“Sou frenética e adoro a vida”
Ana Mendes Godinho, secretária de Estado do Turismo, foi a convidada dos Conversas à Mesa que decorreu no restaurante K.O.B. by Olivier.

Carina Monteiro
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Ana Mendes Godinho, secretária de Estado do Turismo, foi a convidada do Conversas à Mesa que decorreu no restaurante K.O.B. by Olivier.
Bastam dois dedos de conversa com Ana Mendes Godinho, actual secretária de Estado do Turismo, para perceber a personalidade frenética e extrovertida. Percorreu, em hora e meia de conversa e almoço pelo meio, os seus 44 anos de vida, bem vividos, concluo, pela forma entusiasmada que falou deles.
Lisboeta, Ana Mendes Godinho tem origens que vão desde Vila Nova de Milfontes, terra natal da mãe, passando por Torres Vedras, onde nasceu o pai, até ao Algarve, de onde era o bisavô paterno. Estudou até ao 7º ano num colégio da Opus Dei, o Mira Rio, do qual guarda boas recordações e amizades.
Apesar de reconhecer que a formação, por ser de “uma exigência muito grande”, a preparou para o futuro, confidencia que “nunca poria uma filha minha na Opus Dei”. A passagem pelo Mira Rio é um espelho do que tem sido a vida de Ana Mendes Godinho: o convívio com uma grande diversidade de pessoas. “Sinto que a riqueza da minha vida está na variedade de pessoas com quem me dou”, afirma. Foi para a escola pública no 7º ano e ainda hoje conta que, quando chamavam pelo seu nome, levantava-se imediatamente, um hábito normal no colégio, sempre que alguém chamava um nome ou quando entrava alguém na sala. “Toda a gente se ria, porque me levantava quando entrava alguém na sala”. Foi filha única até aos 10 anos, altura em que, depois de um ano a viver em Itália, a mãe engravidou. “Quando tinha dez anos, o meu pai foi fazer um curso em Itália e fomos os três. A minha mãe ficou grávida nesse período. Os meus pais, na altura, transformaram a nossa passagem por Itália numa visita permanente. Hoje só lhes posso agradecer por isso. Foi extraordinário, criar a vontade de estar sempre a conhecer coisas novas e trouxe este presente fantástico de Itália, que foi ter um irmão”, recorda.
Era a melhor aluna da turma no Mira Rio. “Sempre tive jeito para as letras e matemática”, revela. Era muito bem comportada até à adolescência, aí deu algumas dores de cabeça, principalmente à mãe. “A minha mãe dizia que era ‘uma sempre em festa’, queria dizer que eu sempre quis estar em permanente festa”. Afirma que teve muita dificuldade em decidir o curso que queria seguir. “Ainda hoje continuo a pensar o que quero ser, não é uma coisa fechada na minha vida”, confessa. Por influência da mãe, escolheu Direito e formou-se na Universidade Clássica de Lisboa. Foi na universidade que conheceu o marido, seu colega de curso. “Foram anos fantásticos. No início tive alguma dificuldade em manter-me no curso, porque não me dizia nada aquela lógica do marranço, de muitas vezes estar a decorar conceitos. Ainda hoje sei a definição de Presunção”, ironiza.
Depois de fazer o estágio de advocacia, recebeu um convite para trabalhar com Cristina Siza Vieira, na Direcção Geral do Turismo (DGT). “Foi isso que me fez mudar a agulha e ir trabalhar como consultora jurídica. Decidi arriscar. O meu estágio foi muito numa vertente jurídica-económica, talvez se tivesse tido mais tribunal, eu me tivesse viciado mais na advocacia”, revela. Depois da DGT, foi consultora jurídica no Ministério da Defesa. “Mais uma vez permitiu-me ter a experiência enriquecedora de conhecer o que é a administração pura e dura”. Consultora jurídica a recibos verdes, Ana Mendes Godinho decidiu concorrer a uma vaga na administração pública para Inspectora de Trabalho. Ao fim de cinco anos de concurso, conseguiu finalmente entrar para a Inspecção de Trabalho. “Revi-me muito na missão que estava a fazer. A Inspecção de Trabalho tem tudo a ver comigo no sentido da minha vertente um pouco esquerdalha, acredito muito neste tipo de mecanismos de mediação como uma forma de promover a melhoria das relações de trabalho entre as pessoas numa vertente pedagógica”.
Em 2005, recebeu um convite de Bernardo Trindade para o gabinete da Secretaria de Estado do Turismo. Na altura foi entrevistada por Luís Araújo, chefe de gabinete. “Criámos relações intensíssimas quer profissionais, quer pessoais. Foram períodos muito intensos, sem horários, e de uma grande dedicação e a acreditar muito no que estávamos a fazer”. Seguiu-se a administração da Turismo Capital, em 2009. “Foi uma actividade que me permitiu conhecer muito a oferta turística que estava a acontecer naquele momento e os novos projectos que existiam e estavam em ebulição”. De 2010 a 2011 foi vice-presidente do Turismo de Portugal, então presidido por Luís Patrão. Trabalhou na administração do TdP com Frederico Costa, Nuno Santos e Maria José Catarino. Dessa altura recorda marcos importantes: a simplificação radical do Regime de Classificação, a criação da figura do Alojamento Local e a “simplificação drástica” do acesso à actividade das agências de viagens.
Em 2011, o governo de Passos Coelho decidiu cessar o mandato do conselho directivo do TdP e Ana Mendes Godinho voltou para a Inspecção de Trabalho que entretanto mudara de nome para Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT). Ana Mendes Godinho não sabia que um dia voltaria ao Turismo.
Como se deu o convite para SETEm 2015, recebeu um telefonema para se encontrar com o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral. Encontraram-se num local simbólico, o PortoBay Liberdade. Ana Mendes Godinho aceitou o convite, não sem antes falar com o marido. “Uma decisão desta supõe uma disponibilidade pessoal grande e a opinião dele também vale muito para mim”. Diz-se orgulhosa de pertencer a solução de Governo. “Fazia parte daquelas pessoas que estavam muito descontentes com o que estava acontecer em termos de opções e prioridades do País. No Turismo, tinha uma visão diferente sobre o papel que o Governo deve ter nas políticas de Turismo. Aí não estava contente nem descontente, simplesmente tinha uma visão diferente”.
O que mudou com este cargo? “O que mudou foi sobretudo a minha disponibilidade para a família e para os amigos”, responde. “Sinto que o Turismo faz parte de mim, intrinsecamente. Passaram nove meses de uma intensidade brutal, mas de uma paixão brutal por aquilo que estou a fazer. Essa parte até me deixa esquecer quantos meses passaram”, revela.
Vida pessoal
Ana Mendes Godinho tem três filhos: Maria do Mar, com 17 anos, Dinis, com 14, e Manuel com 12. Estão todos na escola pública. “Quer eu, quer o meu marido andámos em colégios e foi uma opção dos dois que os nossos filhos estudassem na escola pública, porque acreditamos muito na escola pública como uma forma de promover a igualdade entre as pessoas e o acesso aos mesmos direitos a todas as pessoas”. Gerir os horários das escolas públicas é que não é fácil, mas elogia o trabalho da sua homóloga na Educação. “É muito bom poder voltar a acreditar na escola pública como uma solução para os meus filhos”. “Companheira e muito liberal”, educa os filhos de acordo com o lema: “Educar para a autonomia”. “Os miúdos têm a liberdade total e têm de aprender a gerir essa liberdade. Até agora não tem corrido mal”.
Quis ser artista
Sonhou ser artista: actriz ou cantora. Não é actriz, mas canta para a família e para os amigos. “Os meus primeiros anos de vida foram vividos em África – até aos dois anos e meio – o que me deixou uma ligação aos cheiros, à musica e à minha forma de ser extrovertida, sinto muito uma presença africana na minha forma de ser.” Além de cantar adora dançar danças de salão com o marido, aprenderam os dois a dançar. Adora ler, anda sempre com um livro atrás e, no ano passado, encontrou um novo hobby: costurar. Faz camisolas e camisas para a filha, mas não varia muito nos modelos. “Tenho um grupo em que nos encontramos para soluções de costura”.
A energia que deposita na vida profissional leva Ana Mendes Godinho a pensar, muitas vezes, se não está a exigir demais das pessoas. “Sou bastante exigente, é verdade, mas também bastante exigente comigo, ponho muito a mão na massa, gosto de perceber as coisas a fundo, a palavra porquê está sempre na minha cabeça”, confessa. Das equipas com quem trabalha “valoriza a paixão com que trabalham, acreditarem no que estão a fazer e nos laços que estabelecemos entre nós”. “Tenho um lema que aprendi no Mira Rio: fazer as coisas com calma e com alma e tudo se consegue. Sempre que estou em momentos difíceis é isso que penso”. “Sou frenética, adoro a vida, a morte da minha mãe, há dez anos, foi uma coisa que me marcou muito, mas julgo que ainda me deu energias suplementares, sinto muito a presença diária da minha mãe na minha vida. Sinto muitas vezes que vivo por duas.”
Sonha “chegar a velha e sentir-se muito realizada com a vida”. “Acho que o maior sonho que tenho é que os meus filhos sejam cidadãos responsáveis na sociedade e que tenham muita consciência social de quem os rodeia e que estejam sempre abertos aos outros”. O percurso de Ana Mendes Godinho também está marcado pela consciência social. “Tenho esta coisa quase esquizofrénica de ser de esquerda e ser uma católica assumida. Acho que muito por influência do meu percurso de vida. Tive algumas experiências que me marcaram, uma das que mais orgulho foi ter sido voluntária num movimento de apoio a crianças sem família e acabei por ser sócia fundadora de uma associação que se chama Candeia, que apoia crianças que estão em instituições, ou em centros de acolhimento, ou à espera de ser adoptados. Sobre o futuro, Ana Mendes Godinho, diz apenas que a sua vida tem sido um imprevisto permanente. “Pode acontecer tudo na minha vida. Uma característica minha é a permanente insatisfação, sinto que falta fazer tanto”.
As iniciais de Knowledge of Beef deixam antever o ingrediente protagonista deste restaurante, a carne. No nº 169 da Rua do Salitre, em Lisboa, abriu, em Dezembro de 2014, o primeiro restaurante de carnes maturadas em Portugal. Com assinatura Olivier, o KOB oferece uma verdadeira viagem às principais origens mundiais de carne matutada desde os bifes nacionais “Black Angus”, com 35 dias de maturaçã̃o, ao famoso bife da vazia “Wagyu”, proveniente do Japã̃o e considerado um dos melhores do mundo. Destaque também para a carta de vinhos que promete harmonizaçõ̃es perfeitas entre as melhores carnes e os melhores né́ctares. Para os menos apreciadores da especialidade da casa haá opçõ̃es vegetarianas e de peixe. O espaço é́ intimista, moderno e sofisticado.