TURISMO – Seguir em frente
Leia a opinião por Vítor Neto, empresário e gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve
Raquel Relvas Neto
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O Turismo português acaba de ver confirmado o seu valor no quadro internacional na última edição do Relatório de Competitividade no Turismo do World Economic Forum, que coloca pela 1º vez Portugal no 12º lugar do ranking geral e em posições muito positivas em várias categorias, no quadro de 130 economias mundiais. Ocupava o 20º lugar em 2013 e o 14º em 2017.
Não é surpresa. É apenas a confirmação da evolução positiva a que temos assistido nos últimos anos e que nos obriga a refletir sobre as verdadeiras causas, mas também sobre as debilidades que continuamos a ter e os desafios que uma nova conjuntura nos pode colocar.
Portugal tem vindo a beneficiar de fatores estruturantes positivos.
Desde logo, vivemos um quadro de estabilidade na direção das instituições do Turismo – concretamente na Secretaria de Estado e no Turismo de Portugal e suas equipas e quadros – e de um maior reconhecimento político do setor no seio do próprio governo e do seu peso na economia. É fundamental. Permitiu a definição para o Turismo de linhas estratégicas coerentes, instrumentos e objetivos de curto e médio prazo, no essencial corretas, pondo fim a erros e incertezas de governos anteriores. É um facto que o Turismo cresceu nos principais vetores e nas várias regiões.
Mas há um fator objetivo, em geral esquecido, que importa sublinhar, para evitar o risco de ignorarmos outras causas importantes dos recentes resultados e subestimarmos os riscos que temos à nossa frente.
Refiro-me à ajuda da conjuntura favorável do Turismo mundial nos últimos anos, que conduziu a uma maior disponibilidade para o consumo de viagens, nomeadamente na Europa.
Não tenho quaisquer dúvidas de que os resultados positivos nestes últimos anos se devem sobretudo ao nosso trabalho – instituições, regiões, empresas, profissionais. Mas também não tenho dúvidas de que beneficiamos muito do contexto económico internacional favorável.
Este quadro dificultou uma avaliação rigorosa da consistência das linhas estratégicas e dos objetivos e prioridades definidos pelo governo.
Importa fazê-la. Para evitar ilusões e prepararmo-nos para conjunturas menos favoráveis.
Presente e futuro
São já evidentes os sinais de desaceleração de crescimento do Turismo nos nossos vizinhos europeus, a começar pela Espanha, onde o governo acaba de aprovar um pacote de 33,3 milhões de euros de apoio à promoção para atenuar os efeitos do Brexit e avançar na Ásia. Também no nosso país surgem preocupações, como referiram recentemente vários empresários de importantes grupos.
É perigoso dar como garantida e eterna a fórmula «oficial» do sucesso do Turismo: crescemos globalmente, crescemos «mais» no interior e diminuiu o desnível com o litoral. Sendo certo que se verificam passos positivos, o ritmo desses crescimentos tem condicionantes e não se podem ignorar potencialidades e dinâmicas reais das diferentes regiões.
Por outro lado, há mercados que nos devem preocupar, e muito, como o britânico. Basta ouvir as notícias diárias do Reino Unido. Só por ingenuidade se pode afirmar – e algumas pessoas fizeram-no – que a sua evolução não terá consequências em Portugal.
Como nos deve preocupar a instabilidade de companhias aéreas low cost, a começar pela Ryanair, que dá sinais de crise estrutural e estratégica. Um setor que condiciona em absoluto os fluxos turísticos.
Importa, pois, conhecer os fatores reais do nosso sucesso.
Nada garante a continuidade de uma conjuntura turística europeia favorável.
Urge refletir, apurar estratégias e perspetivar medidas certas.
A Economia assim o exige.
Por Vítor Neto, empresário e gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve