Work-to-Rule in Tourism?
A demissão silenciosa, assim se chama, não é mais do que os colaboradores, dentro da hora do seu trabalho não fazerem mais, nem menos, do que têm como obrigação, ou seja, fazer exatamente o que o trabalho exige.

Amaro F. Correia
Docente Atlântico Business School. Doutorado em Ciências da Informação (Sistemas, Tecnologias)
“Diz-me e esquecerei, Mostra-me e talvez lembre, Envolve-me e compreenderei.” Benjamin Franklin. Quiet Quitting!
Não, não é trabalhar menos, mas é cumprir escrupulosamente o que o contrato determina e surge, como reação, à precariedade laboral e é um novo posicionamento para dar “dores de cabeça” aos empregadores. Não acredito que na atividade (turismo) o caminho seja este, até porque nem tempo temos para baixar os braços. Hoje, caminho no movimento silencioso, que não é novo, mas que em determinados setores (turismo) é difícil de “pegar”, pelo menos aparentemente. O Quiet Quitting, será tudo…menos um movimento silencioso. Agita a vida e a alma de todos. Está por aqui, pelo menos, desde 2009 e veio para ficar.
Coincidência ou não com a Mundialização este acréscimo de conceitos e teorias nos deixam cada vez mais baralhados e de cabeça atordoada. Mark Boldger lançou o conceito num simpósio da Texas A&M, rotulando a importância, cada vez maior, da falta de ambição nas organizações. Muitos dos presentes, refletindo, começaram a aplicar e a pensar, dentro das organizações, de forma a tipificar alguns comportamentos dos seus colaboradores, para rentabilizá-los.
A demissão silenciosa, assim se chama, não é mais do que os colaboradores, dentro da hora do seu trabalho não fazerem mais, nem menos, do que têm como obrigação, ou seja, fazer exatamente o que o trabalho exige. Vários são os registos cinematográficos que nos fazem recuar, a anos anteriores, onde a demissão silenciosa até faria parte da cultura popular e do seu local de trabalho.
Na China, o ano passado, chamaram-lhe Tang Ping (deitado no horizontal), mas já recentemente o TIK Tok “fez as delícias de muitos” através de vídeos virais, marcando nos EUA metade da força de trabalho, como Quiet Quitting. O problema, é que este termo tem vários significados, o que baralha ainda mais e o curioso, é que, embora os colaboradores individuais possam pensar em termos de “trabalhadores enquadrados, estabelecendo limites razoáveis” os seus empregadores podem analisar, sempre, como de, “preguiçosos que estão voluntariamente com desempenho inferior”.
O outro lado da questão, é a diferença entre o “desistir tranquilo” do “trabalho-a-regra”, defendendo que o objetivo principal do abandono silencioso não é perturbar o local de trabalho, mas sim, evitar o desgaste ocupacional e prestar atenção à saúde mental e ao bem-estar dos colaboradores.
Refletir sobre este tema, dentro da Academia, obriga a um caminho, na área do RH, onde existem atividades que não têm sequer hipótese de, silenciosamente, transformar a cultura de trabalho de forma ineficaz. Pode até virar tendência e/ou modismo, mas no Turismo será difícil qualquer colaborador ter a veleidade de agir de forma silenciosa, pelo facto de não ter tempo, nem possibilidade de se… demitir em silêncio.
Neste século, durante a recessão, o excesso de trabalho tornou-se popular entre as gerações Z, pois sentiam que precisavam de trabalhar muito e “produzir”, para alcançar o sucesso num clima económico difícil. Recordo as expressões, mais ou menos fugazes, mas que nos obrigaram a analisar, como “workaholic” (redes sociais) que de certa forma romantizou o excesso de trabalho e o desgaste provocado pelo mesmo. Burnout, outra das abordagens, usadas neste século.
Refletir não só o Modismo, mas no que representou este exagerado simbolismo de “obrigar” as pessoas a interiorizarem o trabalho de forma desregulada e caótica, afetando as gerações seguintes. Não se trata de aferir quem esta certo ou errado, trata-se, porém, de transformar o problema de uns e a convicção de outros tantos, numa oportunidade positiva para todos.
Refletir este conceito pode significar uma oportunidade para as organizações se reinventarem, mas acima de tudo, analisarem as oportunidades de forma a criarem ambientes de trabalho saudáveis, seguros, tranquilos, envolvidos, inspirados, criativos e motivadores.
Com um 2023 diferente – espero mais produtivo – algumas dicas para cocriar nas organizações de forma a manterem os vossos RH: tornem o trabalho emocionante/diferenciado; forneçam os recursos que necessitam; reduzam a carga de trabalho; reflitam sobre o on-line e os poderes envolvidos; envolvam; usem mensagens assertivas; repensem os objetivos que definiram.
