BREXIT Turismo em foco
Leia a opinião por Vítor Neto, Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.
Publituris
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Fala-se muito sobre o Brexit votado em 2016 pelos cidadãos do Reino Unido, especula-se sobre a eventualidade de outro referendo, mas de facto grande parte da opinião pública não tem plena consciência de que estamos perante um processo dificilmente reversível, com resultados negativos já à vista e de evolução de alto risco. Os portugueses devem perceber o que se está a passar e preparar-se para um novo quadro. Observadores de diferentes países consideram que o que está em causa não é a suspensão, o adiamento ou a anulação do Brexit, mas se o acordo que pode vir a ser feito é razoável para ambas as partes, ou se é um Brexit fraco ou duro, ou se vai mesmo para uma rutura pura e simples.
Todos os estudos apontam para que o país que vai pagar o maior preço neste processo é o próprio Reino Unido. Prevê-se uma quebra do PIB até 2020 no mínimo entre -1,3 % e -5,5%, podendo atingir -10% em 2030. Só que esta quebra tem consequências, no Reino Unido e não só, provocando uma quebra de consumo e a inevitável quebra de produção, de importações e emprego. Quebra nas viagens de Turismo. Menos investimento no exterior. Diminuição das remessas de emigrantes.
Portugal, tendo no Reino Unido um dos seus principais parceiros económicos, faz parte deste quadro. Tem de se preparar para as consequências.
Relações económicas Portugal/Reino Unido
O Reino Unido é o 4º maior mercado das exportações portuguesas de Bens e Serviços (e o 1º só de Serviços) – com 8.100 Milhões de € – depois da Espanha, França e Alemanha. Com um aspeto relevante: o Saldo da Balança Comercial de Bens e Serviços é favorável a Portugal (+ 4.700 Milhões €). Das exportações portuguesas para o Reino Unido, 44% (3.650 Milhões €) correspondem a Bens e 55% a Serviços (4.500 M.€), onde se inclui o Turismo. Dados de 2017. O Turismo é o principal setor exportador de Portugal para o Reino Unido: 2.600 Milhões €, que correspondem a 32,2% do total das exportações de Bens e Serviços e a 58% das exportações só de Serviços. Trata-se de um valor que corresponde à soma das exportações dos sete maiores setores de Bens exportados para o Reino Unido e que são muito relevantes na nossa economia: máquinas e aparelhos, veículos e outro material de transporte, metais comuns, vestuário, produtos alimentares, plásticos e borracha, químicos. Este quadro evidencia claramente que, para além da exportação de Bens, o peso do Turismo nas relações com o Reino Unido é muito importante. Vejamos alguns dados, em geral esquecidos.
Turismo Reino Unido/Portugal
O Reino Unido é uma das mais importantes potências mundiais de Turismo. Tem muito peso na relação com Portugal, o que é relevante, tendo em conta o papel das receitas geradas pelo Turismo – o nosso principal setor exportador (15 mil milhões de euros/2017) – na formação do saldo positivo da Balança de Bens e Serviços de Portugal. O Reino Unido é o 4º maior emissor mundial de turistas e de gastos em turismo (depois da China, Estados Unidos, Alemanha). O Reino Unido é o 2º maior emissor na Europa (1º Alemanha), onde realiza 75% das viagens. O Reino Unido é o 1º cliente turístico de Portugal (24% das dormidas – 9,3 milhões; 18% das receitas externas totais do Turismo – 2,6 mil milhões €). Portugal: é o 5º maior destino dos turistas britânicos na Europa (depois de Espanha, França, Irlanda, Itália). O Algarve é o principal destino dos turistas britânicos em Portugal com 66% das dormidas (6 milhões), que ocupam o 1º lugar na região (40%); seguido da Madeira com 20% (1,9 milhões); Lisboa com 8% (860 mil); Porto/Norte com 3% (270 mil). Dados expressivos. Pode Portugal subestimar as consequências no Turismo (e no conjunto da economia) resultantes de uma eventual quebra de turistas britânicos?
Pode-se menosprezar que uma diminuição forte do fluxo de turistas britânicos provocaria uma diminuição das Receitas e enfraqueceria não só a Balança de Turismo, como a Balança de pagamentos do país?
Importa estar cientes que uma quebra de gastos de turistas estrangeiros provoca uma quebra de consumo e, portanto, de produção nacional do mais variado tipo de Bens e Serviços e não apenas uma quebra nas atividades específicas ligadas ao setor turístico. Algarve e Madeira são, sem dúvida, as regiões mais expostas, são importantes todas as outras, mas seria um erro ignorar não só as consequências no conjunto da economia, como no contributo indispensável para o Saldo positivo da Balança de Bens e Serviços. Quando se fala de Brexit, são estas algumas possíveis consequências para Portugal.
Que fazer?
Uma das conclusões prioritárias dos estudos dos impactos do Brexit nas economias, é que não são uniformes. Variam consoante o seu peso e localização de país para país, de região para região e de produto para produto. Isto é válido para a perspetiva de evolução do Turismo, como para os setores exportadores de Bens. Os estudos já conhecidos apontam claramente para que as regiões de maior risco, pelo peso do Turismo/Serviços, são o Algarve e a Madeira, que devem ser objeto de atenções adequadas tendentes a minimizar os potenciais efeitos penalizadores. Apostando no crescimento nas outras regiões.
Uma nota: os turistas britânicos não são substituíveis. O mercado britânico é o mais importante há décadas, é estrutural. Temos de trabalhar para o defender, consolidar e crescer. Sempre sob pressão dos concorrentes do Mediterrâneo. Cada região/setor/empresa deve preparar-se para o novo quadro que já aí está. Numa atitude inteligente, serena e construtiva. Não faltam campos de ação. Nem direções de trabalho. Esclarecendo os empresários e a opinião publica sobre o que está em jogo. Reforçando as relações com os atores britânicos do Turismo, Operadores, Companhias Aéreas, com Regiões de Turismo, Associações. Adequando a oferta e a política de preços aos novos desafios. Intensificando e inovando as iniciativas de Promoção. Reforçando a ligação com as comunidades britânicas residentes. Incentivando a ação política do governo na batalha do Brexit. Pelo Turismo, pela Economia de Portugal.
*Por Vítor Neto, Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve
Artigo publicado na edição de 9 de Novembro do Publituris.