Análise: Mercado interno recupera
O turista nacional está a viajar mais. Os dados mais recentes indicam isso mesmo. Seja ao nível de gastos e deslocações para o estrangeiro, seja em deslocações internas. Fomos saber de que forma o mercado interno tem evoluído nas regiões em Portugal e quais as perspectivas para o decorrer de 2016.

Raquel Relvas Neto
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O turista nacional está a viajar mais. Os dados mais recentes indicam isso mesmo. Seja ao nível de gastos e deslocações para o estrangeiro, seja em deslocações internas. Fomos saber de que forma o mercado interno tem evoluído nas regiões em Portugal e quais as perspectivas para o decorrer de 2016.
Em 2015, os residentes em Portugal efectuaram um total de mais de 19 milhões de deslocações turísticas, o que representou um aumento de 7% comparativamente com o ano anterior. Destas viagens, 90,9% correspondem às viagens domésticas, que aumentaram 5,5% no último trimestre de 2015, indica o INE. No que refere ao número de deslocações com destino ao estrangeiro, estas aumentaram apenas 3,4%. Foi também no estrangeiro que os turistas portugueses despenderam 3.612,14 milhões de euros, o que representou uma subida de 8,86% em relação a 2014, segundo os dados totais de 2015 do Banco de Portugal.
Este ano, os números também são positivos. No primeiro trimestre, os portugueses contribuíram com 2,56 milhões de dormidas para o total de 8,3 milhões de dormidas que a hotelaria nacional registou neste período. Por região, os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que foram os Açores a região que mais cresceu no mercado interno, com uma subida de 48,1%, num total de 117 mil dormidas. Porém, continua a ser Lisboa a região que mais dormidas de portugueses concentra, com 633 mil, tendo também verificado um crescimento de 6,7% no trimestre, comparativamente com o período homólogo. Segue-se a região Norte, que concentrou 621 mil dormidas e verificou um aumento de 15,2%, e o Centro com 518 mil dormidas e um aumento de 7,4%. Por fim, o Algarve concentrou 374 mil dormidas de residentes nos primeiros três meses do ano, o que representou um aumento de 19,8%; no Alentejo, os turistas nacionais despenderam 170 mil dormidas, um aumento de 16,7%. Por sua vez, na Madeira, os portugueses contribuíram com 124 mil dormidas, uma subida de 25,6%, de Janeiro a Março. Tendo sido a região que mais cresceu no primeiro trimestre de 2016 em número de dormidas do mercado interno, o seu principal mercado emissor, os Açores registaram já em 2015 “o melhor ano de sempre em dormidas na região”, indica Vítor Fraga, secretário regional de Turismo e Transportes dos Açores. Para o responsável, este aumento deveu-se à entrada do novo modelo de acessibilidades, “onde se inclui a alteração das Obrigações de Serviço Público do transporte aéreo, medida em que o Governo dos Açores empenhou-se de forma árdua nos últimos anos e que permitiu a entrada das campanhas ditas ‘low cost’ nos Açores”. Com os resultados do primeiro trimestre conhecidos, Vítor Fraga indica que as perspectivas para o resto do ano são “de muito trabalho pela frente, para consolidar o Destino Açores e fazer com que aqueles que nos visitam, tenham vontade de regressar e incutam nos seus amigos e conhecidos a curiosidade de vir aos Açores”. Para Vítor Costa, presidente da Entidade Regional de Turismo – Região de Lisboa, 2015 foi também “um excelente ano turístico do ponto de vista do turismo interno”, tendo a região uma quota de 21% do total de dormidas internas nacional, “sendo assim a segunda maior região do País com mais dormidas de residentes no ano passado, logo a seguir ao Algarve. Com os recentes dados do INE, o responsável revela que a entidade está optimista de que este “será um bom ano turístico”.
No Algarve, as perspectivas são bastantes positivas. Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve, realça: “Estou convencido de que este ano a tendência é para recuperar os números de há dois anos e até reforçar claramente a procura em 2016 e 2017”. Para já, os três primeiros meses do ano registaram um aumento de quase 20% nas dormidas dos residentes no destino. Com crescimentos a dois dígitos na maior parte dos indicadores, a Região Centro perspectiva que a tendência do ano de 2016 seja de crescimento, particularmente, e de forma mais evidente, nos meses de Verão, assim como no Natal e Passagem de Ano. Também o Alentejo e o Ribatejo continuam a subir “de forma consolidada e sustentada em relação ao mercado comercial naquilo que diz respeito à procura”, indica António Ceia da Silva. O presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo realça que esta tendência resulta de um trabalho que tem sido realizado na “colocação do destino em patamares de exigência de qualidade e de excelência”. Ceia da Silva refere ainda que não são apenas as dormidas que têm subido na região, mas também os proveitos. “O Alentejo teve um investimento nos últimos seis anos na ordem dos 500 milhões de euros, com um conjunto de novas unidades, de excelência e que trabalham muito bem, que estão a criar a estruturar produto turístico, que estão a trabalhar a operação turística e isso acaba por nos dar os resultados que temos vindo a verificar”. As expectativas para o decorrer do ano “são extremamente positivas”, indica, embora “temos que ter a noção que o Alentejo tem vindo a bater os recordes nos últimos anos, há-de haver um ano em que iremos bater no tecto”, pois “o mercado interno é um mercado pequeno e que tem as suas limitações”.
Já a Madeira começou 2015 com decréscimos significativos nos primeiros nove meses, que acabaram por se inverterem e permitirem que o destino terminasse o ano com apenas 1% de queda nos hóspedes nacionais. Roberto Santa Clara, director-executivo da Associação de Promoção da Madeira, explica que desde Setembro que foi iniciado “um conjunto de acções no mercado, que tiveram início com o ‘mega buzz’ do RFM Madeira Experience, onde os nossos famosos carros de cesto, em pleno Chiado, conseguiram juntar cerca de 100 mil pessoas a experienciar Madeira, que visaram um acompanhamento muito próximo aos principais operadores do mercado português e, simultaneamente, reavivar a notoriedade do nosso destino”. Para este ano, as perspectivas melhoraram, tendo em conta também os resultados divulgados pelo INE que apontam para crescimentos do mercado nacional no destino a dois dígitos. O responsável indica que se está a verificar uma “crescente procura por parte deste mercado quer devido aos grandes eventos que o destino oferece ao longo de todo o ano, quer para o período das férias de Verão e até mesmo para o ‘off peak’ de Outubro/ Novembro”. Porto Santo é o destino da região que está a consolidar a sua posição, particularmente “como destino de proximidade assente numa excelente praia e um complemento de actividades para as famílias e também para os mais jovens”. Neste sentido, “perspectivamos, tal como nos tínhamos proposto, inverter a tendência de decréscimo deste mercado que é para nós estratégico, e passar a apresentar uma performance positiva. Paralelamente, a nova operação da easyJet a partir do Porto e o reforço das ligações de várias companhias desde Lisboa perspectivam uma tendência positiva”.
PRODUTOS
Questionámos os responsáveis relativamente às preferências do turista nacional. Apesar de não existirem dados concretos das suas preferências, há uma noção do que os motiva a visitar os destinos. Desidério Silva considera que o mercado nacional está a procurar produtos alternativos ao tradicional Sol & Praia. “O turismo de Natureza está a dar sinais muito positivos e uma resposta muito forte em relação aquilo que há três ou quatro anos evoluiu muito”, indica, completando que os portugueses não vão tantos dias ao Algarve, mas mais vezes ao longo do ano, o que acaba por se revelar “um bom sinal” para a região.
Por sua vez, Vítor Costa, indica que “de acordo com as últimas análises motivacionais efectuadas, o ‘city & short breaks’, a visita a familiares e amigos e o MI são os principais objectivos da visita dos turistas nacionais à Região de Lisboa”. Quanto ao arquipélago da Madeira, o director-executivo da Associação de Promoção da Madeira considera que as ilhas da Madeira e do Porto Santo apresentam “ofertas diferentes, mas complementares”. Enquanto este último é procurado por famílias que “desejam uma praia paradisíaca com propriedades terapêuticas e considerada a melhor praia da Europa”, a Madeira oferece um contacto directo com a Natureza, com o mar e o ‘lifestyle’, onde se encontram “micro produtos mais valorizados”. “Naturalmente, que em complemento com o anfiteatro natural onde se situa o Funchal , que através do seu cosmopolitismo, oferece diversos ‘must visit’ como o Mercado dos Lavradores, os seus museus, jardins, os famosos carros de cestos, entre muitos outros pontos de interesse”, acrescenta.
Nos Açores, a apetência dos turistas portugueses recai sobre o ‘touring’ cultural e paisagístico, com enfoque também na gastronomia”. Contudo, Vítor Fraga acrescenta que, “podemos constatar, cada vez mais, uma apetência, principalmente junto dos millennials por outro tipo de produtos, nomeadamente na vasta oferta que a região apresenta no Turismo Activo, tanto da natureza como de mar, como são os casos do pedestrianismo ou do canyoning ou ainda no turismo náutico, no mergulho, no surf e na observação de cetáceos”.
CAMPANHAS
Cada região tenta agora captar a sua quota do mercado nacional. Para tal, várias campanhas já estão na rua e algumas vão ainda ser lançadas. A Madeira apostou forte no mercado nacional nestes últimos meses. A campanha “Descubra a Madeira”, que transmite o testemunho das experiências de personalidades conhecidas do público português, promoveu os três eixos do destino – natureza, mar e lifestyle. Este mês está a decorrer a campanha do Porto Santo, que “através de testemunhos reais apena adias de pleno descanso complementados por aventura”, explica Roberto Santa Clara. Para o último quadrimestre, “deveremos lançar a segunda parte da campanha, que esperamos poder vir a anunciá-lo publicamente ainda antes de Verão e que estamos certos voltará a colocar a Madeira no ‘top of mind’ dos consumidores”.
Quanto a Lisboa, o presidente da ERT indica que as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto são os principais mercados-alvo. “Atendendo ao período do ano, ao ritmo próprio das várias motivações e ao calendário dos principais eventos, apoiamos, promovemos e sugerimos viagens e destinos específicos na Região. Os turistas residentes nas duas áreas metropolitanas têm respondido positivamente e de forma crescente às novas ofertas e aos novos produtos da Região de Lisboa”, esclarece Vítor Costa. Até ao final do ano, o Centro de Portugal vai, segundo Pedro machado, presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal, “reforçar a aposta no on-line”, bem como dinamizar a “realização de várias campanhas de activação de marca e de promoção dos principais produtos turísticos”.
Ceia da Silva indica que o actual turista do Alentejo e Ribatejo é “cada vez mais exigente”, sendo para este que a entidade está actualmente a trabalhar. Este ano, a região lançou uma nova campanha promocional – “Desligue” – que “vai ser reforçada no período antes do Verão e no final do ano”. Pois, para o responsável, “nada melhor para desligar do que visitar o Alentejo e o Ribatejo”. Já os Açores vão continuar a apostar no digital, mas também nas parcerias estratégicas com operadores, “com os seus planos de marketing próprios e, principalmente, na captação e apoio constante a press trips, tanto especializadas como generalistas, meio privilegiado para a manutenção do Destino no ‘top of mind’ do consumidor nacional”.