Turismo – O Lugar de Portugal
Leia a opinião por Vítor Neto, Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve
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Os números oficiais mais recentes do Turismo (INE, TP, BP) continuam a ser positivos.
Dois dados apenas. As receitas externas referentes a janeiro (851 milhões de euros) refletem um crescimento de 8% em relação a 2018. Nos aeroportos, os valores acumulados a fevereiro apresentam uma evolução positiva de passageiros em relação a 2018, a nível nacional (+5,9%) e nos principais destinos: Faro +19%, Porto +9,6%, Lisboa +2,7%, Madeira +4,2%, Açores +16,5%. Faro, o principal destino dos turistas britânicos, apresenta uma recuperação de passageiros do Reino Unido em relação a 2018 (+16,5%).
As ilações que devemos tirar destes sinais é que, mesmo tendo consciência dos obstáculos, incertezas e desafios que temos à frente, temos condições para enfrentar dificuldades e para consolidar os crescimentos alcançados nos últimos anos.
No turismo, como noutras atividades, existem sempre duas atitudes possíveis.
Uma é o «navegar à vista», cavalgando o dia a dia, empurrando para a frente, sem estratégia, na esperança do sucesso, depois logo se vê. Usa-se muito também na política.
Portugal conhece bem as consequências desta atitude: ao primeiro obstáculo, perante um quadro desfavorável, entram em crise e até colapsam. Os culpados são sempre «os outros».
A outra atitude possível é de inteligência, responsabilidade e coragem, enfrentando com determinação os desafios que possam surgir, confiando na força e nas potencialidades da base de partida existente.
É a atitude que se exige para o caso do Turismo hoje.
Mas temos de ter bom senso. Não basta cavalgar a onda dos bons números. É necessário entender e explicar a sua origem, o seu significado e o quadro em que vivemos.
Portugal: um todo e várias regiões
Todos os destinos turísticos são únicos.
Portugal, do ponto de vista turístico, até pela sua dimensão territorial, é um todo e deve continuar a sê-lo. É aí que reside a sua grande força de fundo.
Mas Portugal é composto por várias regiões diferentes entre si e ricas em produtos e oferta turística e essa é uma das suas maiores forças. Regiões que, acolhem milhões de turistas e visitantes nacionais, milhões de turistas e visitantes estrangeiros.
Seria um erro considerar este universo como uma massa informe e indiferenciada, em que o «turista» tanto pode ir a uma como a outra, sem uma motivação específica. Seria um erro pensar assim, pois não é isso que acontece.
Os turistas são todos diferentes
Os turistas não se movem ao acaso, nem vão para qualquer lado.
Não se pode, por exemplo, falar de turistas brasileiros em Portugal esquecendo que, dos 2,2 milhões de dormidas (no alojamento classificado) que se registaram em 2018 no nosso país, 55% (1,2 milhões) foram em Lisboa, 23 % (0,5 milhões) no Porto e apenas 7% (146 mil) no Algarve. Assim como não se pode falar de turistas britânicos em Portugal ignorando que, dos 8,6 milhões de dormidas, 64% (5,5 milhões) foram no Algarve, 22% (1,8 milhões) na Madeira, 9% (800 mil) em Lisboa e apenas 3% (273 mil) no Porto.
Outros exemplos nacionais e internacionais podem ser dados. Todos confirmam que os turistas «não andam por aí», que os turistas, em cada momento da sua vida, sabem o que querem e dirigem-se para onde querem. Dentro do seu país, para os países do seu continente, para os vários continentes.
Os «outros». E os outros problemas
Sim «os outros», isto é, os nossos concorrentes.
Quem são de facto, que fazem? Porque se fala tão pouco deles? Concorrentes de Portugal no seu todo, mas também concorrentes específicos de Lisboa e Porto, destinos urbanos, com estadas médias à volta de dois dias. Ou do Algarve e Madeira, destinos de «férias e lazer», com estadas médias de cinco/seis dias. Temos concorrentes fortes na Europa, que se preparam para as batalhas futuras de disputa dos mesmos mercados europeus, onde Portugal tem 85% dos seus clientes. Concorrência só pelo preço? Os turistas não comparam produtos e ofertas?
Como estamos a refletir sobre o perfil, formas de atuação das novas gerações de turistas, protagonistas do mundo digital? Como estamos a preparar-nos para as consequências das alterações climáticas nas deslocações dos turistas e nas opções de destinos e ofertas? Que impacto comportamental terão as novas tendências de envelhecimento e das estruturas etárias do novo mundo de trabalho da era digital e das novas tecnologias de substituição do trabalho humano?
É evidente que se fala de tudo isto. Mas não basta falar.
É necessário que ganhemos consciência das consequências das alterações comportamentais e tecnológicas desta e das próximas décadas.
As grandes empresas, os grandes grupos internacionais fazem-no. Mas que se está a fazer no universo da economia, e do emprego, nos países da nossa dimensão?
Estamos a caminhar para um mundo em que os turistas não só irão continuar a ser todos diferentes, como serão diferentes do que são hoje, com novos perfis, novos comportamentos.
Portugal, consciente da dimensão e da especificidade e riqueza dos seus recursos, e do peso dos seus concorrentes diretos, tem de saber construir o seu lugar neste novo universo.
*Por Vítor Neto, Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve