“Portugal é um País perfeito para apostar no Turismo Literário”
Este segmento conta com um vasto potencial e é apreciado essencialmente pelos turistas do Norte da Europa, que procuram conhecer os locais associados à vida e obra dos seus autores favoritos. E Portugal tem condições ímpares para apostar neste tipo de oferta.

Inês de Matos
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Eça de Queiroz, Fernando Pessoa ou José Saramago são alguns dos mais reconhecidos autores portugueses, cujo legado pode e deve ser colocado ao serviço do Turismo, naquilo a que se chama de Turismo Literário. Este segmento conta com um vasto potencial e é apreciado essencialmente pelos turistas do Norte da Europa, que procuram conhecer os locais associados à vida e obra dos seus autores favoritos. E Portugal tem condições ímpares para apostar neste tipo de oferta.
*Biblioteca Bernardo Soares, Lisboa Pessoa Hotel
Quando pensamos em Turismo e em viagens, raramente lhes associamos a literatura, mas a verdade é que há quem junte o útil ao agradável e realize viagens para conhecer os locais citados nas obras ou que fizeram parte da vida dos seus autores favoritos, tema que deu mote a uma conversa com a professora Elena de Prada, vice-directora para Assuntos Internacionais da Faculdade de Gestão Empresarial e Turismo da Universidade de Vigo, que esteve em Portugal a convite da Universidade Europeia, no âmbito do programa Erasmus, para falar sobre as potencialidades deste tipo de Turismo (ver caixa). Para início de conversa, começámos por perguntar a Elena de Prada o que é isto do Turismo Literário e a resposta surpreendeu pela simplicidade do conceito. “Há muitas definições porque também há muitos estudiosos que cada vez mais tratam este tema, mas essencialmente é o Turismo relacionado com a obra, a vida e os lugares mencionados nas obras dos autores. Todo este conjunto e a disposição para visitar estes lugares, é o que se chama de Turismo Literário”, explicou a especialista, resumindo que “o objectivo é conhecer mais de perto o autor e a sua obra”. O Turismo Literário terá nascido em Inglaterra, mas expandiu-se para toda a Europa e mundo. Hoje, são “os países da Europa do Norte que têm uma tradição muito forte em Turismo Literário”, com Elena de Prada a explicar que “os turistas destes países estão mais acostumados a viajar por uma motivação específica, devido a um significado especial e, por isso, procuram alternativas diferentes ao Turismo mais tradicional”. O turista literário é, por norma, “uma pessoa com um nível de educação mais elevado, que tem uma motivação de visita mais intelectual e que procura a autenticidade”, refere a especialista, considerando que Portugal tem todas as condições para apostar no Turismo Literário. “Portugal é um país perfeito para apostar no Turismo Literário, porque sempre conservou muito o seu património e o Turismo Literário segue as vidas dos autores e das suas obras, também através do tempo. Em Portugal, ainda se encontram muitos dos lugares mencionados nas obras, pelo que é muito fácil realizar rotas autênticas, onde estes turistas podem, não só viajar pelas obras literárias, mas também no tempo”, sublinha.
De Eça a Saramago
Elena de Prada não tem dúvidas quanto ao potencial de Portugal para o Turismo Literário e, logo à cabeça, vêm-lhe alguns autores portugueses capazes de atrair os turistas estrangeiros. Eça de Queiroz e as suas histórias passadas entre Lisboa e Sintra, Fernando Pessoa, que a especialista diz ser “a alma de Lisboa”, e José Saramago, o único português distinguido com o prémio Nobel da Literatura, são alguns dos autores portugueses que se tornaram conhecidos internacionalmente e que interessam aos turistas estrangeiros. Mas, mais do que ter autores consagrados, para este tipo de Turismo é fundamental que os locais mencionados nas obras ou que tiveram destaque nas vidas dos autores tenham sido preservados e possam ser visitados. Elena de Prada diz que “Portugal conserva praticamente todos esses lugares” e dá o exemplo de uma rota que a própria tentou criar entre a Corunha, em Espanha, e Portugal, ligando dois importantes autores do naturalismo, a espanhola Emília Pardo Bazán e o português Eça de Queiroz. No entanto, em Espanha, “já quase não se encontrava nada dos lugares mencionados nessas obras, felizmente, a casa da autora foi conservada, mas era praticamente o único vestígio”, disse a especialista ao Publituris, referindo que, em Portugal, pelo contrário, esses lugares continuam a existir, ainda que tenham sofrido mudanças. “Estes são recursos muito importantes e que podem ser aproveitados turisticamente”, diz Elena de Prada, defendendo que o Turismo Literário tem também impacto noutras áreas de negócio, nomeadamente na hotelaria, restauração e comércio. “O interessante do Turismo Literário é que é um recurso latente, que está ao nosso redor e que, simplesmente, com a intensão, conhecimento e imaginação, pode ser praticado. Os recursos já cá estão, são parte do património e este tipo de Turismo toca também noutras áreas de negócio directas, como a restauração, como é o caso da Brasileira ou o Martinho da Arcada, que têm uma forte ligação a Fernando Pessoa, ou indirectas, como é o caso das livrarias”, refere Elena de Prada.
Potencial
O potencial do Turismo Literário é inegável e Elena de Prada considera que Portugal tem tudo para apostar neste tipo de Turismo, que não está ainda muito desenvolvido na Europa, à excepção de Inglaterra. “Não vejo que o Turismo Literário se possa massificar, apesar de isso acontecer em alguns locais, nomeadamente na casa de Shakespeare, em Inglaterra, mas no resto da Europa há muito pouca tradição de Turismo Literário e, por isso, está tudo por fazer”, afirma, considerando que “o Turismo Literário é um campo em aberto, cujo potencial é ainda desconhecido”. Apesar disso, Elena de Prada defende que “é necessário que as novas gerações que se estão a formar em Turismo saibam o valor do Turismo Literário” e, para isso, é necessário sensibilizar os alunos para o potencial deste tipo de Turismo, algo que a especialista aproveitou para fazer nesta visita a Portugal, apesar de não ser fácil, “porque as gerações actuais não lêem. Isso acontece em todo o lado, em Espanha temos o mesmo problema e, agora que estou aqui em Portugal, já percebi que também acontece isso”, admite. Além dos futuros técnicos de Turismo, também a autoridades turísticas nacionais devem estar sensibilizadas para a importância do Turismo Literário, desde logo para que seja possível “dar visibilidade a estes recursos”, mas também para que existam ajudas aos empresários que pretendam apostar neste segmento. “Apesar dos recursos já existirem, também é necessário ter alguma ajuda de especialistas em literatura e de outras áreas, para montar uma rota interessante. É uma área um pouco multidisciplinar e, por isso, é importante que existam ajudas para que se possa investigar e construir rotas interessantes e atractivas”, acrescentou. Elena de Prada considera que o Turismo Literário pode seguir o exemplo da gastronomia e vinhos, produto que tem vindo a ser estruturado com sucesso através de rotas turísticas. “Como nas rotas dos vinhos, é possível criar rotas literárias, em que as pessoas vão parando e podem tomar um café num local que era frequentado por um autor o que era mencionado na sua obra, depois fazer uma refeição num restaurante que também estava ligado a um autor e por aí adiante, porque o Turismo Literário segue o autor e a sua obra”, explicou, considerando que, desta forma, é também possível aumentar a estada média dos turistas. “Em Lisboa, por exemplo, os turistas pernoitam dois ou três dias e, neste período, visitam os principais monumentos e zonas da cidade, ficam com uma ideia do essencial que a cidade tem para oferecer. Mas, é importante conhecer também a alma da cidade e, para isso, é importante fazer uma rota cultural e há muitas pessoas interessadas na literatura, como parte dessa rota cultural”, concluiu.