Turiscópio| A nova Rota da Seda China-Europa interessa a Portugal
Leia o habitual Turiscópio por Humberto Ferreira.
Humberto Ferreira
3 milhões de hóspedes e 7,6 milhões de dormidas geram 644 milhões de euros de proveitos totais no turismo, em outubro
MSC Cruzeiros promove itinerários de verão de 2025 e destaca cruzeiros portugueses
TAP é a Melhor Companhia Aérea na Europa para os leitores da Global Traveler
17% dos portugueses vão viajar para o estrangeiro no Réveillon e maioria escolhe destinos na Europa
IAG participa no aumento de capital da Air Europa com 16 milhões de euros
TTS lança Certificação TTS Corporate Exclusiva para agências em Portugal
Brasil recebeu até novembro mais turistas estrangeiros do que em 2023
Aeroporto de Congonhas começa a receber obras de modernização
CP retoma Comboio Histórico do Douro a Vapor durante o Natal
TUI supera os 23 MM€ em receitas e aponta para crescimento até 10% para 2025
A China atravessa um período intenso de promoção internacional da nova Rota da Seda. O Presidente XI Jinping pretende além de incentivar a crescente procura de turistas mundiais em variadas visitas temáticas à China, visa reconstituir o crescente movimento de exportações das suas avançadas indústrias de vestuário, decoração e equipamento de casas, lojas, escolas e escritórios pela Europa, e até nas áreas da nova tecnologia aeronáutica e naval, renovando a curiosa estratégia da Rota da Seda, lançada em 1877 pelo geógrafo alemão barão Ferdinand Richhafen, cuja ideia original incluía a construção de uma linha férrea ligando a China à Europa para transportar não apenas carvão mas também outras matérias, produtos, e artigos apreciados por europeus.
Mas o barão morreu em 1905 sem o seu projecto avançar, quando se seguiram guerras mundiais e locais, que entretanto culminaram na expansão e internacionalização do rígido regime político chinês, que só abrandaria com Deng Xiaoping e sucessores entre 1978 e 2013, com a economia a crescer 9,5% ao ano. Em 1990, a China aderiu à Organização Mundial do Comércio aplicando normas internacionais nas trocas comerciais e turísticas.
Hoje está disposta a investir 900 mil milhões de dólares com a estratégia One Belt One Road, e a sigla OBOR, tendo, em Maio de 2017, o Presidente XI Jinping convidado 24 líderes europeus para lhes apresentar o seu projecto baseado em voos intercontinentais e crescentes linhas de navios porta-contentores que ligam a segunda potência mundial à Europa, América e ao mundo todo.
ITINERÁRIO INDEFINIDO – Da parte de Portugal há interesse em intervir nas negociações internacionais do lançamento da nova Rota da Seda na versão OBOR, pois os primeiros europeus a chegar à China para negociar com as autoridades chinesas foram os portugueses entre 1415 e 1543, pelo que merecemos destaque na versão contemporânea da cintura europeia da Rota de Seda, quer pela via do Oceano Índico e Canal de Suez, quer pela via Cabo da Boa Esperança, juntando à One Belt Another Route, e fazendo além disso justiça histórica à chegada de Vasco da Gama à Índia em 1498, depois de Bartolomeu Dias ter dobrado o Cabo da Boa Esperança em 1487.
Nos mapas da nova rota de seda que agora vi, a rota da seda começa em Beijing e Kazaquistão seguindo ao Irão, Turquia, Sérvia, Hungria, República Checa, Itália, Alemanha, Holanda, e Espanha (destacando Madrid que nem tem porto marítimo, enquanto Macau e Lisboa não constam ainda destes mapas, mas, sim, Lobito em Angola, na rota pela África do Sul).
A UEC – Universidade Egípcia-Chinesa tem sido o parceiro científico da China na Rota da Seda através do Canal do Suez, quando Portugal tem duas das universidades mais antigas: Lisboa e Coimbra, ambas com grande experiência e documentação das descobertas das principais rotas marítimas, apenas melhoradas com a recente expansão dos canais do Suez e Panamá. Espero que governantes, empresários de turismo, e dirigentes de organismos turísticos dos dois países debatam em Macau a nova rota da seda, chegando a uma posição comum.
EXPERIÊNCIAS – Não faltam aos empresários e gestores do Turismo dos dois países. Aliás, foram as Zonas Económicas Especiais de Macau e Hong Kong, que levaram à adopção do sistema chinês: Um país com dois sistemas. O Publituris esteve presente nos 42 congressos da APAVT, (quatro dos quais em Macau, em 1982, 90. 96, e 2008). O primeiro foi em 1973 em Lourenço Marques, antiga capital de Moçambique, hoje Maputo, onde em 2005 se renovou o primeiro encontro e ali tive o gosto de receber a medalha de prata de mérito turístico da APAVT. Entretanto as equipas directivas de Carlos Gonçalves Luís, Atílio Forte, Vítor Filipe, João Passos, e Pedro Costa Ferreira foram lançando experiências positivas de dinâmicos congressos em Moçambique, Macau, Brasil, Cuba, etc.
Este ano, o Publituris volta a marcar presença nos debates da reunião anual dos agentes e operadores turísticos de Portugal e do Oriente, já que a Ásia é um dos pólos das chegadas internacionais e a China é já um dos líderes turísticos mundiais, em termos de voos e cruzeiros internacionais, num período em que a Europa perde linhas e empresas aéreas apesar da subida de fluxos aéreos low-cost.
A China pretende estreitar relações aéreas e marítimas com Portugal, para o que conta com a adesão mundial à nova rota da seda. A ministra do Mar, Ana Paula Vitorino e 39 empresários dos ramos marítimo-portuários acabam de participar num seminário em Beijing, visando estreitar a cooperação marítima luso-chinesa.
Por outro lado, a Hainan Airlines, a maior empresa aérea privada, com base no aeroporto internacional de Haikou Meilan, foi a primeira a apostar nos voos para Lisboa em parceria com a TAP. Estão assim reunidas as condições para reforçar os laços turísticos entre os dois países, com a aproximação entre os principais operadores chineses e portugueses neste quinto Congresso da APAVT em Macau.
*Artigo publicado no Publituris de 24 de Novembro.