Passou a ser importante? Tem de sê-lo!
Leia a opinião por Vítor Neto, Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.
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Não dá para acreditar. Sobre Turismo ouvimos de tudo ao longo de anos. Notam-se no entanto sinais novos, ainda que ténues, nalgumas opiniões. É importante assinalá-lo. Mas será que é mesmo a sério?
Deixando de lado os detratores habituais, podemos esquematicamente sistematizar as principais correntes de opinião sobre Turismo em dois ou três grandes grupos, que se repetem regularmente em artigos, comentários, seminários e conferências, e mesmo no palco da política.
Em primeiro lugar, temos os que acham que o Turismo é uma atividade menor, com pouco valor, de mão-de-obra pouco qualificada e barata, sem consistência económica e associada sobretudo a países pouco desenvolvidos. Já a ouvi caraterizar como «arrumar quartos» e «servir à mesa». Como um «turismo de baixa qualidade», uma pressão massificada de uma multidão que vem invadir e destruir «o que é nosso».
Numa segunda área de opinião, temos os que consideram que sim, o Turismo tem algum interesse económico, pois gera receitas, mas não tem consistência estrutural, é incerto, está muito dependente de fatores externos (guerras, terrorismo, crises…), é uma atividade «pouco produtiva», é uma espécie de «bênção divina» que de vez em quando nos ilumina, que usamos quando dá jeito, como um «balão de oxigénio», dizendo «ainda bem que o Turismo este ano…». Não o consideram como uma verdadeira atividade económica. Para eles no fundo a verdadeira economia é a que está ligada à indústria, à produção e exportação de Bens. E mesmo quando falam de «exportações» estão a pensar só em Bens e não também em Serviços e muito menos em Turismo. E quando referem que as «exportações» representam mais de 40 do PIB «esquecem-se» de referir que isso só é possível com o Turismo, que é só o principal setor exportador. Mas para este setor de opinião pelo menos é melhor que não se mate «a galinha dos ovos de ouro», que não se estrague o «nosso petróleo». Dá sempre jeito ao governo do momento.
Entretanto importa assinalar que começa a surgir uma terceira linha de opiniões. Não é ainda clara. Nem se sabe se é convicta. Até porque vem muitas vezes acompanhada dos preconceitos atrás referidos, tal como referir o recente crescimento do Turismo como uma «bolha», no fundo uma «ilusão temporária». Acrescentando alguns que, já que o turismo «está a crescer», pois que seja com turistas de «qualidade», isto é, ricos, gastadores. Mas mantêm as dúvidas, não faltando os que já alertam para os «perigos» deste crescimento, e referem até o «novo betão», como se o betão não estivesse ligado a outros setores, que muitas vezes procuram servir-se oportunisticamente do turismo, o que é facilmente detetável e tem a ver com políticas públicas e aventuras bancárias, como se viu no passado. Ou para os fenómenos de turismofobia em grandes centros urbanos que têm origem na falta de ordenamento estratégico do Turismo, numa conivência visível entre interesses indisfarçáveis e oportunismo político. Nada disto tem a ver com o Turismo. Tem a ver com políticas erradas.
Causas da mudança de tom
Estão bem à vista. A realidade do país impôs-se. A Economia do país cresceu, e esse crescimento – todas as entidades o confirmam – deveu-se em grande parte ao aumento das Exportações. E apesar dos vários contorcionismos, até de altos expoentes institucionais, os «complexados» do Turismo não conseguiram esconder uma realidade: o aumento das exportações ficou-se a dever, em grande parte, ao crescimento das receitas (externas) geradas pelo Turismo, que são exportações. Turismo que reforçou a sua posição, que já vem de trás, de principal setor exportador de Portugal (atingirá em 2017 cerca de 19% do total), e causou o aumento do peso das exportações de Serviços (onde o Turismo é o 1º setor com mais de 50%). Em 2017, mais uma vez, é graças ao Turismo que o saldo global da Balança de Bens e Serviços é positivo.
No entanto, não deixa de ser relevante que alguns importantes críticos do Turismo tenham sido obrigados a moderar o seu discurso, ainda que não seja certo que tenham alterado as suas convicções. Podemos assim estar perante um quadro mais favorável, que deve ser estimulado, para uma discussão séria e responsável sobre o papel e o peso do Turismo na Economia portuguesa. Estamos a falar de VAB, de PIB, de exportações, de empresas, de emprego. De Regiões. Os diferentes protagonistas na discussão destas matérias não podem deixar de fazer um esforço para sair dos clichés habituais e tentar conhecer melhor o Turismo, a sua verdadeira natureza e contribuir para definir o seu lugar no quadro de uma estratégia do país.
Há quem não saiba que Portugal, apesar da sua dimensão territorial, ocupa já há vários anos uma posição reconhecida e valorizada no panorama do Turismo internacional. O quadro atual não caiu do céu, é o resultado de décadas de trabalho em cima de potencialidades reais, que deram vida a produtos e ofertas extraordinárias e a um prestígio internacional reconhecido. Como é possível subestimar esta realidade? Como é possível referir-se de forma infantil ao Turismo como «galinha de ovos de ouro»? É evidente que é preciso definir com firmeza alguns pontos de referência. O Turismo não pode, nem deve, aspirar a ser o único setor económico do país. Nem conseguiria.
O país precisa de produzir mais Bens para o mercado interno e para exportar mais. Para eliminar o saldo negativo da sua balança de Bens. Não pode haver nenhuma dúvida sobre este objetivo estratégico. Não é preciso «travar» o Turismo para que isso aconteça. Portugal precisa de produzir mais. Precisa de produzir mais Bens e Serviços e, entre estes, mais Turismo. Para gerar mais riqueza, criar mais emprego, diminuir a sua dívida e melhorar as condições de vida dos portugueses. Portugal tem todo o interesse em ter uma economia diversificada. Para isso precisa de definir uma Estratégia clara que consagre esse objetivo e as medidas e os instrumentos políticos que a concretizem. Uma estratégia sustentável que evite consequências negativas, incluindo no Turismo, que pela natureza dos seus recursos corre sempre riscos.
O Turismo não precisa de ser considerado como o setor mais importante, nem de se sobrepor a nenhum outro setor e muito menos à Indústria. Precisa apenas de ser reconhecido pela importância que realmente tem na Economia. E é muita.
O interesse nacional exige que essa importância seja conhecida, discutida, respeitada e assumida.
Temos hoje melhores condições para, responsavelmente, o conseguir.
*Por Vítor Neto, Empresário e Gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve