A próxima grande aposta do turismo português: olhe para Oriente
A atual possível crise no turismo norte-americano fica então como um alerta: Portugal não pode depender excessivamente de um único mercado.

Como todos sabemos, o turismo é um pilar fundamental da economia portuguesa. Neste setor, Portugal tem dependido de mercados europeus consolidados, como o Reino Unido, a Alemanha, a França e a Espanha, além de ter registado, nos últimos anos, um crescimento significativo no número de turistas provenientes dos Estados Unidos. Essa dependência torna o setor particularmente vulnerável a crises externas, como a atual desaceleração económica nos EUA, que poderá resultar numa redução do número de turistas norte-americanos em Portugal.
Deste modo, a diversificação de mercados é fundamental para reforçar a resiliência do turismo nacional. Mercados emergentes como o Brasil e outros países da América Latina, a China, a Índia, a Coreia do Sul, o Japão e a região do Médio Oriente/Golfo Pérsico representam uma oportunidade estratégica para Portugal. Além do crescimento da classe média com elevado poder de compra nestes países, destaca-se ainda a vantagem da menor sazonalidade, uma vez que as diferenças entre hemisférios resultam em fluxos turísticos menos concentrados ao longo do ano.
Com mais de 1,4 mil milhões de habitantes e uma classe média em rápido crescimento, a Índia, que recentemente ultrapassou a China como o país mais populoso, representa uma oportunidade promissora para o turismo em Portugal. Isto porque, com o aumento do número de milionários e de profissionais de elevado poder de compra, como engenheiros tecnológicos e empresários, o turismo indiano está a evoluir para um novo patamar.
Apesar do seu potencial, o mercado indiano ainda enfrenta desafios no que diz respeito à perceção de alguns profissionais do turismo português – persistindo a ideia errada de que os turistas indianos apenas procuram opções económicas ou experiências mais simples. No entanto, a realidade é bem diferente: os turistas indianos de classe alta estão cada vez mais interessados em experiências exclusivas, personalizadas e de luxo, um perfil que se alinha com a oferta turística portuguesa. Superar este preconceito envolve, assim, uma mudança de mentalidade no setor, promovendo um maior conhecimento da cultura indiana e a adaptação de pacotes turísticos que respondam às necessidades deste público.
Com a crescente importância destes mercados, é essencial que Portugal se adapte às suas expectativas. Turistas asiáticos e brasileiros (e não só) valorizam experiências autênticas, culturais e personalizadas, com especial interesse em segmentos como o turismo gastronómico, enoturismo e turismo de luxo. Para responder a esta procura, Portugal tem vindo a diversificar a sua oferta para além dos tradicionais destinos de Lisboa e Porto, apostando em regiões como o Alentejo, o Douro, os Açores e a Madeira, que possuem um enorme potencial ainda por explorar.
Além disso, uma comunicação e estratégias de marketing eficazes são essenciais para conquistar estes mercados emergentes. No caso da China, o marketing digital desempenha um papel crucial, uma vez que muitos turistas chineses planeiam as suas viagens através de plataformas específicas, como o WeChat ou a Ctrip. Para maximizar a visibilidade de Portugal, é, então, fundamental investir em campanhas digitais adaptadas e estabelecer parcerias com influenciadores locais. No caso da Índia, atrair a indústria cinematográfica de Bollywood pode ser uma estratégia eficaz para promover o país como destino turístico de referência.
Outro desafio importante é a acessibilidade. Melhorar as infraestruturas de transporte, como voos diretos de cidades como Xangai, Seul, Mumbai e Tóquio, é essencial para atrair turistas destes mercados.
A atual possível crise no turismo norte-americano fica então como um alerta: Portugal não pode depender excessivamente de um único mercado. Para garantir um setor mais equilibrado e resistente a crises, é essencial uma estratégia integrada que envolva o governo, o setor privado e as entidades de promoção turística. Desde a melhoria da conectividade aérea até campanhas de marketing segmentadas, Portugal dispõe de todas as condições para se afirmar como um destino de referência para turistas do Brasil, da China, da Índia e de outros mercados emergentes.
Mais do que uma alternativa, a diversificação é uma necessidade estratégica para assegurar um turismo sustentável e resiliente nos próximos anos.