Histórias do Turismo: Ir a banhos à Costa
Ao longo do próximo ano, publicamos histórias dos 100 anos do turismo, da autoria de Jorge Mangorrinha.
Raquel Relvas Neto
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No início do século XX, Abílio Nunes dos Santos, proprietário dos Grandes Armazéns do Chiado, reafirmou a sua grande visão comercial ao realizar uma operação de charme, oferecendo aos melhores clientes das suas lojas estadas nos chalés da zona do Estoril que, desde o final do século XIX, recebia a família real, a aristocracia, a burguesia e, por consequência, escritores e jornalistas. O clima e as suas águas eram recursos naturais de excepção para as estadas destes lisboetas, para espairecimento ou tomada de banhos.
As águas minerais do Estoril eram famosas, com diferentes balneários em funcionamento, designadamente, os Banhos da Pôça, localizados à beira-mar, entre o forte de S. Pedro e o forte de S. João da Cadaveira, mas que, em 1918, findaram para dar lugar a um hospital. A partir de 1914, projectou-se para a vizinha Quinta do Viana, o plano do Estoril, “Estação Maritima, Climatérica, Thermal e Sportiva”, mas que logo ficou em “banho-maria”, pela crise da Grande Guerra. O seu arranque mais evidente viria a dar-se, já nos anos 20, com a inauguração das novas termas (um edifício de referência internacional, com áreas de balneoterapia, uma piscina olímpica para água salgada e uma sala de mecanoterapia) e do Hotel do Parque. Apenas nos anos 30, seriam inaugurados o Hotel Palácio e o casino.
Constituída a Sociedade Estoril-Plage, tendo como principal mentor Fausto de Figueiredo, o nome “Estoril” passou a ser sinónimo da “Riviera Portuguesa” e rival das grandes estações de veraneio da Europa. Em Março de 1923, instituem-se, por decreto, como estância de praia, as localidades de Carcavelos, S. João do Estoril, Estoril e Parede, distinção que lhes permite organizar as comissões de iniciativa, autónomas. A prática do golfe veio ampliar as modalidades desportivas da estação de veraneio, que já era reconhecida pelos seus campeonatos hípicos, automobilismo, esgrima, atletismo, ténis, tiro e desportos náuticos. A estância de cura tornou-se na praia de lazer e de desporto.
À Costa ia-se “a banhos”, expressão que se aplica aos banhos de mar e de termas, com clima privilegiado, comboios eléctricos a todas as meias horas, desportos, estabelecimento hidromineral e fisioterápico, Tamariz (paraíso das crianças), casino e todos os jogos das cidades de águas e de veraneio. Lembro que o termalismo era moda, em Portugal, desde as primeiras décadas do século XX, construindo-se parques termais ou redutos para um quotidiano próprio de terapia e convivialidade, à semelhança do que, noutros países europeus, se desenvolvera, desde o século XVIII, com novas realidades de sociabilidade e de rendibilidade do investimento, com uma nova filosofia de gestão das empresas e com novos caminhos ao mercado de trabalho para se servir nos cuidados de saúde e nos hotéis, nos restaurantes, nos cafés e nas casas de chá, bem como nas mais diversificadas práticas de animação recreativa e desportiva.
Esta atmosfera de modernidade à volta das termas e das praias reforçou e actualizou os conceitos de vilegiatura e de veraneio, de que os Estoris foram parte integrante e beneficiaram.
No primeiro número do Estoril-Jornal, contudo, Aquilino Ribeiro discorre acerca “Do que precisa a linha de Cascaes”, referindo a dado trecho que “Com excepção da tentativa grandiosa do Estoril, tudo o que se tem feito é, por via da regra, de mau gosto e mesquinho”. (Estoril-Jornal, ano I, n.º 1, 5 de Dezembro de 1925, p.1). No ano seguinte, a 1 de Março de 1926, o Casino Portuguez e o Stranger’s Casino fecharam portas, para que as respectivas empresas se associassem para a exploração do Grande Casino Internacional, no Monte Estoril. E, na primeira página daquele periódico de 13 de Março, é apresentada uma imagem aguarelada do novo casino projectado para o Estoril, “arrojada obra de iniciativa particular”. Segue-se um período de intensa construção nas zonas conquistadas ao pinhal, às terras de lavoura e às pedreiras, facilitada, desde 1940, pelo acesso rodoviário proporcionado pela estrada marginal. Os Estoris passaram a ser um centro turístico de primeira ordem e receberam, durante e depois da II Guerra Mundial, um elevadíssimo número de refugiados e exilados e de inúmeras figuras do panorama desportivo e cultural.
*Por Jorge Mangorrinha, investigador em História do Turismo.