só duas associações de todo os países europeus foram “launch partners”: a APAV T e a associação holandesa.

Curiosamente, no painel da sustentabilidade do próximo congresso, um dos speakers será, precisamente, o presidente da associação holandesa.

A sustentabilidade é um dos eixos de atratividade de Portugal junto dos turistas. É por aqui que Portugal se poderá diferenciar?
Absolutamente. É uma oportunidade para o país como é uma oportunidade para as agências de viagens. Aliás, em meu entender, é uma oportunidade que veio para ficar.

 

Se a TAP não for solução e não conseguir aguentar o ‘hub’, estará em causa o crescimento do turismo a médio longo prazo no país

 

Se a sustentabilidade é chave, o capital humano também assumiu uma relevância fulcral. Saíram muitas pessoas, fazem falta muitas pessoas, os que saíram irão regressar, é preciso ir buscar pessoas a outros lados, setores, países? Como é que olha para este desafio do capital humano?
Sabemos que, sobretudo, na hotelaria e restauração falta gente. Se essas pessoas vão regressar, esperemos que sim. Sabemos, contudo, que não basta que regresse quem saiu. Julgo que hoje é mais ou menos aceite que precisamos de uma política de migração que apoie o desenvolvimento do turismo, entre outros aspetos.

Do ponto de vista das agências de viagens, não tivemos despedimentos, até porque tivemos acesso e adesão aos processos de apoio ao emprego. Por isso, se há coisa que não existiu durante esta pandemia – ainda – foram grandes despedimentos. Não há uma fuga de recursos humanos das agências de viagens.

Mas disse “ainda”?
Disse ainda porque estamos cá. E talvez não o espere. Porquê? Se olharmos para os “Economics” do setor e para a sua atualização, o setor com maior percentagem de licenciados ou acima de licenciados é, do ponto de vista do turismo, o das agências de viagem.

Os nossos recursos humanos estão muito mais longe dos ordenados mínimos e do serviço básico do que outros dentro desta cadeia de valor.

Isso, contudo, não quer dizer que não existam problemas de recursos humanos. Houve porque tiveram de sair dos locais de trabalho, porque trabalharam isolados e com dúvidas relativamente ao futuro, tal com o regresso dos recursos humanos também tem sido um problema depois de estarem 20 meses a trabalharem em casa.

Adquiriram-se novos hábitos, houve gente a trabalhar menos porque não havia trabalho, houve pessoas que passaram a levar os filhos à escola, realidade que não conheciam. Adquiriram-se novas perceções de uma realidade que agora terão de ser trabalhadas.

Por todos, até pelo próprio colaborador?
Absolutamente. Esta história de acharmos que as responsabilidades estão nas empresas e os direitos estão nos colaboradores, é uma coisa antiga.

Em vez de fuga de recursos humanos, preocupa-nos a gestão de recursos humanos.

Já na digitalização ou transformação tecnológica, a questão, presumo, não se coloca no setor das agências de viagens?
Em termos de tecnologia, as agências de viagens são dos maiores utilizadores em Portugal e no mundo. Há bastantes anos que qualquer trabalhador com um telemóvel pode resolver qualquer problema que um cliente possa enfrentar na sua viagem em qualquer lugar a qualquer hora.

Os processos de digitalização não são fins estratégicos em si, são processos de melhoria da eficiência e devem ser integradores de uma estratégia.

Como definidores de uma estratégia, acho-os fracos, porque uma estratégia tem de estar muito mais próxima das necessidades do cliente e da sua perceção e como vão evoluir, do que um mero processo de digitalização.

Quantos ‘players’ ficaram pelo caminho? E quantos ainda vão ficar? Que setor teremos no pós-COVID?
É um pouco dual. Os balanços estão destruídos, os capitais próprios evaporaram-se. Do ponto de vista da situação macro-económica do setor, provavelmente, estamos a atravessar, à saída da crise, um dos piores momentos do setor.

Sempre dissemos nos primeiros três meses da crise que o principal problema de liquidez se ia colocar no momento do regresso e da retoma, porque os custos têm um comportamento dual – zero ou um – e as receitas vão chegar gradualmente.

Se se confirmar que este regresso ténue que estamos a viver é o início de uma retoma, diria que estamos à beira do processo mais complicado de resistência por parte das agências de viagens e do turismo em geral. Desse ponto de vista é natural que haja mais quebras do que tem sido histórico.

Entre a resiliência que temos vindo a demonstrar e a evidencia dos balanços, julgo que vamos encontrar um caminho em que vamos provavelmente, uma vez mais, no início da retoma, ter alguns incidentes desagradáveis enquanto setor, mas a execução da oportunidade que aí está vai permitir a recuperação a muitos.

Quando tivermos, efetivamente, a falar não de regresso, mas de retoma, nessa altura o nosso principal objetivo será sempre o de superarmos os números de 2019 e que foram os melhores de sempre.

2019 foi o melhor ano de sempre para o turismo. Há condições para continuarmos a bater recordes com uma crise pandémica, instabilidade política, sem aeroporto, com falta de recursos humanos, entre outros?
Portugal tem todas as condições naturais para o fazer, enquanto destino turístico. Temos um dos melhores turismos do mundo, enquanto instituição. O Turismo de Portugal tem feito um trabalho notável. Temos grandes empresários, temos um conjunto de trabalhadores capacitados no setor das agências de viagens, temos um país estável, clima, um povo acolhedor. Temos tudo a nosso favor, mas estamos, neste momento, condicionados por algumas decisões políticas que têm de ser resolvidas. Com a evolução e o crescimento do turismo no mundo e a olhar para nós próprios e nossos concorrentes, diria que o recorde de 2019 ser ultrapassado é fácil-fácil.

Inicia o mandato em 2021, em plena pandemia. Pergunto-lhe se, apesar de ainda não ter terminado o primeiro ano, se ainda tem forças e vontade para ir a uma nova corrida?
[Risos] Nem vou responder. Espero chegar a este mandato vivo e com consciência de dever cumprido. Peter Drucker [professor, consultor e escritor de origem austríaca] dizia que as pessoas são mais felizes no cumprimento do dever. Espero chegar ao final do mandato feliz.

O que aprendeu com esta crise e que ensinamentos retira dela a nível pessoal e profissional?
Aprendemos sempre algo. A crise não me apanhou de surpresa. A crise é o acentuar do primado da incerteza.

A nível profissional diria que aprendemos uma vez mais que temos de robustecer os nossos balanços, que é na robustez deles que vai estar a resposta à próxima crise.

Finalmente, que temos de nos rodear dos melhores recursos humanos, porque eles vão robustecer os nossos balanços.

A nível pessoal, somos todos muito pequenos por maior que nos possamos sentir.

No dia 3 de dezembro quando fechar o congresso, que conclusão gostaria que saíssem dos três dias de trabalho?
O congresso é um capítulo da nossa atuação, não é um fim em si mesmo. Espero que saia a classificação da nossa agenda para o próximo ano. Até pela data que é realizado, o congresso é um ponto de situação e um olhar para o futuro e os fins de ano são sempre ótimos para que isso aconteça.

Mais do que olhar para o passado, espero que nos ajude a clarificar, enquanto APAVT e turismo português, a agenda para o ano 2022.

Agenda só para 2022 ou mais além?
Digamos que teremos um olhar mais além, mas temos uma agenda definida para um ano. Ajuda termos uma visão de mais longo prazo, mas é importante termos uma definição da concretização dessa agenda no curto prazo.

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Presidente da República abre Congresso da APAVT

O início do “reencontro” do setor das agências de viagens será presidido pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. O 46.º Congresso da APAVT realiza-se de 1 a 3 de dezembro, em Aveiro.

Publituris

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, presidirá à abertura do 46.º Congresso Nacional da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), no próximo dia 1 de dezembro, em Aveiro.

Tendo como tema base o “reencontro”, o evento reunirá, além de agências de viagens e operadores turísticos, quadros de companhias aéreas, alojamento turístico, rent-a-car, animação turística e restauração, entre outros setores.

O congresso realiza-se de 1 a 3 de dezembro, no Centro de Congressos de Aveiro, contando, também, com a participação, do ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, e da secretária de Estado do Turismo, Rita Marques.

Entre os oradores do congresso da APAVT contam-se o ex-vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas; o presidente da Associação Holandesa das Agências de Viagens, Frank Oostdam; um importante player do turismo grego, Marios Kammenos; os ativistas ambientais Miguel Lacerda e Naut Kusters; a CCO da TAP, Silvia Mosquera; o CEO da SATA, Luís Rodrigues; o administrador da ANA/Vinci, Francisco Pita, bem como o virologista Pedro Simas, entre outros.

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