“Quero acreditar que, se houver voos em agosto, estaremos a trabalhar em força”
Mesmo sem garantias de movimento em junho e julho, o Grupo Vila Galé tem planos para abrir todas as suas unidades, num claro sinal de confiança ao mercado e para os seus colaboradores. Em entrevista, o presidente da Vila Galé, Jorge Rebelo de Almeida, fala ainda da situação da TAP e explica por que razão esta pode ser uma oportunidade para repensar o aeroporto do Montijo.

Carina Monteiro
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Jorge Rebelo de Almeida não tem dúvidas que os portugueses que tenham condições para fazer férias, vão fazê-lo, não só porque é uma terapia, depois do período de confinamento, como confiam na hotelaria portuguesa, que se mostra “segura e responsável”. O problema é que o mercado nacional é pequeno para a oferta que surgiu nos últimos anos. Em entrevista no final do mês de maio, o presidente da Vila Galé, fala ainda da situação da TAP e explica por que razão esta pode ser uma oportunidade para repensar o aeroporto do Montijo.
Já têm reservas para os hotéis que vão reabrir no dia 9 de junho?
Poucas, mas dois dos onze hotéis que vamos abrir, o Vila Galé Clube de Campo e Vila Galé Alter do Chão, estão praticamente cheios, já com poucos quartos para os feriados de 10 e 13 de junho.
Depois, admito que não existirá consistência. O nosso turismo depende muito do estrangeiro. O cliente português, face à oferta turística existente hoje, que é mais do que o dobro do que era há dez anos, não dá para encher nada. Vai ser muito difícil. Se, entretanto, não houver nenhuma inversão da política aeronáutica, é muito difícil. Embora tenhamos a nítida noção, pelos contactos com os operadores, que, o mercado do Reino Unido está doido por viajar. Pode ser que na última semana de junho já comece a haver mais movimento. Quero acreditar que em julho vamos ter estrangeiros.
Com a abertura de fronteiras com Espanha, estima que possa haver espanhóis a fazerem férias em Portugal?
Tenho muita expectativa. A abertura da fronteira com Espanha começa por ter impacto nos destinos fronteiriços, como Elvas. A cidade está parada, assim como a oferta hoteleira. Não havendo espanhóis, a cidade não vai ter movimento. Estou convencido que vem gente de Espanha, porque não têm de vir de avião, vêm de carro.
Preveem abrir todos os hotéis a partir de julho. Chegaram a equacionar deixar alguns hotéis fechados?
Tínhamos uma medida mais radical que seria não abrir alguns hotéis e reduzir pessoal, mas queríamos continuar a apostar nas pessoas que trabalham connosco. Mesmo que não haja garantias de movimento, queremos abrir. Vamos ser claros. Temos plena consciência que a abertura destes 11 hotéis nos feriados é capaz de nos sair mais cara do que mantê-los fechados com o pessoal no ‘lay off’ com os contratos suspensos.
Então porque é que o fazem?
Por várias razões. A primeira é passar uma imagem de confiança para o mercado. Ou seja, de que há um grupo como a Vila Galé na hotelaria que, com todas as cautelas e medidas adotadas, vai abrir os hotéis. A segunda é por causa do nosso pessoal, que quer voltar a trabalhar. A preocupação com as pessoas que trabalham connosco também é um aspeto importante, e até é uma terapia voltarem a trabalhar. Por outro lado, para que em julho estejamos em pleno, precisamos outra vez de ter as pessoas a rodar e a preparar muito bem os hotéis. Quero acreditar que faz bem ao país dinamizar a economia e essa é a terceira motivação que nos leva a abrir. Se o país estiver melhor, é bom para todos nós. Gosto de fazer aquilo que prego. Prego que temos todos que voltar à luta.
Mercado interno
Já referiu que o mercado nacional face ao aumento da oferta que surgiu nestes últimos anos é insuficiente para todos os hotéis. Acredita que o mercado nacional vai ter disponibilidade financeira para fazer férias em hotéis?
Vai ter alguma dificuldade acrescida e temos estado a equacionar fazer uns programas com pagamentos em prestações, situação que em Portugal normalmente não fazemos, mas no Brasil já. Temos estado a estudar essa hipótese. É evidente que, no geral, as pessoas estão mais sofridas financeiramente. As pessoas que estão em ‘lay off’ tiveram um corte, há muita gente desempregada, muitas profissões livres que deixaram de trabalhar, muitos comerciantes que não faturaram nada. Há uma percentagem elevada de pessoas que não está nas melhores condições para fazer férias. Mas, por outro lado, não tenho dúvidas que, toda a gente que tenha condições, deve fazer férias e vai recorrer a outras soluções, porque é uma terapia. Depois deste período de confinamento, de medos, as pessoas precisam de arejar a cabeça e penso que vai ser extremamente positivo fazerem férias. Por outro lado, sabem que a hotelaria nacional é confiável, é segura e responsável. É um setor que, em Portugal, evoluiu e melhorou muito. Os nossos profissionais do setor estão muitíssimo mais bem preparados do que alguma vez estiveram.
No Brasil, ao contrário de Portugal, encerraram todas as unidades. Já têm um calendário de aberturas?
Enquanto que, em Portugal, temos de fazer um elogio rasgado ao Governo português, que passou sempre uma mensagem de ter a situação controlada, uma imagem de confiança, de serenidade e de saber o que estava a fazer, no Brasil não temos isso, infelizmente. No Brasil, temos uma situação um bocadinho descontrolada. O Governo federal tem uma posição, os Governos estaduais têm posições independentes, isso gera um desconforto grande e uma insegurança acrescida. Há uma imagem de falta de coordenação e falta uma política nacional de saúde para atacar esta pandemia. Isso é que é preocupante.
Perante este cenário, não vamos abrir nenhum hotel no Brasil no dia 10 de junho, como vamos fazer em Portugal. Estamos a ponderar, mas sujeito ainda a uma verificação diária, eventualmente abrir dois hotéis para o São João (23 e 24 de junho), que é também muito tradicional no Brasil.
É preciso recordar que, enquanto em Portugal estávamos a fechar a 15 de março, lá praticamente ainda tivemos hotéis abertos até ao final de março.
Vivemos tempos de navegação à vista, já tenho alertado que, numa situação de imprevisibilidade tão grande como esta, pode acontecer que, no início de julho, tenhamos que mudar as nossas decisões, porque voltou a haver um reacender da pandemia. Quero acreditar que não. Assim como as pessoas tomaram as cautelas todas na fase de confinamento, agora também vão voltar à rua com segurança.
“Lay off’
Do primeiro pacote de medidas que o Governo português lançou para ajudar as empresas e a manutenção de empregos, a quais o grupo recorreu?
Recorremos apenas ao ‘lay off’, porque as outras linhas não eram sequer para as grandes empresas. Também não tínhamos necessidade. Tivemos necessidade de recorrer a crédito, mas pelos nossos próprios canais tradicionais. Somos uma empresa com capacidade, garantias e risco baixo, mesmo numa crise destas. Portanto, recorremos aos nossos bancos tradicionais com quem temos uma boa relação. E nem queríamos estar a sobrecarregar as linhas que foram criadas para as empresas que têm mais necessidade dessas linhas. Portanto, a única coisa a que recorremos foi ao ‘lay off’ para 85% dos nossos colaboradores. Dentro dos 85%, uns com redução de horário, outros com suspensão de contrato. A manter-se tudo o que está previsto, gostaria muito de levantar o ‘lay off’ de suspensão de contrato a todos, até porque esta história da suspensão dos contratos dá algum desconforto às pessoas, e numa atividade como a nossa, o pessoal é extremamente importante e, por isso, julgo que as pessoas merecem tudo.
Mas equaciona manter o ‘lay off’ com redução de horário?
Estamos a pensar numa primeira fase manter toda a gente que está com suspensão de contrato passar para redução de horário, fazer isto por etapas e rodar as pessoas. Aquelas que são afetas a hotéis que não vão abrir, se for necessário, vão ajudar outros hotéis.
Mas, nesta fase, defende o incentivo a quem trabalha. Pode explicar?
Tudo tem o seu timing. Foi extremamente importante a intervenção do Governo ao pagar para as pessoas ficarem confinadas. Deu tempo para todo o país se preparar para o que aí vinha, que, felizmente, foi menos grave do que aquilo que todos chegámos a recear. Esse tempo passou, na minha opinião. Temos de regressar às atividades. Por isso, o incentivo agora tem de ser ao contrário. Vou fazer isso independentemente de haver ou não incentivos por parte do Estado, porque entendo que é o correto. Vai custar-nos mais dinheiro, mas penso que a nossa gente merece tudo isso. As pessoas nem vão beneficiar com esta medida que vou tomar, a não ser no aspeto de se sentirem novamente úteis e participativas. Quem vai beneficiar até é o Estado, porque vamos ter o mesmo custo, mais a parte da redução que passamos a suportar nós.
O Governo já tinha previsto, desde o início, dar um incentivo quando as pessoas saíssem do ‘lay off’ e voltassem à atividade plena. Estamos a pensar recorrer a esse incentivo brevemente.
Penso que deveríamos colocar as pessoas a trabalhar a 100% normalmente. Era bom que o Estado comparticipasse com 50%, e as empresas com outros 50%. Regressávamos à normalidade, porque isso é bom para a cabeça das pessoas e tínhamos mais gente a mexer com a economia.
Recuperação
Quais são as previsões de negócio que têm para este ano?
Hoje em dia, é como no futebol: prognósticos só no final do jogo. Os cenários mudam de dia para dia. Estávamos com alguma previsão junto de alguns operadores de que, no mês de julho, iríamos trabalhar muito bem, mas não há ainda garantias dos voos. Em junho temos a fronteira de Espanha fechada para lazer. Não havendo entrada terrestre de lazer, não podemos contar com nada.
O que perdemos em março, abril e maio, nunca mais vamos recuperar. Um quarto de hotel é pior que jornal do dia anterior, ou seja, se não se vende é prejuízo puro e duro e os custos estão todos cá. Junho é apenas uma manifestação de intenções: abrir os hotéis, voltar à vida, passar sinais positivos para a economia. Não temos previsões que sobre dinheiro no final do mês de junho, julho é uma incógnita. Quero acreditar que, se houver voos em Agosto, estaremos a trabalhar em força.
No Brasil, como entramos em setembro na melhor época, tenho mais esperanças que recuperemos, a não ser que o descalabro se mantenha. E, por outra razão, no Brasil o mercado interno é preponderante. 92% da nossa ocupação nos resorts no Brasil é do mercado interno e somos a principal rede de resorts. Penso que temos mais probabilidades de retomar lá a atividade do que aqui. Em Portugal, o número de camas é excedentário para o nosso mercado interno.
Em Portugal, há destinos como o Algarve, em que a janela de oportunidade para recuperar alguma coisa é agora no verão.
É agora ou nunca, se se perde o verão, perde-se o ano.
Quais são os destinos em Portugal que julga que vão ter uma procura maior?
Temos as reservas abertas para todos os hotéis em Portugal, porque, inclusivamente aqueles que não decidimos abrir já, se tivessem, de repente, um turbilhão de reservas, reformulávamos tudo. Hoje as empresas, mais do que nunca, têm de ter elasticidade na gestão e nas medidas que tomam. Os indicadores que temos é que os hotéis do Interior estão com procura. O Vila Galé Clube de Campo, no Alentejo, é tradicionalmente um produto forte para o mercado interno, vive 90% do mercado nacional. Alter do Chão é uma novidade, as pessoas têm noção que não vão encontrar grandes aglomerações.
Isso vem dar sentido à vossa aposta no Interior?
Falta muito ainda. Vou dar o exemplo de Elvas, não chegámos a ter ainda um êxito estrondoso. O Interior tem ainda muita sazonalidade, se mesmo no Algarve temos sazonalidade, no Interior temos mais ainda. Em Elvas, temos ocupações altas ao fim de semana, mas durante a semana são fracas. Demora tempo, há um percurso a fazer. É evidente que, quando as pessoas começarem a descobrir, vai crescer e aumentar. Como o Vila Galé Vineyards, no Douro, que tínhamos aberto só uma etapa e vamos abrir agora o restante.
Pararam alguma obra?
Não. A crise não nos assustou para pararmos as obras. Acabámos a central de fruta no Alentejo, toda ela feita em plena crise, porque era um projeto que vínhamos a defender há muito tempo, o de valorizar a oferta agrícola do Alentejo e, por isso, achámos por bem investir nesta área. Estamos a acabar a segunda etapa do Vila Galé Douro Vineyards. A segunda fase vai ficar pronta no final de junho, dos sete quartos vamos passar para 50.
Fizemos obras de remodelação, por exemplo, no Vila Galé Marina, no Algarve, no Vila Galé Estoril, em Cascais. Em julho vamos abrir um terraço no Vila Galé Ópera. No dia 1 de julho vai abrir o Vila Galé Paulista, no Brasil. Quando isto tudo aliviar, está previsto iniciar o Vila Galé Alagoas. Nos Açores, vamos fazer o projeto, mas vamos precisar de um bocadinho de fôlego e respirar fundo. Mantém-se nas nossas intenções fazê-lo.
TAP e Aeroporto de Lisboa
Está preocupado com a situação da TAP?
Vamos começar pelo princípio. Em relação às duas regiões turísticas mais antigas do país e mais fortes durante muitos anos, Algarve e Madeira, a TAP nunca foi um grande parceiro nosso, porque nunca estabeleceu uma política de voos regulares para o Algarve. Mas devo dizer o seguinte: as companhias e empresas privadas, públicas, ou de capital público e privado, devem ser geridas de acordo com os critérios de racionalidade da gestão, e não têm de andar a fazer favor e fretes. Portanto, nem discuto isso. Mas só para pormos os pontos nos ‘is’, Algarve e Madeira nunca dependeram muito da TAP. Em Lisboa, cujo turismo ressurgiu depois da última crise, aí a TAP teve um papel importante. No Porto, a TAP teve algum papel, mas quem deu a explosão turística ao Porto foi a Ryanair e outras ‘low cost’ que descobriram o Porto como sendo um grande destino. Deu resultado e foi boa esta descoberta do Porto, porque a região foi descoberta à sombra desta expansão. Para Lisboa, a TAP foi muito importante. Tenho outra nota importante a salientar, o papel muito positivo para o turismo nacional que foi o reforço de voos para o Brasil, que já vinha de trás, da anterior administração. O Brasil foi muito importante para o turismo. A atual gestão teve um papel muito positivo no mercado americano, temos de reconhecer. É um mercado que vale a pena continuar a apostar.
Mas a TAP precisa de uma injeção de capital. O Governo não pode deixar cair a companhia?
Não nos dá jeito que a TAP caia de forma alguma. Mas o que penso é que a partir do momento em foi privatizada parcialmente, deve-se ter em conta a normal gestão das empresas privadas. Se a Vila Galé, que é 100% privada, tiver necessidade de dinheiro, quem é que têm de se chegar à frente para resolver o problema da Vila Galé? São os seus acionistas. A solução para a TAP é aliás o que primeiro-ministro já disse: se houver necessidade do acionista Estado entrar com capital, os outros acionistas também têm de entrar, se não perdem posição. Imagine que numa empresa privada há 10 acionistas, cinco chegam-se à frente e colocam o dinheiro (capital próprio) necessário para viabilizar a empresa. Porque, vamos lá ver, na minha opinião não se consegue resolver uma situação crítica como a TAP atravessa se não houver uma injeção de capital próprio, não é tudo com recurso a crédito. Acho que as regras do mercado não deviam ser pervertidas e dever-se-ia manter isto. Há uma frase que tem sido dita por alguns atores políticos do país: quando é para ter lucros a empresa é privada, e os acionistas estão lá, quando é para ter prémios, os acionistas e trabalhadores são beneficiados em determinadas condições, quando é para haver prejuízos é com o Estado. Tem de haver algum equilíbrio, se calhar, se o Estado tiver uma intervenção vai ter de zelar pelo seu próprio interesse.
Todos nós gostaríamos que a TAP se mantivesse. O modelo? Exige estudo. Penso que o Estado não se vai por de lado, mas julgo que os privados também não se deviam por de lado, e devem chegar-se à frente também com uma injeção de capital. Porque penso que a solução para TAP passa por um aumento de capital e por um apoio, a nível de suprimentos, de empréstimos.
Mas gostava que a TAP voasse mais para o Algarve, Madeira e Porto?
Não vamos a lado nenhum se as motivações forem de natureza política ou partidária. Mesmo quando a TAP era pública, a ajuda ao Algarve era inexpressiva. Lembro-me que alguns operadores faziam voos dos países nórdicos para Lisboa, e depois desesperavam porque não tinham sequer uma ligação ao Algarve.
Considera que deveriam haver incentivos à retoma das ligações aéreas?
Admito que sim, que possa haver incentivos para atrair voos para determinados destinos. Por exemplo no Brasil, há voos que foram atraídos para Fortaleza de França e Países Baixos, que foram pagos e incentivados pelo Governo estadual. Nós em Portugal, tivemos um programa, em que alguns privados, incluindo nós, participámos com o Turismo de Portugal.
Mas pode incluir participação dos privados ou já estão demasiado sobrecarregados?
Para haver negócio, tudo pode ser estudado. Os privados, se querem que as coisas aconteçam, têm de se chegar à frente, fazer coisas, participar. Mas acredito que efetivamente precisamos neste momento desesperadamente de reativar o transporte ferroviário.
Justamente, num artigo recente para o Publituris, escreveu uma espécie de roteiro para o turismo e uma das ideias que deixou “era redinamização do transporte ferroviário elétrico a nível nacional e internacional”.
Hoje, mais do que nunca, estamos a chegar à conclusão que, em que situações desta natureza, ou outras, como a dos vulcões que parou a aviação, se calhar há soluções que devem ser reforçadas. O que é que quis dizer com isso? Por exemplo, estávamos com uma tremenda falta de slots antes da pandemia, mas porque é que a TAP havia de estar a fazer concorrência à ferrovia entre Lisboa e Porto, estando a poluir mais, em vez de ter slots utilizados para captar mais turistas internacionais? Segunda nota, o ambiente é uma questão que nos vai preocupar a todos. Já tinha desistido de falar no novo aeroporto, porque achava que era melhor ter uma solução do Montijo do que não ter nenhuma.
A outra ideia que deixou nesse artigo foi “repensar o novo Aeroporto de forma consistente e duradoura, de modo a que possa ser uma alternativa real à Portela e não apenas um remendo”.
Sou muito coerente nas posições que tomo. Comecei por dizer que a Portela era o melhor aeroporto do mundo para os portugueses e estrangeiros, foi a partir deste aeroporto que conseguimos captar esta onda de turismo para Lisboa. Em 2009, 2010, 2011, estávamos a atravessar uma crise gravíssima, não tínhamos dinheiro para manter cantar um cego e, portanto, não podíamos pensar em fazer um aeroporto com todas as necessidades que exigia. Já se tinha excluído a OTA, porque tecnicamente não era viável, e estavam em cima da mesa várias opções, entre elas, manter a Portela melhorada, na altura não tinha noção que a Portela poderia crescer para os números que cresceu. O Montijo tinha de alguma forma consenso para avançar. Não sendo uma solução maravilhosa, era uma solução viável e urgente. Com o retomar deste crescimento do turismo para níveis que atingimos no ano passado, era urgentíssimo ter o aeroporto do Montijo. Eis senão quando, antes da pandemia já tinha estalado aquilo que é normal em Portugal, areia na engrenagem, e o Montijo deixou de ser consensual, por razões políticas, técnicas ou ambientais. Julgo que muito por razões políticas. O cerne da questão está nisto. Enquanto país devíamos ter uma alternativa à Portela, porque a União Europeia, ou outras entidades, podem, mais dia, menos dia, dizer que temos de largar a Portela porque não faz sentido um aeroporto dentro da cidade por razões de segurança, ambientais ou outras. Tanto que, noutras cidades europeias, os aeroportos saíram do centro e foram para distâncias incríveis. A questão que coloco é que o Montijo não é uma alternativa, se nos mandarem fechar, a prazo, a Portela. Em Alcochete, podíamos começar por ter um Terminal como o Terminal 2 da Portela, fazer uma pista de excelente qualidade e ter um aeroporto que numa primeira etapa, poderia servir apenas receber algumas operações ‘low cost’ ou outras, mas que é expansivo.
Ou seja, primeiro como complementar depois como substituto do aeroporto da Portela?
Sou defensor da Portela, enquanto pudermos manter a Portela, é maravilhoso, mas não podemos excluir esta possibilidade. As pessoas têm de pensar que o Montijo é uma solução de remendo, para não pararmos o ritmo de crescimento em que estávamos a ter e aí concordava e o setor turismo estava unânime na construção do aeroporto, porque vai dar-nos a possibilidade de não pararmos o ritmo de crescimento. Agora que parou, por outras razões, se calhar voltava a repensar.
O problema é que repensar uma solução em Portugal leva anos e anos…
Eu sei. É evidente que este país teve exemplos de pessoas que eram muito determinadas e com grande capacidade. Um dos meus ídolos na capacidade de execução foi um senhor que se chamava Duarte Pacheco, que em seis anos, acumulou o cargo de ministro das Obras Públicas e presidente da Câmara Municipal de Lisboa e fez um conjunto de coisas incríveis, algumas delas extraordinárias, como o Parque Florestal de Monsanto, a expansão de Lisboa e os bairros económicos de Lisboa. Não tenho informação e tenho dificuldade em desenvolver mais o tema, apenas quero lançar uma acha para a fogueira, se não valerá a pena pensar em ter uma alternativa? Tanto quanto julgo saber, chegou a haver uns estudos muito avançados em Alcochete. Os termos de referência terão mudado, mas o trabalho não está na estaca zero.
Podíamos muito bem, no entretanto, tentar rentabilizar o aeroporto de Beja. Se queremos ter uma política de Interior, temos que pôr o aeroporto de Beja a trabalhar mais. Temos de ter uma política de Interior, para ficarmos com um país mais harmonioso e equilibrado. Temos de melhorar a rede ferroviária. Assim como Beja cobria o Interior Sul, a meio caminho do Norte, em Monte Real, no Centro, por exemplo, devíamos ter outra infraestrutura aeroportuária, para termos um país mais equilibrado. Devíamos por o Porto a trabalhar mais e o próprio Algarve ainda tem espaço para crescer.