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Opinião

“Absurdo” e “injustificado” é falar-se de “oportunismo”

Portugal, com a região algarvia em destaque, tem sido um dos destinos que mais têm apostado em sustentabilidade em todas as etapas da experiência turística, cujas metas também representam custos para a atividade do alojamento.

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“Absurdo” e “injustificado” é falar-se de “oportunismo”

Portugal, com a região algarvia em destaque, tem sido um dos destinos que mais têm apostado em sustentabilidade em todas as etapas da experiência turística, cujas metas também representam custos para a atividade do alojamento.

Ana Jacinto
Sobre o autor
Ana Jacinto

Durante o mês de agosto assisti estupefacta às declarações reiteradas por muitas vozes sobre um aumento “absurdo”, “injustificado” e “incontrolável” dos preços no Algarve, mas que comportam em si um verdadeiro ataque aos agentes do turismo da região, em especial do alojamento, razão pela qual me parece importante, e justo, fazer algumas considerações sobre esta matéria.

Tudo isto vem então a propósito dos recentes dados que foram divulgados e que dão nota de um decréscimo no número de dormidas no Algarve. De facto, os números do passado mês de junho revelam uma redução de 6,8% nas dormidas face a junho de 2019, sendo que esta descida foi acompanhada por um aumento dos proveitos no alojamento, na ordem dos 26%, em comparação com o mesmo período.

Mas indignada com os adjetivos utilizados nas tais declarações que já referi, analisei os números dos primeiros 6 meses de 2023 e o que verifiquei foi uma quebra marginal de 0,8% no número de dormidas, face a um aumento de 32,4% nos proveitos no alojamento. Sendo assim, estes dados comprovam que o aumento do preço do alojamento, que em grande parte se deve ao aumento dos custos de operação das unidades, não está a afastar um número tão significativo de turistas, pelo menos internacionais. Já o impacto do aumento dos proveitos financeiros também tem de ser analisado à luz de um elemento potenciador do aumento de riqueza para região. E o Algarve também precisa deste aumento de receitas, para investir nos seus recursos humanos e na renovação do parque de oferta de alojamento.

Números à parte, também juntei à minha análise outros fatores, uns mais distantes e outros mais recentes, que nos podem ajudar a melhor compreender a ligeira retração que se faz sentir no Algarve.

Portugal, com a região algarvia em destaque, tem sido um dos destinos que mais têm apostado em sustentabilidade em todas as etapas da experiência turística, cujas metas também representam custos para a atividade do alojamento. Paralelamente, as empresas portuguesas foram das que mais investiram na implementação de regras anticovid, situação que, mesmo após a pandemia e o fim das suas muitas obrigatoriedades, continuam a ser adotados pelos alojamentos, contribuindo igualmente para um aumento de custos de operação.

Se nos reportarmos ao nosso passado mais recente, e infelizmente ao nosso presente, é inegável o impacto terrível da pressão inflacionista, um fardo tremendo sobre as atividades operacionais das unidades de alojamento e aqui sim, foi e tem sido um “incontrolável” aumento dos custos.

Os detratores do Turismo dirão que este aumento de receitas é injustificado, mas parecem ignorar, ou fazer propositadamente por isso, que a atividade económica que continua a ser, comprovadamente, um dos motores principais da economia portuguesa foi das mais afetadas pela perda de receitas. O Turismo foi igualmente das atividades que maior esforço fez para manter os recursos humanos nos seus quadros, mesmo sem operação, esperando uma retoma plena no curto prazo, algo que só se efetivou realmente neste ano de 2023. Tudo isto somado, fez com que as empresas turísticas consumissem, de forma galopante, a maioria das suas reservas de capital.

E sim, os preços dos hotéis em Portugal estão 30% mais altos face a julho de 2019, mas a média europeia de aumento encontra-se nos 47% para o mesmo período, sendo que, os nossos alojamentos continuam a apresentar uma qualidade de serviço bem superior.

Deixo, por fim, um apontamento mais histórico: durante anos o Algarve foi percecionado como um destino de qualidade, mas a preços baixos. E quando a região assume a sua qualidade, e sem medo decide adequar os preços à sua realidade, parece existir um coro de críticas. São os mesmos críticos que durante anos acusaram o Algarve de um excesso de Turismo (conceito que no meu entender não existe), mas que agora se queixam da estabilização do número de turistas.

Não tenho dúvidas de que a carteira dos portugueses está a ficar mais vazia, fruto do aumento do custo de vida, mas também não tenho dúvidas de que a honestidade se impõe como corolário da verdade. É importante, e honesto, repito, que não se reproduza vezes sem conta, a crítica redutora que diz que o turismo do Algarve não gosta dos portugueses, que não precisa dos portugueses e que só vive para os estrangeiros.

Apesar de haver regiões nacionais com grande procura por parte de mercados estrangeiros, e com oferta para todas as carteiras, estou à vontade para afirmar que não há uma única região do nosso país que possa, ou queira, prescindir do turismo interno.

Sobre o autorAna Jacinto

Ana Jacinto

Secretária-geral da AHRESP
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