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Opinião

Dia Mundial do Turismo – (Re)pensar o Turismo como parte da solução e não do problema!

O tema proposto para este dia é pertinente, inspirador e desafiante, mas é obrigatório que não fique apenas no plano da discussão e das boas intenções, pois é preciso agir com urgência.

Opinião

Dia Mundial do Turismo – (Re)pensar o Turismo como parte da solução e não do problema!

O tema proposto para este dia é pertinente, inspirador e desafiante, mas é obrigatório que não fique apenas no plano da discussão e das boas intenções, pois é preciso agir com urgência.

Jaime Serra
Sobre o autor
Jaime Serra

Hoje, 27 de setembro, celebra-se o Dia Mundial do Turismo, o qual é comemorado desde 1980 por iniciativa da UNWTO (United Nations World Tourism Organisation). A UNWTO coloca como tema de discussão global “Rethink Tourism” (Repensar o Turismo), justificando o mesmo sob a urgente necessidade de repensar o desenvolvimento do turismo, nomeadamente nos impactos globais que este exerce sobre as dimensões social, ambiental e económica. Em maio de 2022 observou-se, pela primeira vez, um debate na Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o papel especial que o turismo tem no mundo global, na qual foi reconhecida a sua relevância histórica. O turismo está agora na agenda política dos governos e de organizações internacionais em todas as regiões globais. Ao mesmo tempo, destinos e empresas demonstram estar pró-ativas em se adaptar e enfrentar desafios e responsabilidades, como ilustrado pela onda de signatários da Declaração de Glasgow sobre a Ação Climática no Turismo, liderada pela UNWTO.

O tema proposto para este dia é pertinente, inspirador e desafiante, mas é obrigatório que não fique apenas no plano da discussão e das boas intenções, pois é preciso agir com urgência, senão vejamos alguns desafios diretamente relacionados com este setor:

  • O turismo enfrenta o problema da falta de recursos humanos, situação que tem colocado dificuldades na operação turística, sobretudo na dimensão operacional da restauração e hotelaria. Recordamo-nos que março de 2020 marcou um dos maiores desafios à capacidade de resistência do modelo económico vigente, muito assente no consumo, sendo a componente das viagens e turismo a que mais sofreu com o fenómeno pandémico global, pois cortou o elemento vital para o desenvolvimento desta atividade – a mobilidade. Por essa via, os despedimentos e outros paliativos introduzidos pelas políticas públicas no que se refere às leis do trabalho, impactaram de forma violenta nos trabalhadores do setor do turismo e hotelaria. Resultado disso, foram os milhares de recursos qualificados que foram dispensados deste setor, muitos destes já enredados pelos erros cometidos na gestão de recursos humanos (recordemos a política de baixo salário e a exigência e exagero de horas de trabalho, as quais eram muito pouco ou nada remuneradas). Resultado desta mistura explosiva, foi a triste fuga destes trabalhadores para outros setores de atividade, sendo que muitos destes já não pretendem voltar. No encontro de algumas vias de resolução destes problemas, têm sido identificadas algumas possíveis soluções. Entre estas, encontram-se os esforços de recrutamento de recursos humanos provenientes de outros países, como por exemplo, de países de língua oficial portuguesa. Mais uma vez, e sem discordar totalmente desta parcial solução, será necessário colocar as mesmas questões quanto ao comprometimento por parte do setor em garantir condições dignas de trabalho (salário justo, condições para habitação e formação), para que o front end do serviço turístico português continue a ser valorizado e reconhecido por quem nos visita, como um dos melhores e mais qualificados mundialmente. Repensemos, agora, se num setor em que um dos maiores ativos no seu modelo de desenvolvimento são as pessoas (empregadores, trabalhadores, residentes e clientes), não deverá ser o turismo, o setor que dará mais uma vez o exemplo, adotando respostas sociais e de condições de trabalho à altura dos desafios aqui identificados?
  • Tal como outros setores de atividade económica, o turismo é (e será) um sistema aberto e volátil a fenómenos macro envolventes. Entre muitos, identificam-se os movimentos migratórios forçados que tem muitas vezes origem em conflitos armados; fome; fenómenos extremos da natureza ou por via de perseguições religiosas/políticas. Neste capítulo, deverá o turismo exercer um papel importante e de magistratura de influência no plano do diálogo político e consequentemente de ação humanitária e de voluntariado, não fosse o turismo apelidado como a indústria da Paz! Para esta ação, o turismo pode e deve assumir-se enquanto uma plataforma de diálogo e entendimento inclusivo, que permita encontrar soluções a partir das quais este setor possa contribuir como um veículo de recuperação e promoção de entendimento entre os povos, sublinhe-se, sempre pela via diplomática. A sua contagiante característica que se consubstancia na capacidade de relação e interação humana entre povos, de raça, cultura, língua e religião distintas, será um bom começo para promover a paz e o entendimento. Repensar o turismo neste campo, é colocá-lo enquanto exemplo real de diálogo e tolerância, no quadro da urgente necessidade de restabelecimento da paz, equilíbrio e bem-estar entre os povos.
  • O turismo deverá ser equacionado enquanto real promotor de benefícios económicos para as comunidades residentes. Repensar o turismo na sua capacidade de justa distribuição da riqueza nos territórios onde este acontece! Reposicionar os residentes locais enquanto beneficiários principais do turismo. Colocar as comunidades locais, na qualidade de agentes ativos nos processos de desenvolvimento turístico. Devolver à economia local o contributo que os recursos do território conferem de diferenciação ao produto turístico consumido pelos visitantes. Acrescentar valor ao produto turístico, introduzindo na cadeia de produção outros elementos da economia local, tais como a cultura local e outros serviços e produtos de natureza endógena. Repensar o modelo económico do turismo, para que este permita uma introdução de novos elementos com vista a uma regeneração da economia local.
  • No plano ambiental, o turismo é observado como dos setores que maiores impactos gera, sobretudo por via de uma das suas principais características – a mobilidade. Naturalmente, no âmbito do processo de produção do serviço turístico e no caso particular da componente do alojamento, o consumo energético e de recursos hídricos é uma realidade. Neste capítulo, o setor tem demonstrado uma particular atenção, nomeadamente com a crescente adoção de sistemas alternativos de produção energética e de gestão de consumo de água. A preocupação pelo equilíbrio nos rácios de rentabilidade, ou seja, pelo controlo de custos associados à dimensão do consumo de água e energia, mas também pela resposta às alterações de padrões de consumo por parte dos clientes, trouxeram a este setor a necessidade de se rapidamente adaptar a respostas inovadoras ao nível da gestão de consumos energéticos. No entanto, o turismo necessita de repensar níveis de ocupação no território. Este processo, sempre muito complexo e holístico, poderá ser iniciado através da aplicação de modelos de planeamento e desenvolvimento turísticos que se interrelacionem com os instrumentos de financiamento, gestão territorial, hídrica, energética e de mobilidade. Assim as entidades públicas que regulam e intervêm nestes domínios, consigam promover de forma integrada, processos de envolvimento do turismo em modelos de desenvolvimento de base territorialista, permitindo que o espaço/território mantenha a sua identidade e prosperidade ambiental.

A todos estes (apenas alguns) desafios enunciados e no quadro do desafio lançado pela UNWTO de “Repensar o Turismo”, importa sublinhar que todos os agentes se devem alinhar com o vetor Conhecimento. Tal vetor deverá ser apropriado pelo setor, que o deverá saber interpretar, por forma a conseguir agir para a promoção de um turismo onde as pessoas e o planeta fiquem em primeiro lugar!

Sobre o autorJaime Serra

Jaime Serra

Professor do Departamento de Sociologia da Escola de Ciências Sociais da Universidade de Évora Investigador do CIDEHUS | Laboratório de Turismo
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