Opinião | Expo’98 – Quando o século XXI começou em Portugal
Leia o artigo de opinião de Jorge Mangorrinha, ex-coordenador de Conteúdos/Gestor Técnico da Parque Expo.

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No encerramento da Exposição Internacional de Lisboa (Expo’98), a 30 de Setembro, quem ali ficou durante a madrugada viu uma esperança ao nascer o Sol. A Expo’98 ultrapassara as expectativas e era uma promessa de futuro.
Na época, não se organizou o Campeonato do Mundo de Futebol, nem se criou um instituto pan-linguístico, como então se avaliava como desígnio do governo, mas foi criada a Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses (1989) e a Comissão de Promoção para a Exposição Mundial de Lisboa (1991), com a tarefa de tornar terrenos ribeirinhos desvalorizados numa zona de orgulho nacional, através de uma grande exposição, com localização, conteúdos, financiamento e estratégia de promoção nacional e internacional perfeitamente assumidos pelo governo português e pelo Bureau International des Expositions. Edificou-se uma gare intermodal, melhoraram-se os transportes e as vias de acesso (rodoviárias e ferroviárias) à zona Oriental de Lisboa, com a imprescindível linha de Metro, e terminaram-se estradas em direcção à capital. Os técnicos, os artistas e as empresas nacionais foram convocados e deixaram um legado com base numa mentalidade mais aberta à inovação e à comunicação, para nos conhecermos melhor e alargarmos o olhar sobre o mundo.
Sob o signo dos oceanos e com o “Gil” como símbolo, os 132 dias oficiais de funcionamento da Expo’98 foram destinados a todos e com marcos memoráveis: o oceano global juntou animais marinhos como que o Atlântico, o Antárctico, o Índico, o Pacífico se fundissem num só e em harmonia (Oceanário); as criaturas do outro mundo, entre o humano e o animal, desfilaram sem hora marcada (Olharapos); os mais de cem actores, bailarinos e músicos peregrinaram com onze máquinas e um imaginário de fim de milénio, estranhos, cáusticos e fascinantes (Peregrinação); navios científicos, barcos de alta competição e embarcações tradicionais estiveram lado a lado (Exibição Náutica); a fascinante arquitectura dos pavilhões temáticos, uns efémeros, outros que ficaram, reforçou a luta de que a arquitectura deve ser desenhada por arquitectos (Pavilhão de Portugal e Pavilhão do Conhecimento dos Mares, como exemplos); a viagem digital permitiu que o público definisse um voo, em tempo real, sobre Portugal continental (Pavilhão do Território); a diversidade foi patente nas mostras de 160 participações internacionais, e o grande momento de multimédia trouxe-nos uma nova consciência ecológica, através da alta tecnologia e da performance, cruzando imagens fortes, composições sonoras e efeitos de pirotecnia (Aqua Matrix). E ainda, pela noite fora, ouviram-se o fado, o jazz, os ritmos africanos e latinos e os espectáculos na Praça Sony e noutros palcos espalhados pelo recinto.
Há 20 anos, Lisboa foi o centro do mundo, um lugar de encontro dos povos, e engalanou-se para lá da zona expositiva. Edifícios antigos lavaram a cara, sedes de empresas ostentaram pendões, o azul dos oceanos voltou à Estação de Santa Apolónia.
Quem olha para o actual Parque das Nações, núcleo urbano em que se transformou o recinto, e se lembra (como eu enquanto quadro da empresa Parque Expo) do que existia antes e durante o evento, pensará que valeu a pena. Em vez do desejado “custo zero” foram 74 milhões de contos de défice para uma despesa de 368 milhões, mas estávamos em plena euforia das obras públicas e a Expo’98 apresentava um conteúdo cultural absolutamente extraordinário e com um potencial para contagiar o futuro. Os benefícios foram e são imensuráveis, desde o contributo para se acabar com a imagem mesquinha de que aquilo que os portugueses fazem não funciona aos efeitos urbanísticos e socio-urbanos de valorização do espaço público noutras geografias. Os impactos positivos da Expo’98 ainda hoje nos chegam e configuram-na como um importante investimento, para um país que aí se fez nascer para o século XXI.
Esta festa de um tempo antes do tempo não foi uma reforma estrutural, mas a génese de uma mudança de atitudes. Um exemplo de qualidade em relação a um país desfigurado pela voragem feiamente construtiva das duas décadas anteriores. Uma obra que não foi de esquerda, nem de direita (foi de ambas), mas de regime em contexto comunitário europeu. Uma obra nascida da cidadania e por esta defendida quando o governo, contraditoriamente, quis colocar na zona de exposição os pilares da nova Ponte Vasco da Gama. Fez-se a ponte, a umas centenas de metros a norte, e também a exposição, no local previsto, planeada com visão e concretizada com competência técnica e até com uma dose de “improviso português” que é, também, uma prova de talento.
A Expo’98 celebrou os Descobrimentos e ambos foram uma aventura dos portugueses – o povo da utopia – e tiveram patrocínio político. Marcaram, respectivamente, o início e o fim do nosso território transcontinental, onde lançámos sementes, e não o soubemos gerir, convenientemente. Resta-nos, agora, tirar partido das virtudes da rede lusófona e do posicionamento estratégico de Portugal na economia do mar, bem como saber construir, incessantemente, o inesperado e a surpresa, na oferta turística do nosso território. E, desejavelmente – digo eu –, promover o Português como idioma, não nos rendendo, de todo, à expressão anglófona, tanto nas trocas de bens como na comunicação global. Só assim se cumprirá o testemunho universalista, que é a marca da identidade portuguesa e também uma distinção, ou seja, o que deve ser essencial no nosso Turismo.
Opinião de Jorge Mangorrinha, ex-coordenador de Conteúdos/Gestor Técnico da Parque Expo